Thursday, July 27, 2006

DELIRIOPATA AUTISTOSSOCIÁVEL



O processo de formação da grande aldeia global sem fronteiras está tão acelerado que parece não existir nem mais o interesse em escamotear intenções por trás deste ou daquele procedimento. Outro dia eu escrevi um pequeno informativo, “Engolido Pelo Bloco”, que falava sobre o descaramento com que o tal processo de globalização vem se concretizando na América Latina (
http://infomix-cf.blogspot.com/). A coisa já se agigantou tanto que muitos não conseguem enxergar o quanto de anormal há nela.

A constante repetição ininterrupta de um discurso que sempre pretendeu transformar em normal aquilo que não o é e que descreve a realidade não como ela se apresenta, mas sob a ótica de quem diz precisamente aquilo quer, sem se importar com o que tenha de fato acontecido, em toda parte que se vá, que se veja ou que se ouça, está produzindo efeitos concretos no cérebro humano, especialmente nos mais jovens deles.

Já não é mais tão raro encontrar pessoas com uma visão completamente deturpada de si mesmas, dos outros e do mundo. São criaturas totalmente incapazes de estabelecer relações entre causa e efeito ou de distinguir o que seja certo daquilo que seja errado, ainda que com base nas próprias convicções. Convicções estas que são porque são e sobre as quais não conseguem construir um só argumento que seja para defender. São pessoas igualmente incapazes de abstrair-se de si mesmas para tentar compreender o que quer que se passe em outro ser humano.

Não são burros não. Muitos até são capazes de se aventurar pelos mais complicados caminhos da matemática ou da física. Outros parecem ter alguns espasmos de coordenação cerebral, provavelmente ocasionados pela força da genética, e conseguem organizar pensamentos em forma de textos legíveis. Eles riem, eles choram e até conversam; mas são frios, distantes e impenetráveis. Há algo que os torna diferentes do ser humano convencional. Um ser estranho que eu ainda tenho dificuldade em descrever e que costumo chamar de “deliriopata autistossociável” (*).

Eu vou dar um exemplo. Na semana passada, aconteceu o concurso Miss Universo 2006. A última prova para as cinco finalistas foi dizer algo a respeito de um tema que era sorteado na hora – assim, de supetão. Muito me impressionaram as palavras da Miss Japão, que acabou ficando com o segundo lugar. Ao ser perguntada sobre o que poderia ser mudado hoje para que o mundo ficasse melhor, a miss disse que algo deveria ser feito para que a força física dos homens pudesse ser controlada para que não fosse mais um diferencial importante entre homens e mulheres, de modo que ambos se tornassem iguais também em força física.

Só eu mesma para prestar atenção numa coisa dessas num concurso de miss. Mas é que a resposta da moça soou como um grito de fazer doer em meus ouvidos. Jamais, em toda a minha vida, eu ouvira uma máxima feminista que houvesse ousado pretender ir tão longe na tentativa de igualar o inigualável, ou seja, homens e mulheres. E olha que as maiores atrocidades foram cometidas no sentido de literalmente transformar a realidade com discursos em nome do feminismo. Não reparem não, mas é que eu acho que para defender direitos (e logicamente estabelecer deveres) dos seres humanos do sexo feminino não é preciso, e muitas vezes necessariamente não se deve, partir de premissas estabelecidas por meio de comparação entre homens e mulheres, e muito menos ainda se estiverem visando igualdade. Mas, isso não vem ao caso agora.

Reparem no que essa moça disse; porque ela não é uma visionária criativa e muito menos uma profetisa estudiosa. Ela é a encarnação do deliriopata autistossociável - aquele que não vê absolutamente nada demais em manipular ou aprisionar a natureza humana para solucionar problemas relacionados ao que imagina ser igualdade e justiça. O que a tal da moça disse é de uma frieza cruel e inimaginável. Mas é assim que é o deliriopata autistossociável: normal, mas inconscientemente cruel. E eu digo inconscientemente, porque o mundo que ele vê e sente não é aquele mesmo que as pessoas de uma ou duas gerações atrás percebem.

Vejam. A pergunta não foi feita para que a moça descrevesse uma fantasia pessoal a respeito de algo que eventualmente pudesse transformar o mundo, como por exemplo, aqueles desejos que se pediria a um gênio da lâmpada para realizar. Não, a pergunta foi feita no sentido mais concreto e que se esperava levar a respostas como “eu acho que deveria haver uma maior conscientização dos governantes em relação à destruição da natureza” ou do tipo “eu acho que o mundo deveria se unir numa campanha para erradicação da fome no planeta”. Tudo bem, a japonesinha poderia ter sido mais criativa e inteligente e ter respondido uma outra coisa qualquer do gênero.

Entretanto, a moça pareceu ter uma idéia bem concreta do que para ela viria a ser o mundo ideal. E disse isso com a mais inocente das naturalidades. É como se alguém tivesse respondido à mesma pergunta, calma e sorridentemente, dizendo que gostaria que um desastre natural de proporções gigantescas varresse do mapa milhões e milhões de pobres analfabetos e de fanáticos religiosos para que o mundo pudesse ser reconstruído de maneira mais acertada dessa vez. Estou exagerando? Pode ser. Mas o fato é que o “alguém” propôs um holocausto natural para resolver o que lhe aflige como insolúvel e a mocinha propôs algo parecido com uma indução à mutação genética permanente, ou mais precisamente, com o extermínio de um dos sexos da espécie humana como é conhecido fisicamente nos dias de hoje – que é claro seria aplicado aos machos, porque nem passa pela cabeça da mocinha mexer naquele corpinho esculturalmente feminino. Essa última parte é um “venenozinho” meu, já que eu realmente não sei se a miss pretendia mudar os machos ou as fêmeas.

Gente com este tipo de vulnerabilidade na personalidade está surgindo aos montes. Nem mesmo os próprios pais conseguem livrar-se da desagradável surpresa de descobrir um filho assim mentalmente deformado. A massificação das ideologias globalizantes é infinitamente mais poderosa e onipresente do que a educação e os exemplos que a maioria dos pais têm condições de dar – mesmo porque faz parte dessa mesma ideologia criar a obrigatoriedade (que primeiramente foi psicológica e agora já é uma necessidade de sobrevivência física) de que ambos os pais tenham que passar a maior parte do tempo fora de casa, trabalhando para sustentar e para fazer frutificar aquilo que eles ainda pensam ser a sua própria família. Balela! Estamos todos a criar soldados do universalismo – mão-de-obra desprovida de senso de crítica, de autocrítica e até de capacidade de acreditar no que seus olhos vejam (enxergando apenas aquilo que o que chega a seus ouvidos manda enxergar).

Uma crônica de Fahed Daher, um médico de Apucarana (Paraná), intitulada “O Direito dos Sem Nada”, (
http://www.guiasaojose.com.br/novo/coluna/index.asp?id=4084), faz um cômico retrato do deliriopata autistossociável; embora possamos perceber que os agentes da distorção e da tergiversação sobre a realidade, na crônica de Daher, pareçam estar agindo de maneira cínica em relação aos fatos e não sendo naturalmente fiéis ao que são capazes de enxergar. Seria cômico se não fosse trágico, e pior: perfeitamente passível de começar a vir a acontecer em futuro bem próximo. Confiram:

“- Senhor delegado! O senhor não pode atender à acusação deste distinto policial. Realmente ele está procurando cumprir as obrigações de policial. Apenas há um grave engano. Eu não sou um ladrão. Eu não roubei o carro do Sr. Izak. Eu procedi a uma invasão de propriedade. Eu sou um sem condução. Um sem automóvel e invadi uma propriedade. Como os sem-terra, o Sr. Izak, tido como proprietário, que entre em juízo com um pedido de reintegração de posse deste automóvel. Se o Sr. Juiz conceder a sentença da reintegração de posse a favor do dito proprietário e se o Exmo. Sr. Governador autorizar ao Sr. delegado que me faça restituir o bem, assim o farei sem reação e sem violência. Mas até que se cumpra a sentença o bem ficará na minha posse com direito de uso e ainda exigindo que o Sr. providencie um posto de gasolina que me abasteça o veiculo até o final desta questão”.

É a total inversão da realidade! Seria espantoso? Não, porque é exatamente o que vem acontecendo há mais de 20 anos (isso para falar apenas de Brasil), cada vez com mais intensidade e não há reação que se esboce que consiga impedir o progresso ou chamar atenção suficiente sobre o tema.

A deliriopatia autistossocial não está sozinha na lista dos efeitos da caminhada de toda a humanidade em direção à nova ordem mundial. No sentido diametralmente oposto, em reação ao cárcere imposto por minorias, impingindo conceitos, leis e condutas às maiorias emudecidas pela mídia, pelas polícias do politicamente correto, surge a “Controlofobia” (pavor de controle), uma manifestação surgida das profundezas do instinto humano, que é responsável pelo aparecimento daquele que será o tipo de criminoso mais perseguido pelos novos (e brevemente por todos conhecidos) donos do poder, será o terrorista do futuro: o desobediente.

Desse tipo de ser falarei em outra oportunidade. O que posso dizer agora, metaforicamente, é que ele tem esse nome por se recusar a dizer que o rei não esteja nu. É isso mesmo: ele não consegue ver as roupas que todos dizem estar vendo no rei e, preferindo confiar no que lhe mostram seus próprios olhos, insiste em dizer isso em alto e bom tom, por dois motivos. Primeiro porque se recusa a dizer que vê uma coisa que não vê; segundo porque tem esperança de encontrar outros que como ele também não vejam as roupas do rei – quem sabe assim, algum dia, as maiorias comecem a perceber que não são obrigadas a aceitar cabresto de minorias.

Christina Fontenelle
Jornalista
chrisfontell@gmail.com
http://infomix-cf.blogspot.com/


(*) deliriopata autistosociável

Delírio = Entende-se por delírio um juízo falso e irredutível da realidade
Pata = do grego, pathos = doença
Autisto – sociável é a combinação das características de pessoas portadoras de autismo, mas sem os componentes que lhes tiram a capacidade de apresentar uma normalidade social.

O autismo é definido da seguinte forma simplificada: É preciso que se apresente seis das características abaixo descritas, com pelo menos dois do grupo 1, um do grupo 2 e um do grupo 3. Eu não vou citar todas as características; mas fiz eu mesma a seleção de acordo com os números e os grupos citados. Do grupo 1: não tenta compartilhar suas emoções e falta de reciprocidade social ou emocional; do grupo 2: uso estereotipado e repetitivo da linguagem; e do grupo 3: preocupação insistente com um ou mais padrões estereotipados.

Aliás, ao ler um dos parágrafos sobre certas características identificadas como as que devam ser procuradas na tentativa de se diagnosticar uma pessoa autista, eu não consegui verificar muitas diferenças entre o que poderia ser a definição de muitos de nossos adolescentes nos dias de hoje: 1) usa as pessoas como ferramentas; 2) resiste, fica nervoso com mudanças de rotina; 3) não se mistura com outras crianças; apega-se demais a objetos; 4) não mantém contato visual (não olha nos olhos); 5) às vezes, age como se fosse surdo; 6) resiste ao aprendizado; 7) não demonstra medo de perigos; 8) risos e movimentos não apropriados; 9) gosta de girar objetos; 10) às vezes é agressivo e destrutivo; 11) tem modo e comportamento indiferente e arredio.

Wednesday, July 26, 2006

NÃO É DEDOCRACIA – É DEMOCRACIA



“A nova tecnologia é mais um avanço para a democracia”. Foi com esta frase que terminou a reportagem do Jornal Nacional (TV Globo) desta noite (26/07), a respeito da preparação das urnas eletrônicas para as eleições que se aproximam. Depois de fazer a apologia das vantagens da urna eletrônica para garantir rapidez na apuração dos votos e de exaltar a questão da segurança das mesmas contra fraudes – coisa que qualquer garoto de 12 anos que entenda de computador sabe que é mentira -, a repórter fez referência à mais nova e maravilhosa técnica de identificação dos eleitores que, segundo ela, vai agilizar o processo de votação e impedir que um mesmo eleitor vote duas vezes (ou ainda que um vote em nome de outro): as urnas com leitores de impressão digital.

Agora o eleitor poderá ser identificado de forma inconfundível pela urna eletrônica e registrará seu voto nessa mesma urna. Não é uma beleza?! É, realmente é uma beleza, mas não exatamente para o eleitor. Por dois motivos: 1) ele não poderá verificar, nem comprovar (para sua própria segurança e no caso de haver necessidade de recontagem) se o voto que digitou é o mesmo que foi registrado e 2) como no caso do caseiro Francenildo, que teve sua conta bancária invadida, pessoas mal intencionadas poderão descobrir quem votou em quem; de modo que o eleitor possa ter que passar a votar não necessariamente de acordo com a sua vontade.

Este tipo de recurso ainda não será utilizado na próxima eleição. Como frisou a reportagem. Antes de isso acontecer, todos os eleitores do país deverão estar identificados pela impressão digital.

Vou repetir a frase final da reportagem: “A nova tecnologia é mais um avanço para a democracia”. Ou a democracia da reportagem não é a mesma que eu conheço; ou fascismo agora passou a ser chamado de democracia e não me avisaram.

LULA - OPERÁRIO PADRÃO

PARTE 1

Sobre a declaração de bens do Presidente Lula

Se no começo do governo, Lula tivesse vendido tudo o que declarou e tivesse feito uma aplicação onde a ética indicaria que fizesse – ou seja, na Caderneta de Poupança – que é onde o povão costumava poupar (quando ainda tinha como), hoje ele teria cerca de R$ 600 mil. Se tivesse poupado totalmente o salário de Presidente (R$ 8.885,48) e a pensão de anistiado (R$ 4.294), teria acumulado R$ 566.717,64, sem contar os juros que viriam se acumulando ao longo dos depósitos mensais.

