Thursday, July 20, 2006

NÃO FOI POR FALTA DE AVISO

Trecho do artigo “Por trás do Obvio II” distribuído há cerca de 3 meses...

Já está mais do que na hora de entendermos, de uma vez por todas, que o antiamericanismo do qual Hugo Chávez é o porta-voz – na linha direta de sucessão de Fidel Castro –, na América Latina e Caribe, é o mesmo do qual são vítimas a sociedade e o Estado norte-americanos, que devem e precisam ser dissolvidos em nome do Império Global. Como é quase lei que os governantes que se sucedem no governo dos EUA sejam homens compromissados com as oligarquias globalistas, eles acabam por confundir o mundo em relação a o que seja feito em nome do Estado norte-americano (e em prol deste) com aquilo que é praticado e orquestrado em nome dos globalistas.

“Por enquanto, a multidão ainda não atinou com a unidade estratégica por trás de mutações catastróficas de escala global que aparecem na mídia idiota como frutos espontâneos da metafísica do progresso. Aos poucos, a identidade dos agentes por trás do processo vai aparecendo...” (Olavo de Carvalho)

QUEM É O INIMIGO?

Houve uma época em que as parábolas foram usadas para se fazer entender aos que pouco ou nada compreendiam, sem que aqueles que supostamente entendessem pudessem captar. Hoje, apropriando-se do mesmo recurso, muitos delas se servem, mas por motivos opostos: para que possam falar aos que entendam, sem que aqueles que não compreendam possam captar o que tenha sido dito.

São cálculos aproximados, é verdade, mas, estima-se que sejam cerca de 14.500 conflitos armados, totalizando 4 bilhões de mortos, nos últimos 5.600 anos (3.600 a.C. a 2001 d.C.) da história da humanidade que, de uma forma ou de outra, puderam ser registrados. Apenas 292 anos de paz, sendo que, para muitos estudiosos, nunca deixou de haver, em algum lugar do planeta, homens num campo de batalha, mesmo que isoladamente. (Os dados são de matéria publicada na edição 132 da revista Os Caminhos da Terra).


Parece incrível, mas toda a evolução tecnológica não conseguiu fazer com que o cérebro humano deixasse de ser o senhor da guerra – aquele que faz a diferença entre a vitória e a derrota, não em um ou dois combates, mas na guerra. Não pela sua capacidade de produzir armamentos, organizar combates ou enfileirar soldados, mas pela habilidade (de poucos, evidentemente) de relacionar conhecimentos históricos, percepção da realidade, compreensão da engrenagem cerebral humana e de praticar o exercício de admitir suposições.



A História mostra isso. Independentemente da época em que tenham ocorrido, do tipo e da quantidade de homens e armamentos empregados ou das características topográficas dos campos de batalha, as grandes vitórias sempre foram obtidas por aqueles cuja inteligência permitiu a macro visão de determinada situação, num dado momento histórico, fazendo-os criar soluções para compensar as próprias deficiências e enxergar onde deveriam estar as do inimigo. Ou ainda, aqueles que, mesmo estando em vantagem, souberam inferir e se adiantar às criações alternativas do oponente mais fraco. Bem como muitas derrotas aconteceram, simplesmente, por causa da falta desta conjunção de qualidades, nos líderes combatentes, e não propriamente em virtude das qualidades de seus inimigos.



Há exemplos clássicos da excelência do cérebro privilegiado sobre as condições aparentemente vantajosas do oponente. No século XIII, o grande conquistador e imperador mongol Temudjin, mais conhecido como Genghis Khan, ao avançar vitoriosamente sobre a China, quando se aproximou de Pequim - o mais avançado centro urbano daquela época -, foi surpreendido com a visão de uma cidade toda cercada por muralhas de até doze metros de altura. Ele pôde verificar que suas famosas táticas de guerra, em campo aberto, nas estepes, não o ajudariam naquele momento. Então, acampou com seu exército, cercando a cidade e impedindo que os suprimentos a adentrassem, aproveitando-se, inclusive, deles, para suprir seu próprio exército. Com a ajuda de engenheiros chineses dissidentes, construiu catapultas e outros artefatos bélicos, promovendo ataques sistemáticos, até que, finalmente, pudesse invadir e dominar aquela cidade.


