Tuesday, October 31, 2006

O QUE SERÁ QUE ACONTECEU? (Versão Artigo)

Cem petistas na porta do Palácio da Alvorada, em Brasília, espancando verbal e fisicamente alguns jornalistas, e 1500 militantes em frente ao palanque da vitória de Lula, em São Paulo, mostram bem o tamanho da vitória do atual presidente. A reação popular não reflete o resultado das urnas. Em compensação, a reação de alguns militantes petistas, dizendo coisas como "Vamos fechar todos os jornais" e "Se falar de dossiê, vai levar dossiê na cara", para jornalistas que estavam aguardando a chegada de Lula, em frente ao Palácio da Alvorada, e a atitude “um tanto quanto autoritária” de um delegado da Polícia Federal ao inquirir jornalistas da revista VEJA sobre uma suposta operação “abafa” do governo para levar o caso do dossiê Vedoin para bem longe de Lula, ao contrário, refletem muito bem o que as urnas revelaram.

Uma rápida análise na tabela de votos abaixo, desenhada de acordo com dados oficiais do TSE, mostra que, em tese, todos os eleitores que votaram nos candidatos que não foram para o segundo turno das eleições acabaram optando por votar em Lula na segunda etapa da eleição. E mais, revela ainda que muitos dos que haviam votado em Alckmin no primeiro turno mudaram de opinião e resolveram votar em Lula. Sabem qual é a possibilidade disso ter realmente acontecido? A mesma que a que eu tenho de acertar na mega-sena. Devo esclarecer a você, leitor, antes que comece a calcular as probabilidades, que eu aposto nesse jogo, em média, uma vez a cada dois anos e com apenas um bilhete. O que será que aconteceu?


Só houve um caso na história das eleições para governador e para presidente, das 102 que já aconteceram no país desde 1996, levando-se em conta os votos dos eleitores de todas as capitais brasileiras, em que um candidato, no segundo turno, tenha tido menos votos que no primeiro – foi quando, em 1996, o candidato a prefeito de Belo Horizonte (MG), Amílcar Martins, do PSDB, que havia obtido no primeiro turno das eleições cerca de 279.055 votos, perdeu a disputa eleitoral, recebendo no segundo turno apenas 248.781 votos – ou seja, 30.274 votos a menos. O vencedor daquela eleição foi Célio de Castro, do PSB, que havia recebido cerca de 429.948 votos no primeiro turno e que recebeu 809.992 votos no segundo turno. O fenômeno – localizado - deveu-se, segundo análises veiculadas em jornais da época, ao jogo de alianças feito para o segundo turno e ao fato de o PT, ao invés de ter apoiado Célio de Castro (PSB) no primeiro turno, ter lançado candidatura própria (Virgílio). Foi em 1996 também que, pela primeira vez, o voto eletrônico abrangeu todas as capitais (à exceção de Brasília, onde ainda não havia eleição municipal) e municípios com mais de 200 mil eleitores (totalizando 57 cidades no Brasil, sendo 4 delas em Minas Gerais).

Não há explicação ideológica, política, factual, ou o que quer que se considere, capaz de esclarecer o fenômeno que se viu configurado no mapa dos resultados eleitorais obtidos no segundo turno. Nada aconteceu de extraordinário em relação à candidatura de Alckmin que justificasse a perda dos votos que teve e nem a estimulação que tiveram eleitores que haviam votado em branco ou anulado seu voto no primeiro turno para que fossem levados a votar contra o candidato do PSDB no segundo turno. Ao contrário, desiludidos, 2.822.039 a mais de eleitores optaram por não votar no segundo turno das eleições – as abstenções subiram de 21.092.675 para 23.914.714.

Também não há explicações lógicas para o fato de que todos os eleitores que haviam optado por votar em candidatos sem maioria no primeiro turno, supostamente por opções ideológicas, tenham decidido votar em Lula no segundo turno. Aqui, também teoricamente, nem mesmo o candidato Cristovam Buarque, que declarou que iria votar em Alckmin, o teria feito. É claro que sabemos que a conta matemática não revela quem votou em quem, mas simplesmente que mais pessoas migraram para o eleitorado de Lula do que as que o fizeram em relação a Alckmin.

Muitos alegam que essa imensa conquista de votos se deva ao Bolsa Família (11 milhões de famílias – aproximadamente 25 milhões de eleitores), ao adiantamento do 13˚ Salário dos aposentados, ao aumento de 5% do salário mínimo (aos 45 do segundo tempo), aos reajustes de alguns servidores públicos, e coisas desse gênero. Uma pergunta: Por que estas pessoas já não teriam votado em Lula no primeiro turno? É claro que todos os beneficiados pelo empreguismo, pelas esmolas, pelos reajustes, etc. – todos estes sempre votaram em Lula. Então, voltamos à questão: “O que foi que aconteceu para fazer com que 11,6 milhões de pessoas simplesmente resolvessem votar em Lula?”

Alckmin perdeu votos em 23 das 27 unidades da federação. Em termos percentuais, do primeiro para o segundo turno, as maiores perdas foram no Tocantins, no Maranhão e no Ceará. Mas, em termos de quantidade de votos, o candidato do PSDB perdeu mais votos em Minas Gerais (menos 516.279 mil votos), Goiás (239.617) e São Paulo (230.864) – curiosamente, em três Estados onde houve vitória do PSDB nas eleições para Governador – respectivamente com Aécio Neves (PSDB - reeleito no primeiro turno), com Alcides Rodrigues (PP - eleito com apoio tucano no segundo turno) e com José Serra (PSDB - eleito no primeiro turno). Até em Pindamonhangaba (SP), sua terra natal, Alckmin perdeu 3 mil votos para Lula. O candidato do PSDB só aumentou o número de votos em quatro Estados: Alagoas, Amazonas, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Sem falar de perdas e ganhos, Alckmin obteve maioria em sete Estados: MT, MS, SP, PR, SC, RS e Roraima.

Depois do segundo turno das eleições, Lula, com os 11,6 milhões de novos votos que conquistou entre os dois turnos, ampliou o número de Estados em que foi vitorioso de 16 para 20, “enfraquecendo” o discurso da divisão do país, que pautou boa parte do debate eleitoral.

Não foi sem motivo que a “divisão do país” começou a ser motivo de discussão na campanha eleitoral, mas não por regiões e sim entre ricos e pobres. Apesar de dizer que não usou a tática de dividir o país entre ricos e pobres, foi exatamente isso que Lula fez nos palanques pelos quais passou, pronunciando discursos nessa linha e que acabaram sendo ouvidos ou lidos, em parte, por todos os brasileiros ao longo dos noticiários sobre as eleições. Dividiu sim, mas já vem fazendo isso desde a campanha presidencial de 2002 e durante o próprio período em que esteve na presidência, sempre que teve a oportunidade de jogar os pobres e os com menos instrução contra o que chama de “elite” (que todos nós sabemos muito bem tratar-se exclusivamente daqueles brasileiros que têm instrução e que não comungam das idéias e das atitudes do presidente e de seu partido, mas que Lula quer fazer parecer, aos pobres, tratar-se dos ricos).

A postura do Lula "pai dos pobres" passou a ser mais explorada desde o auge da crise do mensalão, em meados de 2005, quando o presidente começou a se comparar com ex-presidentes populistas como Getúlio Vargas, João Goulart e Juscelino Kubitschek. Segundo matéria publicada na Folha de São Paulo (30/10/2006), quando a eleição foi levada para o segundo turno, o marqueteiro de Lula, o jornalista João Santana, ainda na noite de 1° de outubro, teria repetido uma frase que falara em outros momentos da campanha: "Se tiver segundo turno, a gente divide o país e ganha".

Antes, porém, de recorrer a esse “tiro de misericórdia”, Lula e Santana decidiram tentar ainda uma penúltima estratégia, que era a de vincular o candidato Alckmin às privatizações da era do governo de FHC, já que os discursos falsamente ufanistas e sempre ideologicamente mal versados sobre as mesmas têm cuidado de manter o povão, os estudantes e grande parte da classe média na mais completa ignorância sobre o tema (com a inegável e imprescindível colaboração dos meios de comunicação de massa). A estratégia, sem dúvida, deu certo. Mas, por mais certo que tenha dado, não teria sido capaz de provocar o fenômeno de migração de votos, todos eles para Lula.

A despeito da incompreensível incompetência da campanha de Geraldo Alckmin para reagir a cada ataque que tenha sofrido dos adversários, é inadmissível aceitar como parte do processo democrático, especialmente em relação a campanhas eleitorais e a plebiscitos, que deslavadas mentiras sejam veiculadas em território nacional sob o título de “estratégia de campanha”, num jogo de vale tudo, fazendo com que o futuro de todos os brasileiros seja decidido por uma maioria, criminosa e propositadamente, mal informada – não só nas campanhas eleitorais, mas desde sempre, inclusive pela mídia (principalmente a de grande alcance) e, outra vez na época das campanhas, por empresas de pesquisas com elas possivelmente comprometidas. Isto para não falar do absurdo que foi não termos tido, particularmente nesta eleição, uma única instituição sequer neste país que tenha sido capaz de interpretar a diferença entre “pirotecnia de campanha eleitoral” e “engodo eleitoral” – que foi o que aconteceu – e igualmente capaz de impedir que “esse festival de mentiras fosse levado até o fim”, o que lhes enquadra perfeitamente na condição de cúmplices de horrendo espetáculo.

Campanhas “bem feitas” podem eleger candidatos, sem dúvida. Mas, não há campanha que resista a uma oposição de verdade, que ataque e contra ataque com fatos. No caso específico desta campanha presidencial é impossível não olhar com desconfiança para a omissão dos supostos adversários de Lula em relação, por exemplo, aos reais benefícios advindos de algumas das principais privatizações (apesar de terem ocorrido sim irregularidades); em relação a questões sérias como as do aborto, as do comprometimento do atual presidente com o Foro de São Paulo, as do perdão de dívidas de outros países para com o Brasil e as dos investimentos feitos no estrangeiro – incluindo a usurpadora Bolívia – em detrimento de muitos outros que precisariam ser feitos no Brasil.

Outras questões ainda de igual importância também não foram abordadas, como o falso crescimento do poder de compra da população (que aconteceu por conta do crédito facilitado e não do aumento real de seu poder de compra) e a alardeada criação de empregos (na verdade, trabalhos, muitos deles temporários, sem perspectiva de crescimento profissional, enquanto milhares de brasileiros com mão-de-obra especializada, com segundo grau completo e com nível superior estão desempregados). Questões éticas fundamentais também não entraram no cardápio, nem da oposição nem da mídia, como a criação e/ou o enriquecimento de ONGs como a Rede 13, da filha de Lula, e a Unitrabalho, fundada por Jorge Lorenzetti em 1996; ou como os 15 milhões que a Telemar “investiu” em empresas dos filho de Lula; e, finalmente, por falta de espaço, como o asilo político concedido pelo governo brasileiro ao falso padre Olivério Medina, conhecido porta-voz das Farc no Brasil.

Quanto ao próprio Geraldo Alckmin, é preciso dizer que, sempre que teve oportunidade, fez referência sim a quase todos esses temas - não literalmente, mas por meio de palavras que somente quem sabia do que se tratava poderia entender; o que é infrutífero para conquistar votos do povão, mas também não deixa de ter sido uma espécie de código através do qual dizia – a quem pudesse entender – que sabia de muitas coisas sobre as quais não podia falar. E por que?

Na verdade, Alckmin nunca fez parte de um partido realmente oposicionista. PSDB e PT são ideologicamente idênticos, diferem, às vezes e apenas, em relação aos meios. O PSDB tem origem na esquerda e dela nunca se desviou. Particularmente, eu me atreveria a dizer que, inicialmente escolhido como o “boi de piranha” do PSDB nesta eleição, Alckmin, apesar do explícito esforço que se tenha feito em contrário, surpreendeu a todos com os votos que conquistou, levando a eleição presidencial para o segundo turno. Dessa forma, muitos de seus correligionários e aliados tiveram que se “engajar” num “apoio” que nunca pretenderam dar e para o qual não estavam preparados. Quando isso aconteceu, houve pânico (muito maior no PSDB do que no PT) de que alguém com explícita vocação para romper com a ideologia socialista ascendesse ao poder, ameaçando desfazer o projeto de esquerda que vem sendo alinhavado, e não é de hoje, para o Brasil e para o Continente Sul-americano. Alckmin, depois da derrota, disse estar com a consciência limpa de quem fez o melhor que pôde. Ele não optou pelo “suicido político” que poderia ter cometido se tivesse arriscado e “jogado tudo no ventilador”. Deve saber o que está fazendo.