Acontece que isso seria impossível, já que o Presidente tem propriedades e família que dão despesas para lá de superiores aos R$ 13.179,48 que percebe mensalmente, apesar de não ter que gastar no Alvorada com constas de luz, gás, telefone, água, IPTU, condomínio, e ainda com alimentação, vestuário, higiene, saúde e transporte. Se fosse um rélis mortal, já classe média alta e não mais um operário – como gosta de fazer parecer que ainda é – o Presidente estaria para lá de enforcado com os juros do cheque-especial e do cartão de crédito – aos quais certamente teria que estar apelando - para pagar os custos dos 3 apartamentos, da Chácara, do carro e da família que possui.

Em relação à declaração de bens de 2002, a de 2006 manteve os quatro imóveis em São Bernardo, avaliados no mesmo valor de 2002. A Blazer 98/99, teve valorização de 23,5%, de 2002 para cá. O presidente acrescentou, agora, a participação em uma cooperativa habitacional no Guarujá. O maior crescimento ocorreu nas aplicações financeiras, que cresceram 306% – de R$ 117.670,58 para R$ 478.059,40. A coleção de investimentos evoluiu, de duas cadernetas de poupança e uma aplicação financeira, para dez tipos de investimento, incluindo novidades como fundos de ações da Petrobras, da Vale do Rio Doce e do Banco do Brasil. Os maiores recursos estão aplicados no FIX Especial Plus do Banco do Brasil e no FIF Plus DI do Bradesco, além de um Fundo de Investimento Bradesco.

PARTE 2

Luiz Inácio Lula da Silva começou a trabalhar, aos 12 anos, como engraxate e depois como entregador de roupas em uma lavanderia, em São Paulo. Formou-se como metalúrgico, pelo SENAI, em 1963. Três anos depois, entrou para o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo. Em 1972, passou a fazer parte da diretoria e, em 1975, tornou-se presidente desse mesmo sindicato, sendo reeleito em 1978. Um ano depois, numa paralização grevista, o sindicato de São Bernardo e Diadema sofreu intervenção do governo federal e Lula foi destituído do cargo. Em fevereiro de 1980, ele fundou o Partido dos Trabalhadores, juntamente com outros sindicalistas e ainda com alguns intelectuais, políticos e representantes de movimentos sociais. Foi nesse mesmo ano que, durante uma das maiores greves sindicais da história do país, Lula e mais sete sindicalistas foram detidos por 31 dias nas instalações do Departamento Estadual de Ordem Política e Social (DOPS) paulista.


O atual Presidente não ficou em cela comum e foi muito bem tratado. O diretor do DOPS à época, o hoje Senador Romeu Tuma, oferecia sua própria sala para que o sindicalista pudesse ler os jornais - proibidos de entrar na cela. A mãe de Lula estava doente, em estado terminal, naquela época. Um militar, agente do DOPS, conduziu Lula até o hospital onde dona Eurídice Ferreira de Mello estava internada. Foi assim que o filho Luis Inácio pode estar com a mãe pela última vez, antes que ela viesse a falecer. Romeu Tuma permitiu que Lula fosse ao velório e que acompanhasse o enterro. Em 1981, Lula foi condenado pela Justiça Militar a três anos e seis meses de detenção por incitação à desordem coletiva, mas a sentença acabou anulada no ano seguinte.


Esse episódio redeu ao atual Presidente do Brasil o título de preso político e naturalmente o benefício de indenizações que passaram a ser pagas aos anistiados políticos de 1979, depois da criação da Comissão de Anistia, em agosto de 2001, no governo de Itamar Franco. Um fenômeno! Já que Lula teve sua sentença de prisão anulada em 1981 e que os 31 dias em que esteve preso jamais o impediram de continuar sua carreira de alpinista político, às custas do sindicato e posteriormente do PT. Lula recebe mensalmente, desde 1997, como anistiado político, uma aposentadoria especial que hoje está em R$ 4.294,00.


Vale lembrar que nosso Presidente aposentou-se com 22 anos de serviço (?), quando ainda teria 42 anos de idade (5/10/1988) e que seus vencimentos como aposentado estão livres de Imposto de Renda, graças ao Decreto 4.897, publicado no Diário Oficial de 26 de novembro de 2003, assinado pelo próprio Lula, que livra os anistiados do ônus do Imposto de Renda. É por uma questão de lógica: se a União está pagando esses benefícios, não faz sentido que parte deles retorne aos cofres públicos em forma de imposto. A lógica só não funciona para o resto dos aposentados e dos funcionários públicos civis e militares do país.


Em 1982, Lula foi candidato ao Governo de São Paulo, pelo PT. Perdeu. Em 1984, participou da campanha das Diretas Já, que clamava por eleições presidenciais diretas. A campanha não conseguiu seu intento e as eleições de 84 ainda foram feitas pelo Colégio Eleitoral do Congresso Nacional. Em 1986, Lula foi eleito deputado federal, com recorde de votos, tendo participado da elaboração da Constituição Federal de 1988. Sua atuação como Deputado Federal foi, digamos, “discreta” e ele não se candidatou à reeleição. Entretanto, Lula viajou pelo Brasil estruturando as seções regionais do partido e ajudando a transformar o PT, de pequeno partido, em uma das principais forças do país. Sua participação neste processo é que o tornou uma figura essencial, simbólica e incontestável dentro do partido, mesmo depois de suas sucessivas derrotas eletorais. Um milagre!


Em 2002, Luis Inácio Lula da Silva chega à Presidência da República, com cerca de 53 milhões de votos, no segundo turno das eleições. Na época, seu patrimônio declarado era de R$ 422.900,00 – muito, para um operário do povo, presidente de partido e ex-deputado federal, diga-se de passagem. Mas, ninguém deu a menor importância para isso. Hoje, 4 anos depois, o Presidente declara ter um patrimônio de R$ 839.033,49 – 98% a mais do que possuía em 2002. Mas, o PCC atacou São Paulo, pela segunda vez este ano, e ninguém pôde prestar muita atenção a isso também.


O Presidente declarou possuir 3 apartamentos e 1 terreno, em São Bernardo do Campo. São 2 no Edifício Kentuchy (R$ 38.334,67, cada um), 1 no Prédio Green Hill (R$ 189.142,50) e o terreno – uma Chácara - (R$ 5.466,90), no sub-distrito de Riacho Grande. Além desses imóveis, Lula também comprou (e já pagou) um apartamento que ainda está em construção no Guarujá (R$ 47.695,38). O único carro do Presidente é simples: uma S10 Cabine Dupla, diesel 98/99 (R$ 42 mil).


Embora afirme jamais ter sido informado sobre nada do que acontecia em seu governo, segundo aponta a denúncia do Procurador Geral da República, Antonio Fernando de Souza, sobre uma quadrilha organizada que protagonizou o escândalo do mensalão, composta por nada menos do que 40 pessoas chagadas ao próprio presidente, Lula foi muito bem informado sobre como aplicar seu dinheiro. O Presidente tem R$ 478.059,40 investidos em aplicações financeiras:


Aplicação financeira no Banco do Brasil — R$ 86.794,73; Caderneta de Poupança na Caixa Econômica Federal — R$ 54.762,02; Caderneta de Poupança no Banco Bradesco — R$ 1.398,67; Caderneta de Poupança no Banco Bradesco — R$ 1.124,36; Six Especial Plus no Banco do Brasil — R$ 156.146,83; Fif Plus Di Banco Bradesco — R$ 111.055,40; Fundo de ações da Petrobras — R$ 1.866,39; Fundo de ações da Vale do Rio Doce — R$ 497,97; Fundo de ações do Banco do Brasil — R$ 1.108,87; e Fundo de Investimentos no Bradesco — R$ 63.304,16.


O Ministro da Fazenda não pode ter aplicação na Bolsa de Valores, o Presidente do Banco Central também não. O Presidente da República não deveria poder. Mas, a Lei parece que permite. Então, não é ético, mas também não é ilegal. O jurista Hélio Bicudo, um dos fundadores do PT, do qual se desligou após o escândalo do valerioduto, disse, em entrevista ao jornal O Globo (7/07/2006), que seria mais importante que a Lei Eleitoral fosse modificada, de forma a exigir também que os parentes dos candidatos declaressem publicamente o patrimônio.

PARTE 3


Se hoje fosse esse o caso, o Presidente Lula teria que dar algumas complicadas explicações sobre seus filhos. A primeira delas, por exemplo, seria a incrível transformação seu filho Lulinha (Fábio Luiz Lula da Silva) em grande empresário na área de mídia. Quando Lula assumiu a presidência, seu filho mais velho, formado em Biologia, dava aulas particulares de inglês e de informática. No fim de 2003, Lulinha abriu uma agência de publicidade, a G-4, em sociedade com dois filhos do ex-sindicalista e ex-prefeito de Campinas, Jacó Bittar. Dez meses depois, a empresa fundiu-se com a Espaço Digital, criando uma holding, a BR-4. Passados dois meses, o capital do empreendimento já era de R$ 2,7 milhões. O dinheiro teria vindo da Telemar. Jacó Bittar, o pai dos dois sócios de Lulinha, é conselheiro da Petros. E a Petros é sócia da Telemar.


Logo depois, Lulinha abriu a Gamecorp. Desta vez a Telemar entrou com R$ 2,5 milhões, comprando debêntures com direito a ações futuras. Ao todo, a Telemar ajudou Lulinha com R$ 5 milhões. A Trevisan Associados intermediou os contatos com a Telemar. O sócio principal da Trevisan era Antoninho Marmo Trevisan. Ele fazia parte do Conselho de Ética da Presidência da República. Lula julgou "normal" a operação e afirmou que nunca interferiu para que seus filhos tivessem benefício em contratos com empresas públicas ou privadas. E não foi só a Telemar que resolveu apostar na genialidade de Lulinha. Outras duas gigantes fizeram o mesmo: a Gradiente, cujo presidente é Eugênio Staub, amigo pessoal de Lula, e a Sadia, cujo ex-presidente é o Ministro de Desenvolvimento de Lula, Luís Fernando Furlan. Ficou tudo por isso mesmo, até hoje.


Mas Lulinha, o mais novo jovem empresário genialmente bem sucedido do país, não pretende ficar só nesse negócio de games não. Como divulgado pelo Alerta Total, em 18 de outubro de 2005 (http://alertatotal.blogspot.com/2005/10/oposio-questionar-jos-serra-por-uso.html), consta que Fábio Luiz seria um dos sócios minoritários da maior empresa de segurança do Brasil, a Glock do Brasil S.A., que ainda estava sendo constituída. De acordo com a inscrição no CNPJ (006.275.981/0001-66), a empresa foi registrada em maio de 2005. O Cadastro público do Estado de São Paulo (SINTEGRA-SP) registra que a empresa esta habilitada desde março de 2005, embora sua criação tenha sido em 23 de outubro de 2004. Quem diria, Lulinha vai compartilhar a sociedade com o vice-presidente das Organizações Globo, João Roberto Marinho, que já detém os direitos de comercialização, no Brasil, de um avançado sistema de segurança alemão. A austríaca Glock é uma das maiores fabricantes de armas do mundo. Nada como andar bem acompanhado e dispor de informações privilegiadas!


Aliás, quem se lembra do apoio irrestrito das Organizações Globo ao desarmamento da população? Pois é, mesmo que o inútil referendo sobre a proibição do comércio de armas de fogo e de munições tenha revelado que a imensa maioria dos brasileiros condena a proibição, o Estatuto do Desarmamento, que, na prática, é o puro exercício dessa mesma proibição que o povo repudiou, já havia sido aprovado. Agora, muitos dos que achavam que o pessoal da Globo era bonzinho e humano podem entender o porquê de a Rede Globo ter apoiado a proibição. Esta era (e ainda é) a estratégia: criar insegurança para vender segurança – simples assim. A Glock, uma empresa estrangeira, é a maior rival da Forjas Taurus, uma fábrica gaúcha de armas de fogo – uma empresa nacional, portanto.


Fábio Luiz é casado com Adriana. Segundo publicações feitas em páginas da Internet, pelos próprios filhos de Lula, Lulinha e Adriana têm uma cadelinha chamada Pituka que, junto com o casal, costuma (ou costumava) viajar no Boeing presidencial. Numa dessas viagens, Adriana aparece numa foto com a seguinte legenda: “Isso é que é vida”. Para ela deve ser mesmo. Todas as páginas dos filhos do presidente que revelavam intimidades da família já foram tiradas de circulação e foram notícia nos maiores jornais do país.

PARTE 4


O segundo filho de Lula com Dona Marisa é Sandro Luís Lula da Silva. Lula também teria explicações a dar sobre este filho. Sandro protagonizou uma das muitas estórias que já deixaram o PT de saia justa. Segundo foi divulgado pelo jornal Folha de S. Paulo, o rapaz aparecia como contratado do Diretório do PT paulista, desde 2002, sem que nenhum de seus colegas de trabalho jamais o tivessem visto por lá. Num primeiro momento, assessores chegaram a dizer que ele nunca havia trabalhado no diretório. Depois, disseram que Sandro tinha deixado de ser funcionário em meados de 2002. Mas, o relatório de despesa mensais do partido mostrava o contrário. O rapaz foi contratado como assistente administrativo do partido em maio de 2002, por R$ 1.522,00 mensais, para prestar “serviços à distância”. No livro de empregados do Diretório, ao contrário dos outros 70 funcionários do partido, não estava especificado o horário da jornada de trabalho de Sandro. Por último, então, o PT divulgou nota dizendo que o filho de Lula não estava mais trabalhando para o partido havia cerca de três semanas na época da reportagem da Folha (julho de 2005).


