Saturday, April 14, 2007

PARTINDO PARA A AÇÃO

Christina Fontenelle
14/04/2007
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Defender as liberdades, expressar-se livremente, buscar a verdade, contar os dois lados das estórias, buscar informações sobre denúncias graves, organizar idéias, traduzir anseios que não têm espaço na mídia – tudo isso tem sido tratado, no Brasil, como um hobby daqueles que são chamados de os mais corajosos, de os que não têm nada a perder, de os que já sobrevivem de suas merecidas aposentadorias. Isso tem que mudar. Se as pessoas querem quem as informe sobre a realidade dos fatos, sobre as análises mais profundas das coisas que acontecem no mundo, elas têm que se conscientizar de que terão que investir dinheiro para satisfazer essa necessidade.

Não dá para acusar a mídia, especialmente as de massa, de serem “coniventes”, “compradas”, “aliadas alienígenas” e coisas do gênero sem levar em conta que a mídia sobrevive de anunciantes, assinantes, consumidores de informação e de associações que as financiam.

Paga-se para tudo – para ter atendimento médico decente, para ter um mínimo de segurança, para estudar mais adequadamente, etc. Mas, para serem bem informadas, item sem o qual a democracia não passa de uma ilusão, querem que isso lhes caia no colo – de graça – sem se preocuparem com o preço que se pagou e que se paga para que estas preciosas informações lhes cheguem às mãos. Querem heróis por trás das informações que lhes chegam. Talvez, se investissem em seres humanos, oferecendo-lhes a chance de trabalhar, tivessem muito mais informação e muito mais meios de fazer pressão popular sobre suas necessidades, influindo, enfim, nos destinos da sociedade, objetivo maior da democracia.

Em 2006, foram 82 jornalistas mortos, no mundo todo, por causa de atividades relacionadas ao trabalho. Um deles foi assassinado aqui no Brasil – o jornalista Ajuricaba Monassa de Paula, de 73 anos, que foi espancado, em praça pública, até a morte, pelo Vereador Osvaldo Vivas (PPB-RJ), a quem ele vinha acusando de práticas irregulares. Até a data de hoje, temos 125 jornalistas presos por exercerem a sua profissão – 2 deles, na Argentina; 31, na China; 25, em Cuba; 9 nos países da antiga URSS; 1 nos EUA (*); etc. Não terminou, a lista é longa. Na era da internet, formou-se uma nova categoria de profissionais – os cyberjornalistas (que informam e formam opiniões através de Blogs e Sites). Nem esses profissionais escaparam. São 62 deles presos, mundo a fora, sendo 50 deles, na China e 4, no Vietnã.

Aqui no Brasil há inúmeros casos de perseguição a jornalistas que se desviam, tanto do politicamente correto como daquilo que poderosos políticos e homens de negócios acham ser o limite do tolerável - segundo seus próprios padrões, é claro. Há denúncias relativas a Blogs, que são retirados do ar, rádios comunitárias que são fechadas e casos mais famosos como o do jornalista Boris Casoy, que teve que deixar seu trabalho na TV Bandeirantes – diz-se – por ter se atrevido a perguntar ao presidente Lula sobre sua participação no Foro de São Paulo. Chovem processos na Justiça contra jornalistas, até mesmo contra aqueles que não têm por trás de si uma grande empresa de mídia, como é o caso da jornalista Alcinéa Cavalcante, alvo de mais de 20 ações movidas pelo senador reeleito do Amapá, José Sarney (**).

Agora, vejamos. Quanto custa manter uma rede razoável de informantes? Ou alguém pensa que os jornalistas mais lidos na internet estão em todos os lugares ao mesmo tempo – até mesmo dentro de salas onde acontecem reuniões fechadas? Quanto custa ir fazer uma investigação “in loco” para verificar uma denúncia? Quanto custa entrar em contato, por telefone, com pessoas que possam dar informações relevantes a respeito de determinado assunto sobre o qual se está tratando? Quanto custa manter um site com um mínimo razoável de recursos? Quanto custa manter-se em dia com o que é publicado de mais novo e importante pelo mundo a fora? Quanto custa ter e manter um computador com recursos suficientes para fazer um bom trabalho jornalístico?

