O processo de formação da grande aldeia global sem fronteiras está tão acelerado que parece não existir nem mais o interesse em escamotear intenções por trás deste ou daquele procedimento. Outro dia eu escrevi um pequeno informativo, “Engolido Pelo Bloco”, que falava sobre o descaramento com que o tal processo de globalização vem se concretizando na América Latina (
A constante repetição ininterrupta de um discurso que sempre pretendeu transformar em normal aquilo que não o é e que descreve a realidade não como ela se apresenta, mas sob a ótica de quem diz precisamente aquilo quer, sem se importar com o que tenha de fato acontecido, em toda parte que se vá, que se veja ou que se ouça, está produzindo efeitos concretos no cérebro humano, especialmente nos mais jovens deles.
Já não é mais tão raro encontrar pessoas com uma visão completamente deturpada de si mesmas, dos outros e do mundo. São criaturas totalmente incapazes de estabelecer relações entre causa e efeito ou de distinguir o que seja certo daquilo que seja errado, ainda que com base nas próprias convicções. Convicções estas que são porque são e sobre as quais não conseguem construir um só argumento que seja para defender. São pessoas igualmente incapazes de abstrair-se de si mesmas para tentar compreender o que quer que se passe em outro ser humano.
Não são burros não. Muitos até são capazes de se aventurar pelos mais complicados caminhos da matemática ou da física. Outros parecem ter alguns espasmos de coordenação cerebral, provavelmente ocasionados pela força da genética, e conseguem organizar pensamentos em forma de textos legíveis. Eles riem, eles choram e até conversam; mas são frios, distantes e impenetráveis. Há algo que os torna diferentes do ser humano convencional. Um ser estranho que eu ainda tenho dificuldade em descrever e que costumo chamar de “deliriopata autistossociável” (*).
Eu vou dar um exemplo. Na semana passada, aconteceu o concurso Miss Universo 2006. A última prova para as cinco finalistas foi dizer algo a respeito de um tema que era sorteado na hora – assim, de supetão. Muito me impressionaram as palavras da Miss Japão, que acabou ficando com o segundo lugar. Ao ser perguntada sobre o que poderia ser mudado hoje para que o mundo ficasse melhor, a miss disse que algo deveria ser feito para que a força física dos homens pudesse ser controlada para que não fosse mais um diferencial importante entre homens e mulheres, de modo que ambos se tornassem iguais também em força física.
Só eu mesma para prestar atenção numa coisa dessas num concurso de miss. Mas é que a resposta da moça soou como um grito de fazer doer em meus ouvidos. Jamais, em toda a minha vida, eu ouvira uma máxima feminista que houvesse ousado pretender ir tão longe na tentativa de igualar o inigualável, ou seja, homens e mulheres. E olha que as maiores atrocidades foram cometidas no sentido de literalmente transformar a realidade com discursos em nome do feminismo. Não reparem não, mas é que eu acho que para defender direitos (e logicamente estabelecer deveres) dos seres humanos do sexo feminino não é preciso, e muitas vezes necessariamente não se deve, partir de premissas estabelecidas por meio de comparação entre homens e mulheres, e muito menos ainda se estiverem visando igualdade. Mas, isso não vem ao caso agora.
Reparem no que essa moça disse; porque ela não é uma visionária criativa e muito menos uma profetisa estudiosa. Ela é a encarnação do deliriopata autistossociável - aquele que não vê absolutamente nada demais em manipular ou aprisionar a natureza humana para solucionar problemas relacionados ao que imagina ser igualdade e justiça. O que a tal da moça disse é de uma frieza cruel e inimaginável. Mas é assim que é o deliriopata autistossociável: normal, mas inconscientemente cruel. E eu digo inconscientemente, porque o mundo que ele vê e sente não é aquele mesmo que as pessoas de uma ou duas gerações atrás percebem.
Vejam. A pergunta não foi feita para que a moça descrevesse uma fantasia pessoal a respeito de algo que eventualmente pudesse transformar o mundo, como por exemplo, aqueles desejos que se pediria a um gênio da lâmpada para realizar. Não, a pergunta foi feita no sentido mais concreto e que se esperava levar a respostas como “eu acho que deveria haver uma maior conscientização dos governantes em relação à destruição da natureza” ou do tipo “eu acho que o mundo deveria se unir numa campanha para erradicação da fome no planeta”. Tudo bem, a japonesinha poderia ter sido mais criativa e inteligente e ter respondido uma outra coisa qualquer do gênero.
Entretanto, a moça pareceu ter uma idéia bem concreta do que para ela viria a ser o mundo ideal. E disse isso com a mais inocente das naturalidades. É como se alguém tivesse respondido à mesma pergunta, calma e sorridentemente, dizendo que gostaria que um desastre natural de proporções gigantescas varresse do mapa milhões e milhões de pobres analfabetos e de fanáticos religiosos para que o mundo pudesse ser reconstruído de maneira mais acertada dessa vez. Estou exagerando? Pode ser. Mas o fato é que o “alguém” propôs um holocausto natural para resolver o que lhe aflige como insolúvel e a mocinha propôs algo parecido com uma indução à mutação genética permanente, ou mais precisamente, com o extermínio de um dos sexos da espécie humana como é conhecido fisicamente nos dias de hoje – que é claro seria aplicado aos machos, porque nem passa pela cabeça da mocinha mexer naquele corpinho esculturalmente feminino. Essa última parte é um “venenozinho” meu, já que eu realmente não sei se a miss pretendia mudar os machos ou as fêmeas.