Como vários rapazes de sua geração, Sandro é aficionado por internet. Numa página do Orkut, que eu não sei se já foi tirada do ar, sob o pseudônimo de “spiderman”, quando perguntado por seus colegas sobre o que andava fazendo da vida, ele costumava responder que continuava “vagabundeando e tentando terminar a faculdade” (de Publicidade) e que vinha “fingido que trabalha um pouco”. Numa dessas páginas do Orkut, mantida pelo enteado de Lula, Marcos, Sandro aparece descansando ao lado de sua esposa Marlene. Comentário de Marcos: “Meu irmão e minha cunhada não estão fazendo p... nenhuma... Em plena segunda feira... Assim não dá!!!”. Em outra foto o casal aparece fantasiado, numa festa. “Estão parecendo duas Darlenes”, brinca Marcos, obviamente fazendo referência à personagem Darlene, interpretada por Deborah Secco, na novela Celebridade, da TV Globo.

PARTE 5


Parece que ninguém vai escapar da lista de explicações que Lula teria que dar sobre seus familiares. O filho caçula de Lula é Cláudio Luiz Lula da Silva. Em julho de 2004, Cláudio, então com 19 anos, convidou um grupo (6 garotas e 8 garotos) de amigos de São Bernardo, onde mora, para passar férias de 15 dias em Brasília, com tudo pago, inclusive o transporte aéreo, que foi feito por um avião da Força Aérea Brasileira (FAB). O pacote incluía hospedagem no Palácio da Alvorada, churrasco na Granja do Torto, passeio de lancha no lago Paranoá (a bordo de uma lancha da Marinha) e até um encontro com Pelé. O grupo de jovens teve ainda direito a passeios pelo Itamaraty e pela Praça dos Três Poderes. As fotos da temporada ficaram à disposição em fotoblogs na internet durante algum tempo e foram tiradas do ar no dia 6 de janeiro de 2006, logo depois que A Folha de SP publicou reportagem completa sobre o assunto.


Uma das garotas do grupo não pôde ficar até o final da programação. Ela aparece numa foto, publicada em um desses blogs, voltando para São Paulo em um jatinho. Na imagem, não é possível afirmar se a aeronave também pertence à FAB. Além da rotina dos dias de férias, as fotos mostravam os jovens pelos corredores do Planalto, onde registraram encontros com artistas e esportistas. Em seu fotoblog, um dos adolescentes descreveu um encontro com a atriz Regina Casé, que tinha ido ao Planalto ter audiência com o presidente. No dia 13 de julho, o grupo assistiu no Alvorada ao filme ‘Pelé Eterno’, ao lado do próprio ex-jogador e do presidente Lula.


Não há uma legislação clara sobre o uso do patrimônio público pelo presidente ou por sua família. Procurada pela reportagem da Folha, a Secretaria de Imprensa do Palácio do Planalto afirmou que não se pronunciaria. A Comissão de Ética da Presidência disse que atos do presidente não constavam de suas atribuições. Responsável pelo controle dos gastos públicos, a CGU (Controladoria Geral da União) disse que o tema estava sob a alçada da Secretaria de Controle Interno, que, por meio da Casa Civil, disse que só a Secretaria de Imprensa falaria sobre a questão. Procurada novamente pela Folha, a Secretaria manteve a posição de não fazer comentários sobre o assunto.


As fotos estavam nos endereços www.fotolog.net/tata_lulu; www.fotolog.net/feijao_fodao/; www.fotolog.net/gringo_mi/; e www.fotolog.net/monique_martan/


A internet recebeu uma onda de protestos contra as mordomias exibidas nos fotologs de amigos do filho do presidente Lula que estavam aproveitando as benesses do poder. Duas comunidades no Orkut surgiram para criticar a viagem dos jovens amigos de Cláudio. A mais popular tinha o nome de “Férias no Alvorada - EU QUERO!” e vinha com a seguinte descrição: “Essa comunidade é dedicada a todas as pessoas que querem andar de lancha, comer um churrascão, andar no avião da Força Aérea Brasileira e ainda não gastar nada, porque o governo pagou! Porque o povo pagou!!! Entre e seja mais um marajá!!!! Porque no Brasil, já existem milhares!!!”.


Luis Cláudio também mantém (ou mantinha) perfil no Orkut, onde se descreve como um apaixonado pela namorada e onde contava que, como o pai, também é torcedor do Corinthians. A página também andou exibindo uma foto de um lança-foguetes do Exército, o Astros 2. Comentário do caçula de Lula: “Olha o lança-foguetes que eu entrei” (é “em que eu entrei” que se escreve, Cláudio). A namorada dele pertencia (ou ainda pertence) à comunidade "Eu amo viajar com meu namorado". Por que será hein?

PARTE 6


Para falar do enteado de Lula, filho do primeiro casamento de Dona Marisa, usarei um parágrafo completo do artigo que Diogo Mainardi escreveu na Veja de 24 de julho de 2005: “Marcos Cláudio é o filho mais velho de Lula. No Orkut, ele participa da comunidade "Viva Lula". Além disso, é o fundador da comunidade dos "Adoradores do Shopping Metrópole de São Bernardo do Campo". Marcos Cláudio era do departamento de marketing do Sindicato dos Metalúrgicos. Sua mulher, Carla Ariane, que pertence à comunidade orkutiana "Orgulho de ser PT", tinha um cargo comissionado na prefeitura petista de Mauá, que está sendo acusada de desvio de dinheiro. Foi justamente pelo departamento de marketing das estatais e pelos cargos comissionados na administração pública que passou grande parte da roubalheira petista. O casal Marcos Cláudio e Carla Ariane representa uma espécie de síntese do petismo”. Parece que nem o enteado dispensaria explicações por parte de Lula.

PARTE 7


Outra filha de Lula que costuma freqüentar o noticiário é Lurian, filha que o Presidente teve com a auxiliar de enfermagem Miriam Cordeiro. Em 1996, Lurian, então com 22 anos, lançou-se candidata a vereadora em São Bernardo do Campo. Na época, alugou duas salas para montar o escritório de campanha e pediu à mãe de uma amiga que fosse sua fiadora. Lurian não foi eleita. Deixou as salas e uma dívida de 12 aluguéis. A amiga passou 4 anos cobrando a dívida e, quando a mãe já estava ameaçada de perder a casa em que morava, disse que viria a público transformar o episódio em escândalo. O amigo da família, então recebendo apenas a aposentadoria de metalúrgico (R$ 45.679,00 por ano), Paulo Okamotto, pagou a tal da dívida, que, em virtude de acordo entre as partes envolvidas, foi de R$ 26 mil. A fiadora disse que foi Okamotto quem pagou. Depois “desdisse”. Okamotto alega que não foi o autor do pagamento. Ficou por isso mesmo.


Lurian formou-se em Jornalismo, pela Universidade Metodista de SP, em 2000. Hoje, ela vive em Santa Catarina, tem dois filhos e é casada com Marcelo Sato. O genro de Lula é chefe de gabinete da deputada estadual Ana Paula Lima (PT/SC). Ela, por sua vez, é casada com Décio Lima, que foi prefeito de Blumenau, pelo PT, por dois mandatos seguidos (1996-2000 e 2001- 2004). O Tribunal de Contas de Santa Catarina condenou a Prefeitura de Blumenau a devolver mais de dois milhões de reais por desvios em obras municipais, entre 1997 e 2000. Décio ajudou Lurian: ela estava desempregada depois de deixar São Bernardo do Campo e passou a trabalhar no diretório do PT em Blumenau. O marido, Sato, tornou-se membro da executiva municipal do PT, não sei exatamente quando.


Ao deixar a prefeitura, em 2004, Décio Lima foi nomeado por Lula como superintendente do Porto de Itajaí. No fim de março de 2006, Lima deixou o cargo para se candidatar a deputado federal ou a vice, na chapa de José Fritsch, candidato ao governo de Santa Catarina. O marido de Lurian, segundo o jornal O Globo (20/04/2006), costuma enviar os pedidos de parlamentares de SC à Senadora Ideli Salvati, que, de fato, alegou ter “relações cordiais” com Sato e Lurian. A Senadora se justificou dizendo que Sato é chefe de gabinete de uma parlamentar e essa é uma das funções dele. Ideli é ex-mulher de Eurides Mescolotto, presidente do BESC (Banco do Estado de Santa Catarina). Foi ela quem lutou bravamente contra a privatização do banco. Mescolotto é amigo de Lula e das famílias Lima e Sato.


Segundo o Prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, são de agências bancárias em Blumenau (SC) algumas contas supridas por Paulo Okamotto. Ainda conforme o Prefeito, o dono de contas no BESC e no Banespa (ambas abertas em Blumenau), é Marcelo Sato Rosa, o genro de Lula. Mas, parece que nem Deus conseguirá quebrar o sigilo bancário de Okamotto, já que, na época em que o assunto estava esquentado na imprensa, o Congresso foi invadido por vândalos do MSLT e não se falou mais nada a respeito das tais contas.


Lurian já colocou muita gente da imprensa na Justiça. Ela entrou com ação contra o jornal catarinense "A Notícia", por exemplo, cuja coluna "No Ar", publicada no dia 13 de setembro de 2002, dizia que Lurian era funcionária do Samae (Serviço Autônomo de Água e Esgoto) de Blumenau por causa da amizade de seu pai (que na época ainda concorria à presidência), com o então prefeito da cidade, Décio Lima (PT). O jornal chegou a publicar uma errata, já que ela não era funcionária da Samae. Mas, a Justiça de Blumenau condenou o jornal a pagar indenização de R$ 50 mil a Lurian. A empresa recorreu e, por isso, o processo ainda não terminou.


Junto com Décio Lima, Lurian também entrou na Justiça contra o colunista Cláudio Humberto, em março de 2002. Dessa vez, pelo menos até agora, ela parece ter perdido: ambos foram condenados a pagar R$ 4 mil de indenização ao colunista. Entretanto, na decisão, o magistrado concedeu a Lurian o benefício da gratuidade da Justiça - normalmente destinado a pessoas sem recursos - e ela não terá de pagar o valor, cabendo a dívida ao co-autor do processo, Décio Lima. Ele vai recorrer. Na ação, ambos argumentaram ter sido moralmente ofendidos em notas escritas pelo jornalista, entre as quais o colunista atribuía à direção nacional do PT "um esforço especial para salvar o pescoço do seu prefeito de Blumenau, Décio Lima, em retribuição ao emprego que ele deu a Lurian". Para o magistrado, as notas faziam referência a investigações abertas pelo Ministério Público e que, portanto, configuravam a prática do exercício regular do jornalismo. A jovem ainda tem mais 3 processos correndo na justiça contra órgãos de imprensa.


Bom, pelo menos ao que parece, Lula não tem mais que se preocupar com o futuro de seus filhos, ao contrário da maioria dos brasileiros. Teria muitas explicações a dar. Mas, todos nós sabemos que não o fará – e também que ficará tudo por isso mesmo, como sempre.

PARTE 8


Dentro do Palácio Alvorada, residência oficial do Presidente, o ritmo de gastos condiz com o da incrivelmente veloz capitalização pessoal de Lula, que dobrou seu patrimônio pessoal durante os 4 anos de governo, como já vimos. Aliás, já lá pelos idos de 1978, o então sindicalista disse, em entrevista ao programa "Vox Populi", da TV Cultura, que a classe trabalhadora não gosta de miséria e que tem o direito de consumir tudo o que produz: "É o mínimo a que nós podemos aspirar; ou iremos apenas fazer os outros se vestirem, assistirem TV em cores e viver bem". Tudo bem: ele só esqueceu de dizer que a classe operária não custeia a produção e nem suporta o ônus de eventuais prejuízos ou falências. Mas, não foi por esquecimento não, foi por ideologia de “selfish made man” mesmo – hoje todo mundo sabe disso. Lula tem o hábito, por exemplo, de fumar exclusivamente charutos cubanos e de usar cigarrilhas holandesas. Não é para qualquer um.


É aquela velha máxima popular: “Quem gosta de miséria é rico intelectual. Pobre gosta de luxo, de brilho, de esbanjamento e de fartura” – de preferência sempre acompanhados de muito exibicionismo – para que todos possam sentir a mesma inveja que ele sentia dos que tinham aquilo que ele desejava ter. Regozijo de pobre que enriquece é fazer com que os outros sintam ou passem por aquilo que ele sentiu ou passou antes de enriquecer. A simples satisfação pela conquista não é suficiente para aplacar anos e anos de rancor. Há exceções, mas elas só confirmam a regra.


Já em 2003, a Folha de SP publicou interessante matéria comparando o arrocho que o governo está impondo no país, até nos investimentos sociais, com a prodigalidade dos gastos destinados ao conforto e ao luxo de Lula e de dona Marisa no Palácio do Planalto e na Granja do Torto. Foram abertas licitações para a construção de um ginásio esportivo, com sala de fisioterapia, no Palácio do Planalto (R$ 62.500), ampliação da churrasqueira e do salão da Granja do Torto (R$ 92.127) – onde antes já se construiu um campo de futebol devidamente iluminado para que Lula possa jogar à noite com os amigos -, enxoval para o Palácio da Alvorada, que inclui 160 jogos americanos coloridos (R$ 15.200), material de cama em que figuram roupões de banho que sejam confeccionados necessariamente com fios de algodão egípcio (R$ 152.637), travessas de prata, guardanapos e xícaras novas (R$ 19.963), equipamento de mergulho (R$ 38.160), quatro máquinas fotográficas digitais (R$ 5.760), e vai por aí afora.


