Monday, May 28, 2007

A FORCA

Christina Fontenelle
28/05/2007
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A mídia deveria estar de luto. Os jornalistas deveriam estar todos de preto, de luto. O canal 2, onde a RCTV fazia suas transmissões, na Venezuela, escureceu nas telas de milhões de venezuelanos, dando lugar à nova TV de Chávez, que iniciou sua programação elogiando o governo de vosso ditador e apresentando um documentário sobre Simon Bolívar – falsificando a realidade e a História, mais uma vez, é claro. Protesto e guerra nas ruas – venezuelanos contra venezuelanos. Oitenta por cento da população foi contra o fechamento da emissora.

Onde estão os artistas admiradores de Chavez que se derretem em elogios à latinidade socialista do vizinho ditador, neste momento? Bem, o site Vermelho.org. noticiou o acontecimento:

“Exatamente à 0h01 desta segunda-feira (28) entrou no ar a nova emissora de TV venezuelana: a Televisora Venezuelana Social (TVes), captada por sinal aberto no canal 2, espaço ocupado ate às 23h59 de domingo pela RCTV, cuja concessão não foi renovada pelo governo. A TVes promete disponibilizar aos venezuelanos uma programação variada, com amplos espaços para o entretenimento e para a educação da população. A chegada do novo canal foi acompanhada pelas reclamações de alguns grupos contrários ao presidente Hugo Chávez e por festejos em diferentes partes do país... a programação será dirigida pela jornalista Lil Rodriguez, produtora e apresentadora do TeleSul, que enviou aos telespectadores uma saudação na qual garantiu que sempre haverá uma sintonia com os interesses do publico”. (28 DE MAIO DE 2007 - 10h53)

A neutralidade jornalística tem limites e tem um preço também. E eu não estou falando da notinha acima, não, que não tem nada de isenta. Mas, da mídia brasileira de um modo geral. Deram cobertura ampla ao fato, sim, como não? Mas, deveriam ter militado, como tantas vezes já o fizeram, por exemplo, a favor do desarmamento da população, a favor da primeira eleição de Lula para presidente, a favor das “Diretas Já” e de tantos outros temas. O preço da neutralidade profissional pode ser a forca. E a forca pode ser a própria aniquilação futura ou a inutilização de seus profissionais.

Para que serve um jornalista se sua função passar a ser a de simples colhedor de notícias não censuráveis. Acabe-se, então, com a profissão e municie-se, pois, dois cidadãos comuns, moradores de cada quarteirão das cidades, com câmeras e microfones, para que reportem simples fatos notáveis a cada redação local, a fim de que sejam escolhidos ou não como cabíveis nos noticiários. Paguem-se salários de gorjeta a cada um deles. De que serve um médico se não houver remédios e nem condições de trabalho? O que é um militar que serve a governos, e não ao seu povo e à sua Constituição, senão um militante oficialmente armado? O que é um jornalista que serve a governos senão um militante?

Devemos, sim, nos preocupar com o que, hoje, acontece com os outros, ainda que seja por puro egoísmo, temendo que o mesmo venha a acontecer conosco. Repito: o preço da neutralidade pode ser a forca.


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