Junto com a “incompetência” da oposição, uma imperdoável omissão dos meios de comunicação de massa, principalmente por parte da imprensa, que foi incapaz de cogitar qualquer um dos temas acima citados para fazer matérias a respeito e muito menos para perguntar ao candidato Lula da Silva qualquer coisa parecida. É bom recordar que tanto Heloísa Helena quanto Alckmin foram questionados sobre aborto, por exemplo, por mais de uma vez; no entanto, Lula jamais foi argüido sobre o tema, nem pela imprensa nem pela oposição.

Acordo velado? Pavor da mão do Estado nazista? E o que dizer das repetitivas afirmações da campanha de Lula, e do próprio presidente, de que os crimes aparecem em seu governo porque agora as instituições funcionam e a Polícia Federal age livremente? Ora, onde esteve a oposição que foi incapaz de recordar ao público todas as mil e uma operações do governo para não instalar CPIs e as que até hoje prejudicam e até inviabilizam todas as tentativas de se investigar até o fim as inúmeras acusações de abusos, de crimes e de “erros” cometidos por parte de pessoas do governo, e pior, intimamente ligadas ao presidente Lula?
E os meios de comunicação de massa que veiculam e acompanham todos os passos destas “investigações” como se elas estivessem inteiramente dentro da normalidade investigativa, permitindo que as “autoridades governamentais” tergiversem livremente pela mídia e confundam cada vez mais o já mal informado povo? E sobre a “greve” dos controladores de tráfego aéreo que estava acontecendo desde antes do dia da eleição no segundo turno e nada se mencionava? Para não prejudicar quem, afinal, que estas coisas só vieram para a TV depois das eleições, se na internet esse tema era ”figurinha fácil”?

Ora, se somente são oferecidos a alguém maçã e abacaxi, como é que se pode, depois, questioná-lo por não ter escolhido banana?

O “must” da encenação eletrônico-eleitoral têm sido as pesquisas. Se eu tivesse um funcionário que errasse tanto, em tantas vezes, das duas uma: ou já o teria demitido por ineficiência, ou já igualmente o teria feito por concluir que seu trabalho era inútil. É claro que as pesquisas são fruto da evolução matemático-científica e funcionam muito bem sim. É por isso que são sempre e permanentemente encomendadas. Os repetitivos e sucessivos erros que vêm sendo cometidos nos pleitos de importância nacional parecem ser uma demonstração da certeza absoluta que uns e outros têm na ignorância popular. E até nisso as empresas de pesquisa acertam.

Desde o Referendo sobre o Desarmamento, votado em 23 de outubro de 2005 (para não ter que mencionar pela enésima vez o caso PROCONSULT), que as pesquisas vêm “errando”. Para se ter uma idéia, cerca de um mês antes do dia da votação, apareciam na mídia resultados de pesquisas que davam ao SIM uma preferência de 82% da população. Uma semana antes do pleito, o IBOPE admitia, no máximo, um empate técnico entre as duas posições. As urnas revelaram, entretanto, que 63,94% dos votos válidos deram a acachapante vitória do NÃO. Que conclusão se tiraria disso? Que as pesquisas poderiam estar querendo influenciar os votos? Ou que elas são conjecturas inúteis e que o que vale é o resultado das urnas? Ou ainda que pesquisas podem falhar ou serem manipuladas, mas as urnas não? Estariam as pesquisas propositadamente erradas, para que a população viesse a crer que nunca teriam seus votos manipulados nas urnas, uma vez que os resultados da apuração poderiam sim ser bem diferentes do que divulgavam as tais pesquisas? Talvez tudo isso junto. Talvez nada disso...

O fato é que situações bem parecidas aconteceram agora nas eleições presidenciais e em muitas das eleições estaduais para senador e para governador. Continuam sem respostas as mesmas questões que se fizeram presentes no referendo do Desarmamento. Porém, na segunda etapa da eleição presidencial, todas as pesquisas foram de uma precisão impressionante, diante de tantos erros antes cometidos. Eu diria que, depois dos fenômenos “perda de votos” e “não receber nenhum voto de eleitores que votaram em outros candidatos no primeiro turno” que aconteceram com a candidatura de Alckmin, a “precisão das pesquisas” pode, com certeza, ser o terceiro maior fenômeno dessa eleição presidencial.

Somos, de fato, um fenômeno democrático. “Muitos países desenvolvidos no mundo não têm o sistema eleitoral eletrônico que temos aqui” – disse Lula, no rápido pronunciamento que fez à imprensa assim que soube que estava tecnicamente reeleito. A eficiência do sistema totalmente informatizado de nossas eleições (que não conta com urnas que imprimem os votos) foi tema dos noticiários de todo o país, como sempre. Vale lembrar que os países mais desenvolvidos do mundo não adotaram o sistema eleitoral totalmente informatizado, sem a impressão do voto, simplesmente porque vários estudos sérios já comprovaram a ineficiência deste sistema em relação à segurança contra possíveis fraudes. Aliás, o próprio PT, por exemplo, quando realiza importantes eleições internas, dispensa o direito que tem de pedir urnas eletrônicas emprestadas. O mesmo acontece no Congresso, em votações, como por exemplo, a de cassações de mandatos.

Tenho visto muita gente revoltada com a reeleição de Lula, de mensaleiros e de sanguessugas, colocando a culpa no Bolsa Família (que chamam de Bolsa-Esmola e de Bolsa-Votos) e no povo, dizendo que não sabem votar e que, finalmente, temos tido os maus governos que merecemos. Eu não concordo de maneira nenhuma com isso. Quem coloca e tira gente do governo de países como o Brasil são “forças” alienígenas, que financiam este ou aquele governo e esta ou aquela campanha. Quem permite que isso aconteça são as nossas instituições - que de independência só conhecem aquilo que belamente está escrito na Carta Magna, o que não corresponde absolutamente em nada à realidade – e a nossa mídia, que depende financeiramente das duas primeiras, para não falar nos seus próprios compromissos ideológicos.

Colocar a culpa no povo? Que me desculpem os que pensam em contrário, mas eu chegaria ao cúmulo até de dizer que o povo não tem praticamente nada a ver com isso. Basta ver o que aconteceu em Rondônia, onde o contato com a realidade fez o povo de lá descartar a reeleição de Lula. Basta ver, também, a esmagadora vitória do NÃO no referendo sobre o Desarmamento, quando tanto a campanha do NÃO como uma considerável parte da mídia forneceram uma boa gama de informações que puderam ser comparadas com as que eram veiculadas por aqueles que eram a favor da vitória do SIM. Povo bem informado sabe muito bem votar a favor de si mesmo e daquilo que realmente acha melhor para o país.

Christina Fontenelle
13/10/2006
E-MAIL: Chrisfontell@gmail.com
BLOG/artigos: http://infomix-cf.blogspot.com/
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Friday, October 27, 2006

CERTAS PESSOAS TÊM MAIS AFINIDADES DO QUE PARECE


"Aqui, todo mundo tem medo do Sarney."
05/10/2006
Local: São Paulo - SP
Fonte: Amazonia.org.br
Eliane ScardovelliDe São Paulo

A jornalista Alcinéa Cavalcante é alvo de mais de 20 ações movidas pelo senador reeleito do Amapá, José Sarney. Por conta disso, ela foi condenada pelo Tribunal Regional Eleitoral a retirar de seu blog o conteúdo considerado ofensivo pelo político e a pagar mais de R$ 500 mil reais de multas.

Alcinéa foi fundadora do Sindicato de Jornalistas do Amapá (Sinjor-AP) e hoje é presidente da Comissão de Ética do Órgão. Tem 50 anos e mora no Amapá desde que nasceu. Passou pela Gazeta Mercantil, pelo jornal paraense O Liberal e pelo já extinto O Estado do Amapá. Hoje, trabalha para a Agência Estado e publica um blog na internet, que foi o estopim para os processos. Além disso, já publicou livros de poesia e está escrevendo um livro sobre política no Amapá.
Na entrevista, a jornalista relata os problemas que atingem a mídia amapaense e detalha sua briga na Justiça com o poderoso José Sarney.

Quantas são as ações movidas por Sarney contra a senhora e no que elas consistem?

São mais de 20, por volta de 23. É inacreditável como tudo começou. Em agosto, eu postei uma brincadeira no meu blog. Por estarmos na época de eleições, disse que muitos candidatos deveriam pregar um adesivo com a frase "O carro que mais combina comigo é o camburão da polícia" no vidro traseiro de seus carros. No campo dos comentários, um dos internautas disse que a frase combinava com o Sarney, e citou uma piada já antiga por aqui, a de que o senador tem uma fazenda de burros no Amapá. Desde a década de 1990 que pessoas de fora do estado dizem que somos burros porque votamos em Sarney. Por conta do comentário, que estava devidamente assinado pelo leitor do blog, o senador entrou com uma ação contra mim. Sofro outro processo por ter publicado uma caricatura feita por um cidadão de Macapá, que contém a frase "Xô Sarney". Só eu fui alvo da ação, mas o desenho foi publicado em mais de 50 mil blogs. Outro processo foi decorrente de uma reprodução, também no meu blog, de duas capas da Veja da época em que ele era presidente. Uma era sobre a fraude na ferrovia Norte-Sul, outra fazia referência a uma matéria que o acusava de fazer festas com o dinheiro público em Paris. Fui processada por ter reproduzido um material que já circulava pela mídia.

E qual foi o resultado dos processos? A senhora foi condenada em algum deles?

Não ganhei nenhum, mas também não paguei nenhuma multa porque estou recorrendo. O pagamento das multas, que totalizam um valor de R$ 500 mil, não é imediato, como teve de ser a retirada do material considerado ofensivo do ar. Até eu recorrer para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para derrubar a liminar era meio complicado, então cumpri tudo. Além de ter sido obrigada, pelo TRE, a tirar todo o material supostamente ofensivo do ar, tive de publicar o direito de resposta. Mas para você ter uma idéia, em nenhum momento o Sarney faz referência ao conteúdo das postagens. Ele aproveita o espaço para se auto-promover, para dizer que foi presidente da República, que é membro da Academia Brasileira de Letras (ABL)...


E o que o TRE alegou para retirar os textos e as imagens do ar?

A legislação eleitoral tem uma série de restrições para a publicação de conteúdos em jornais, rádios, emissoras de TV e páginas de empresa de comunicação na internet. Mas blog é uma coisa pessoal, não é uma página de uma empresa. Eu respondo como pessoa física, não como pessoa jurídica. Fato curioso é que, em um primeiro momento, o TRE julgou improcedente a ação movida pelo Sarney, alegando que o blog é uma publicação pessoal e que, portanto, seu conteúdo não podia ser julgado pela mesma lei. Estranhamente, uma semana depois, o TRE mudou seu entendimento e me condenou.


Quais são os indícios de que o TRE-AP atua a favor do Sarney?

Além de todas essas ações movidas contra mim por motivo bobo, outros jornalistas foram processados por motivos semelhantes. São eles Humberto Moreira e Domiciano Gomes, que apresentam um programa de rádio chamado Revista Matinal, e Corrêa Neto, que assina um blog. A semanal Folha do Amapá também está sendo processada. Não sei exatamente qual é o conteúdo do material veiculado por eles, mas a alegação é a mesma: propaganda desfavorável e ofensa. Nenhum outro jornalista ou veículo foi processado pelo senador fora do estado.


Isso acontece porque aqui no Amapá todo mundo tem medo do Sarney. Quem não tem medo, tem rabo preso. A mídia é governista, apóia tanto o Sarney como o Waldez [Waldez Góes (PDT), governador reeleito]. Vou te dar um exemplo: o candidato que foi derrotado por Waldez Góes (PDT), João Capiberibe (PSB), foi alvo de uma matéria desfavorável a ele pela TV Record, que foi transmitida em rede nacional. A grande maioria dos jornais daqui repercutiu a matéria contra ele. O Ministério Público Estadual divulgou que os vídeos que incriminavam Capiberibe eram falsos, mas o TRE não concedeu direito de resposta ao candidato do PSB. O órgão alegou que a imprensa local apenas reproduziu o que tinha saído na mídia nacional. Nesse mesmo dia, o TRE julgou uma ação do Sarney contra mim, em que ele pedia a retirada das capas da Veja do ar e reivindicava direito de resposta.


Pode-se dizer então que a mídia ajudou nas reeleições de Waldez e de Sarney?

Sim. A imprensa é completamente atrelada ao governo do Estado. Aqui, o empresariado é muito fraco, então os veículos de comunicação sobrevivem de verbas públicas. Nós temos três jornais diários. Os três são governistas. A maioria das emissoras de rádio também é pró-governo. Dentre as emissoras de televisão, a única que consegue manter uma certa isenção é a TV Amapá, que é afiliada da Globo. Apesar de o governo ser o maior anunciante.


A senhora foi ameaçada? Teve medo de sofrer represálias?

Eu tive medo, sim. Eu evitava sair de casa, ou pelo menos não saia com o meu carro. Eu recebi alguns avisos. Mas quando alguém fala para mim "Pára com isso, se não tu vai se dar mal", eu não dou muita confiança. Quem quiser fazer algo contra mim, não vai avisar. Não liguei muito para os recados, mas tomei certas precauções.