Em 2005, o Estado de SP publicou alguns dados sobre os gastos do Alvorada: 15 edredons para cama de casal Super King dupla face (R$ 640 cada), 4 colchas de casal - de piquê com acabamento ponto Paris - (R$ 990 cada), 54 edredons de solteiro (R$ 176 cada), 28 colchas para cama de solteiro (R$ 411 cada), 74 colchões (14 deles a R$ 830 cada), 20 toalhas de banho para piscina tamanho extra gigante (R$ 54 cada). Para os 98 servidores que trabalham tanto no Alvorada quanto na Granja do Torto, novos uniformes, no custo total de R$ 50 mil. São eles: 8 integrantes da administração dos palácios, 36 atendentes das copas, 2 do cinema, 39 da cozinha e do refeitório, 27 zeladores, 4 bombeiros hidráulicos, 2 piscineiros e 4 eletricistas. Os ternos masculinos dos empregados custaram R$ 210 cada, mais 152 pares de sapato (36 a R$ 100 cada e 116 a R$ 78) e 228 pares de meias pretas (R$ 7,50 cada). Os 28 pares de sapatos femininos custaram R$ 90 cada. Miséria pouca é bobagem!

PARTE 9


No Gabinete da Presidência é a mesma coisa – uma gastança fantástica. Somente de Janeiro de 2003 a maio deste ano, foram 4 bilhões e 900 mil reais, segundo o professor Ricardo Bergamini. Foi o mesmo que gastou o Ministério das Relações Exteriores e mais do que gastaram individualmente os Ministérios da Indústria e Comércio (R$ 3,8 bilhões), da Comunicação (R$ 3,5 bilhões) e do Meio Ambiente (R$ 3,3 bilhões).


Os cartões de crédito corporativos não ficam atrás - são uma metralhadora de gastos. Em 2002, ainda no governo de FHC, ano de estréia da nova forma de pagamento de despesas imediatas, faturas e saques com cartões da Presidência da República somaram R$ 1,3 milhão. No ano seguinte - primeiro de Lula -, os gastos foram multiplicados por sete. Desde o início do governo petista, as despesas com os cartões sem prestação de contas já somam R$ 18,7 milhões. No governo Fernando Henrique, as faturas eram enviadas ao TCU e publicadas para conferência pública no site do Sistema de Acompanhamento Financeiro da Administração Federal (Siafi). O governo Lula passou a tratá-las como assunto sigiloso, de segurança nacional, deixando de enviá-las, e retirando do Siafi informações referentes aos gastos.


A Secretaria de Administração da Presidência da República lançou mão de uma regra baixada em dezembro de 2003 pelo Gabinete de Segurança Institucional para negar detalhes sobre as movimentações com cartões de crédito corporativos no Planalto: "Não é permitido o fornecimento de informações detalhadas dos gastos com as peculiaridades da Presidência da República, por questões de segurança", informou por escrito o departamento da Casa Civil que é encarregado da administração do Planalto. Os gastos com cartão de crédito bancam despesas que têm de ser pagas imediatamente, enquadradas como "suprimento de fundos". Essas despesas não são classificadas legalmente como gastos secretos, para os quais há quantia especialmente reservada no Orçamento da União e que têm um ritual diferente para a prestação de contas. Nas movimentações com cartões, o Siafi não identifica o destino final do dinheiro público, mas apenas os nomes dos titulares nos pagamentos feitos ao Banco do Brasil.


Quando foram lançados, os cartões tinham cada um o limite de R$ 400 mil. Mas, o Presidente Lula ultrapassou este limite, logo nos dois primeiros meses de uso. A administradora, então, alterou os limites dos cartões para R$ 1 milhão cada. Entretanto, como todo mundo sabe, em que pese o absurdo da extensão do limite, os cartões de crédito costumam ser usados para facilitar operações de compra e, mesmo sem querer, acabam dando uma transparência melhor sobre quem, como, quanto e onde se gastou. As pessoas não usam cartões de crédito para sacar dinheiro, principalmente se eles forem corporativos – a não ser em casos extraordinários. Não é o que parece estar acontecendo com os cartões de crédito corporativos do Governo.


Saques de grandes quantias em dinheiro feitos com os cartões de crédito corporativos do governo federal - usados para pagar despesas do Gabinete da Presidência da República, da Granja do Torto e dos ministros que assessoram o presidente - vêm sendo investigados pelo Tribunal de Contas da União (TCU). O ministro Ubiratan Aguiar (TSU), analisa as auditorias realizadas em 3 mil das 30 mil notas fiscais que comprovam os gastos milionários com os cartões de crédito corporativos da Presidência da República. Há indícios de notas fiscais frias e até de saques em dinheiro vivo, sem prévia liquidação da despesa, como manda a Lei. As faturas dos cartões usados pelo Palácio do Planalto somam R$ 10,2 milhões, apenas do início deste ano até o último dia 18, dos quais R$ 6,8 milhões teriam sido sacados em dinheiro vivo. O procedimento levantou suspeitas porque os cartões foram adotados justamente para dar mais transparência aos gastos com estadia, alimentação e transporte das autoridades, que não precisariam, em sua maioria, ser feitos em dinheiro.


Segundo números do Siafi, dos R$ 10,2 milhões em despesas deste ano, cerca de R$ 5,6 milhões foram gastos pelo gabinete do presidente. Em 2004, 53 funcionários do governo, os chamados de ''ecônomos'', usaram os cartões. Em 2005, foram 48 funcionários. Entre eles, C.P.F. (mais de R$ 1 milhão e R$ 226,9 mil em saques em dinheiro) e M.E.M.E. (R$ 441,5 mil, com saques no valor de R$ 198,1 mil), que costumam acompanhar Lula e a primeira-dama, Marisa Letícia. O pedido de devassa nas contas foi feito no dia 14 de julho de 2005, pelo procurador Marinus Marsico, representante do Ministério Público no TCU.


O Planalto se mexe para que o escândalo dos cartões de crédito não apareça antes das eleições, mas o TCU concluirá a investigação em agosto.


Como bem se pode observar, e não causa surpresa nenhuma, o atual Presidente da República de povão e de metalúrgico não tem mais absolutamente nada. O homem gosta de riqueza e do bom e do melhor – custe o que custar e a quem custar. O senso de justiça e de valores éticos e morais do Presidente e daqueles que o cercam obedece à mentalidade socialista, para a qual os fins justificam os meios e onde a nomenklatura está acima do bem e do mal, do justo e do injusto, das Leis, etc.











Tuesday, July 25, 2006

DESOBEDIÊNCIA CIVIL: “FUI!”

Christina Fontenelle
25/07/2006
Na última sexta-feira, 21 de julho, eu estava assistindo a um dos noticiários que passam na TV, na hora do almoço, e uma reportagem chamou a minha atenção. Um motorista do Rio de Janeiro havia sido detido pela polícia, após ter enganado algumas vezes os famigerados radares eletrônicos espalhados pela Linha Vermelha. Todas as vezes que cruzava com um destes radares, o motorista acionava um dispositivo que fazia a placa verdadeira do carro levantar (como um daqueles portões eletrônicos de garagem) e mostrava uma outra placa, onde estava escrito o seguinte: “Fui!” Assim, ele passava pelos radares sem ter que frear como fazem todos os outros motoristas e evitava as pesadas multas sobre quem ultrapassa os limites de velocidade.

O fato em si é engraçado pela criatividade, pela ousadia e pela engenhosidade do dono do carro. Na hora em que ouvi a notícia, eu ri. Mas, pensando um pouco melhor sobre o ocorrido, eu pude verificar que se tratava de um dos mais emblemáticos atos de desobediência civil que tenho visto ultimamente - coisa que vem me chamando muito a atenção, na medida em que venho notando um crescimento acelerado deste tipo de atitude extrema, levada a cabo por indivíduos que não suportam mais a vigilância física e psicológica, cada vez mais acirrada, por parte da sociedade e dos órgãos de repressão do Estado, muitas vezes com imposições que fogem à lógica da natureza humana e não permitido que nenhuma voz de oposição a elas seja ouvida.

Resolvi pesquisar o que de fato havia acontecido. Adeilson Felix de Brito (30 anos) era o nome do motorista do carro – uma Parati cinza, placa LCA-1455. Ele foi o primeiro infrator a ser flagrado pelo novo esquema de blitz integrado que passou a fiscalizar, desde 20 de julho, a movimentação nas principais rodovias e vias expressas do Rio, através de 90 pardais (que é como os cariocas chamam os radares fixos) e de 120 lombadas eletrônicas – transformando-os, além de detectores de excesso de velocidade, também em detectores de veículos roubados, clonados e com multas e IPVA vencidos.

A partir de agora, os bancos de dados do Detran-RJ, do DER, do Detro e da Polícia Civil estão integrados. A informação captada por radares e lombadas chega até o centro de monitoramento do DER, onde a situação do veículo é checada em segundos. Depois, é repassada via rádio para a blitz mais próxima da mesma via. Vale ressaltar que as 41 lombadas e os 31 radares instalados pela Prefeitura do Rio não fazem parte do esquema.

Na verdade, então, o motorista não foi pego pelo dispositivo instalado na placa, como havia dado a entender a rápida reportagem televisiva, e muito menos por estar trafegando acima da velocidade permitida (90 km/h - muito baixo, diga-se de passagem, para uma via expressa como a Linha Vermelha). Diferentemente do que está descrito no parágrafo anterior, ao que parece, as câmeras filmaram a placa verdadeira (portanto, fora das zonas de radar, onde o dispositivo era acionado e a placa levantava) e, com a rapidez do sistema de informações, detectou que o veículo estava com o IPVA atrasado e o sistema de placa adulterado.

A Parati foi parada pelos policiais que, então, ao revistarem o carro, descobriram o dispositivo que levantava a placa. Adeilson - o motorista - disse que não sabia da artimanha, já que o veículo está em nome de seu cunhado, Renato Gonçalves Montes. O carro foi apreendido por policiais e ficou no posto do DER, perto de Duque de Caxias, na Linha Vermelha, à espera de perícia da Corregedoria do Detran. A punição irá para o proprietário, que vai receber multas por ter dispositivo anti-radar e por estar circulando sem o IPVA em dia - R$ 191,54 cada uma. Ele ainda vai receber 14 pontos negativos na carteira. Adeilson foi liberado, mas os documentos do carro ficaram retidos. A fraude infringe o artigo 230, inciso 3, do Código Nacional de Trânsito e o acusado poderá responder a inquérito por crime de adulteração de característica de propriedade (3 a 6 meses de prisão mais multas).

Enfim, se antes já havia muita polêmica em relação à eficiência dos radares para evitar acidentes no trânsito – que é o objetivo oficialmente declarado pelos Estados para a instalação dos mesmos – agora vai haver muito mais. Radar, agora, também servirá para perseguir endividados. Em futuro próximo, poderemos inclusive estar sendo monitorados em função de nossas preferências políticas, para que sejamos cada vez mais extorquidos financeiramente, até que chegue o momento em que não tenhamos mais tempo nem condições de reagir ao sistema.

Sobre evitar, ou diminuir o número de acidentes, há inclusive uma tese de mestrado apresentada na USP (Universidade de São Paulo) por um engenheiro, que, baseado numa pesquisa realizada na rodovia Washington Luís (SP), indica que o número de acidentes e de vítimas é maior nas proximidades dos radares de controle de velocidade do que em locais não monitorados por eles. Há os que dizem que, se as empresas que instalam os radares recebem uma percentagem sobre as multas, somente isso já seria suficiente para levantar suspeitas quanto aos objetivos da instalação dos mesmos. E ainda há os que defendam a idéia de que os tais radares provoquem mais estresse nos motoristas do que evitem acidentes.

É o caso da Avenida das Américas, no Rio de Janeiro - uma larga avenida que atravessa dois bairros inteiros (Barra e Recreio) e possui, em quase toda a sua extensão, três vias paralelas – a do meio com 4 pistas e as duas laterais com 3 cada uma. Só não é uma via expressa por causa dos sinais de trânsito e dos cruzamentos, que, aliás, são bem espaçados uns dos outros. Pois bem, os limites de velocidade estabelecidos são de 80 Km/h, para a pista do meio, e de 60 Km/h, para as laterais – totalmente fora da realidade. É impossível respeitá-los, a não ser em frente aos radares, local onde todos freiam e onde já houve acidentes, justamente por causa disso. Na verdade, os limites deveriam ser de 100 km/h, no meio, e de 80 km/h, nas laterais. Então, fica parecendo que o objetivo dos radares nesta avenida são os de irritar os motoristas e de angariar fundos para o Detran e não o de educar ou de punir os que circulem pelo local, fora dos limites do bom senso.

A própria Linha Vermelha, onde a Parati foi apreendida, já foi citada como exemplo de via onde o sistema de aplicação de multas visa mais a arrecadação do que a segurança dos motoristas ou a sua educação. As câmeras ficam escondidas e a sinalização de alerta da fiscalização eletrônica - exigida pelo código de trânsito - não é colocada de maneira correta (há câmeras onde não tem sinalização e esta onde não há câmeras). Os limites de velocidade permitidos são inferiores a velocidade média típica da via, aumentando a incidência das multas e, conseqüentemente, a arrecadação. Entretanto, isso é mais um dos fatores de aumento do risco de acidentes, uma vez que faz com que os motoristas desviem com freqüência os olhos da estrada, para conferir o velocímetro, ainda que todos saibam que exista uma tolerância – mas que também é ínfima e, por isso, insuficiente. A bem da verdade, há os que defendem que essa tolerância devesse ser de 30% sobre o limite sinalizado para a aplicação das multas. Isto permitiria que o trânsito fluísse com muito mais segurança, já que os motoristas ficariam mais concentrados no trânsito do que no velocímetro.


