Monday, December 18, 2006

EM BUSCA DE ANTÍDOTOS

Christina Fontenelle
20/12/2006
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A melhor do ano. A foto montagem acima é, sem dúvida, a que classifico de a mais expressiva e bem feita do ano. Não é piada. A foto-charge expressa, esquecendo alguns nomes por falta de espaço talvez, os oligopólios monopolistas da nomenklatura brasileira em franca ascensão e estabilização.
A revista Veja desse domingo fala sobre o “sufoco” da classe média. Eu já falo sobre isso há pelo menos três anos e acho inclusive que “sufoco” é elogio. Digo mais: a classe média ainda não sucumbiu porque se endividou até o último fio de cabelo. Como não haverá reabilitação econômica nenhuma, é uma questão de tempo para que sucumba de vez. Minto. Haverá a sobrevivência de um ciclo vicioso que manterá os que ganham entre 3 e 10 mil reais por mês trabalhando ininterruptamente e cada vez mais por menos, para sustentar, com 90% do que ganham, a “benevolência” do governo e da nomenklatura para com os “pobres necessitados” - bolsões de voto garantido que, por sua vez, jamais sairão da condição em que estão. Está montado o crime perfeito – o comunismo que se entranha, em silêncio perfeito.

Danuza Leão disse em sua coluna deste domingo (17/12) que não sujará suas mãos cumprimentando mais nenhum deputado ou senador que não protestar contra o vergonhoso aumento de 90% que os parlamentares de Brasília concederam a si próprios. Ela diz ainda que se arrependeu de não ter anulado seu voto. Sou solidária à colunista, mas ela deveria ter usado seu espaço jornalístico para ter denunciado a falsidade democrático-eleitoreira que muitos de seus colegas menos privilegiados em termos de espaço na mídia tentaram fazer. No futuro, quando “a casa cair”, como alerta a colunista, entrarão para história do país, nomes como os de Reinaldo Azevedo, Diogo Mainardi, Olavo de Carvalho, Jorge Serrão, Diego Casagrande e outros menos afamados colegas que usaram seu espaço, seu talento e arriscaram suas cabeças para gritar aos quatro cantos do mundo sobre o espetáculo de ascensão e queda da nossa frágil democracia – e seu desaparecimento, que era vindouro. Esses homens, esses colegas, não tinham armas além de suas vigorosas palavras. Mesmo assim não foram covardes. A Danuza fala em jogar uma pedrinha que agüente lançar. Terá se redimido. Mas, imperdoáveis serão, para a História do país, os que tinham canetas, leis e canhões e covardemente se omitiram. Destes ninguém se esquecerá – nem da “falha” histórica nem de seu egoísmo covarde.

Muitos dizem que não há apoio popular para impeachment de Lula. Mentira. Mais de 60% da população rejeitou o atual governo nas urnas e milhões de famílias brasileiras estão se desfazendo nas vizinhanças de cada um de nós, todos os dias, por causa de crises financeiras. Milhões de brasileiros estão condenados ao ostracismo intelectual e econômico debaixo das vistas de todos. Milhares de olhos de brasileirinhos olham para cima em busca de futuro e percebem que estão condenados a vencer ou pela arte ou pelo esporte. Condenados sim, porque arte e esporte não constroem país nenhum – precisam sim de apoio dos que trabalharam para construí-los. Esportistas e artistas bem sucedidos são exceção. Não há quem possa acreditar em futuro se a única condição for ser um Pelé ou uma Bibi Ferreira.

Nesta segunda-feira (18/12), o cientista político aposentado William Carvalho (61) se acorrentou em uma pilastra do Senado Federal para protestar contra o auto-reajuste dos parlamentares. Ficou acorrentado por cerca de 30 minutos, até ser retirado do local por seguranças do Senado, que quebraram a corrente com um alicate. O aposentado vai ter que responder na Justiça pelos crimes de desacato e perturbação da ordem. A gente torce para que tenha o mesmo destino de Bruno Maranhão - o chefe da turma que promoveu o quebra-quebra no Congresso: glória e riqueza patrocinadas pelo Estado. Também na tarde desta segunda-feira, e também por causa do reajuste dos parlamentares, Rita de Cássia Sampaio de Souza (45) esfaqueou com uma peixeira e pelas costas o deputado federal Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA) quando ele deixava seu escritório, em Salvador (BA), acompanhado de amigos. Aceminho passa bem e está em observação no Hospital da Bahia. A mulher foi presa e encaminhada ao presídio feminino de Salvador, onde ficará até ser julgada. Bem, o STF derrubou o aumento - ontem, 19/12 - e não se sabe até que ponto a "loucura desesperada" desses dois cidadãos influenciou nesta decisão.

Império da mentira, da vergonha, da roubalheira. Esse foi o futuro do país do futuro. Finjam e fujam o quanto quiserem as autoridades, os magistrados, os parlamentares, os militares, os homens de mídia – mas a responsabilidade os perseguirá por todos os dias do resto de suas vidas. A vitória da nomenklatura e a desenvoltura com que caminha pelo poder têm a parte que lhes deve. A experiência globalizadora e robotizadora também não lhes terá como agradecer. Mas isto não faria mesmo que devesse e ainda que pudesse. Nas suas costas largas carregarão o peso de culpas como as de aumentos criminosos a parlamentares e de indenizações indevidas – a última delas concedida à Ministra Dilma Russef, que planejou, em nome do comunismo, um assalto à residência que rendeu à causa US$ 2 milhões e 400 mil e, futuramente, medalha de Ordem do Mérito Militar.