Ao saber que estava sendo processada, a senhora acionou a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj). Qual foi o procedimento que o órgão tomou?

Eu mandei um dossiê para a Fenaj, relatando o caso. Então, o órgão protocolou um ofício para o ministro Marco Aurélio Mello, pedindo que o TSE tomasse providências. Então, o TSE cobrou explicações do TRE-AP. Isso se deu nos últimos dias antes das eleições, na última semana de setembro. A partir de então, não tive conhecimento de mais nenhuma ação contra mim. Entretanto, na seção do último dia 4, o presidente do TRE, Honildo Amaral de Mello Castro, informou aos demais membros que havia recebido a notificação do TSE e que responderia dizendo que eu estava atuando como militante e não como jornalista, o que não é verdade.


Então a senhora não tem nenhuma ligação com o partido do Capiberibe?

Não tenho. Quem tem ligação com o partido é minha irmã, Alcilene Cavalcante, e o TRE sabe disso. Ela faz parte da direção do partido e esse é um fato público e notório. Eu não sou filiada a nenhum partido, a nenhum candidato. Inclusive, não costumo declarar meu voto. O pessoal do Capiberibe já encrencou comigo, achando que eu era Waldez. O pessoal do Waldez acha que eu sou Capiberibe. Aqui é assim, quando você faz uma matéria desfavorável a algum candidato, ele já acha que o jornalista é aliado ao político adversário dele. Eu me divirto! Uns acham que eu sou Capi, uns acham que eu sou Waldez, outros acham que eu sou PSTU, esse tipo de coisa.


Por que o UOL tirou o seu blog do ar?

O UOL retirou o meu blog do ar por medo, exatamente quando o Sarney começou a entrar com as ações contra mim. Minha irmã tinha um blog no UOL também. Como eu, ela publicou o "Xô Sarney", e responde a um processo por isso. O TRE determinou que ela retirasse esse conteúdo do ar, e ela tirou. Logo em seguida, o blog deixou de existir, o UOL simplesmente tirou o blog do ar no mesmo dia, dizendo que foi por recomendação de seu departamento jurídico. Cobrada de mais explicações, a empresa assumiu que o departamento considerava o Sarney um homem muito poderoso, e achou melhor acabar com a página. Pouco depois, foi a minha que eles extinguiram. Não entrei em contato pedindo explicações, pois eu já sabia o que tinha acontecido.


Além da Fenaj, que outros órgãos de comunicação se pronunciaram a respeito das ações movidas pelo Sarney?

A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) disse que ia tomar providências, mas ainda não se pronunciou. A Rede de escritoras brasileiras (Rebra) mandou uma nota de solidariedade que eu publiquei no meu blog. Preferi não solicitar uma ação do Sinjor-AP, embora eu seja fundadora do órgão e presidente da Comissão de Ética, pois, como já falei, os veículos do Estado vivem de verba pública. O jornalista é obrigado a cumprir as determinações do jornal para o qual trabalha. Nenhum deles pode fazer comentários desfavoráveis ao governo, mesmo em uma mesa de bar, porque, se o patrão descobre, ele está na rua. É uma questão de sobrevivência. A empresa de comunicação não tem despesa com pessoal, só com papel, energia. Lá no sindicato, a gente não consegue fazer nada por conta disso. Assim, optei pela Fenaj, até porque ela tem mais peso.


Como a senhora avalia a atuação do Sarney como senador do Amapá?

O Sarney, em 16 anos de mandato, apresentou 23 projetos. Desses 23, apenas cinco foram para o Amapá. Quando ele foi eleito pela primeira vez, esperava que o Estado realmente crescesse, que fosse se desenvolver, afinal tínhamos como senador um ex-presidente da república, alguém que tinha poder, que tinha força. Embora não tenha votado nele, achava que o Sarney iria trazer coisas boas para o Amapá, que tinha acabado de se transformar em estado. Mas acabei tendo uma decepção. Ele não trouxe quase nada para cá. Distribuiu emissoras de rádio, mas todas tinham de ser suas aliadas. Então a sociedade acabou sendo prejudicada, pois foi privada de seu direito à informação. Em seu próximo mandato, Sarney continuará fazendo o que fez nos últimos anos: nada. Um dia ele aparece com um projeto, todo mundo faz festa, e ele some de novo. A vinda de Sarney para o estado é manchete de jornal. Se ele viesse com freqüência aqui, isso não aconteceria. O senador não tem contato com os problemas da região, não tem contato com o povo. Nós, como Associação Amapaense de Escritores, convidamos o Sarney para fazer parte de nossa associação. Ele, como imortal da ABL, daria um peso para a associação, mas ele não aceitou o convite.


Por que os amapaenses continuam votando em Sarney?

Porque eles não têm a informação. Como a imprensa é aliada dele, não passa a versão real das coisas. O que se diz é que o Sarney trouxe energia para o Amapá. Mentira. Nós tivemos aqui no Estado, por volta de 1991, um racionamento de energia. O Sarney fez um lobby para que o governo do Amapá comprasse do governo da Bahia uns motores russos, as chamadas Usinas de Camaçari, que não serviam mais para o estado do nordeste. Então, o governo se endividou comprando essas usinas e consumiu uma quantidade incrível de óleo diesel. A medida permitiu que não ficássemos 12 horas seguidas sem energia, mas foi apenas um paliativo. O custo foi muito alto, o Estado ficou endividado para pagar esses motores, que são motores velhos, que poluem demais. O Sarney fez um lobby e quebrou o galho do Antônio Carlos Magalhães, que se livrou desses motores obsoletos. Esse é apenas um dos exemplos de como um dos homens mais poderosos do país não trouxe quase nada para o desenvolvimento do nosso Estado.

SE NÃO PERGUNTAR...

Christina Fontenelle
13/10/2006
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Se o candidato Geraldo Alckmin não perguntar, hoje à noite, no debate da Globo, algumas coisas que interessam muitíssimo ao eleitor e que podem atingir a candidatura petista em cheio, ficará provado que a disputa foi uma farsa. E mais, Alckmin foi colocado nesta disputa e abandonado para perder - seus grandes aliados, Serra e Aécio, só entraram na campanha do candidato do PSDB, prá valer, aos 45 do segundo tempo, antes do primeiro turno das eleições, quando, para surpresa de todos, Alckmin, praticamente sozinho (apoiado por pequena parte do PSDB), estava prestes a desbancar a proclamada vitória do PT já no primeiro turno. Isso só aconteceu porque, não satisfeito com a vitória garantida na disputa pela presidência, o PT queria mais: queria o Governo de São Paulo.
Os ataques do PCC e o caso do dossiê Vedoin foram planejado para isso, para tirar de José Serra e do PSDB a vitória, que, assim como a do PT para presidente, estava também garantida na disputa pela vaga de governador do Estado de São Paulo. A candidatura de Alckmin simplesmente pegaria carona nessa campanha difamatória planejada pelo PT. O golpe do PCC deu certo, o do dossiê não.
No primeiro debate presidencial do segundo turno das eleições, promovido pela TV Bandeirantes, o Brasil conheceu um Alckmin que chegava muito perto da figura do político que os brasileiros querem ver na presidência. A intensa campanha "anti-agressividade de Alckmin", que começou a ser deflagrada horas depois do debate, é o sinal mais claro do pânico que tomou conta do PT e de sua militância (que inclui muita gente da mídia). O que não se entende muito bem é o por que de Alckmin ter abandonado a postura que lhe poderia trazer a vitória na disputa presidencial.
Em matéria de marketing, Duda Mendonça, digo João Santana, encarregado da campanha presidencial de Lula, fez um trabalho muito superior em qualidade e eficiência do que fizeram os marqueteiros de Geraldo Alckmin. O festival de mentiras construiu um espetáculo impecável - é preciso reconhecer. Sem dúvida nenhuma, e ética à parte, os marqueteiros valem o quanto cobram. Em publicidade, assim como em Direito, o mérito está na eficiência em alcançar os objetivos que se tenha - TODO o resto é só isso: resto. Depois, se uns e outros tiverem problemas com a consciência e, mais tarde, com São Pedro, é uma relação de custo-benefício que só os próprios poderão equacionar.
A campanha de Geraldo Alckmin está sob a responsabilidade de Luiz González, da GW Comunicação, empresa que faz programas de TV, comerciais, vídeos corporativos e campanhas políticas, e que é dirigida pelo próprio González e por mais três executivos: Gilnei Rampazzo, Wianey Pinheiro e Woile Guimarães - todos com larga experiência profissional adquirida nos maiores veículos de comunicação do país. Luiz González, que, em 2003, ampliou os negócios fundando a agência de publicidade Lua Branca, é jornalista e já trabalhou para a Rede Globo, para a Rede Bandeirantes, para o Jornal da República e para as revistas Veja, Visão e Manchete. Na área de marketing político realizou, campanhas como as dos candidatos Luis Felipe Menezes (internas PSD – Portugal), José Aníbal (senador - 2002), Mário Covas (Governador - 1998), José Serra (prefeito de São Paulo – 2004 e Governador - 2006) e a do próprio Geraldo Alckmin, para Governador de São Paulo, em 2002. González também comandou a campanha do SIM ao Desarmamento (que antes havia contado com o trabalho voluntário de produtoras como a Conspiração, a Videolfilmes e a O2), já na reta final da disputa - que acabou sendo vencida pelo NÃO, cujo comandante da campanha foi o publicitário Chico Santa Rita, ex-marqueteiro de Fernando Collor.
Você poderia dizer que faltem ao marqueteiro de Alckmin experiência, competência e exemplos de sucesso? É calro que não. Nem sempre se ganha, é verdade, mas isso não quer dizer que necessariamente tenha havido incompetência - principalmente se o adversário, ou a causa adversária, tiver mais e melhores argumentos em sua defesa, bem como fatos que os comprovem. Acontece que, estranhamente, esse é exatamente o caso de Alckmin e não se pode admitir que o marqueteiro González não tenha se dado conta disso - não combina com seu currículo. A estratégia da campanha de Alckmin, portanto, entra para a lista de "mistérios" que têm cercado as disputas políticas dos últimos anos. E mais: ajuda a difundir a idéia de que a mentira é mais poderosa do que a verdade - e não é. Mas é verdade também que a campanha do candidato do PSDB enfrenta duas frentes de batalha: uma contra a campanha do PT e outra contra a esmagadora militância petista na imprensa. Realmente fica difícil.
Mas, a eleição será decidida nas urnas no dia 29 de outubro. A "prova dos nove" será tirada hoje à noite no debate da Globo entre os dois candidatos à presidência. Se Alckmin não fizer perguntas e afirmações relacionadas ao aborto, ao Foro de São Paulo, ao festival de indenizações que vêm sendo pagas aos pseudo anistiados políticos e, finalmente, à recusa de Lula em assinar documentos contra as privatizações e contra a convocação de uma Constituinte após as eleições, estará passando aos eleitores brasileiros a mensagem de que há alguma coisa muito errada por trás de nossa democracia - que aliás, e não é de hoje, vem se mostrando muito mais como "injustocracia".

Thursday, October 26, 2006

EFEITO “BOCA MALDITA”


Christina Fontenelle
26/10/2006
E-MAIL: Chrisfontell@gmail.com
BLOG/artigos: http://infomix-cf.blogspot.com/
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Lugar de agitação, Boca Maldita é a famosa tribuna livre de Curitiba (PR), criada em 1957 e institucionalizada em 1966, onde as pessoas passeiam, comem, visitam boas livrarias e protestam. Foi lá que Lula esteve, sábado de manhã (21/10), realizando um comício para milhares de militantes. O marketing da propaganda eleitoral de Lula insiste em pintar mechas verdes e amarelas no vermelho do PT, mas, não adianta, onde Lula reúne gente para ouvi-lo é um mar de camisas, bonés e bandeiras vermelhas. Faz sentido.

“Educação se aprende no berço. Não preciso ofender nenhum adversário para vencer a eleição. Vou me manter com o comportamento digno de um presidente da República, altivo e sabedor do ódio que eles têm. Eles sabem que eu não roubo e que eu não roubei. Eles sabem do meu caráter e dos meus compromissos. O ódio deles é porque, pela primeira vez, o pobre brasileiro levantou a cabeça”.

Uma aberração. Uma confissão de descumprimento e de desrespeito à Constituição, o supremo mandatário da nação dizer, como vem fazendo em todos os seus discursos, que governa para os pobres e não para todos os brasileiros, mesmo que vez ou outra, dependendo da ocasião, ele se corrija. Uma vergonha ver um presidente da República pregar o ódio entre patrícios. Ódio que já se espalhou, com certeza, pelos quatro cantos do país.