Essas, entre outras, são questões que devem ser levadas em consideração, antes de se apontar o dedo acusador para o trabalho dos profissionais de jornalismo. Faltou falar do tempo – esse que significa dinheiro. Quanto tempo é necessário para se fazer uma boa investigação jornalística? Quanto tempo é preciso para que um jornalista se intere muito bem sobre o tema que irá abordar? Quanto tempo se leva para escrever um bom artigo? E, quanto vale esse trabalho?

Jornalistas são seres humanos. Infelizmente, ou não, sob esta condição, é fato que estes profissionais são, no mínimo, limitados pela necessidade de ter que satisfazer algumas das mais básicas exigências de sobrevivência, como, por exemplo, comer, ter onde dormir, essas coisas... Parta-se, também, do princípio que, apesar de terem escolhido o jornalismo como profissão, a esses seres também é dado o direito de casar, de ter filhos, de se divertir, de se instruir, essas coisas (de novo)... Ora, isso tudo – que é apenas o básico, na verdade – demanda dinheiro. Dinheiro esse que, por sua vez, na maioria dos casos, deve ser obtido como fruto de um trabalho. Ora (outra vez), se o que se tem de trabalho é oferecido por uma mídia viciada, dependente do Estado e esquerdopata, como trabalhar, então?

Tudo bem. Existem os que optam pela militância. São militantes e não jornalistas. Mas, para os que fogem desse padrão, entre todas as alternativas há a honrosa saída de se trabalhar em outras atividades (professor, vendedor, motorista de táxi, revisor, tradutor, etc.) e, nas horas vagas, escrever para um jornal ou outro, ou ainda para sites onde há espaço para manifestações mais sensatas a respeito da realidade – tudo como colaborador. Diga-se de passagem, oportunidade imprescindível no Brasil de hoje. Montar seu próprio Blog também é uma opção válida. Mas, então, é como eu já disse, não é um trabalho, é um hobby.

Há honrosas exceções. Comentaristas, jornalistas e articulistas que escrevem em renomados jornais e revistas brasileiras e que falam sobre QUASE tudo. Como se sabe, há limites – mas, eles não são determinados por evidências. Infelizmente. Não se pode negar que a imprensa tem contribuído, sim, através da revelação e/ou divulgação de fatos, mesmo que em pequenos cantos de páginas. Cabe aos leitores e analistas mais atentos saber reunir e determinar as relações entre os fatos que se divulgam e entre as idéias que são impressas em artigos diversos. O que acontece, entretanto, é que esse trabalho de análise é que tem construído a informação relevante que circula pelo Brasil, através da internet. Isso é que tem sido tratado como hobby, quando, na verdade, não deveria ser, na medida em que os frutos deste trabalho é que estão representando o último e praticamente único bastião de resistência ao entorpecimento socialista que vem sendo imposto aos brasileiros (e o mundo não está fora desta, não).

É preciso que se parta para a ação, senhores. Muitos, quando ouvem algo neste sentido, se remetem logo para luta armada, revolução. Pode ser que estejam certos. Mas, não se pode negar que a ascensão ao poder dos que agora governam nosso país, por exemplo, seja prova contundente de que nem só com armas de fogo se faz uma revolução – pelo menos na sua fase de conquista hegemônica. Por que é que esta lição só é válida para os comunistas? O que impede que esta tática seja apropriada pelos que desejem derrotá-los?

Na minha modesta opinião, já passou da hora de se formar um grupo de estudos estratégicos, formado pelas melhores cabeças do país, com gente vinda dos, e ouvida nos, quatro cantos desta terra, dos lugares mais longínquos, para elaborar um plano de ação conjunta que seja capaz de definir uma estratégia de reação à ditadura do politicamente correto, das minorias, da inversão descarada de valores e da própria realidade. Ilusão? Pode ser, mas não é o que mostram todas as pesquisas sobre o que pensam a maior parte dos brasileiros a respeito dos mais variados assuntos – somos classificados de conservadores, de direita e coisas do gênero. Se a maioria pensa assim, por que é que não tem voz? Porque ninguém financia (ou se arrisca a financiar) uma luta contra a minoria bilionária sócio-globalista que dirige o mundo. Mas, e se a maioria decidir que vai financiar quem defenda seus pontos de vista com recursos dela própria – saídos, sim, ainda que parcos em termos individuais, do seu próprio bolso?