Um outro exemplo, bem mais recente, pode ser observado com o que aconteceu na Guerra do Vietnã. Na verdade, apesar de farta documentação a esse respeito, muitas pessoas ainda acreditam que os vietcongues (guerrilheiros que atuavam contra o governo do Vietnã do Sul, apoiados pelo Vietnã do Norte) e o exército norte-vietnamita venceram os americanos e o exército sul-vietnamita com patriotismo, força de vontade, poucas armas e táticas de guerrilha. Na verdade, os americanos se retiraram de cena e, três anos depois, os sul-vietnamitas é que perderam militarmente para os vietcongues e para os norte-vietnamitas – aliás, muito bem armados, até os dentes. O principal marco desta guerra, no entanto, é pouco, ou quase nunca, citado: foi a primeira vez que as liberdades democráticas da cultura ocidental (mormente a norte-americana), juntamente com seus avanços tecnológicos, foram usadas (incoerente, mas inevitavelmente) como uma das mais poderosas armas contra si mesma. No final, os EUA foram considerados o lado perdedor, não militar, mas politicamente, pela pressão internacional e pela pressão interna da opinião pública norte-americana.


A Guerra do Vietnã foi a primeira a ser televisada, em cores e ao vivo. A televisão levava aos lares americanos as terríveis imagens do conflito, causando indignação na opinião pública. Milhares de pessoas iam às ruas protestar contra a guerra. Lá no Vietnã, ainda no terreno da pressão psicológica, do lado dos vietcongues, o líder Ho Chi Minh, ao contrário do que fizera na guerra da Coréia, adotou a tática de não matar os americanos e sim de aleijá-los, com minas especiais. Então, quando voltassem para os EUA, todos os americanos poderiam ver o que estava acontecendo na guerra e isso seria o fim do mito do soldado americano invencível. Uma outra tática foi colocar os oficiais americanos prisioneiros, em hotéis de luxo de Hanói, a capital norte-vietnamita, para que a cidade fosse preservada de bombardeios arrasadores - já que os EUA não poderiam matar seus próprios oficiais, deliberadamente.


Sem entrar no mérito da crueldade e das atrocidades desta guerra, é bem plausível de se supor que, se não tivesse havido a intensa cobertura jornalística (com o agravante da transmissão direta), as chances de vitória dos EUA teriam sido infinitamente maiores. Uma outra observação é que, em sendo americanos e europeus, em sua maioria, os jornalistas estavam sempre filmando o que os americanos e sul-vietnamitas faziam e sofriam. Jamais estiveram do outro lado, mesmo porque nenhum comunista jamais deixou que isso acontecesse, nem em época nem em guerra nenhuma (ou, se deixou, antes de exibir para o mundo, fez os cortes necessários).


O mais importante, entretanto, é que o poder da mídia televisiva estava consolidado, especialmente no sentido de vigilância, dentro das sociedades onde imperava a liberdade de imprensa. E todas as espécies de ditadura, no mundo todo, jamais esqueceram desta lição. Não para que não permitissem que essa liberdade fosse dada aos seus próprios veículos de comunicação (porque disso eles sempre souberam), mas para incorporar a mídia do inimigo, dentro das estratégias de ataque, como mais uma de suas armas, dentro da própria casa do inimigo. Esse fenômeno deu origem ao que hoje conhecemos como “guerra assimétrica” – um prolongamento mais sofisticado da Guerra Fria, com tudo que já se conhece sobre propaganda ideológica, informações, contra-informações, espionagem e contra-espionagem.