A Linha Vermelha (LV) é recordista de multas no RJ. Em seguida vêm a Av. das Américas, a Av. Brasil e a Av. Ayrton Sena. A diferença entre o volume de multas da Linha Vermelha e da Av. das Américas é de 167%. Segundo dados do Departamento de Estadas de Rodagem do RJ (DER/RJ), isso se explica pelas características da LV e por uma diferença básica: nas vias fiscalizadas pela prefeitura, uma sinalização branca nas pistas indica os radares, na LV não.

Há ainda o problema de os radares serem operados por empresas particulares, que são generosamente remuneradas com valores que giram em torno de 20% da arrecadação com as multas, quando deveriam ser bem menores. Mas, não são só as empresas que dão problemas, os Estados arrecadadores dão mais trabalho. Isto porque tais recursos, vindos do bolso dos pretensos maus motoristas, entram nos cofres dos municípios sob o título contábil de “receitas extra-orçamentárias” e, por causa disso, não ficam passíveis de fiscalização direta pelos conselhos ou “tribunais” de contas. O dinheiro deveria ser utilizado para desenvolver atividades de educação no trânsito e em sinalizadores. “Tribunais” ou conselhos de contas espalhados pelo Brasil investigam se o dinheiro das multas está servindo a esquemas paralelos de lavagem de dinheiro, em operações que envolvem fornecedores de prefeituras que, por coincidência, se transformam em financiadores legais e ocultos de campanhas eleitorais.

As propostas em estudo pela Comissão de Viação e Transportes da Câmara dos Deputados para a reforma do Código de Trânsito Brasileiro atacam problemas importantes observados desde a sua promulgação em 1998. As mais importantes destinam-se a criar mecanismos para forçar as prefeituras a aplicar corretamente os recursos obtidos com a sua aplicação, obedecendo ao artigo 320 do Código, segundo o qual 95% dos recursos obtidos com as multas têm de ser gastos em "sinalização, engenharia de tráfego, de campo, de policiamento, fiscalização e educação de trânsito". Os prefeitos resistem a essa regra, porque sabem que, se os recursos das multas obedecerem à finalidade educativa, elas tenderão naturalmente a diminuir a médio e a longo prazos, atingido assim o objetivo do Código, mas diminuindo a “receita” extra das prefeituras. Isto é Brasil.

A verdade é que ninguém mais agüenta ser extorquido por todos os lados e de todas as maneiras sem que se tenha o menor retorno, nem prático nem psicológico, dos “investimentos” forçados. O cidadão não tem voz como indivíduo, ele só é visto como cidadão-coletivo, coisa que vai diretamente de encontro à mais elementar das característica humanas: a individualidade. É claro que não se poderia ouvir todos os cidadãos individualmente sobre todos os assuntos. Entretanto essa parece ser uma boa desculpa para justificar a imposição de leis e regras que se sabe muito bem servir a minorias, em detrimento das liberdades e dos direitos da maioria, como se fizessem parte do senso comum da última. Se não se pode ouvir a maioria individualmente, que se ouçam os que se manifestam – que, apesar de serem minoria dentro da maioria, são também em maior número do que a minoria para qual muitas das leis e regras são estabelecidas.

No Brasil, as leis parecem surgir do nada, repentinamente, e quase sempre para extorquir o cidadão. De repente, por exemplo, você não pode mais fumar em nenhum lugar público, mas os programas de ajuda a quem está sendo obrigado a deixar de fumar são ministrados em pouquíssimos lugares, às vezes a duas horas do local da residência ou do trabalho do “maldito” fumante. Os remédios e o tratamento são caríssimos. Ou seja, a Lei agora é essa e dane-se. Ficou decidido que fumar polui o ar, mesmo em ambientes abertos, e que se danem os viciados e os que pensem em contrário, mesmo que estejam baseados em estudos estatísticos e científicos que digam exatamente o contrário do que os que foram utilizados para embasar a nova lei.

Ficou decidido também, que todos os consumidores das grandes cidades do país estão obrigados a pagar uma taxa extra pelo direito de consumir. São os famigerados estacionamentos pagos em shoppings, desde os minúsculos aos mega deles. O sujeito, se quiser consumir num shopping, tem que pagar para estacionar, mesmo que, se não houvesse onde parar, o mesmo sujeito talvez jamais aparecesse por lá. Quem vem primeiro? O ovo ou a galinha? Nesse caso, com certeza os shoppings vieram primeiro; os estacionamentos pagos, depois. Aliás, quando começaram a se espalhar pelo país, um dos apelos dos shoppings, para tirar os clientes do comércio de rua, era justamente em relação às facilidades de estacionamento. Alguns destes, mesmo depois de terem passado a cobrar, ainda exibem uma placa dizendo que não se responsabilizam por roubos de objetos deixados dentro dos veículos e alguns até mesmo pelos danos que o veículo possa sofrer durante a permanência no estacionamento.

Querem mais? Lá vai. O Governo do Presidente Lula decidiu que a segunda língua que todos os brasileirinhos das escolas públicas do país serão obrigados a aprender é o espanhol. Por decreto, o Governo brasileiro resolveu que o espanhol é mais importante do que o inglês, quando todo mundo sabe que, sem saber inglês hoje em dia, uma pessoa fica extremamente limitada, principalmente no que se refere à sua capacidade de obter uma diversidade maior de informações.

Outro exemplo. A gente paga CPMF para que o dinheiro se destine à melhoria do sistema de saúde e, ao contrário, cada vez mais temos que recorrer aos planos de saúde para não vir a ter que morrer nos corredores dos hospitais públicos caso precisemos de atendimento hospitalar.

Cansado de esperar anos a fio para que o país tome os rumos do desenvolvimento e do respeito ao cidadão – além das fronteiras do politicamente correto e dos direitos humanos dos criminosos - , o indivíduo começa a tomar consciência de que a desobediência civil é a última arma que lhe restou para defender seus direitos e para que seus pontos de vista sejam levados em consideração. É a natureza humana falando mais alto dentro das pessoas. São essas reações que acabam não podendo ser previstas pelos instituidores da nova ordem mundial. Mas, percebendo o fenômeno, seus agentes agem no sentido de incrementar cada vez mais os sistemas de vigilância e de punição.

A jogada é a seguinte: cria-se uma determinada situação incômoda (os assaltos, por exemplo); depois, começam os estudos e as estatísticas – muitas delas falsas – a respeito do tema; em seguida, começam as medidas para “controlar” o problema – jamais para resolvê-lo de vez, já que isso implicaria, a longo prazo, na não mais necessidade de tais medidas (que são para o controle das pessoas comuns e não apenas dos criminosos, na verdade); até que finalmente se chegue ao ponto no qual as pessoas passarão uma “procuração” aos “solucionadores do problema” para que eles possam vigiá-las, em nome da sua própria segurança (ou da solução do problema). É a nova ordem mundial.

Chegará ao ponto em que pagaremos imposto ao Estado por permitir que vivamos sob sua vigilância e cuidados. Pagaremos pelo direito de viver – e muito mal, diga-se de passagem.

Monday, July 24, 2006

ENGOLIDOS PELO BLOCO

Os Presidentes do Mercosul e Estados Associados, reunidos na cidade de Córdoba (21/07) reiteraram seu firme compromisso com os valores da integração, da paz, do fortalecimento do multilateralismo, da democracia, do desenvolvimento e dos direitos humanos. Eles manifestaram sua satisfação pelos progressos que estão sendo feitos no sentido da formação de um bloco regional latino-americano, principalmente agora, depois da incorporação da Venezuela, reiterando, inclusive, a vontade política comum de concluir a Carta Social das Américas e de seu Plano de Ação.

Estiveram presentes os Presidentes da Argentina, Néstor Kirchner; do Paraguai, Nicanor Duarte Frutos; do Uruguai, Tabaré Vázquez Rosas; da Venezuela, Hugo Chávez; da Bolívia, Evo Morales; e do Chile, Michelle Bachelet. Também compareceram o vice-presidente do Equador, Alejandro Serrano Aguilar, e o Chanceler do Peru, Oscar Maurtua. Como convidados especiais, estavam presentes o Presidente dos Conselhos de Estado e de Ministros de Cuba, Fidel Castro, o Chanceler do México, Luis Ernesto Derbez e o Ministro de Comércio do Paquistão, Humayun Katar.

Como não poderia deixar de ser, Fidel Castro protagonizou situações polêmicas. Um repórter de Cuba fez perguntas que o ditador cubano qualificou de enviadas por George W. Bush, chamando o repórter de traidor de Cuba. Todo o acontecido pode ser visto no site Notalatina, mantido por Graça Salgueiro, do Mídia Sem Máscara. Segue o link:http://notalatina.blogspot.com/.

Todos os presentes ao encontro destacaram o compromisso de levar adiante um Programa de Regulamentação Migratória, em todo o Mercosul e países associados, admitindo, já como primeira medida, a concessão automática de visto de permanência de 90 dias aos turistas dos países membros, negociados na reunião do Foro de Migração. A Argentina foi elogiada por já ter dado início, unilateralmente, ao Acordo de Residência do Mercosul, com o “Programa Pátria Grande”. Este acordo foi estabelecido numa das reuniões entre os ministros do Interior dos países membros. Entre outras coisas, foi aprovado um Acordo Para Verificação de Documentos de Ingresso e Saída de Menores entre os países do Mercosul.

Entre outras coisas, como acordos para o combate ao contrabando de armas e ao tráfico de drogas, no plano da educação, novos acordos foram tratados nas Reuniões dos Ministros da Educação. Destaca-se o Reconhecimento de Estudos de Nível Primário e Médio que tem por objetivo estabelecer equivalências dos programas escolares entre todos os países membros do Mercosul. Merece consideração a intensão expressa de elaborar livros didáticos comuns, especialmente sobre educação, memória e direitos humanos das vítimas do terrorismo de Estado, durante os regimes ditatoriais da região.

A Argentina foi eleita como a Sede Cultural Permanente do Mercosul. A UNESCO ofereceu a Villa Ocampo para constituir o “Centro de Referência Cultural do Mercosul”. Ainda em relação à cultura, pretende-se valorizar o Programa “A Voz dos Sem Voz”, para recuperar as expressões de dança e música originários dos povos da América Latina.

Todos os membros do Mercosul afirmaram compromisso com um projeto comum de erradicar a pobreza e a exclusão, promovendo o bem comum e a igualdade de oportunidades, garantido o exercício dos direitos e dos deveres da pessoa humana. Para realizar mais este trabalho de integração, foi publicada “A Dimensão Social do Mercosul” e será formada a Rede Nacional de Voluntariado Humanitário.

Ressaltaram os progressos dos trabalhos para a implantação do Fundo de Convergência Estrutural do Mercosul (FOCEM), para assegurar simetria ao processo de integração. O Protocolo de Contratações Públicas permitirá que as empresas do bloco possam participar de concorrências públicas nos diversos países membros. Nesse sentido também, foi realizada a VI Rodada de Negociações para Liberalização do Comércio de Serviços. Foi sugerida também a criação de um Banco de Desenvolvimento do Mercosul, para financiar projetos de infra-estrutura. O projeto do grande Gasoduto do Sul está incluído nessa iniciativa, que, entre outras coisas, propõe a aliança entre todas as companhias petrolíferas da região, formando a Petrosur. Uruguai, Paraguai e Bolívia farão parte desse projeto, que tem por objetivo a integração energética, política e social dos povos da América - Latina.

Eu escrevi 2 artigos sobre isso, denunciando a intensão da criação desta companhia (a Petrosur) integrada – POR TRÁS DO OBVIO I e II – que não foram publicados em nenhum site, embora muitos deles o tenham recebido. Estava no auge da crise entre a Bolívia e a Petrobras.

Já começaram, no primeiro semestre deste ano, os trabalhos da Comissão Parlamentarista Conjunta, de acordo com a agenda para criar o Parlamento do Mercosul até de 31 de dezembro de 2006. Dentro dos trabalhos haverá a participação de uma comissão européia de apoio aos trabalhos.

Como se pode muito bem observar, está mais do que pronta a formação do bloco latino-americano alinhado com o projeto da globalização. Um projeto da esquerda internacional que pretende dirigir um império mundial do Capitalismo de Estado – que, vale lembrar, nada mais é do que o Comunismo de Mercado. Não resta mais a menor dúvida em relação a isso e só não enxerga quem não quer. A mídia nacional não mencionou esses assuntos. É tudo feito às escondidas, de modo que não se consiga reagir antes que os fatos sejam consumados.
E sabem o pior de toda essa estória? O pior é que os povos têm trabalhado, votado e pago impostos para que seus respectivos governos trabalhassem pelo desenvolvimento de seus países. Em nenhum momento lhes foi perguntado se era desejo formar uma comunidade mundial apátrida, sob o governo de verdadeiros ETs estrangeiros, para os quais nós, os latinos americanos, não seremos nada além de gado acéfalo. Pior: veremos nossos filhos crecerem num mundo assim - e nossos netos, e nossos bisnetos.

Friday, July 21, 2006

AMÉRICA: DA LIBERDADE AO FASCISMO

Christina Fontenelle
20/07/2006
chrisfontell@gmail.com

visite o blog do filme:
Freedomtofascism.com.