Em Curitiba, Lula chegou a utilizar-se do infortúnio de uma cidadã carioca ao recomendar, ironicamente, aos militantes petistas que não apontassem o dedo ao defender o PT perante os adversários, porque poderiam perder parte dele. Ele estava fazendo alusão a uma suposta militante petista que perdeu parte de um dedo ao brigar com o que ele julgava ser uma também suposta defensora do PSDB, num bar (o Jobi) do Leblon, zona sul do Rio de Janeiro. Perdeu mais uma oportunidade, das mais de um milhão que já teve, em que devesse ter ficado calado. A briga foi entre uma petista fanática (a que perdeu parte do dedo), que xingou uma dona de casa de “patricinha alienada do Leblon", e esta que, por sua vez, reagiu e chamou a militante de "baranga chata". As duas rolaram no chão brigando e a dona de casa arrancou com uma mordia parte do dedo da militante. Detalhe: a dona de casa vota em Lula, segundo seu próprio marido – ou pelo menos o tinha feito até o dia da briga.

O troco para a campanha segregacionista de Lula pode ter vindo lá de cima, lá do céu. A vitória do piloto brasileiro Felipe Massa, que venceu o Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1 e que recolocou um dos nossos no degrau mais alto do pódio, aqui em Interlagos (SP), após 13 anos de ausência, fez os brasileiros relembrarem os gloriosos tempos de Ayrton Senna e ouvirem novamente o tema da vitória, que enchia de alegria as manhãs de tantos domingos. E porque eu digo isso? Digo porque o Ayrton era um ídolo nacional, um cara rico que encantava a todos, sem distinção, e que sempre dedicava suas vitórias a todos os brasileiros. Ele promovia a congregação e a união. O TAN, TAN, TAN do Tema da Vitória emocionou muitos brasileiros, sim, neste último domingo, não só pelo feito de Felipe Massa, mas também pelas saudades do Ayrton e do Brasil.

Saindo de Curitiba, no mesmo dia, Lula esteve em Caxias do Sul (RS). Lá, não foi diferente. “Ódio” é a palavra de ordem nos discursos do atual presidente. Ele mostrou o apreço que tem pelos estudos e pela instrução: “O doutor (FHC) que sabia de tudo na teoria, não fez nada na prática. Eles (a oposição) me odeiam por não compreenderem que, sem falar inglês, fiz uma política externa melhor”. Fez é? Nesses últimos quatro anos não chegaram notícias a esse respeito aos nossos meios de comunicação. Minto, chegaram sim – agora me lembrei. Deixamos, por exemplo, todos os investimentos da Petrobras na Bolívia de presente para os bolivianos, aos quais também perdoamos uma dívida de U$52 milhões e ainda abrimos linha de crédito do BNDES para a construção de estradas naquele país. Cuba também foi presenteada por Lula - a Ilha de Fidel nos deve cerca de 40 milhões de Euros, mas a dívida com o Banco do Brasil terá redução de 20%, e serão liberados U$20 milhões do BNDES para a construção de uma usina de álcool e mais não sei quanto para financiar a compra de frotas de ônibus. A Nicarágua teve o perdão de 95% de sua dívida de U$141 milhões. O presidente também perdoou as dívidas que vários países africanos tinham com o Brasil, perfazendo um total de U$438,1 milhões.

Finalmente, em não querendo incrementar as negociações para a criação da Alca, o Brasil fez um enorme favor a alguns de seus vizinhos, abrindo espaço para que eles fechassem acordos bilaterais de livre-comércio, diretamente com os EUA. Em nosso benefício, não conseguimos nem ser candidatos a um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU e nossas candidaturas à direção da OMC, à secretaria-geral da Cepal e à presidência do BID fracassaram solenemente. As "alianças estratégicas" do Brasil com a Rússia, com a China e com a Índia tiveram um pífio impacto sobre as relações econômicas do planeta. Já para a nossa indústria tiveram um impacto negativo, principalmente porque acordo a gente deve fazer com países que tenham uma economia de mercado – o que não é, definitivamente, o caso da China.

Dando prosseguimento à campanha segregacionista, no dia seguinte, Lula fez comício na Cidade Tiradentes - na Zona Leste da capital paulista. O presidente não desiste de dizer que Alckmin representa a elite e que irá privatizar estatais. Repete isso em todos os discursos que faz e, nos programas do horário eleitoral sugere, ou melhor, afirma que Alckmin estaria mentindo ao negar. O candidato do PSDB já repetiu “n” vezes que isso não é verdade, mas Lula mente deliberadamente e PT saudações. Engraçado é que o PT ganhou direito de resposta de um minuto na propaganda de Geraldo Alckmin, porque, na avaliação do ministro do TSE Carlos Alberto Menezes Direito, a propaganda da coligação PSDB/PFL ofendeu a honra do presidente-candidato à reeleição, ao afirmar que Lula "manda na Polícia Federal", "manda nos ministros", “manda no PT”, mas não sabe dizer "de onde vem o dinheiro".

Ora, em relação às privatizações, Geraldo e principalmente Lula sabem perfeitamente que já existe e será cada vez mais incentivada a parceria público privada – forma mais moderna, inteligente e eficaz de gerir as empresas que atuem em áreas consideradas estratégicas. Esse tipo de composição empresarial no setor de telefonia, por exemplo, além de ter engordado, e muito, os cofres da União, com a arrecadação de impostos, também colocou os telefones fixo e celular ao alcance dos brasileiros de todas as classes – sem falar na internet. Se Lula diz que é o candidato do povo, dos pobres, não deveria insistir hipocritamente na demonização das privatizações, ou pelo menos deveria reconhecer publicamente alguns de seus benefícios.

Até 1997, por exemplo, uma linha de telefone celular custava em São Paulo, cerca de R$ 3.500. Para conseguir uma linha telefone fixo, o consumidor tinha que aguardar em listas de espera que chegavam a durar mais de 2 anos. Por isso, havia o mercado paralelo, onde estas linhas chegaram a custar até U$ 7 mil. Quanto custa hoje? Uma solicitação e uma taxa de cobrança mensal fixa pela assinatura, com a qual, aliás, pretende-se dar um fim. Hoje, o Brasil tem 130 milhões de acessos telefônicos. No dia da privatização da Telebrás (29-07-1998), tinha 24 milhões. Em 1998, o percentual de domicílios com telefone era de 32% , hoje é de 74%. O número de usuários de celulares saltou de 5,2 milhões para 93 milhões, sendo que 81% destes são de brasileiros pertencentes às classes C, D e E. A rede telefônica de 1998 gerava R$ 8 bilhões de impostos por ano. A atual gera R$ 35 bilhões por ano. Isso tudo sem falar nos empregos diretos e indiretos gerados pelo setor. Portanto, se o governo é o maior sócio das telecomunicações privatizadas, Lula cospe no prato que come e ainda se aproveita da ignorância do povo para deles conseguir votos. (1)

O presidente segue alardeando que a “elite” está com ódio porque ele tirou 6 milhões de brasileiros da classe D/E (86%, com renda de até dois salários mínimos) e os levou para a classe C (68%, com renda de até três salários mínimos). Lula está falando a verdade. Mas, naturalmente, não falou das outras 1,48 milhões de pessoas que tirou da classe média média (renda de 2 a 5 mil reais) e despejou nessa mesma classe C. O presidente também esqueceu-se de falar que dentro desse grupo de 6 milhões de brasileiros está um de seus próprios filhos – o Lulinha – que ganhava R$600,00, como tratador de zoológico, no início do governo do pai, e que também ascendeu, só que direto para a classe A “super-mega-plus” (com renda incalculável).

Temos que reconhecer, porém, que entre os pobres e os miseráveis os números são positivos. Em matéria publicada na
Isto É Dinheiro, por exemplo, um estudo do economista Ricardo Paes de Barros, coordenador de avaliação de políticas públicas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), mostra que esse movimento começou em 2000 e vem se mantendo forte. O poder aquisitivo dos 10% mais pobres do Brasil subiu animadores 16%, só em 2004. Isso aconteceu por causa do Bolsa Família e da concessão de crédito. Vale lembrar, também, que, para quem não tinha nada, qualquer quantia que se receba sempre representará um crescimento de 100% na renda.

A revista trás um exemplo emblemático: “Dona Maria das Graças (57) é aposentada pelo governo do Maranhão, está em Brasília passando uma temporada com um dos seus nove filhos. Deixou três no Piauí, desempregados, que têm como única renda fixa a paga pelo Bolsa Família. Por mês, o governo deposita pouco menos de R$ 100 em um cartão, que complementado com “bicos”, garante o sustento dos filhos, noras e netos de Maria. ‘Eles fazem tanta coisa, entregam mercadoria, consertam máquinas, são pedreiro, carpinteiro...’”, diz ela. “Lá no Nordeste, o emprego está mais difícil, mas eles se viram”.

"A gente precisa cuidar dos mais fracos porque o rico não precisa do Estado brasileiro. Quem precisa é o pobre. O pobre precisa de universidade. O rico pode pagar e, se quiser, até em Paris", disse Lula, também na Cidade Tiradentes.

Não, presidente, pobre precisa de emprego. Precisa que o Estado garanta as condições para que a sociedade, através da iniciativa privada, gere empregos. Mesmo porque (e o presidente se esqueceu de mencionar isso também em seus discursos) vai ficar difícil pensar em universidade, com cerca de 252 mil crianças de 5 a 14 anos que não trabalhavam em 2004 e que passaram a fazê-lo, agora, em 2005. Principalmente no Nordeste, onde o percentual de trabalho infantil cresceu 15,9%. Isso tudo depois de o Bolsa-Família ter aumentado de 6,5 milhões para 8,7 milhões o total de famílias beneficiadas.

É bom também que ninguém se esqueça de que os produtos que eventualmente sejam consumidos com o dinheiro dos benefícios acabe, de um jeito ou de outro, retornando aos governos Estadual ou Federal, em forma de impostos que são recolhidos sobre a venda desses produtos. A média, no Brasil, fica em torno de 42% dos valores que pagamos sobre bens e serviços. Portanto, no caso da Dona Maria das Graças, por exemplo, aproximadamente R$42,00 dos R$100,00 que seus parentes gastam no Piauí acabam voltando para os Estados e/ou para a União. Lembre-se ainda que é dos impostos cobrados sobre o salário (e não sobre a renda) de milhares de brasileiros que também sai esta ínfima parte de tudo o que se arrecada com taxação no país, para tripudiar em cima dos pobres e dos miseráveis do país.

Sabendo-se que a Constituição determina que o Presidente da República governe para todos os brasileiros, vamos esclarecer umas coisas.

Em primeiro lugar, o número de milionários aumentou no governo Lula. As 227 principais empresas de capital aberto (com ações negociadas em Bolsa) do país embolsaram nada menos que R$ 131,7 bilhões de lucro líquido (limpinhos!!!) - uma alta de 349,8% em relação a 2002. Já as pequenas e médias empresas estão “de pires na mão” e sem condições de concorrer com os preços e a oferta de crédito das mega-empresas, que, aos poucos, vão apossando-se do mercado, monopolizando-o, e uniformizando tanto o tipo de produtos ofertados quanto o próprio perfil da demanda. Além de sofrerem, é claro, com a concorrência desleal dos produtos chineses que invadem o mercado brasileiro. Também foi no governo de Lula que os 23 bancos de capital aberto do país tiveram juntos um lucro líquido de R$ 54,5 bilhões, sendo que os 5 maiores deles (Bradesco, Itaú, Banco do Brasil, Santander/Banespa e Unibanco) ficaram com R$ 44,125 bilhões (2). O Brasil possui 207 bancos, mas os dez maiores acumulam três quartos dos depósitos. E sabem o que mais contribuiu para esse espetáculo de lucratividade? As altas taxas de juros e o volume de empréstimos, principalmente os consignados, feitos à pessoa física e descontados em folha.

Viram? Miséria, desemprego e baixos salários podem ser bastante lucrativo para alguns, principalmente para os atravessadores do negócio, no caso o Estado. Sabem quanto o governo Lula gastou com o Bolsa Família, em 4 anos? R$23 milhões. Ora, os números estão ai: 131, 7 e 54,5 bilhões de reais para os mega empresários e para os bancos. Vou repetir: 23 milhões de reais para o Bolsa Família (dos quais, aproximadamente 10 milhões voltam aos cofres públicos por causa de impostos sobre mercadorias e serviços). É assim que Lula diz governar para o povo, destruindo a classe média e distribuindo esmola, enquanto a nomenklatura enriquece? Sabem quanto Lula pagou de indenizações e ainda paga por pensões a anistiado político (entre os quais ele mesmo se inclui) – que não recolhem imposto de renda sobre o que recebem? A conta das indenizações para anistiados políticos já passa dos R$ 3 bilhões – É o ‘Bolsa Continuem Mentindo Sobre o Que Aconteceu de Verdade”.