O dilema da “autodestruição” e da “autopunição” das sociedades ocidentais livres e democráticas ainda está à espera de um gênio da estratégia, que consiga: 1) neutralizar a influência da propaganda ideológica de esquerda, na formação escolar dos indivíduos, do pré-escolar aos níveis universitários, que acaba criando uma sociedade simpática aos ideais de esquerda - mesmo que sejam puramente demagógicos; e 2) desviar o foco da vigilância social, praticada através da mídia, para o lado do inimigo – de modo que seja este último a maior vítima das cobranças. Tudo isso sem recorrer ao mecanismo de censura. Uma missão impossível, eu diria.


Será o preço da liberdade a sua própria destruição? A permissividade que foi dada à propaganda ideológica comunista, com seus apelos utópicos e demagógicos, nas sociedades democráticas, fez com que pudesse haver uma infiltração maciça de agentes anti-ocidentais nos setores formadores de opinião, permitindo que seus inimigos fossem, aos poucos, construindo a própria inexistência – primeiro, a de seus objetivos ditatoriais, depois, a de suas intenções de aniquilamento da sociedade ocidental e, finalmente, fazendo crer, ao mundo, que já não mais existiam de verdade, dissolvendo muros e “abrindo” fronteiras turísticas e comerciais (uma piada, para qualquer um que procure informações sérias sobre o assunto). Escondendo as próprias atrocidades e intenções, apontam os dedos da acusação a quaisquer tentativas de desmascaramento ou reação por parte dos agentes da cultura ocidental, fazendo-os de refém de suas próprias liberdades democráticas. Lição aprendida, o brilhantismo da tática não é mais privilégio de comunistas. É amplamente utilizado por todos aqueles que agem contra o ocidente e, ainda, em menor escala, e por associação, pelos inimigos da ordem social estabelecida nos Estados ocidentais individualmente.


Penso que não se combata um mal ou um inimigo que não se saiba da existência. A própria ignorância impede até mesmo a prevenção, por motivos óbvios. Dizem que, por conhecer muito bem a criatura, tenha sido nessa certeza hipotética que o revoltado Lúcifer teria baseado sua tática de conquista do homem, para se tornar senhor do mundo. Fantasioso ou não, esse dito fala de uma tática que pressuponha a consciência de pelo menos duas coisas fundamentais: 1) é preciso conhecer como funciona a mente do objeto de conquista – não exatamente o que ele pensa, mas como funciona sua engrenagem mental; e 2) é preciso desconstruir a própria existência – não a física, mas a de seus reais objetivos – diante do objeto de conquista. Tudo isso para que o conquistador possa agir, estratégica e livremente.


Durante esse processo de desconstrução, os inimigos da sociedade ocidental atuam ainda em mais duas outras frentes de ataque. A primeira delas procura incutir, na lógica do raciocínio cerebral dos indivíduos, um mecanismo automático de relativização. A outra atua no sentido mais físico de destruição. As duas frentes estão intimamente relacionadas e atuam com um “delay” (atraso em relação à outra), permanente, que faz uma se alimentar da outra.


O conceito de relativização, aqui, não tem nada a ver com o exercício de se colocar no lugar do outro, tentando ver o mundo com os olhos dele, para poder compreendê-lo e buscar formas de convivência harmoniosa, ou qualquer coisa parecida. A relativização, no contexto de combate, tem por objetivo a desestabilização de conceitos que componham a identidade cultural dos povos ocidentais, procurando afastar-lhes dos fundamentos de seus valores – atribuindo a estes o caráter de duvidosos – e fazendo-lhes pensar estar sempre distantes da sabedoria primitivo-popular e das lógicas naturais – sendo, por isso, artificiais e de caráter inferior.