Há algum tempo atrás, quem andasse de farda, de toga ou com crachá de congressista, de alto funcionário de poderosas empresas estatais e também de poderosas empresas de mídia era observado ou com admiração ou com desconfiança, antes de merecer olhar de desdém, de raiva ou de coisa parecida. Era a dúvida – será também desonesto? Será também conivente? Será culpado? Hoje a incógnita paira apenas sobre pequeno detalhe: covardia conivente ou deleite? Mas estão todos carimbados: vergonha – medalha que todos ostentam.

Para a turma dos que acreditam que “eu sozinho não adianta nada”, um lembrete: cada soldado alemão que tenha pedido baixa do Exército de Hitler antes de sair pelo mundo massacrando judeus e populações inteiras terá tirado da lista de mortos pelos nazistas uma centena de pessoas. Valeu a pena. Todas as conquistas benéficas para a humanidade foram obra dos que acreditaram que “eu sozinho” poderia fazer a diferença. E fez. A História prova isso todos os dias. Muitos dirão que ela – a História – também está cheia de “heróis” mortos. É verdade. Mas, é melhor morrer como “inútil herói” do que assistir à “medíocre, dolorosa e lenta” morte de filhos e netos como "covarde vivo". A escolha não é das mais fáceis, também é verdade, mas é inevitável.

Natal do crediário. Comerciante comum e mediano que mergulhar nessa onda (mesmo que seja mais por não ter saída do que por estar achando ótimo) que aguarde o mês de abril – será um festival de inadimplência, de desapropriações judiciais e de falências. Enquanto as mega-lojas prosperam derrubando a concorrência, oferecendo, até para comida, financiamentos em até 12 vezes, comparáveis aos de países cujos juros anuais não ultrapassam os 4% para o cidadão comum, nossas pequenas e médias casas comerciais vão falindo, às pencas. Mais gente no olho da rua, para formar o imenso exército de desesperados por emprego, garantindo a conservação de um batalhão de pessoas fazendo cada vez mais por menos – sorrindo e dando Graças a Deus.

Nas mega-lojas onipresentes, produtos baratinhos. Coisa boa, da China. A indústria nacional que se dane – quem mandou cobrar caro? Pois é, mas as pessoas se esquecem de que mais ou menos 70% da exorbitância dos preços dos produtos nacionais é por causa da carga tributária e dos encargos com empregados. Tirem esse fardo da nossa indústria e vamos ver se teríamos concorrentes à altura para competir em preço e qualidade. Assunto batido esse de que produto chinês não poderia entrar em mercado capitalista sério. A China vai ficar com tudo – com a produção e com a tecnologia. Depois, vai vender o que quiser, para quem quiser e por quanto quiser. É uma límpida e clara questão de tempo.

Quem está apostando que a questão das guerras futuras será de disputa por recursos naturais, como vem tentando fazer acreditar a indústria midiática alarmista, vai quebrar a cara. Tecnologia de produção de bens de consumo e de insumos tecnológico-industriais essenciais às sociedades desenvolvidas (e mão de obra capacitada) será a arma tão poderosa quanto a atômica ou a nanotecnológica para estar entre os poderosos do planeta. Historinha tão óbvia e tão velha – espanhóis, franceses, ingleses e portugueses já sabiam disso desde a época das grandes colonizações.

Por essas e muitas outras razões é que o extermínio da classe média intelectualizada é essencial. Será substituída por outra, não tão bem abastada e cerebralmente lavada. Tecnologicamente especializada sim, até em culinária – mas filosoficamente pobre, paupérrima. Quando se chegar a esse ponto, em questão de décadas, não será nem mesmo mais necessária a existência de currais eleitorais de gente miserável. Tão cega, emburrecida e emcabrestada estará a nova classe média que será mais fácil e lucrativo controlá-la do que ter que desperdiçar dinheiro, tempo e recursos com gente inútil e desqualificada – controle de natalidade, legalização de aborto, encontros homo, tudo isso vai varrer essa "gentalha" do planeta na hora certa. Está tudo aí – em planos de ação cristalinos, para quem quiser ver.

Quanto aos bandidos urbanos, aos terroristas e aos fanáticos religiosos, eles sobreviverão e existirão na medida em que justifiquem a venda de segurança – fórmula genialmente criada que impede que os cidadãos pratiquem a legítima defesa de seus costumes e de suas vidas e em que eles próprios pagam para ser controlados e oprimidos. Um mal, perfeitamente controlável, manipulável, subornável e indispensável à indústria dos controladores mundiais que criam insegurança e vendem segurança, para controlar e lucrar.

A imprevisibilidade de certos “loucos” tem sim podido atrapalhar bastante os planos da inexorável ditadura global. Olavo de Carvalho fala sobre isso (sobre a neo-tirania) em seu último artigo para o Jornal do Comércio. Trabalhar em cima do senso daquilo que seria imprevisível é a linha de condução da intelectualidade que pretenda arquitetar planos de saída para o caos que se aproxima. Construir articulações sobre a imprevisibilidade das reações humanas – este é o caminho da contra-revolução emancipadora. Desconstruir a importância da economia financeira vitual, com mecanismos de inviablilização de certos tipos de troca – arma poderosa, capaz de garantir a sobrevivência de um mundo paralelo de resisitência. Pensar nas saídas: missão para 2007. Viva a liberdade!