Em segundo lugar, de acordo com estudos da UICAMP (Folha de S. Paulo, 14/nov./2004), nos últimos anos a classe média brasileira teria perdido 1/3 de sua renda e, 2 ½ milhões de pessoas teriam migrado desta para a classe pobre. Os brasileiros com renda mensal média de R$1000,00 vem decrescendo sistemática e constantemente nos últimos anos. Em 2002, aproximadamente 57 milhões de brasileiros pertenciam à classe média. Em 2004, ficaram reduzidos a 53 milhões. A cada período de estagnação (ou de crescimento mínimo) ou de retração do PIB, uma parcela da classe média é reduzida à condição de proletário.

Um trabalho do professor do Instituto de Economia da UNICAMP, Waldir Quadros, com base em estatísticas da Pnad 2003, do IBGE, entre outras coisas, revelou que a renda média das famílias de classe média-alta (renda média familiar superior a R$ 5.000) caiu 4,7%, em 2003, tirando 1 milhão de pessoas dessa classe. A classe média média (com renda entre R$ 2.500 e R$ 5.000) perdeu 850 mil pessoas e hoje representa menos de 6,6% da população. Despencaram da classe média baixa (renda mensal que varia de R$ 1.000 a R$ 2.500) 1,48 milhões de pessoas. O grupo de trabalhadores de baixa renda (de R$ 500 a R$ 1 mil) somado ao dos brasileiros considerados pobres (menos de R$ 500) aumentou em 4,8 milhões e passou a representar 68% da população. Abaixo deles estão os indigentes.

Pois é, os ricos estão cada vez mais ricos; a nomenklatura governamental e seus apaziguados também enriquecem a olhos vistos; os pobres recebem esmolas, mas não têm empregos – por isso, ai deles se perderem essa migalha! - e a classe média fica assim, despencando de casta em casta, enquanto trabalha 5 meses por ano para pagar a conta da política assistencialista e eleitoreira de governos populistas. Essa é a realidade do país. Caberia aos integrantes desta variada classe média entrar, coletiva ou individualmente, na Justiça, contra o Estado, para exigir seus plenos direitos sobre aquilo que produz e/ou sobre seus salários, já que por este Estado vem sendo extorquida, expropriada e deliberadamente prejudicada, justamente para sustentá-lo, e aqueles a que dele se locupletam, ao mesmo tempo em que nada recebem – ao contrário, a classe média paga por segurança, por saúde, por educação, por transporte e até pelo direito de trabalhar.

Não é possível que a democracia só se faça valer na hora do voto. Se devem todos os brasileiros respeitar a maioria, que por hora vem decidindo nas urnas privilegiar o assistencialismo, então que todos paguem igualmente por isso, ou pelo menos em proporções que sejam justas. O voto da maioria não deve ter o poder de condenar grande parte dos brasileiros a trabalhar, 5 dos 12 meses do ano, exclusiva e graciosamente para o Estado. Isso tem nome: é escravidão. Acontece que ela foi abolida deste país, por Lei, em 1888.

Essa proclamada “preferência da maioria”, que é alardeada como se fosse o ônus da democracia republicana e que serve também de “álibi incontestável” para manter no poder políticos e governos que literalmente trabalham contra aqueles que os elegem, é uma grandessíssima fraude. É muito simples: preferência pressupõe escolha; e escolha pressupõe conhecimento e informação. Se não for assim, não é escolha legítima, é “um tiro no escuro”, um “chute”. Acontece que o eleitor brasileiro não é desinformado coisa nenhuma – ele é, sim, des-informado por uma mídia de massa cujo compromisso com a verdade está muitíssimo aquém dos compromissos financeiros e ideológicos. Tanto mais falsificada será a “preferência da maioria” quanto maior for o tamanho da mentira que a mídia de massa sustentar e quanto maior forem as forjadas e mal arrumadas proporcionalidades de representatividade da nossa República.

Voltando ao nosso candidato-presidente, no Maranhão (dia 24/10), ele voltou a apostar na disputa sudeste x nordeste: “É este país que eles (a elite e a oposição) não estavam habituados a ver, e agora eles vão ter que ver o Nordeste se desenvolver, o Nordeste crescer, e aí a gente não vai ver diferença entre o Sul, Sudeste, Nordeste e o Norte do país”... “Nós não nascemos para ser pobres, nós não nascemos para ter educação de segunda categoria, nós não nascemos para passar fome. Na verdade, o nordeste é uma região rica, de um povo trabalhador, mas que os governantes nunca se preocuparam com a parte pobre da população”, disse Lula.

Parece que Lula – que sempre alega de nada saber (o que não lhe convém, é claro) – precisa realmente se conscientizar de que ele esteve, de fato, como presidente do Brasil, nos últimos 4 anos, e que, de lá do Palácio do Planalto, simplesmente não fez nada daquilo que anda dizendo, em palanques espalhados por todo o Brasil, que precisaria ser feito. Lula caminha por esta campanha dizendo tudo o que pretende fazer se for eleito, inaugurando o início de uma série de projetos, inclusive placas onde se lê “Aqui, Em Breve...”, de janeiro deste ano para cá, a toque de caixa, para mostrar serviço e angariar votos. Reclama para si coisas que não fez (como no caso das leis que beneficiaram os deficientes físicos (3)), copia descaradamente programas de candidatos da oposição, dizendo que os implantou recentemente (“tipo ontem”) ou que serão implantados no próximo mandato. Enfim, Lula fala como se fosse começar a governar, agora, no próximo mandato – quando se lembra que esteve como presidente, é para dizer que distribuiu bolsa-esmola e que criou 5 milhões de subempregos.

A proposta do governo é a seguinte: “Deixa o homem trabalhar”. Isso mesmo: esqueçam tudo o que foi roubado, tudo o que foi aparelhado, todas as armações, todo o enriquecimento ilícito, todas as mentiras, toas as mafiosas ligações latino-americanas e parem de investigar e de denunciar. Deixa o homem terminar de aparelhar o Estado. Deixa o homem terminar de distribuir as terras brasileiras aos sem-terra, enchendo nosso país de pequenas propriedades de agricultura familiar e mandar nosso agronegócio para o espaço, como querem os países ricos. Deixa o homem trazer universidade para todo mundo em vez de levar todo mundo para a universidade. Deixa o homem distribuir bolsa-esmola-voto e enganar os pobres. Deixa o homem fazer a imprensa de refém do dinheiro do Governo. Deixa o homem rifar a Amazônia para ONGs. Deixa o homem fazer de nossas FFAA uma força da Defesa Civil e de polícia para combater o narcotráfico. Deixa o homem continuar deixando que nossos recursos minerais sejam vendidos a preço de banana. Deixa o homem transformar o Brasil industrial em exportador de matéria prima. E finalmente deixa o homem terminar de misturar as fronteiras do Brasil, para que desapareçam dentro da União das Repúblicas Socialistas da América Latina (URSAL).



(1)
http://www.itv.org.br/site/biblioteca/conteudo.asp?id=608

(2) A conclusão é de um levantamento feito pela Economática, empresa de informação financeira, a pedido do Estado. Todos os valores foram atualizados até 30 de junho de 2006

(3) No debate entre ele e Alckmin, na TV Record, dia 23/10, Lula disse que seu governo era o responsável pela criação das leis nºs 10.048, que dá prioridade de atendimento às pessoas que especifica, e 10.098, que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida. Acontece que essas propostas são de 8 de novembro e 19 de dezembro de 2000, respectivamente, e já estavam aprovadas. Lula apenas sancionou as duas, pelo Decreto nº5.296, de 2 de dezembro de 2004. A lei do Cão Guia, também citada pelo candidato do PT, não foi feita por ele (e sim pelo Senador Romeu Tuma - PFL/SP) e ele a citou como mérito de seu governo. Além do mais, Lula investiu apenas R$200 mil em programas de assistência à pessoa com deficiência - 12% do que estava previsto no orçamento.

Segundo dados divulgados pela Agência Nacional de Petróleo (ANP), e confirmados pela Petrobrás, o anúncio de que o Brasil se tornou auto-suficiente em petróleo não era verdadeiro, Mesmo assim o governo gastou milhões em propaganda como se fosse. A ANP informou que a conta petróleo foi deficitária em US$ 3,2 bilhões, entre janeiro e agosto de 2006, mas a Petrobrás previa um superávit, que não aconteceu, de US$ 2 bilhões. Isso significa que a diferença entre o previsto e o realizado é de US$ 5 bilhões. “Trata-se ou de um equívoco técnico, ou da superavaliação da capacidade de produção ou, o que seria pior, da tentativa de criar um fato político - e como tal comemorado pelo presidente da República ao visitar a P-50, em abril”, diz o editorial da Folha de SP de

Saturday, October 14, 2006

REFÉNS DA DESINFORMAÇÃO

Artigo Exclusivo Para o TERNUMA
Christina Fontenelle
13/10/2006
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Ontem eu entrei num táxi, no Rio de Janeiro. A costumeira conversa entre motorista e passageiro não poderia ser outra: as eleições. Perguntei ao motorista se ele tinha acesso à internet, em casa ou em qualquer outro lugar. A resposta foi curta: “não”. Perguntei ainda se ele havia visto o debate na BAND, entre os candidatos à presidência, Lula e Alckmin. “Não”, outra vez, foi a resposta. Para se redimir um pouco, o motorista disse ter ouvido a entrevista que Lula dera à Rádio Bandeirantes, na manhã de 10 de outubro, mas que não tivera como ouvir a de Alckmin. Este senhor, “um verdadeiro poço de desinformação”, estará comparecendo, obrigatoriamente, à sua sessão eleitoral, no próximo dia 29 de outubro, para exercer o que os demagogos chamam de “direito cívico-constitucional de votar”.

Vejam bem, este motorista de táxi vive e trabalha numa das cidades mais desenvolvidas do Brasil, pertence ao grupo de cidadãos brasileiros que muitos institutos classificam de classe-média (ainda que C ou D), e não tem acesso à internet (ou não se interessa em ter) – o único meio de informação verdadeiramente democrático de que dispomos no Brasil. Tudo bem, se uma pessoa puder ler três ou quatro jornais diários, sabidamente de tendências diferentes (tarefa mais difícil ainda), é claro, que poderá ficar, digamos, 1/3 tão bem informado quanto às pessoas que acessam a internet – mas, já seria menos mal. Acontece que estas duas opções estão completamente fora do alcance da maioria do eleitorado brasileiro.

Segundo pesquisa do
Ibope/NetRatings, 79% dos brasileiros da classe A acessam a web, na classe B, eles são 52%, na classe C, 22%, e nas classes D e E, apenas 10% das pessoas têm acesso à internet. A pesquisa revelou que 48% dos acessos são feitos em locais públicos gratuitos ou pagos. Um estudo do IBGE (2005) diz que apenas 18,5% das residências brasileiras têm computador, sendo que a maioria dos internautas é formada pelos públicos adolescente e infantil (10 a 14 anos - 24,4%; 15 a 17 anos - 33,9%). Apenas 3,3% das pessoas com mais de 60 anos acessam a internet. Este quadro já é triste e grave em si, isoladamente; mas em se tratando de política e de eleições (que na verdade são determinantes para o resto do que realmente influencia a vida de todos os brasileiros), é a revelação inequívoca de que todos nós vivemos sob a ditadura dos desinformados – por trás dos quais há uma verdadeira indústria invisível.

A maior de todas as falácias dessa indústria invisível está na permanente divulgação de que o maior problema da democracia brasileira é que ela só será plenamente conquistada, e exercida, através da educação do povo, que, por sua vez, estaria atrelada à escolaridade. A afirmativa não é de todo falsa, mas alimenta a idéia de que seja somente através da educação escolar, e quiçá cívica, que o cidadão possa vir a conquistar o direito e a capacidade de entender e de interpretar a realidade, com clareza, isenção e precisão, para que possa praticar os exercícios democráticos com sabedoria. Isso não é verdade. Até mesmo os mais bem educados cidadãos do mundo, em termos de escolaridade, são completamente incapazes de identificar a verdadeira realidade se lhes forem sonegadas informações as mais variadas sobre os diversos temas, nas mesmas quantidades e com os mesmos destaques. A questão da educação-escolaridade pode funcionar até mesmo, ao contrário, como instrumento de lavagem cerebral, limitando a capacidade de interpretação dos indivíduos.

Informação – diversificada e abrangente, quantitativa e qualitativamente – é mais importante para a democracia do que a escolaridade isoladamente. Não se deve limitar a capacidade de reconhecer a realidade que está por trás daquilo que se apresenta, como se realidade fosse, à categoria de “troféu”, do qual só serão merecedores aqueles que, além de boa e completa formação escolar, ainda sejam capazes de burlar o patrulhamento ideológico, buscando, por si mesmos, os “outros lados” das questões que lhes são solenemente sonegados ao longo de sua formação acadêmica. Exagerando um pouco, mas nem tanto assim, a verdade é que, especificamente para o exercício da democracia, mais vale um analfabeto bem informado do que um cidadão com formação escolar ideologicamente trabalhada.