Imagine o seguinte: você liga para uma pizzaria para fazer um pedido de entrega domiciliar. Do outro lado da linha, uma voz o identifica por um número de 20 dígitos (o seu número de identificação nacional). Então, a voz cita o seu endereço. Espantado, você pergunta como é que isso é possível se esta é a primeira vez que ordena pizzas daquele estabelecimento. A voz simplesmente lhe diz que obteve o endereço pelo sistema integrado de identificação. Mesmo estranhando, você faz o pedido. Duas pizzas gigantes de calabresa, com bastante cebola, azeite e mussarela. Surpreendentemente, a voz, ao registrar o pedido, faz uma observação. Ela diz que sua ficha médica revela que você está com problemas de colesterol alto. “O que? Ah, o sistema!”, você pensa.
A voz lhe diz que pode enviar as pizzas de qualquer maneira, por que tem um acordo com o sistema de saúde que permite que o estabelecimento venda seus produtos para pessoas não indicadas a consumi-los, desde que o comprador assine um termo isentando o estabelecimento de qualquer responsabilidade sobre os danos que seus produtos possam oferecer à saúde daquele comprador. Essa licenciosidade custará R$ 2,00 e o serviço de entrega R$ 5,00, porque, para sua surpresa, a zona onde você mora, foi inserida – há poucos dias, segundo a voz do outro lado da linha – na classificação de zona sob risco de acidentes de motocicleta (ou qualquer coisa parecida). Total do pedido R$ 60,00.

“Sessenta reais por duas pizzas?” Você argumenta. A voz lhe diz que você pode perfeitamente bancar a quantia, já que pode ver, pelo maldito sistema, que você andou comprando passagens aéreas, assinando revistas, e outras coisinhas mais – tudo através do seu cartão TUDO EM UM – que você pensava ter sido configurado para lhe dar a liberdade de andar sem ter que carregar aquela enormidade de documentos, de notas e moedas de dinheiro, de centenas de cartões disso e daquilo. Tudo bem, você concorda e manda vir as tais das pizzas.

Parece filme de ficção científica; mas está bem perto de vir a se tornar realidade, pelo menos nos EUA, algo muito parecido com essa estorinha que acabamos de ler. É para falar sobre isso e sobre muitas outras coisas surpreendentes que o cineasta Aaron Russo escreveu e dirigiu o filme “AMERICA: FREEDOM TO FASCISM” (América: da Liberdade ao Fascismo). Quem assistiu ao filme “Fareinheit 9/11", de Michael Moore, e o achou polêmico, justamente pelas falsas premissas que levantou, para induzir a conclusões distorcidas, depois de ver “América: Freedom To Fascism” poderá achar que, desta vez, os pontos de vista e as conclusões do filme são mais do que convincentes e que será muito difícil contra atacá-los, segundo a opinião de algumas poucas pessoas que já puderam assisti-lo. E talvez por isso não haja o menor interesse político ou financeiro de que seja visto por milhões de americanos.

Nascido no Brooklyn e criado em Long Island, Aaron Russo começou promovendo shows de rock and roll em pequenos teatros locais, quando ainda era um estudante do ensino médio, até que, aos 24 anos, abriu seu próprio clube noturno em Chicago – o Kinetic Olayground – que acabou ganhando projeção no mercado musical e onde Aaron ajudou a dar início às carreiras de grupos como o Led Zeppelin, The Who e de astros como Janis Joplin. Em 1972, Russo iniciou sua parceria de 7 anos com Bette Midler e Lionel Hampton. Também passou a agenciar o grupo Manhattan Transfer e astros de cinema como Susan Sarandon.

Quando passou a produzir filmes, uma de suas produções, “A ROSA”, marcou a entrada definitiva de Bette Midler no cinema, com o qual a cantora-atriz recebeu indicação da Academia para o Oscar de Melhor Atriz. Russo também produziu o filme “TROCANDO AS BOLAS”, com Eddie Lurphy e Dan Aykroyd, que se tornou um clássico de Natal americano. Aaron Russo já recebeu inúmeros prêmios por suas produções (Grammy, Tony, Emmy e Gonden Globe).

Em 1996, Russo fez um vídeo político - Aaron Russo's Mad as Hell – que lhe rendeu a indicação dos cidadãos do Estado de Nevada para concorrer ao cargo de Governador. Surpreendentemente ele obteve 30% dos votos e ficou em segundo lugar. Em janeiro de 2004, ele se declarou candidato à Presidência dos EUA, pela coligação LIBERTARIAN (Libertário) do Partido Constitucional (Constitution Party). Na Convenção de maio, ficou em terceiro lugar. Decidiu, então, voltar ao universo midiático e começou a escrever e a dirigir o filme “AMERICA: FREEDOM TO FASCISM”.

O filme expõe o trabalho do Internal Revenue Service (IRS) (Serviço de Rendimento Interno, uma espécie de Receita Federal) e promete provar que não há embasamento legal que obrigue os americanos a pagarem impostos indevidos sobre salários, segundo o autor do filme. Russo pretende provar que o governo dos EUA não tem o direito legal ou constitucional de cobrar impostos sobre a renda obtida com o trabalho de seus cidadãos. A décima-sexta emenda à Constituição, que trata da taxação, nunca foi legalmente ratificada, alega Russo. O próprio IRS não tem um mandado legítimo para atuar: está escrito nos seus estatutos que o pagamento de impostos sobre salários deve ser voluntário.

Russo convida as pessoas a repararem que o sistema monetário americano, desde 1913, não é controlado pelo governo. Ao contrário, o Federal Reserve System permite que os bancos administrem o dinheiro do governo. E, como se sabe, Bancos privados administram o dinheiro em prol de seus donos e não dos outros. Para o cineasta, a economia norte-americana, baseada no papel moeda, é um sistema onde os banqueiros ganham e os americanos perdem.

Determinado a encontrar a Lei que obrigaria os americanos a pagar imposto de renda, Russo empreende uma jornada em busca de evidências, onde acaba por expor a sistemática erosão das liberdades civis nos EUA, desde 1913, quando o sistema da FEDERAL RESERV foi, segundo ele, fraudulentamente criado. Através de entrevistas com Congressistas, membros do IRS, agentes do FBI e advogados tributaristas, o cineasta conecta os pontos entre a criação do dinheiro, dos impostos federais e até do cartão magnético de identidade, que está em vias de se tornar obrigatório a partir de 2008 nos EUA. Este cartão usará chips de identificação por rádio freqüência (RFID), que, como todo mundo sabe, permite rastrear as pessoas. Na verdade, isso já pode ser feito através dos telefones celulares, para quem não sabe.

O filme mostra, com detalhes, que os EUA estão em vias de se tornar um Estado de polícia fascista e promove a discussão sobre as conexões entre o IRS e a Federal Reserve. O segredo é que, na verdade, os dois organismos não são parte do governo federal e sim de corporações privadas. A lista de quem controla o sistema é um segredo irrevelável, mas presume-se que a City Londrina esteja representada por organizações como Rothschild & Sons. O propósito do cartel internacional de Bancos sempre foi impor um sistema financeiro baseado no débito que acabaria por transformar cidadãos americanos (quiçá do mundo todo) em servos econômicos.

A Federal Reserve e o U.S. Treasury Dept. (o Tesouro Nacional) imprimem dinheiro sem que haja uma reserva em ouro ou prata correspondente, apenas sustentado por transações e acordos legais entre as grandes corporações (Rothschild, Morgan, Rockefeller, Schiff e Warburg, só para citar algumas). Quando o Presidente norte-americano Woodrow Wilson assinou o Ato que permitiu a atuação da Federal Reserve, a super-elite estava pronta para impor o seu sistema financeiro aos EUA.

Para que isso sempre permanecesse em segredo absoluto, era preciso controlar a maior parte da mídia. Aaron fala que, em 1915, as organizações Morgan elegeram 12 homens para pesquisar quais eram os jornais mais influentes dos EUA. Eles concluíram que bastava controlar 25 deles. Fizeram melhor. Procuraram os jornais e propuseram comprar apenas as partes relativas à política, nacional e internacional, de cada um deles. Os pagamentos pelo uso editorial dessas partes seria mensal e para cada um dos 25 jornais surgiu um editor responsável que, naturalmente, estava incumbido de fazer as edições de acordo com os interesses de seus compradores. O esquema funciona de 1915! A Internet é o único meio – AINDA – de burlar o controle das informações.

Os monstros de 1913 ainda rondam nossas vidas. A inflação, por exemplo, que desvalorizou o dólar em 96% desde então, especialmente depois do Governo Nixon, quando a moeda passou a ser emitida sem a sua correspondente sustentação em ouro – que sempre foi o metal padrão. É o “mico preto”, sobre o qual eu falo na série CAI O PANO (numa parte que ainda está por vir). Russo observa como os EUA foram transformados, de uma nação de cidadãos independentes, numa nação de empregados - partindo-se do princípio de que há sempre mais trabalhadores do que trabalho, e com os benefícios que foram sendo agregados ao trabalhador, os americanos foram ficando cada vez mais dependentes de empregos, deixando de lado os próprios empreendimentos. Dessa forma, o capitalismo foi se transformando cada vez mais em corporativismo (concentração de oferta de trabalho). Corporativismo, para Russo, é uma forma, politicamente correta, de dizer fascismo econômico.

Com o fortalecimento da poderosa elite globalista e com as novas tecnologias à sua disposição, sua capacidade de destruir a independência financeira dos americanos foi ficando enorme. Não é preciso ser nenhum gênio para concluir que a perda de independência financeira gera a perda de liberdade, o que, por sua vez, acabará por fazer com que se percam os padrões de comportamento. Nas últimas duas décadas, especialmente depois da criação do North American Free Trade Agreement (NAFTA - Tratado Norte-Americano de Livre Comércio), em 1994, a capacidade americana de manufaturar produtos foi dizimada, o mercado de trabalho entrou em colapso (a menos que se seja um técnico, um burocrata, um garçom ou um empregado doméstico) e suas contas bancárias vêm se tornando negativas com cada vez mais freqüência. As famílias, cujos pais vêem-se obrigados a passar o dia na rua, ambos trabalhando para pagar contas e comprar comida, está perdendo completamente a sua estrutura. As pessoas estão sendo forçadas a trabalhar como se fossem abelhas (nascidas para trabalhar 24 horas por dia) e estão apresentando níveis insuportáveis de stress e de exaustão.

Há sempre uma minoria nas sociedades que acha o poder fascinante. Platão, o filósofo grego, já dizia que sempre há os que acham que algumas pessoas precisam estar sob o controle de regras na sociedade. O modelo hegeliano de sociedade se baseia exatamente neste ponto de vista e de que não há espaço para liberdades individuais ou para direitos de propriedade privada no convívio social. A filosofia do Coletivismo é toda montada em cima deste conceito e está por trás do fascismo radical (nazismo), do socialismo (comunismo) e do fascismo corporativista globalista (o da parceria-pública-privada e o da pseudo-privatização anglo-americana). A maioria dos movimentos e organizações (as Ongs) atuais consistem em fabricar e apoiar tudo aquilo que possa cegar as pessoas em relação à construção do socialismo internacional do qual serão subservientes. A desvalorização do indivíduo e a exaltação do indivúduo-coletivo, da coletivização, são apenas uma questão de tática de dominação: é mais fácil controlar o coletivo do que o indivíduo.

Na era materialista, a combinação de dinheiro, poder e tecnologia está fascinando cada vez mais aqueles que têm fome de mais e mais poder. O cartão de identidade nacional entrará em uso já em 2008, nos EUA, graças ao REAL ID ACT, que passou pelo crivo do Congresso, em 2005, e já foi assinado pelo Presidente Bush. A tecnologia que está nesses cartões foi desenvolvida por companhias como a VeriChip e é suportada por corporações globalistas (Wall-Mart, Proctor & Gamble, etc.). A mesma tecnologia já está sendo usada em alimentos e vai ser usada também em produtos como calças jeans, por exemplo. Os animais já são monitorados, como desculpa para que não sejam extintos, e os domésticos, para que não sejam roubados; mercadorias, para que não sejam falsificadas e para facilitar controle e pagamento. Notas de dinheiro, também – para que não sejam falsificadas e para que possam ser rastreadas em caso de roubo.

A sociedade está usando cada vez mais dinheiro de plástico (os cartões), que tornam possível controlar tudo o que uma pessoa faz. Tudo para sua total conveniência, é claro!Conveniência, naturalmente, que não se mostrará como tal, evidentemente, se você por acaso for vítima de um vírus desses de computador, por exemplo. Se isso acontecer com você, talvez nem comida consiga comprar. Isso para não falar que um mal monitoramento digital pode vir a determinar a completa inexistência de alguém.

O Social Security Number (Número de Seguridade Social) é praticamente um número de identidade nacional, nos EUA – ainda que sem chips. É quase impossível abrir uma conta, dirigir ou trabalhar legalmente sem este número. O próprio sistema de empregos é um bom instrumento de controle, sendo por isso que a elite globalista prefere que a sociedade seja formada, em sua imensa maioria, por empregados, do que por pequenos empreendedores independentes. O cineasta Aaron Russo lembra que muitos dos empregados recebem seus salários através de depósitos bancários e isto significa que, muito provavelmente, eles acabarão por só poder retirar seus salários mediante a aquisição do seu REAL ID. Através dele o “Sistema” poderá revelar, a quem dele se apossar (para o bem ou para o mal), os hábitos alimentares e de lazer, o histórico médico e escolar e muitas outras informações sobre qualquer indivíduo.