Filósofo, professor e escritor, o caríssimo brasileiro Olavo de Carvalho veio a público
pedir contribuições para continuar (e aperfeiçoar) o heróico trabalho que vem desenvolvendo, há anos, pesquisando e esclarecendo os brasileiros sobre as realidades do mundo e do Brasil: “Estou pedindo agora e vou voltar a pedir. Tantas vezes quantas me pareça necessário, pois as despesas não vão parar tão cedo. Agora já me acostumei à mentalidade de um povo que põe seu dinheiro onde põe suas palavras. Aqui, todo mundo contribui para aquilo em que acredita. Eu mesmo, que sou um duro, não escapo. Associações de veteranos, campanhas de evangelização, protestos cívicos, policiais baleados e até uma menininha da Guatemala que não podia comprar seus livros de escola já descobriram que eu existo e aparecem mensalmente na minha caixa postal. Dou um pouquinho, mas dou sempre: toda essa gente trabalha para o bem, e aprendi com os americanos que o dinheiro jamais é neutro – se não serve ao bem, serve ao mal”.

O muro de lamentações em que se transformou nossa palavra escrita contra o status quo só vai provar que nada se constrói neste mundo sem que os senhores dos ilícitos interesses de ganância e de poder se coloquem do lado logicamente correto das situações – como quando decidiram que a escravidão deveria ser abolida das relações de trabalho no Ocidente, por motivos que vão muito além dos humanitários. Talvez isso seja verdade. E, em sendo, nada mais natural que se busquem formas de mostrar (e provar) que outros caminhos podem gerar mais benefícios (a única linguagem que entendem). Caminhos estes que, nem que seja por chantagem, podem proporcionar mais riqueza e mais liberdade para todos.

Quando digo para que se parta para a ação conjunta, não estou dizendo que todos devam deixar seus afazeres ou se dedicar ao trabalho de vigilância. Quero dizer que devam investir naqueles que estejam prontos e dispostos a fazê-lo. Contribuições, senhores, contribuição. Não haverá dinheiro mais bem aplicado. O que Governos, Congressos, Forças Armadas, Mídias, Academias, ONGs e tutti quanti são pagos para fazer e não fazem, façamos nós mesmos, para variar e mais uma vez, com o nosso dinheiro. Não é hora de esmorecer, de se dar por vencido e nem de enterrar heróis. De que adiantam heróis mortos? Não, senhores! Precisamos de todos eles, e muitos mais deles, aqui e agora, bem vivinhos, trabalhando e fazendo História.

Aceitam-se sugestões (inteligentes, por favor)


(*) 2007/FEV/15 - A Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) apelou à libertação do operador de câmara sudanês Sami al-Haj, profissional da Al Jazeera detido há 5 anos na base norte-americana de Guantanamo, apesar de nunca ter sido formalmente acusado de qualquer crime ou levado a tribunal. Segundo os advogados de Sami al-Haj, ele foi forçado a confessar ligações entre a Al Jazeera e a al-Qaeda. Que se saiba, é, atualmente, o único jornalista detido em Guantanamo.

(**) Por conta disso, ela foi condenada pelo Tribunal Regional Eleitoral a retirar de seu blog o conteúdo considerado ofensivo pelo político e a pagar mais de R$ 500 mil reais de multas. Alcinéa foi fundadora do Sindicato de Jornalistas do Amapá (Sinjor-AP) e hoje é presidente da Comissão de Ética do Órgão. Tem 50 anos e mora no Amapá desde que nasceu. Passou pela Gazeta Mercantil, pelo jornal paraense O Liberal e pelo já extinto O Estado do Amapá. Hoje, trabalha para a Agência Estado e publica um
blog na internet, que foi o estopim para os processos. Além disso, já publicou livros de poesia e está escrevendo um livro sobre política no Amapá.

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