O que eu quero dizer é que, enquanto tivermos uma imprensa refém da burocracia e dos investimentos em propaganda do Estado, vamos continuar a assistir à manipulação e à sonegação de informações – assim mesmo, escancaradamente como vemos hoje. Esse é o “detalhe” que desqualifica e deturpa a nossa democracia. A educação é extremamente importante sim e faz muita diferença, mas o seqüestro do direito à informação ampla, geral e irrestrita, incluindo aqui o patrulhamento ideológico que existe dentro da própria mídia, é que faz de todos nós brasileiros palhaços eleitores, que através de nossos votos, passamos procurações em branco para que gente que sabe uma infinidade de coisas, que a nós foi negado saber, mande e desmande, com o nosso dinheiro, nas nossas próprias vidas.

A desculpa para dizer que o povo brasileiro não sabe votar será sempre a de que nos falta educação escolar, que é um processo que levaria no mínimo 20 anos, com muito empenho, honestidade e força de vontade, por parte dos governantes, para ser revertido (ou seja, praticamente um problema insolúvel, se só for abordado por este aspecto). Mas, na verdade, se resolvêssemos esse “pequeno” problema de autonomia dos meios de comunicação, já estaríamos dando um enorme salto em eficiência democrática, num período infinitamente mais curto e mais produtivo, em termos de resultados.

A nossa democracia é tão fajuta que não temos nem sequer uma legislação que permita ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) fiscalizar adequadamente as propagadas eleitorais, no sentido de exigir que toda e qualquer comprovada mentira que seja divulgada, por qualquer dos candidatos, seja desmentida nas mesmas condições e proporções que tenha sido apresentada. Por exemplo, uma das propagandas eleitorais do candidato-presidente Lula, veiculadas nacionalmente no horário eleitoral gratuito, antes do primeiro turno das eleições, editava a imagem dos aplausos dirigidos à Kofi Annan, na sua despedida do cargo de secretário-geral da ONU, de forma que parecesse que aqueles aplausos estivessem sendo recebidos pelo presidente Lula, que também discursou na Assembléia Geral das Nações Unidas, no dia 19 de setembro deste ano.

Uma verdadeira fraude audiovisual sobre a qual não se tomou nenhuma providência. O TSE alega que essa conduta seja parte natural das disputas eleitorais e que cabe aos eleitores avaliar se o que fazem e falam os candidatos e os partidos políticos são verdades ou não. Pergunta que procede: como terá o eleitor material para fazer esta avaliação se a nossa imprensa é toda ideológica ou financeiramente comprometida e auto-censurada. Num país que se julgasse sério e democrático, o TSE estamparia uma tarja preta na propaganda eleitoral do infrator, no dia seguinte, tomando um tempo razoável da mesma e esclarecendo aos eleitores sobre a montagem fraudulenta e a mídia de grande alcance faria o mesmo, noticiando e desmascarando a notícia. Não foram uma nem duas vezes que o PT mentiu nos programas do horário eleitoral gratuito nesta campanha (e fora dele nem se fala!). Lula também se proclamou o governante que fez nascer a indústria do biodiesel no Brasil – um verdadeiro atentado à História do país. Providências? Nenhuma.

Não há normalidade nenhuma neste governo e muito menos na disputa eleitoral. Usar e abusar da mentira não é normal; aparelhar o Estado também não. Nada se compara ao que temos visto acontecer no Brasil nestes últimos 4 anos. Simplesmente o PT infiltrou ou cooptou militantes petistas por toda a máquina estatal – nas empresas estatais, nas instituições financeiras do Estado, nas engrenagens do poder Judiciário e do Legislativo, nas instituições policiais, nos movimentos populares e por toda a parte. A isso se dá o nome de aparelhamento do Estado. Para que? Por exemplo, para garantir que a Polícia Federal esteja até hoje sem descobrir de onde veio o dinheiro que seria usado pelo PT para comprar um falso dossiê para minar a campanha eleitoral de José Serra ao governo de São Paulo.

Serve também para que a mesma Polícia Federal atue implacavelmente contra aqueles que sejam considerados inimigos do PT, como no caso dos grampos do TSE e do STF, no qual, em inacreditável prazo de 5 dias, pela primeira vez na história universal das Telecomunicações, a Polícia Federal conseguiu provar, “irrefutavelmente”, segundo a mesma, que uma linha telefônica jamais tenha sido grampeada. Fez melhor do que isso: em apenas 1 dia de análise, concluiu que uma empresa que atuava há mais de 13 anos no mercado de varreduras eletrônicas, sem jamais ter cometido um erro sequer, desta vez havia cometido “um erro grosseiro”. E fica sempre tudo por isso mesmo, a palavra final é sempre do PT, a imprensa se cala solenemente sobre o tema, blindando os envolvidos – e danem-se a lógica, as evidências, os testemunhos, os protestos e até mesmo que a mentira e a “armação” estejam evidentes.

Quem é que pode enfrentar honesta e democraticamente uma disputa eleitoral contra um candidato-presidente e contra um partido que atuam como este que se instalou no governo do Brasil? Que espécie de instituições são estas que nós temos aqui no Brasil que não funcionam como deveriam? Que espécie de gente poderosa e influente que temos aqui que continua a agir como se estivéssemos numa disputa eleitoral européia? Se antes a nossa democracia ainda tivesse muito o que amadurecer, agora vemos que houve um magnífico retrocesso que está nos levando direto para a consolidação de um Estado fascista.

Uma coisa é certa, não há como um povo libertar-se do fascismo pelo voto e, sabendo-se que para que tenha se consolidado o Estado fascista há que ter havido obediência das FFAA aos senhores do Estado, como poderá o povo libertar-se do fascismo se não mais disporá nem de suas armas (e o Estatuto do Desarmamento veio para isso), nem das armas de suas FFAA e nem de seu voto? Quem se habilita a responder?

SOB ENCOMENDA

Christina Fontenelle
12/10/2006
E-MAIL: Chrisfontell@gmail.com
BLOG/artigos: http://infomix-cf.blogspot.com/
BLOG/Série CAI O PANO: http://christina-fontenelle.blogspot.com/

Os jornais fizeram um verdadeiro estardalhaço com a divulgação dos resultados das primeiras pesquisas eleitorais, realizadas especificamente para o segundo turno das eleições e após o debate entre Alckmin e Lula na TV Bandeirantes, realizado no último dia 8 de outubro. Há um verdadeiro exército de jornalistas e analistas políticos devotadamente empenhados em transformar o evidente melhor desempenho do candidato Alckmin em derrota. E o senador petista Tarso Genro ainda tem a coragem de dizer que a imprensa está toda ao lado de Alckmin. Imagine se estivesse contra!

São dois os objetivos: primeiro, desestimular a militância pró Alckmin, que não poderia ter tido outra reação, depois de assistir ao debate, a não ser a de continuar festejando e perseguindo a vitória do candidato no pleito do próximo dia 29 de outubro; segundo, fazer com que Alckmin desista de adotar a postura incisiva, que os petistas sabem muito bem ir direto ao encontro da figura de estadista que a maior parte dos brasileiros quer ver na presidência. No debate, a imagem do Lula blindado e inatingível cai por terra e fica nítido que, quando não pode contar com a ajuda da engrenagem estatal, vai ficando cada vez mais difícil para o candidato do PT falar a verdade e até mesmo disfarçar as mentiras.

O instituto Vox Populi, por encomenda da TV Bandeirantes e da revista Carta Capital, também realizou uma pesquisa, nos dias 9 e 10 de outubro, ouvindo 2.000 eleitores. Os dados revelaram que Lula aparece com 51% das intenções de voto, na consulta estimulada - 10 pontos à frente do adversário Geraldo Alckmin que tem 41%. Na consulta espontânea, Lula tem 50% e Alckmin, 40%. Considerando os votos válidos, o petista mantém a vantagem de 10 pontos: 55% a 45%.O levantamento também perguntou aos entrevistados quem era o candidato mais simpático, o mais preparado para governar e o mais agressivo. Lula ficou com os dois primeiros títulos e Alckmin com o terceiro. Faltou perguntarem quem era o mais mentiroso. Por que será?

Pesquisa do Datafolha realizada em 10 de outubro, com 2.868 eleitores de 25 Estados, apontou uma vantagem de 11 pontos para Lula, que tem 51% das intenções de voto, contra 40% de Alckmin. Neste levantamento, brancos e nulos somaram 4% e os indecisos 5%.

O Ibope ouviu 3.010 eleitores, em 199 municípios, nos dias 10 e 11. A pesquisa, encomendada pelo Jornal Nacional (TV Globo) e divulgada no feriado de 12 de outubro, mostra que Lula tem 52% das intenções de voto, uma vantagem de 12 pontos percentuais sobre Geraldo Alckmin, que obteve 40% das intenções de voto. Eleitores que declararam intenção de votar nulo ou em branco somaram 4% e os indecisos também chegam a 4%. Considerando apenas os votos válidos, Lula tem 57% e Alckmin 43% dos votos - uma diferença de 14 pontos percentuais. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.

Na mesma pesquisa, a avaliação dos eleitores em relação ao governo do presidente Lula ficou estável. Os entrevistados que avaliavam o governo petista como bom ou ótimo passaram de 44% para 45%; os que avaliaram como regular passaram de 35% para 33%; e os que avaliaram o governo de Lula como ruim ou péssimo passaram de 21% para 20%. O Ibope também perguntou aos eleitores em quem eles votaram no primeiro turno e comparou com a intenção de voto no segundo turno. Entre os eleitores que votaram em Heloísa Helena, 54% dizem que agora vão votar em Alckmin e 46% dizem que vão votar em Lula. Entre os eleitores dos outros candidatos que não chegaram ao segundo turno, incluindo Cristovam Buarque, 58% agora votam em Lula e 42% votam em Alckmin.

As pesquisas foram amplamente divulgadas pela mídia de grande alcance, inclusive com destaque para a parte da migração de votos. Entretanto, se tivesse tido na mídia o destaque que merecia o choro de Heloísa Helena no plenário do Senado, nesta quarta-feira, dia 11/10, não acredito que aqueles que tenham votado na Senadora para presidente continuassem a cambiar votos para Lula. O motivo do choro foi uma montagem que estava circulando pela Internet em que a senadora aparece seminua numa capa da revista ''Playboy''. Ela atribuiu a distribuição da imagem ao PT, classificando tanto os militantes do partido quanto o presidente Lula de “vagabundos”.

Em nota enviada na noite desta quarta-feira ao G1, o comitê de campanha de Lula repudiou as declarações da senadora, dizendo que é contra qualquer baixaria no processo eleitoral (o caso do dossiê Vedoin que o diga). Heloísa Helena reconheceu que sua mãe, dona Helena, e seu irmão, Hélio, querem votar em Geraldo Alckmin, por terem ficado traumatizados com o processo de expulsão de Heloísa Helena do PT: "No dia da eleição vou tentar levar a minha mãe para o interior. Ela vota na capital. Mas não sei se vou conseguir porque ela é muito teimosa", disse Heloísa Helena que, assim como a mãe, vota em Maceió (*).

Informação que não foi fornecida e que seria muito relevante é se aos entrevistados foi perguntado se haviam assistido ao debate ou não. Porque, se a intenção das pesquisas era mostrar a influência do debate sobre os eleitores, deveria ter sido divulgado o índice de audiência e se era condição, para ser entrevistado, ter assistido ao mesmo. São os tais detalhes que ficam por conta das metodologias que, na realidade, acabam podendo produzir praticamente os resultados que se queira.

Uma coisa é nítida, a imprensa lulista e o PT ficaram apavorados com o que chamaram de tom mais agressivo que Geraldo Alckmin adotou no debate, diante de um Lula que, na verdade, não tem como se defender, já que contra fatos não há argumentos. Por que esse pânico todo? Porque Alckmin fez e disse o que pelo menos metade dos brasileiros (o que não é pouca gente) desejava fazer e dizer diante da figura de Lula. Esse é exatamente o tom que muita gente nesse país gostaria de ter visto em relação ao PT e ao presidente, desde que estouraram os primeiros escândalos do “mensalão”. Esse é o tom de quem talvez pudesse vir a representar uma chance de resgate do Brasil constitucional e democrático.

Como se já não bastasse a população ter perdido a confiança em quase todas as instituições e de ver a imprensa que persegue a verdade e os fatos ser achincalhada diariamente pelos aliados do PT e pelo próprio presidente da república, agora também as empresas de pesquisa, aliadas à imprensa lulista, parecem estar dando sua fervorosa contribuição para que os brasileiros tenham a certeza de que não podem confiar em absolutamente mais nada e nem em ninguém.