Russo propõe que o primeiro passo para pelo menos retardar esse processo de controle seja votar em candidatos que tenham compromisso com a causa antifascista, como os membros do Constitution Party ou de outros partidos independentes. Enfim, acabar com a hegemonia do que ele chama de reinado do partido “DemoRepublicano” (Democrata e Republicano). Uma vitória já foi conseguida – as urnas eletrônicas de votação são obrigadas a emitir o voto impresso e não podem mais identificar o eleitor eletronicamente na mesma unidade (urna e identificador). Esse assunto também é abordado pelo filme de Russo, embora superficialmente, para não fugir do tema central.

Como ultimo recurso, Russo diz que ainda resta a desobediência civil. Se nada acontecer de concreto até maio de 2008, milhares de pessoas podem se negar a usar seus cartões de identificação Real ID. Se isso acontecer, as corporações globalistas acabarão por ter que voltar atrás. Será difícil que consigam matar milhares de pessoas ao mesmo tempo ou colocá-las em campos de trabalhos forçados. Além disso, teriam que matar também milhares de fazendeiros espalhados pelos EUA, que não suportam mais ver o enxame de produtos chineses que invade a economia norte-americana, acabando com a possibilidade de continuarem a trabalhar na produção de alimentos e matérias primas. Esta parte da população americana está de saco cheio e anda armada – são um exército de neo-Confederados que não estão dispostos a entregar a herança de seus pais tão facilmente assim.

O próprio PATROTIC ACT, assinado sob a alegação de que as medidas são necessárias para combater o terrorismo, está, na verdade, combatendo a liberdade, o capitalismo e a sociedade ocidental, segundo Russo. Eu não concordo inteiramente com isso; mas, do alto da minha infinita ignorância, eu pergunto: depois que a poeira baixou, quem é que realmente se beneficiou com o que aconteceu com os EUA e com os norte-americanos, depois dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001? Eu só sei que, se fosse para prevenir atos terroristas que o governo americano esteja cerceando as liberdades individuais dos cidadãos, não estaria, ao mesmo tempo, abrindo suas fronteiras para formar blocos transnacionais e muito menos aceitando que imigrantes estivessem conseguindo direitos que prejudicam os próprios norte-americanos.

Thursday, July 20, 2006

INCOERÊNCIAS

Dizem que não se pode confiar em tudo o que circula pela Internet – e com razão. Eu soube, por esta fonte, que o Stédile foi ovacionado de pé, ao terminar sua palestra na ESG (que, aliás, ultrapassou o tempo previsto – tamanho o sucesso). Não sei se é verdade ou não. Mas, isso não impede que reflitamos a respeito como se fosse.

Bem, Stédile foi apontado por Hugo Chávez como filho dileto, “seu candidato a sucessor de Lula”. Portanto, Hugo Chavez e Stédile: tudo a ver (parodiando a TV Globo). No entanto, parece que o Presidente da Venezuela começa a ser – ainda que tardiamente – identificado como uma ameaça real à soberania e aos limites territoriais brasileiros. As FFAA brasileiras dão o alerta e começam a pedir providências sobre seu urgente reaparelhamento. Infelizmente, a essa altura do campeonato (inclusive depois da Venezuela ter aderido ao Mercosul) não se sabe se para se proteger de Chavez ou se para unir forças com ele. Infelizmente (repito), não se sabe de mais nada.

Um dos e-mails que recebi de um militar da ativa dizia o seguinte sobre o alerta das FFAA: “É lamentável que tenhamos desenvolvido uma cultura do medo: medo de errar; medo de fazer; medo de falar; medo de reclamar; medo de ficar queimado; medo de pegar bailéu; medo de responder inquérito; medo de desagradar a autoridade; e medo de perder conceito e "aquela" comi$$ão. Esta cultura do medo só pode conduzir à omissão, à covardia e à derrota. Que Deus nos proteja”. Se eu não fosse otimista, não continuaria a escrever, a pesquisar e a trabalhar incessantemente para que a situação se reverta. É por isso que eu acho que o fato de reconhecer as próprias falhas já é um começo. Diferentemente do “Que Deus nos proteja!” do lamento, no e-mail do militar, o meu “Que Deus nos Proteja!” é aquele que vem antes da batalha, aquele em que pedimos a Deus para que conduza e proteja os que lutarão em nome das forças do bem.

NÃO FOI POR FALTA DE AVISO

Trecho do artigo “Por trás do Obvio II” distribuído há cerca de 3 meses...

Já está mais do que na hora de entendermos, de uma vez por todas, que o antiamericanismo do qual Hugo Chávez é o porta-voz – na linha direta de sucessão de Fidel Castro –, na América Latina e Caribe, é o mesmo do qual são vítimas a sociedade e o Estado norte-americanos, que devem e precisam ser dissolvidos em nome do Império Global. Como é quase lei que os governantes que se sucedem no governo dos EUA sejam homens compromissados com as oligarquias globalistas, eles acabam por confundir o mundo em relação a o que seja feito em nome do Estado norte-americano (e em prol deste) com aquilo que é praticado e orquestrado em nome dos globalistas.

“Por enquanto, a multidão ainda não atinou com a unidade estratégica por trás de mutações catastróficas de escala global que aparecem na mídia idiota como frutos espontâneos da metafísica do progresso. Aos poucos, a identidade dos agentes por trás do processo vai aparecendo...” (Olavo de Carvalho)

QUEM É O INIMIGO?

Houve uma época em que as parábolas foram usadas para se fazer entender aos que pouco ou nada compreendiam, sem que aqueles que supostamente entendessem pudessem captar. Hoje, apropriando-se do mesmo recurso, muitos delas se servem, mas por motivos opostos: para que possam falar aos que entendam, sem que aqueles que não compreendam possam captar o que tenha sido dito.

São cálculos aproximados, é verdade, mas, estima-se que sejam cerca de 14.500 conflitos armados, totalizando 4 bilhões de mortos, nos últimos 5.600 anos (3.600 a.C. a 2001 d.C.) da história da humanidade que, de uma forma ou de outra, puderam ser registrados. Apenas 292 anos de paz, sendo que, para muitos estudiosos, nunca deixou de haver, em algum lugar do planeta, homens num campo de batalha, mesmo que isoladamente. (Os dados são de matéria publicada na edição 132 da revista Os Caminhos da Terra).


Parece incrível, mas toda a evolução tecnológica não conseguiu fazer com que o cérebro humano deixasse de ser o senhor da guerra – aquele que faz a diferença entre a vitória e a derrota, não em um ou dois combates, mas na guerra. Não pela sua capacidade de produzir armamentos, organizar combates ou enfileirar soldados, mas pela habilidade (de poucos, evidentemente) de relacionar conhecimentos históricos, percepção da realidade, compreensão da engrenagem cerebral humana e de praticar o exercício de admitir suposições.



A História mostra isso. Independentemente da época em que tenham ocorrido, do tipo e da quantidade de homens e armamentos empregados ou das características topográficas dos campos de batalha, as grandes vitórias sempre foram obtidas por aqueles cuja inteligência permitiu a macro visão de determinada situação, num dado momento histórico, fazendo-os criar soluções para compensar as próprias deficiências e enxergar onde deveriam estar as do inimigo. Ou ainda, aqueles que, mesmo estando em vantagem, souberam inferir e se adiantar às criações alternativas do oponente mais fraco. Bem como muitas derrotas aconteceram, simplesmente, por causa da falta desta conjunção de qualidades, nos líderes combatentes, e não propriamente em virtude das qualidades de seus inimigos.



Há exemplos clássicos da excelência do cérebro privilegiado sobre as condições aparentemente vantajosas do oponente. No século XIII, o grande conquistador e imperador mongol Temudjin, mais conhecido como Genghis Khan, ao avançar vitoriosamente sobre a China, quando se aproximou de Pequim - o mais avançado centro urbano daquela época -, foi surpreendido com a visão de uma cidade toda cercada por muralhas de até doze metros de altura. Ele pôde verificar que suas famosas táticas de guerra, em campo aberto, nas estepes, não o ajudariam naquele momento. Então, acampou com seu exército, cercando a cidade e impedindo que os suprimentos a adentrassem, aproveitando-se, inclusive, deles, para suprir seu próprio exército. Com a ajuda de engenheiros chineses dissidentes, construiu catapultas e outros artefatos bélicos, promovendo ataques sistemáticos, até que, finalmente, pudesse invadir e dominar aquela cidade.


Um outro exemplo, bem mais recente, pode ser observado com o que aconteceu na Guerra do Vietnã. Na verdade, apesar de farta documentação a esse respeito, muitas pessoas ainda acreditam que os vietcongues (guerrilheiros que atuavam contra o governo do Vietnã do Sul, apoiados pelo Vietnã do Norte) e o exército norte-vietnamita venceram os americanos e o exército sul-vietnamita com patriotismo, força de vontade, poucas armas e táticas de guerrilha. Na verdade, os americanos se retiraram de cena e, três anos depois, os sul-vietnamitas é que perderam militarmente para os vietcongues e para os norte-vietnamitas – aliás, muito bem armados, até os dentes. O principal marco desta guerra, no entanto, é pouco, ou quase nunca, citado: foi a primeira vez que as liberdades democráticas da cultura ocidental (mormente a norte-americana), juntamente com seus avanços tecnológicos, foram usadas (incoerente, mas inevitavelmente) como uma das mais poderosas armas contra si mesma. No final, os EUA foram considerados o lado perdedor, não militar, mas politicamente, pela pressão internacional e pela pressão interna da opinião pública norte-americana.


A Guerra do Vietnã foi a primeira a ser televisada, em cores e ao vivo. A televisão levava aos lares americanos as terríveis imagens do conflito, causando indignação na opinião pública. Milhares de pessoas iam às ruas protestar contra a guerra. Lá no Vietnã, ainda no terreno da pressão psicológica, do lado dos vietcongues, o líder Ho Chi Minh, ao contrário do que fizera na guerra da Coréia, adotou a tática de não matar os americanos e sim de aleijá-los, com minas especiais. Então, quando voltassem para os EUA, todos os americanos poderiam ver o que estava acontecendo na guerra e isso seria o fim do mito do soldado americano invencível. Uma outra tática foi colocar os oficiais americanos prisioneiros, em hotéis de luxo de Hanói, a capital norte-vietnamita, para que a cidade fosse preservada de bombardeios arrasadores - já que os EUA não poderiam matar seus próprios oficiais, deliberadamente.


Sem entrar no mérito da crueldade e das atrocidades desta guerra, é bem plausível de se supor que, se não tivesse havido a intensa cobertura jornalística (com o agravante da transmissão direta), as chances de vitória dos EUA teriam sido infinitamente maiores. Uma outra observação é que, em sendo americanos e europeus, em sua maioria, os jornalistas estavam sempre filmando o que os americanos e sul-vietnamitas faziam e sofriam. Jamais estiveram do outro lado, mesmo porque nenhum comunista jamais deixou que isso acontecesse, nem em época nem em guerra nenhuma (ou, se deixou, antes de exibir para o mundo, fez os cortes necessários).


O mais importante, entretanto, é que o poder da mídia televisiva estava consolidado, especialmente no sentido de vigilância, dentro das sociedades onde imperava a liberdade de imprensa. E todas as espécies de ditadura, no mundo todo, jamais esqueceram desta lição. Não para que não permitissem que essa liberdade fosse dada aos seus próprios veículos de comunicação (porque disso eles sempre souberam), mas para incorporar a mídia do inimigo, dentro das estratégias de ataque, como mais uma de suas armas, dentro da própria casa do inimigo. Esse fenômeno deu origem ao que hoje conhecemos como “guerra assimétrica” – um prolongamento mais sofisticado da Guerra Fria, com tudo que já se conhece sobre propaganda ideológica, informações, contra-informações, espionagem e contra-espionagem.


O dilema da “autodestruição” e da “autopunição” das sociedades ocidentais livres e democráticas ainda está à espera de um gênio da estratégia, que consiga: 1) neutralizar a influência da propaganda ideológica de esquerda, na formação escolar dos indivíduos, do pré-escolar aos níveis universitários, que acaba criando uma sociedade simpática aos ideais de esquerda - mesmo que sejam puramente demagógicos; e 2) desviar o foco da vigilância social, praticada através da mídia, para o lado do inimigo – de modo que seja este último a maior vítima das cobranças. Tudo isso sem recorrer ao mecanismo de censura. Uma missão impossível, eu diria.


Será o preço da liberdade a sua própria destruição? A permissividade que foi dada à propaganda ideológica comunista, com seus apelos utópicos e demagógicos, nas sociedades democráticas, fez com que pudesse haver uma infiltração maciça de agentes anti-ocidentais nos setores formadores de opinião, permitindo que seus inimigos fossem, aos poucos, construindo a própria inexistência – primeiro, a de seus objetivos ditatoriais, depois, a de suas intenções de aniquilamento da sociedade ocidental e, finalmente, fazendo crer, ao mundo, que já não mais existiam de verdade, dissolvendo muros e “abrindo” fronteiras turísticas e comerciais (uma piada, para qualquer um que procure informações sérias sobre o assunto). Escondendo as próprias atrocidades e intenções, apontam os dedos da acusação a quaisquer tentativas de desmascaramento ou reação por parte dos agentes da cultura ocidental, fazendo-os de refém de suas próprias liberdades democráticas. Lição aprendida, o brilhantismo da tática não é mais privilégio de comunistas. É amplamente utilizado por todos aqueles que agem contra o ocidente e, ainda, em menor escala, e por associação, pelos inimigos da ordem social estabelecida nos Estados ocidentais individualmente.