Gente com este tipo de vulnerabilidade na personalidade está surgindo aos montes. Nem mesmo os próprios pais conseguem livrar-se da desagradável surpresa de descobrir um filho assim mentalmente deformado. A massificação das ideologias globalizantes é infinitamente mais poderosa e onipresente do que a educação e os exemplos que a maioria dos pais têm condições de dar – mesmo porque faz parte dessa mesma ideologia criar a obrigatoriedade (que primeiramente foi psicológica e agora já é uma necessidade de sobrevivência física) de que ambos os pais tenham que passar a maior parte do tempo fora de casa, trabalhando para sustentar e para fazer frutificar aquilo que eles ainda pensam ser a sua própria família. Balela! Estamos todos a criar soldados do universalismo – mão-de-obra desprovida de senso de crítica, de autocrítica e até de capacidade de acreditar no que seus olhos vejam (enxergando apenas aquilo que o que chega a seus ouvidos manda enxergar).
Uma crônica de Fahed Daher, um médico de Apucarana (Paraná), intitulada “O Direito dos Sem Nada”, (
“- Senhor delegado! O senhor não pode atender à acusação deste distinto policial. Realmente ele está procurando cumprir as obrigações de policial. Apenas há um grave engano. Eu não sou um ladrão. Eu não roubei o carro do Sr. Izak. Eu procedi a uma invasão de propriedade. Eu sou um sem condução. Um sem automóvel e invadi uma propriedade. Como os sem-terra, o Sr. Izak, tido como proprietário, que entre em juízo com um pedido de reintegração de posse deste automóvel. Se o Sr. Juiz conceder a sentença da reintegração de posse a favor do dito proprietário e se o Exmo. Sr. Governador autorizar ao Sr. delegado que me faça restituir o bem, assim o farei sem reação e sem violência. Mas até que se cumpra a sentença o bem ficará na minha posse com direito de uso e ainda exigindo que o Sr. providencie um posto de gasolina que me abasteça o veiculo até o final desta questão”.
É a total inversão da realidade! Seria espantoso? Não, porque é exatamente o que vem acontecendo há mais de 20 anos (isso para falar apenas de Brasil), cada vez com mais intensidade e não há reação que se esboce que consiga impedir o progresso ou chamar atenção suficiente sobre o tema.
A deliriopatia autistossocial não está sozinha na lista dos efeitos da caminhada de toda a humanidade em direção à nova ordem mundial. No sentido diametralmente oposto, em reação ao cárcere imposto por minorias, impingindo conceitos, leis e condutas às maiorias emudecidas pela mídia, pelas polícias do politicamente correto, surge a “Controlofobia” (pavor de controle), uma manifestação surgida das profundezas do instinto humano, que é responsável pelo aparecimento daquele que será o tipo de criminoso mais perseguido pelos novos (e brevemente por todos conhecidos) donos do poder, será o terrorista do futuro: o desobediente.
Desse tipo de ser falarei em outra oportunidade. O que posso dizer agora, metaforicamente, é que ele tem esse nome por se recusar a dizer que o rei não esteja nu. É isso mesmo: ele não consegue ver as roupas que todos dizem estar vendo no rei e, preferindo confiar no que lhe mostram seus próprios olhos, insiste em dizer isso em alto e bom tom, por dois motivos. Primeiro porque se recusa a dizer que vê uma coisa que não vê; segundo porque tem esperança de encontrar outros que como ele também não vejam as roupas do rei – quem sabe assim, algum dia, as maiorias comecem a perceber que não são obrigadas a aceitar cabresto de minorias.
Christina Fontenelle
Jornalista
http://infomix-cf.blogspot.com/
(*) deliriopata autistosociável
Delírio = Entende-se por delírio um juízo falso e irredutível da realidade
Pata = do grego, pathos = doença
Autisto – sociável é a combinação das características de pessoas portadoras de autismo, mas sem os componentes que lhes tiram a capacidade de apresentar uma normalidade social.
O autismo é definido da seguinte forma simplificada: É preciso que se apresente seis das características abaixo descritas, com pelo menos dois do grupo 1, um do grupo 2 e um do grupo 3. Eu não vou citar todas as características; mas fiz eu mesma a seleção de acordo com os números e os grupos citados. Do grupo 1: não tenta compartilhar suas emoções e falta de reciprocidade social ou emocional; do grupo 2: uso estereotipado e repetitivo da linguagem; e do grupo 3: preocupação insistente com um ou mais padrões estereotipados.
Aliás, ao ler um dos parágrafos sobre certas características identificadas como as que devam ser procuradas na tentativa de se diagnosticar uma pessoa autista, eu não consegui verificar muitas diferenças entre o que poderia ser a definição de muitos de nossos adolescentes nos dias de hoje: 1) usa as pessoas como ferramentas; 2) resiste, fica nervoso com mudanças de rotina; 3) não se mistura com outras crianças; apega-se demais a objetos; 4) não mantém contato visual (não olha nos olhos); 5) às vezes, age como se fosse surdo; 6) resiste ao aprendizado; 7) não demonstra medo de perigos; 8) risos e movimentos não apropriados; 9) gosta de girar objetos; 10) às vezes é agressivo e destrutivo; 11) tem modo e comportamento indiferente e arredio.
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