Já era tempo do TSE tomar alguma providência e de algum parlamentar qualquer entrar com um projeto de emenda constitucional para regulamentar e punir com rigor as empresas que trabalham com pesquisas no Brasil. O fenômeno “manipulação”, que pode acontecer muito mais por parte de quem encomenda as pesquisas do que por quem as faz, não é recente; mas, a constância com que os “erros” vêm acontecendo de uns anos para cá é, no mínimo, desabonadora.

Desde as pesquisas sobre o referendo do Desarmamento, que até a umas três semanas antes do dia da votação apontavam expressiva vitória do “SIM” sobre o “NÃO”, que “erros” como os que aconteceram nos trabalhos das empresas pesquisadoras sobre aquele tema têm-se repetido constantemente. É sempre o mesmo padrão: as pesquisas caminham em sentido contrário ao do que se revela após os pleitos, até pelo menos duas semanas antes dos mesmos. Na última hora, os “verdadeiros” resultados começam a ficar mais evidentes. A desculpa é sempre a mesma: o eleitorado muda os votos “aos 45 do segundo tempo”. Foi assim com as pesquisas, no primeiro turno, e está acontecendo, outra vez, a mesmíssima coisa com as pesquisas sobre as intenções de voto para o segundo turno das eleições presidenciais.

Se estas empresas de pesquisa fossem multadas pelo TSE, a cada vez que errassem suas previsões para muito além das margens de erro previstas (3%, no máximo, para mais ou para menos), dentro do prazo de dois meses entre a publicação dos resultados e o resultado oficial das apurações, a situação poderia tornar-se bem menos freqüente.

O tom “agressivo” de Alckmin, que está mais para o tom de quem, sabendo-se munido da verdade, “já está de saco cheio” de ser roubado e enganado, agrada ao seu eleitorado; assim como ao eleitorado de Heloísa Helena agrada vê-la discursando acaloradamente. O tom que não agrada a ninguém é o de “mentiroso” – a não ser, é claro, aos que da mentira se beneficiem ou aos que não tenham como saber que estão sendo vítimas do “conto do vigário” por desinformação proposital e, portanto, criminosa.

(*) Informações obtidas na correspondência enviada pelo Blog dos amigos do Cezar Maia.

O MENTIROSO E O AGRESSIVO


A verdade constrange o presidente Lula. Por isso, qualquer um que se utilize dela para se dirigir a ele será acusado de indelicado e agressivo.

Por Christina Fontenelle
O presidente-candidato, Luiz Inácio Lula da Silva, passou toda a sua campanha atacando o governo de Fernando Henrique Cardoso – que não foi, não é e não será o de Alckmin, se ele for eleito presidente do Brasil. Se há um defeito a ressaltar na campanha de Alckmin é o fato de o candidato não ser mais explícito em relação a isso: Alckmin não é FHC, não foi presidente do Brasil, fez por São Paulo coisas que FHC não fez pelo Brasil e tem uma postura em relação aos interesses brasileiros suficientemente diferente da de FHC para fazer a diferença, para melhor, diga-se de passagem, na hora de estabelecer a posição do país nas disputas internacionais e no estabelecimento de metas desenvolvimentistas.

No debate entre os dois presidenciáveis realizado no dia 8 de outubro, na TV Bandeirantes, não foi diferente. Lula atacou o governo do PSDB e dirigiu a Alckmin cobranças que, na verdade, só poderiam ser respondidas por FHC. Eu diria que o ex-governador de São Paulo teve muita paciência, porque, se fosse comigo, eu, no mínimo, teria dito: “os seus assessores deveriam ter lhe preparado para debater com o candidato Geraldo Alckmin e não com FHC, mesmo porque, ele não está aqui para se defender”.

Quem viu o debate teve a oportunidade de observar um Alckmin seguro e incisivo, sem meias-palavras e que incorporou o espírito de muitos brasileiros ao dirigir a Lula uma série de perguntas que certamente muito deles gostariam de fazer ao presidente. A certa altura, Lula começou a debochar da postura impecavelmente impositiva de Alckmin. Fazendo isso, o presidente mostrou seu talento para o cinismo – o que não surpreende a mais ninguém, diga-se de passagem. Lula bebeu muita água, mostrou-se desconfortável e simplesmente não respondeu a muitas das perguntas do adversário – o que também não surpreende a mais ninguém.

LULA: Tão satisfeitos?HOMEM: Foi muito bem, presidente!LULA: Bem é o caralho! Foi nessa merda que vocês me meteram, tão satisfeitos?VOZ DE MULHER (Possivelmente Marta Suplicy): Calma presidente, você se saiu muito bem.LULA: Se eu me estrepar, vai todo mundo se fuder junto!

O diálogo foi presenciado por um funcionário da TV Bandeirantes, conforme divulgação na Internet. Não se sabe se é verdadeiro ou não, mas, a julgar pelo que já foi publicado no livro “Viagens com o Presidente”, de Eduardo Scolese e Leonencio Nossa, poderia perfeitamente ter acontecido. Na verdade, não estaria expressando nada além da realidade do que aconteceu naquele debate na BAND e só vem confirmar o porquê do empenho do PT e de grande parte da mídia em enquadrar Geraldo Alckmin nas algemas do discurso politicamente correto que o qualifica de “agressivo”.

A coordenadora da campanha de Lula em São Paulo, Marta Suplicy, declarou, ao final do debate entre Lula e Alckmin, na BAND, que o candidato da oposição parecia um “candidato de plástico”. Um ato falho, com certeza, haja vista as atuais feições de madame Suplicy. Os companheiros do PT, em massa, todos disseram que Lula havia se saído muitíssimo melhor do que o oponente. Bem, da boca para fora não se poderia esperar outra coisa mesmo, mas, a reação em forma de “operação desespero”, que já estava em andamento, agora ficou mais veemente.

"Pensei que não estava na frente de um candidato, que estava na frente de um delegado de porta de cadeia", disse Lula a jornalistas, em Brasília, no dia seguinte ao debate. As declarações foram dadas em uma cerimônia no Palácio da Alvorada, onde mais de 30 cantores de gospel participaram, declarando seu apoio à campanha do presidente. Bem, lugar de delegado é mesmo na delegacia e até eventualmente na porta da mesma. O que o presidente talvez quisesse dizer fosse “advogado de porta de cadeia”, que são aqueles advogados oportunistas que pegam qualquer causa apenas para faturar uma “graninha”. Errou duas vezes o presidente: na expressão popular e no significado que ela teria caso estivesse certa.

"O povo não quer ver candidato xingando o outro. O povo quer saber o seguinte: o que é que vai fazer para melhorar a minha vida", disse ainda o presidente. Nisso Lula tem razão, essa é uma coisa que todo mundo está interessado em saber. Entretanto, pelo menos 58.157.780 eleitores brasileiros estariam igualmente muito interessados em saber outras coisinhas mais. Algumas delas, por exemplo: de onde veio o dinheiro para comprar o dossiê Vedoin? Por que a Polícia Federal é tão eficiente em assuntos que favorecem o governo do PT, ou que dele são independentes, e não apresenta o mesmo excelente desempenho quando se trata de “investigar” fatos que incriminem pessoas ligadas ao PT? O ex-ministro Palloci cometeu crime de violação do sigilo bancário contra um cidadão brasileiro comum. Como foi possível que ele tenha sido candidato, pelo PT, a deputado federal? E as despesas astronômicas com cartão de crédito corporativo da presidência, inclusive com saques em dinheiro de grandes quantias? E a “investigação” relâmpago da PF sobre os grampos telefônicos no TSE e no STF, constatando e garantindo, pela primeira vez na história da Eletrônica e das Telecomunicações, que uma linha telefônica jamais tenha sido grampeada? A lista teria para mais de cem outras “pequenas curiosidades” dos brasileiros e seria inviável escrevê-las todas aqui.

Mesmo com o “bunker” (
o mesmo de sempre) desfalcado, pelo recente afastamento estratégico de figuras militantes importantes como Ricardo Berzoini, Freud Godoy e Jorge Lorenzetti, por suspeita de envolvimento na compra do dossiê Vedoin, o PT começou a apelar de todas as formas e maneiras para atacar a candidatura de Alckmin. Primeiro, antes mesmo do debate da BAND, veio a divulgação mentirosa, pela boca do próprio Lula, em entrevista a uma emissora de rádio, da estória das privatizações da Petrobras, da Caixa Econômica, etc.; e, como mentira pouca é bobagem, agora falsificam os números dos gastos da campanha presidencial do candidato do PSDB, multiplicando por mil o real valor despendido pelo tucano com viagens entre 2001 e 2005.

Até mesmo a primeira dama, Dona Mariza, resolveu trabalhar pela reeleição de seu marido. Ela saiu, ao lado da esposa do vice-presidente José Alencar, pelas ruas de Brasília (DF), para pedir votos para o PT. Eu não conheço o protocolo que rege a respeito do que deve ou não ser feito pela primeira dama. O que eu e todo mundo sabe é que, ao contrário de todas as ex-primeiras damas que o país já teve, Dona Mariza, não realizou um único tipo sequer de trabalho, paralelo ao de Lula, em benefício do país, nem mesmo em ações sociais, nos quatro anos do governo de seu marido. A esposa do presidente Lula não teve disposição para o trabalho social, mas teve, agora, para trabalhar pela reeleição de seu marido, assim como teve também para gastar. A primeira dama gastou, e muito, principalmente com os cartões de crédito corporativos da presidência – cujas faturas estão sendo atualmente “investigadas” (ô investigaçãozinha demorada essa!) pelo Tribunal de Contas da União e se encontram inacessíveis à vigilância social, por terem passado a ser consideradas assunto de segurança nacional – pela atuação do petista Aloísio Mercadante.

Nos novos programas eleitorais de Lula para o segundo turno das eleições, mais truques de edição (ninguém esqueceu do “empréstimo não contabilizado” que o PT fez para Lula dos aplausos que eram para Kofi Annan, na ONU). Desta vez, fazendo uma edição extremamente bem cuidada do que teria sido falado pelo presidente no debate da BAND. Quem não assistiu, não conseguirá ligar o que ouviu no rádio, nas ruas e o que eventualmente tenha lido nas manchetes de jornais, com o que pareceu ter sido o desempenho de Lula na versão da primorosa edição do PT.

Neste mesmo programa, depois de citar os mais de 46 milhões de votos conquistados no primeiro turno, Lula apresentou como Estados que disseram "sim” a Lula, entre outros, São Paulo e Rio Grande do Sul. Mentira, porque paulistas e gaúchos votaram mais em Alckmin. Segundo o presidente, os adversários fazem "uma campanha de ódio", que divide o Brasil entre aliados e inimigos. Mas é ele, e não Alckmin, que anda dizendo que foi a “elite” que levou o tucano para o segundo turno das eleições presidenciais. O PT não perde mesmo essa prática de acusar os outros daquilo que seus líderes e aliados é que fazem. Sabe-se muito bem o que é que Lula chama de “elite”. O povão é que talvez não ligue o nome à pessoa, achando que o presidente esteja se referindo a gente de dinheiro ou a poderosos políticos. Na verdade, a definição do nosso presidente e de todos os seus aliados para “elite” é muito simples: elite é a classe de pessoas à qual pertencem todos aqueles que não estejam de acordo com a transformação do Brasil em um Estado petista.

Ao contrário, entretanto, do que o presidente diz, se há alguém que possa ser acusado de ter dividido o povo brasileiro, seu nome é Luiz Inácio Lula da Silva. Ele foi o homem que trouxe para a vida prática o que prega a teoria da revolução socialista. Ele foi o homem que mais jogou os pobres e menos favorecidos deste país contra os mais afortunados, indiscriminadamente, em quase todos os seus discursos, nos quais sempre dá um jeito de falar de uma “conspiração das elites” para derrubá-lo e/ou difamá-lo (como se ele precisasse de alguém para fazer aquilo em que se tem mostrado um verdadeiro expert). Lula se inclui entre os pobres, embora esteja há anos luz da pobreza, há muito tempo e desde bem antes de ser eleito presidente.

Lula, que dobrou seu patrimônio pessoal durante os 4 anos de governo, tem o hábito, por exemplo, de fumar exclusivamente charutos cubanos e de usar cigarrilhas holandesas. Não é para qualquer um. Dona Mariza, por sua vez, freqüenta festas, como as do aniversário de seu cabeleireiro, Wanderley Nunes, em fevereiro deste ano, no restaurante Magari, em São Paulo. No cardápio, nhoque com queijo fontina de entrada e peixe pargo com risoto de açafrão (o povão aqui vai precisar de dicionário de culinária); para beber, champanhe francês Billecart-Salmon (R$ 240, a garrafa) e vinho tinto Brunello di Montalcino, (safra 99 - R$ 362, a garrafa).