Penso que não se combata um mal ou um inimigo que não se saiba da existência. A própria ignorância impede até mesmo a prevenção, por motivos óbvios. Dizem que, por conhecer muito bem a criatura, tenha sido nessa certeza hipotética que o revoltado Lúcifer teria baseado sua tática de conquista do homem, para se tornar senhor do mundo. Fantasioso ou não, esse dito fala de uma tática que pressuponha a consciência de pelo menos duas coisas fundamentais: 1) é preciso conhecer como funciona a mente do objeto de conquista – não exatamente o que ele pensa, mas como funciona sua engrenagem mental; e 2) é preciso desconstruir a própria existência – não a física, mas a de seus reais objetivos – diante do objeto de conquista. Tudo isso para que o conquistador possa agir, estratégica e livremente.


Durante esse processo de desconstrução, os inimigos da sociedade ocidental atuam ainda em mais duas outras frentes de ataque. A primeira delas procura incutir, na lógica do raciocínio cerebral dos indivíduos, um mecanismo automático de relativização. A outra atua no sentido mais físico de destruição. As duas frentes estão intimamente relacionadas e atuam com um “delay” (atraso em relação à outra), permanente, que faz uma se alimentar da outra.


O conceito de relativização, aqui, não tem nada a ver com o exercício de se colocar no lugar do outro, tentando ver o mundo com os olhos dele, para poder compreendê-lo e buscar formas de convivência harmoniosa, ou qualquer coisa parecida. A relativização, no contexto de combate, tem por objetivo a desestabilização de conceitos que componham a identidade cultural dos povos ocidentais, procurando afastar-lhes dos fundamentos de seus valores – atribuindo a estes o caráter de duvidosos – e fazendo-lhes pensar estar sempre distantes da sabedoria primitivo-popular e das lógicas naturais – sendo, por isso, artificiais e de caráter inferior.


Bem simplificadamente, é quando se atribui aos índios, por exemplo, a genialidade da civilização, por viver em harmonia com a natureza, e aos “brancos” ocidentais a burrice por buscar a sua transformação. Ou quando se atribui ao casamento monogâmico ocidental, entre homem e mulher, a característica de imposição cultural, completamente antinatural, ao mesmo tempo em que se classifica o casamento de um homem com 17 mulheres, numa tribo qualquer da África, por exemplo, como prova incontestável de naturalidade. Como se aquela tribo não tivesse chegado a esse modelo de união por contingências de sobrevivência e desenvolvimento. Exatamente como aconteceu com a sociedade ocidental.


Começa assim: ensinando as crianças a achar que as outras culturas sejam todas sabiamente naturais ou elegantemente diferentes – todas elas destruídas ou ameaçadas pela ganância, a burrice e a maldade da civilização ocidental. A repetição deste modelo de transmissão é tão intensa e tão prolongada, na formação de nossas crianças, que acaba por transformá-las em adultos de olhar viciado sobre sua própria cultura e a dos outros, dando a impressão de que devam punir-se por terem se desenvolvido tanto e que devam por isso, tudo ao outro permitir.


A frente de destruição física usa o capitalismo como “bode expiatório” e “saco de pancadas”, para justificar todas as atrocidades que comete. Tráfico e indução ao consumo de drogas, ataques terroristas, violência urbana, segregação racial e social, roubo, invasões, desajuste social – tudo é culpa do capitalismo selvagem e nada financiado por agentes de destruição criados especificamente para promover o caos. Os desenvolvimentos científicos, os avanços na medicina, as melhorias das condições de conforto, os progressos das comunicações, etc., são obras do acaso. O fato de que tudo o que tenha se desenvolvido, nos países sob regimes comunistas, tenha sido produto de espionagem, contrabando e apropriação indevida de tecnologia não vem ao caso. Muito conveniente!


Todos os países pobres do mundo estão nestas condições porque o capitalismo selvagem, contrariando aos próprios anseios de expansão, teria resolvido delimitar seu próprio mercado consumidor, por achar que já produzia e consumia demais. Nenhum destes miseráveis e marginalizados países foi ou é vítima do delírio de onissapiência ufanisto-religiosa de seus governantes, nem da corrupção e da avidez de poder destes mesmos governantes. Nenhum dos países miseráveis do planeta, em se vendo impossibilitado de sobreviver economicamente, no isolamento, pretendeu supor que fosse o mundo que deveria transformar-se, para que ele pudesse existir, como acha que deva. Bem como nenhum destes países tenha sido vítima dos anseios de expansão territorial da colonização comunista. Nada disso! Todos os miseráveis do planeta devem sua infeliz realidade, exclusivamente, ao capitalismo selvagem. Um festival de mentiras e meias verdades que só proliferam e sobrevivem por causa do olhar relativizante viciado.


O capitalismo é um sistema cheio de defeitos, que precisa estar em constante transformação e não é o que se possa chamar de símbolo de justiça e equilíbrio econômico-social. Entretanto, não se deve atribuir a ele culpas que não lhe cabem, ou que, pelo menos, não lhe sejam exclusivas. Com o conhecimento científico e cultural a que se pode ter acesso nos dias de hoje, é inadmissível que tudo o que seja dito sobre as teorias contrárias ao capitalismo seja pura e simplesmente absorvido pelas pessoas, sem que haja um mínimo de reflexão a respeito.


As frentes de destruição física se impõem pelo monitoramento do medo que disseminam no interior das sociedades. O medo faz com que as pessoas se calem, principalmente quando sabem que não podem contar com a proteção do Estado. A barbárie e o sadismo sem limites do inimigo impõem pânico e silêncio. Paralisadas, as sociedades não encontram formas legais (muito menos ainda, dentro dos padrões humanitários) para reagir, abrindo espaço para que agentes mascaradores e intermediários passem a ocupar o lugar do Estado, no papel de assegurar um mínimo de condições de sobrevivência. Quando isso acontece, as sociedades passam a conviver com a “bandidagem”, num cotidiano de “morde e sopra” e começa a aceitar teorias e práticas de condescendência, simplesmente buscando agradar aos “sanguinários”, na esperança de que possam vir a contar com sua benevolência e consideração. Em muitos casos, todo esse processo se dá de forma inconsciente.


Eu concordo que a crítica, desprovida de soluções realizáveis, que partem de premissas falsas, embora sedutoras, porque baseadas numa idealização dos seres humanos (muito distantes da verdadeira criatura que é), seja bem mais fácil de ser absorvida pelos indivíduos do que tudo aquilo que possa fazê-los debandar a mente para o lado dos questionamentos que visem buscar a realidade. E é só por isso que as teorias “idealizantes” tenham o sucesso que têm, povoando o planeta de centenas de milhões de “papagaios” engajados, repetindo tolices, às quais não saberiam argumentar em favor, ao menor sinal de questionamento reflexivo. A não ser partir para a agressão física ou verbal, que é o que sempre acabam fazendo – ou, então, recorrem logo ao plano B: esconder-se atrás do melindre (*).


Em nosso tempo, há três correntes concorrendo para varrer do mapa a sociedade ocidental (leia-se: capitalista, cristã, liberal e democrata): 1) A dos comunistas, que pretendem impor a supremacia do Estado totalitário, provando que as democracias capitalistas não sobrevivem ao seu próprio ideal de liberdade, apesar da eficiência econômica e de já terem provado que a famosa inexorável luta de classes marxista só apareça mesmo depois da infiltração comunista (estando, porém, muito longe da inevitabilidade e tendo, ao contrário, que ser fomentada); 2) A do Islã, que pretende impor o Califado e acabar com os infiéis; e 3) A de um movimento “iluminista” que está por trás das oligarquias financeiras globalizadoras, que pretendem produzir uma única civilização mundial, idealizada, de homens com pensamentos e comportamentos uniformizados, desprovidos da consciência e do exercício do livre arbítrio – que é o que, afinal, lhes dá a condição de criatura.


Estamos em plena era da incerteza, em relação aos destinos de povos, governos e nações, no que diz respeito à sua independência, na medida em que os mercados financeiros já estejam vivendo a realidade de um mundo sem fronteiras. Esse quadro gerou uma crise de autoridade nos governos locais, que precisam estar em razoável sintonia com este mercado financeiro apátrida, mas que não podem desvencilhar-se do papel de governar e, simplesmente, assumir um papel de gerente de relacionamentos entre as populações locais e aquele mercado, principalmente se isto significar prejuízos sociais incontroláveis e intoleráveis. Parece que, pelo menos dentro desse conflito, o placar já seja de 1 a 0 para a terceira das correntes acima citadas – e não só em relação às sociedades capitalistas ocidentais, mas em relação às outras duas correntes.


Entretanto, em todos os outros patamares, há uma espécie de acordo de cavalheiros entre estas correntes, explícito ou não, para que seu objetivo seja concretizado. Depois disso, matar-se-ão, uma às outras, até que apenas uma sobreviva. Nenhuma delas tem a menor condição de conseguir êxito, enquanto a cultura ocidental tiver como seu maior representante os EUA, aliado a algumas potências européias e asiáticas. Por isso o grande investimento em promover o anti-americanismo no mundo. Nesse contexto, África, América Central e América do Sul são palcos de disputa, o que faz destes continentes alvo da importação de lutas que não lhes pertencem. A impotência diante dessa luta de gigantes, entretanto, não impede que a eles (ou a cada nação que neles habite) caiba a opção de escolher a quem se aliar, como já o fizeram, explicitamente, alguns países da Ásia.


É importante para países como o nosso, perceber, o quanto antes, que um projeto como a “Aliança das Américas” (projeto que orienta o Foro de São Paulo), por exemplo, seja uma falácia, que apenas pretenda alinhar-nos com a corrente comunista. Seremos igualmente celeiros subservientes. O sonho de se tornar uma grande potência pacífica e poliétnica deve ser sabiamente alimentado, porém, temporariamente adiado, em nome de uma profunda reflexão a respeito deste momento histórico, que demanda escolhas fundamentais. Sendo que o Brasil, particularmente, teria condições de poder fazer a escolha certa, sem ter que se render, obrigatoriamente, a um domínio servil. Ao contrário, nosso país talvez seja um dos poucos que tenha a medida certa para se tornar um importante aliado daqueles que pretendem preservar a civilização ocidental.


Por mais infantilóide que o que vou dizer possa parecer, o fato é que seja muito mais lógico que sejamos invejados pelos nossos visinhos caribenhos e sul-americanos do que por potências como os EUA, por exemplo. Por razões tão óbvias que não é preciso nem citar. Não seria nem um pouco estranho, fazer suposições sobre o mórbido prazer de ditadores como Hugo Chávez, ao assistir um país potencialmente rico, como o nosso, de dimensões continentais e habitado por um povo privilegiadamente pacífico, entrar no caminho do retrocesso – direto para o fundo do poço - sem os privilégios petrolíferos e financeiros dos quais dispõe a minúscula Venezuela – que, aliás, virou quintal da casa de Chávez. Não é à toa que o presidente venezuelano seja acusado de apoiar, inclusive com ajuda financeira, organizações terroristas do mundo todo. Na realidade, seria hora dos brasileiros começarem a pensar se Chávez estaria muito mais para Genghis Khan, em relação à América Latina, do que aquele que ele acusa de ser imperialista – o presidente norte-americano, G. W. Bush.


Não há estratégias definidas, mas o pouco que se sabe é que, para sobreviver, a sociedade ocidental precisa:
1) Patrocinar o desmascaramento dos inimigos, privilegiando um processo de resgate das realidades histórias factuais que estão por trás das propagandas ideológicas de esquerda, desde a educação escolar até o que seja veiculado na mídia. Uma espécie de tática de patrulhamento ideológico invertido.
2) Repensar o custo-benefício da liberdade, pelo menos no atual momento histórico, uma vez que esteja sendo usada contra si mesma, no que parece ser um movimento de autodestruição. A idéia é a de que, se tivermos que perdê-la, que o façamos para nós mesmos, na esperança de que, um dia, possamos dela desfrutar novamente.
3) Promover a união, mesmo que temporária – como no acordo de cavalheiros entre as três correntes inimigas - entre todos os povos que queiram viver sob a cultura ocidental. Isso significa que, sim, há que se alinhar com as grandes potências ocidentais, sendo os EUA a maior delas. É um fato.


É compreensível que muitos odeiem o governo norte-americano, e especialmente o Presidente George W. Bush. Entretanto, creio que não seja nenhum desatino pedir que isso se dê, ao menos, por motivos mais adequados. Não se goste de Bush, por sua incapacidade de “jogar tinta sobre os inimigos invisíveis”, fazendo com que possam ser vistos e reconhecidos, de maneira que se tornasse mais fácil convencer mais pessoas e países a combatê-los. Não se goste de Bush, por sua incapacidade de encontrar mecanismos para redesenhar a assimetria dessa guerra anti-ocidente, fazendo com que os vetores desequilibradores da vigilância passassem a apontar para os inimigos e não contra nós mesmos. E, finalmente, odeie-se Bush por não ter aprendido a lição que a Guerra do Vietnã deixou sobre o uso da liberdade como arma contra o próprio ocidente.


Aliás, neste último quesito, parece que o homem começou a se mexer. A revista ÉPOCA desta semana (n. 406, pág. 40 e 41) traz uma reportagem elucidativa para quem já sabe ou para quem pretende saber o que está por trás de tudo o que vem acontecendo no mundo.


Pela nossa independência, não será tão danoso apoiar os aliados pró-ocidente, nítida e claramente, quanto o será, se viermos a selar acordos de cumplicidade, com qualquer uma das três correntes contrárias – ou com as três, por indução.


Christina Fontenelle
28/02/2006