Bem simplificadamente, é quando se atribui aos índios, por exemplo, a genialidade da civilização, por viver em harmonia com a natureza, e aos “brancos” ocidentais a burrice por buscar a sua transformação. Ou quando se atribui ao casamento monogâmico ocidental, entre homem e mulher, a característica de imposição cultural, completamente antinatural, ao mesmo tempo em que se classifica o casamento de um homem com 17 mulheres, numa tribo qualquer da África, por exemplo, como prova incontestável de naturalidade. Como se aquela tribo não tivesse chegado a esse modelo de união por contingências de sobrevivência e desenvolvimento. Exatamente como aconteceu com a sociedade ocidental.


Começa assim: ensinando as crianças a achar que as outras culturas sejam todas sabiamente naturais ou elegantemente diferentes – todas elas destruídas ou ameaçadas pela ganância, a burrice e a maldade da civilização ocidental. A repetição deste modelo de transmissão é tão intensa e tão prolongada, na formação de nossas crianças, que acaba por transformá-las em adultos de olhar viciado sobre sua própria cultura e a dos outros, dando a impressão de que devam punir-se por terem se desenvolvido tanto e que devam por isso, tudo ao outro permitir.


A frente de destruição física usa o capitalismo como “bode expiatório” e “saco de pancadas”, para justificar todas as atrocidades que comete. Tráfico e indução ao consumo de drogas, ataques terroristas, violência urbana, segregação racial e social, roubo, invasões, desajuste social – tudo é culpa do capitalismo selvagem e nada financiado por agentes de destruição criados especificamente para promover o caos. Os desenvolvimentos científicos, os avanços na medicina, as melhorias das condições de conforto, os progressos das comunicações, etc., são obras do acaso. O fato de que tudo o que tenha se desenvolvido, nos países sob regimes comunistas, tenha sido produto de espionagem, contrabando e apropriação indevida de tecnologia não vem ao caso. Muito conveniente!


Todos os países pobres do mundo estão nestas condições porque o capitalismo selvagem, contrariando aos próprios anseios de expansão, teria resolvido delimitar seu próprio mercado consumidor, por achar que já produzia e consumia demais. Nenhum destes miseráveis e marginalizados países foi ou é vítima do delírio de onissapiência ufanisto-religiosa de seus governantes, nem da corrupção e da avidez de poder destes mesmos governantes. Nenhum dos países miseráveis do planeta, em se vendo impossibilitado de sobreviver economicamente, no isolamento, pretendeu supor que fosse o mundo que deveria transformar-se, para que ele pudesse existir, como acha que deva. Bem como nenhum destes países tenha sido vítima dos anseios de expansão territorial da colonização comunista. Nada disso! Todos os miseráveis do planeta devem sua infeliz realidade, exclusivamente, ao capitalismo selvagem. Um festival de mentiras e meias verdades que só proliferam e sobrevivem por causa do olhar relativizante viciado.


O capitalismo é um sistema cheio de defeitos, que precisa estar em constante transformação e não é o que se possa chamar de símbolo de justiça e equilíbrio econômico-social. Entretanto, não se deve atribuir a ele culpas que não lhe cabem, ou que, pelo menos, não lhe sejam exclusivas. Com o conhecimento científico e cultural a que se pode ter acesso nos dias de hoje, é inadmissível que tudo o que seja dito sobre as teorias contrárias ao capitalismo seja pura e simplesmente absorvido pelas pessoas, sem que haja um mínimo de reflexão a respeito.


As frentes de destruição física se impõem pelo monitoramento do medo que disseminam no interior das sociedades. O medo faz com que as pessoas se calem, principalmente quando sabem que não podem contar com a proteção do Estado. A barbárie e o sadismo sem limites do inimigo impõem pânico e silêncio. Paralisadas, as sociedades não encontram formas legais (muito menos ainda, dentro dos padrões humanitários) para reagir, abrindo espaço para que agentes mascaradores e intermediários passem a ocupar o lugar do Estado, no papel de assegurar um mínimo de condições de sobrevivência. Quando isso acontece, as sociedades passam a conviver com a “bandidagem”, num cotidiano de “morde e sopra” e começa a aceitar teorias e práticas de condescendência, simplesmente buscando agradar aos “sanguinários”, na esperança de que possam vir a contar com sua benevolência e consideração. Em muitos casos, todo esse processo se dá de forma inconsciente.