Sobre o gosto da família “Silva” pelo nababesco, em 2003, a Folha de SP publicou interessante matéria comparando o arrocho que o governo estava impondo no país com a prodigalidade dos gastos destinados ao conforto e ao luxo de Lula e de dona Marisa no Palácio do Planalto e na Granja do Torto. Na época, haviam sido abertas licitações para a construção de um ginásio esportivo, com sala de fisioterapia, no Palácio do Planalto (R$ 62.500), ampliação da churrasqueira e do salão da Granja do Torto (R$ 92.127) – onde antes já se construíra um campo de futebol, devidamente iluminado, para que Lula pudesse jogar à noite com os amigos. Nos itens licitados para o enxoval do Palácio da Alvorada, entre outros exageros, destacavam-se o material de cama, no qual figuravam roupões de banho necessariamente confeccionados com fios de algodão egípcio (R$ 152.637), e quatro máquinas fotográficas digitais (R$ 5.760). Bem, se Lula se diz um homem do povo e que a elite está com Alckmin, ô povo rico esse nosso, hein?

Os cartões de crédito corporativos não ficam atrás - são uma metralhadora de gastos. Alckmin perguntou a Lula sobre isso no debate da BAND. O presidente, depois de chamar o adversário de “leviano”, disse que os cartões tinham sido "a única coisa boa que o FHC criou no governo dele". Não respondeu, nem sobre os gastos excessivos nem sobre o sigilo que os envolvem. Alckmin, quando retomou a palavra, disse que seu compromisso seria com a transparência absoluta.

De fato, como disse Lula, os cartões foram criados em 2002, no governo de FHC, para facilitar o pagamento de despesas imediatas que, naquele ano – último de FHC - somaram R$ 1,3 milhão. As faturas eram enviadas ao TCU e publicadas, para conferência pública, no site do Sistema de Acompanhamento Financeiro da Administração Federal (Siafi). Os cartões tinham cada um o limite de R$ 400 mil. No governo Lula, logo nos dois primeiros meses de uso, ultrapassou-se este limite, que foi alterado, então, para R$ 1 milhão cada cartão.

Desde 2005, as “despesas” vêm sendo investigadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU), cujo ministro Ubiratan Aguiar vem analisando as auditorias realizadas que vão aos poucos sendo feitas em cerca de 30 mil notas fiscais, algumas delas sob suspeita de serem frias. Dados sigilosos que vazaram desta investigação relatavam saques de mais de R$ 1 milhão que teriam sido feitos por um único funcionário, em 2004, e gastos indevidos com a primeira-dama e os filhos do presidente.

As despesas com os cartões, sem prestação de contas, incluindo gastos e saques, já somam neste ano (2006), R$20,756 milhões, incluindo todos os ministérios e a Presidência (2005 - R$ 21,706 milhões e 2004 - R$ 14,1 milhões). Os dados são do próprio portal da Presidência – que revela o destino de apenas R$ 94.987,33 (2,6%), dos quais R$ 20 mil foram saques em dinheiro (que não se sabe onde foi gasto).

E os ataques a Alckmin não param. No dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, o senador Eduardo Suplicy compareceu à missa na Basílica de Aparecida, onde também estava o candidato do PSDB acompanhado de sua esposa e, com a falsidade que lhe é peculiar, recomendou que Alckmin fosse “respeitoso” com o presidente Lula no próximo debate. Aproveitou também para dizer que o programa Bolsa-Família, ao contrário do que havia dito Alckmin no debate da BAND, exigia sim contrapartidas. Alckmin não quis alimentar uma discussão com Suplicy e não fez comentários. Perdeu a chance de dizer algumas verdades ao senador petista. Uma delas é a de o senador deve saber muito bem que o PT faz vista grossa (ou não se interessa mesmo, já que o objetivo são votos) na fiscalização, tanto de quem recebe o auxílio do Bolsa-Família quanto em relação ao cumprimento das contrapartidas. A outra é a de que um homem que sabe o que Suplicy sabe sobre o PT e sobre Lula e continua ao lado dele e dentro do partido é cúmplice de todos os crimes e atentados à democracia que foram cometidos por eles nos últimos anos – sendo assim, não se poderia mesmo esperar que respeitasse a comemoração religiosa.

Nesta quinta-feira, 12 de outubro, mais outro ataque. Desta vez foi contra a liberdade de expressão do famoso comentarista Arnaldo Jabor que publicara um comentário (*) feito no último dia 10 de outubro, no site da Rádio CBN. É ótimo porque, agora, os comentaristas só ficarão livres para falar o venha de encontro aos interesses do PT. O ministro Ari Pargendler, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), determinou a retirada do comentário do colunista da página da rádio CBN na Internet, e das páginas de todas as suas afiliadas. O advogados da coligação "A Força do Povo" (PT-PRB-PCdoB), que apóia a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, argumentaram que o comentário, intitulado “Qual é a origem do dinheiro ? Este é o lema da campanha da oposição”, prejudicava Lula e favorecia Alckmin. Pode até ser que isso seja verdade, mas não por culpa do Jabor e sim do próprio candidato do PT, porque o problema é que é praticamente impossível falar a verdade sem prejudicar o presidente Lula. Deveremos todos passar a mentir daqui para frente?

A despeito de todos os ataques de que lance mão o PT para liquidar com a candidatura de Geraldo Alckmin – e eles ficarão cada vez mais sórdidos daqui para a frente – não se pode perder o foco e censo de realidade. E a realidade é que a globalização, quer gostemos dela ou não, é irreversível sob todos os aspectos. A única coisa que poderia mudar esse rumo seria um cataclismo. Fora isso, ela é inexorável e há que se aprender a construir uma posição político-sócio-econômica sólida e uma soberania impositiva, ainda que com características de interdependência (inteligente e proveitosa, de preferência).

Manter este tipo de relação construtiva e interativa com economias essencialmente monopolistas, baseadas em supervalorização do Estado e na arrecadação implacável de impostos é um retrocesso de proporções gigantescas ao desenvolvimento humano – seja ele no Brasil ou em qualquer parte do mundo. É a tal estória: a democracia não é o melhor dos regimes, mas é o menos pior deles todos; e o mesmo vale para a economia, na qual a autonomia do mercado não é o que de mais perfeito se possa idealizar, mas ainda é o menos injusto e mais produtivo que se pode realizar.

Nesse contexto, alinhado com o que vem sendo feito na Venezuela pelo ditador Hugo Chavez, Lula é a personificação do caminho em direção ao retrocesso. FHC estaria mais para uma postura de governo de subserviência em relação às forças impositivas internacionais. Alckmin parece ser diferente, e isso pôde ficar mais claro na sua postura “agressiva” no debate da BAND. Ele talvez seja a liderança capaz de dar início, finalmente, à construção de um diálogo com as potências internacionais que comece a estabelecer a tão sonhada contrapartida de bons dividendos para o Brasil.

Christina Fontenelle
12/10/2006
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(*) Qual é a origem do dinheiro ? Este é o lema da campanha da oposição.
Arnaldo Jabor
O Estado de São Paulo, Caderno 2, 10 Out 06

O debate de domingo serviu para vermos dois lados do Brasil. De um lado, a busca de um 'choque de capitalismo', de outro um delirante choque de um socialismo degradado em populismo estatista, num getulismo tardio.

De um lado, S. Paulo e a complexa experiência de um Estado industrializado, rico e privatista e, do outro, a voz de grotões onde o Estado ainda é o provedor dos vassalos famintos. De um lado, a teimosa demanda de Alckmin pelo concreto da administração pública e, do outro lado, o Lula apelando para pretextos utópicos, preferindo rolar na retórica de símbolo, lendo constrangido estatísticas e citando obras quem nem foram iniciadas.

Alckmin foi incisivo; Lula foi evasivo. Lula saiu da arrogância do primeiro turno para o papel de 'sóbrio estadista injustiçado'. Mas não deu para esconder seu mau humor quase ofendido, por ter de dialogar ali com aquele 'burguês', limpinho, sem barba. Faltou-lhe a convicção de suas afirmações, pois seu 'amor ao povo' não teve a energia de antes. Gaguejou, tremeu, suas frases peremptórias não tinham ritmo, não tinham 'punch line', não 'fechavam', enquanto Alckmin parecia um cronômetro, crescendo no ritmo e concluindo com fragor.

Lula estava rombudo, Alckmin era um estilete. Lula estava deprimido porque raramente foi contestado assim, ao vivo. Sempre recuamos diante do sagrado 'Lulinha do povo', imagem que se rompeu domingo. Houve um leve sabor de sacrilégio na acusação do agora agressivo 'picolé de chuchu'. Alckmin rompeu a blindagem do Lula, protegido dos escândalos. Alckmin atacou a intocabilidade do operário sagrado e tratou-o como cidadão. Isso.

O Lula perdeu um pouco da aura de 'ungido de Deus'. Lula sempre se disse 'igual' a nós ou ao 'povo', mas sempre do alto de uma intocabilidade, como se ele estivesse 'fora da política'. Sempre houve um temor reverencial por sua origem pobre; qualquer crítica mais acerba soava como um ataque da 'elite reacionária que não suporta um operário no poder', como clamam tantos lulo-colunistas e artistas burros.

Quando apertou o cerco, Lula tentou se valer dos pobres, dos humildes, falou da mãe analfabeta, mas sempre evitou responder a qualquer pergunta concreta, como se a concretude fosse uma ofensa a seu mundo ideológico puro, acima da vida 'comum'. Várias vezes, suas falas não faziam sentido, porém mantinham para o espectador acrítico aquele ronronar grosso que empresta um ritmo de fundo em torno da sua imagem de 'símbolo dos pobres'.

Lula não precisa dizer a verdade; basta parecer. Sempre que o Alckmin o encostava na parede, ele chamava as verdades proferidas de 'leviandades', o que é muito comum no vocabulário petista que nomeia de 'erros' os crimes cometidos ou de 'meninos', os marmanjos corruptos que transportam dólares na cueca ou nas maletas e que foram 'desencaminhados', coitados, por bandidos comuns, talvez até (quem sabe?) 'a serviço' de tucanos solertes.

Lula tentou encobrir os crimes de sua quadrilha apelando para pretensos 'crimes' de gestões anteriores, como barragem de CPIs, votos comprados, caixa 2 sem provas.

Ele e os petistas se julgam donos de uma 'meta-ética', uma 'supramoral' que os absolveria de tudo e, por isso, Lula se utilizou de mentiras e meias-verdades para responder às acusações de mensalões e sanguessugas em seu governo.

Para justificar a omissão e a passividade diante da Bolívia e do prejuízo de 1 bilhão e meio de dólares nas instalações da Petrobrás, Lula chegou a criticar a violência burra do Bush para se absolver na política de 'companheirismo' com o Evo Morales. Ao invés de se defender de acusações pontuais, dizia que a era-FHC também era corrupta, como nas brigas de bordel, em que as prostitutazinhas se defendem apontando os pecados das outras.

Lula tentou fugir da pergunta que não vai se calar: 'Qual a origem do dinheiro?'

Lula respondeu com a metáfora batida: 'Muitas vezes o sujeito está na sala e não sabe o que está acontecendo na cozinha.' Ou seja: é normal que o chefe da Casa Civil e agora o Presidente do partido, Berzoini, Hamilton Lacerda, o chefe da campanha do Mercadante, o diretor do Banco do Brasil, seu assessor, seu churrasqueiro, petistas ativos no diretório, todos soubessem e trouxessem o dinheiro em malas, sem avisar o chefe. E quer que a gente engula.

Lula pediu a Deus que não o mate 'até que ele saiba de onde veio o dinheiro'. A resposta obvia é: 'Não precisa perguntar a Deus; basta perguntar aos seus assessores na sala ao lado...', como escreveu a Miriam Leitão.

Quando Alckmin o apertava, ele o desqualificava: 'Meu Deus... como é que pode? Você está nervoso, Alckmin... Não é o seu estilo...', querendo trancar o desafiante em seu papel de gentil picolé. Diante do pedido de explicações, fugia, tentando abordar 'questões programáticas' (como se ele as tivesse...), como se elas pudessem estar acima das 'bobagens de crimes que sempre houve, de erros de companheiros' etc... Assim, tentou voar por cima da ética assassinada.

Acontece que os crimes de sua quadrilha ' são' a questão principal e também 'programática' porque, além da imoralidade, esses crimes prefiguram uma política que visa a atropelar a democracia através de grossuras truculentas que lhes mantenham no emprego a qualquer custo.

Lula não pôde responder à pergunta fatal 'De onde vem o dinheiro?' porque sua origem é conhecida.

Todos sabemos que o dinheiro veio de algum nicho onde está guardado para 'despesas do partido', dinheiro desviado ou de fundos de pensão ou de estatais ou de bancos oficiais ou de contratos superfaturados. Todos eles sabem. Só falta o nome do dono da cueca ou das maletas. E certamente o advogado do governo não permitirá que saibamos até o dia 29.

Tudo está óbvio. Neste momento perigosíssimo de nossa História, só resta esperar que o 'povo' perceba o óbvio, já que os intelectuais jamais o enxergarão.