Eu concordo que a crítica, desprovida de soluções realizáveis, que partem de premissas falsas, embora sedutoras, porque baseadas numa idealização dos seres humanos (muito distantes da verdadeira criatura que é), seja bem mais fácil de ser absorvida pelos indivíduos do que tudo aquilo que possa fazê-los debandar a mente para o lado dos questionamentos que visem buscar a realidade. E é só por isso que as teorias “idealizantes” tenham o sucesso que têm, povoando o planeta de centenas de milhões de “papagaios” engajados, repetindo tolices, às quais não saberiam argumentar em favor, ao menor sinal de questionamento reflexivo. A não ser partir para a agressão física ou verbal, que é o que sempre acabam fazendo – ou, então, recorrem logo ao plano B: esconder-se atrás do melindre (*).


Em nosso tempo, há três correntes concorrendo para varrer do mapa a sociedade ocidental (leia-se: capitalista, cristã, liberal e democrata): 1) A dos comunistas, que pretendem impor a supremacia do Estado totalitário, provando que as democracias capitalistas não sobrevivem ao seu próprio ideal de liberdade, apesar da eficiência econômica e de já terem provado que a famosa inexorável luta de classes marxista só apareça mesmo depois da infiltração comunista (estando, porém, muito longe da inevitabilidade e tendo, ao contrário, que ser fomentada); 2) A do Islã, que pretende impor o Califado e acabar com os infiéis; e 3) A de um movimento “iluminista” que está por trás das oligarquias financeiras globalizadoras, que pretendem produzir uma única civilização mundial, idealizada, de homens com pensamentos e comportamentos uniformizados, desprovidos da consciência e do exercício do livre arbítrio – que é o que, afinal, lhes dá a condição de criatura.


Estamos em plena era da incerteza, em relação aos destinos de povos, governos e nações, no que diz respeito à sua independência, na medida em que os mercados financeiros já estejam vivendo a realidade de um mundo sem fronteiras. Esse quadro gerou uma crise de autoridade nos governos locais, que precisam estar em razoável sintonia com este mercado financeiro apátrida, mas que não podem desvencilhar-se do papel de governar e, simplesmente, assumir um papel de gerente de relacionamentos entre as populações locais e aquele mercado, principalmente se isto significar prejuízos sociais incontroláveis e intoleráveis. Parece que, pelo menos dentro desse conflito, o placar já seja de 1 a 0 para a terceira das correntes acima citadas – e não só em relação às sociedades capitalistas ocidentais, mas em relação às outras duas correntes.


Entretanto, em todos os outros patamares, há uma espécie de acordo de cavalheiros entre estas correntes, explícito ou não, para que seu objetivo seja concretizado. Depois disso, matar-se-ão, uma às outras, até que apenas uma sobreviva. Nenhuma delas tem a menor condição de conseguir êxito, enquanto a cultura ocidental tiver como seu maior representante os EUA, aliado a algumas potências européias e asiáticas. Por isso o grande investimento em promover o anti-americanismo no mundo. Nesse contexto, África, América Central e América do Sul são palcos de disputa, o que faz destes continentes alvo da importação de lutas que não lhes pertencem. A impotência diante dessa luta de gigantes, entretanto, não impede que a eles (ou a cada nação que neles habite) caiba a opção de escolher a quem se aliar, como já o fizeram, explicitamente, alguns países da Ásia.


É importante para países como o nosso, perceber, o quanto antes, que um projeto como a “Aliança das Américas” (projeto que orienta o Foro de São Paulo), por exemplo, seja uma falácia, que apenas pretenda alinhar-nos com a corrente comunista. Seremos igualmente celeiros subservientes. O sonho de se tornar uma grande potência pacífica e poliétnica deve ser sabiamente alimentado, porém, temporariamente adiado, em nome de uma profunda reflexão a respeito deste momento histórico, que demanda escolhas fundamentais. Sendo que o Brasil, particularmente, teria condições de poder fazer a escolha certa, sem ter que se render, obrigatoriamente, a um domínio servil. Ao contrário, nosso país talvez seja um dos poucos que tenha a medida certa para se tornar um importante aliado daqueles que pretendem preservar a civilização ocidental.


Por mais infantilóide que o que vou dizer possa parecer, o fato é que seja muito mais lógico que sejamos invejados pelos nossos visinhos caribenhos e sul-americanos do que por potências como os EUA, por exemplo. Por razões tão óbvias que não é preciso nem citar. Não seria nem um pouco estranho, fazer suposições sobre o mórbido prazer de ditadores como Hugo Chávez, ao assistir um país potencialmente rico, como o nosso, de dimensões continentais e habitado por um povo privilegiadamente pacífico, entrar no caminho do retrocesso – direto para o fundo do poço - sem os privilégios petrolíferos e financeiros dos quais dispõe a minúscula Venezuela – que, aliás, virou quintal da casa de Chávez. Não é à toa que o presidente venezuelano seja acusado de apoiar, inclusive com ajuda financeira, organizações terroristas do mundo todo. Na realidade, seria hora dos brasileiros começarem a pensar se Chávez estaria muito mais para Genghis Khan, em relação à América Latina, do que aquele que ele acusa de ser imperialista – o presidente norte-americano, G. W. Bush.


Não há estratégias definidas, mas o pouco que se sabe é que, para sobreviver, a sociedade ocidental precisa:
1) Patrocinar o desmascaramento dos inimigos, privilegiando um processo de resgate das realidades histórias factuais que estão por trás das propagandas ideológicas de esquerda, desde a educação escolar até o que seja veiculado na mídia. Uma espécie de tática de patrulhamento ideológico invertido.
2) Repensar o custo-benefício da liberdade, pelo menos no atual momento histórico, uma vez que esteja sendo usada contra si mesma, no que parece ser um movimento de autodestruição. A idéia é a de que, se tivermos que perdê-la, que o façamos para nós mesmos, na esperança de que, um dia, possamos dela desfrutar novamente.
3) Promover a união, mesmo que temporária – como no acordo de cavalheiros entre as três correntes inimigas - entre todos os povos que queiram viver sob a cultura ocidental. Isso significa que, sim, há que se alinhar com as grandes potências ocidentais, sendo os EUA a maior delas. É um fato.


É compreensível que muitos odeiem o governo norte-americano, e especialmente o Presidente George W. Bush. Entretanto, creio que não seja nenhum desatino pedir que isso se dê, ao menos, por motivos mais adequados. Não se goste de Bush, por sua incapacidade de “jogar tinta sobre os inimigos invisíveis”, fazendo com que possam ser vistos e reconhecidos, de maneira que se tornasse mais fácil convencer mais pessoas e países a combatê-los. Não se goste de Bush, por sua incapacidade de encontrar mecanismos para redesenhar a assimetria dessa guerra anti-ocidente, fazendo com que os vetores desequilibradores da vigilância passassem a apontar para os inimigos e não contra nós mesmos. E, finalmente, odeie-se Bush por não ter aprendido a lição que a Guerra do Vietnã deixou sobre o uso da liberdade como arma contra o próprio ocidente.


Aliás, neste último quesito, parece que o homem começou a se mexer. A revista ÉPOCA desta semana (n. 406, pág. 40 e 41) traz uma reportagem elucidativa para quem já sabe ou para quem pretende saber o que está por trás de tudo o que vem acontecendo no mundo.


Pela nossa independência, não será tão danoso apoiar os aliados pró-ocidente, nítida e claramente, quanto o será, se viermos a selar acordos de cumplicidade, com qualquer uma das três correntes contrárias – ou com as três, por indução.


Christina Fontenelle
28/02/2006

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