Artigo Exclusivo Para o TERNUMA
Christina Fontenelle
13/10/2006
E-MAIL: Chrisfontell@gmail.com
BLOG/artigos: http://infomix-cf.blogspot.com/
BLOG/Série CAI O PANO: http://christina-fontenelle.blogspot.com/
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Ontem eu entrei num táxi, no Rio de Janeiro. A costumeira conversa entre motorista e passageiro não poderia ser outra: as eleições. Perguntei ao motorista se ele tinha acesso à internet, em casa ou em qualquer outro lugar. A resposta foi curta: “não”. Perguntei ainda se ele havia visto o debate na BAND, entre os candidatos à presidência, Lula e Alckmin. “Não”, outra vez, foi a resposta. Para se redimir um pouco, o motorista disse ter ouvido a entrevista que Lula dera à Rádio Bandeirantes, na manhã de 10 de outubro, mas que não tivera como ouvir a de Alckmin. Este senhor, “um verdadeiro poço de desinformação”, estará comparecendo, obrigatoriamente, à sua sessão eleitoral, no próximo dia 29 de outubro, para exercer o que os demagogos chamam de “direito cívico-constitucional de votar”.
Vejam bem, este motorista de táxi vive e trabalha numa das cidades mais desenvolvidas do Brasil, pertence ao grupo de cidadãos brasileiros que muitos institutos classificam de classe-média (ainda que C ou D), e não tem acesso à internet (ou não se interessa em ter) – o único meio de informação verdadeiramente democrático de que dispomos no Brasil. Tudo bem, se uma pessoa puder ler três ou quatro jornais diários, sabidamente de tendências diferentes (tarefa mais difícil ainda), é claro, que poderá ficar, digamos, 1/3 tão bem informado quanto às pessoas que acessam a internet – mas, já seria menos mal. Acontece que estas duas opções estão completamente fora do alcance da maioria do eleitorado brasileiro.
Segundo pesquisa do Ibope/NetRatings, 79% dos brasileiros da classe A acessam a web, na classe B, eles são 52%, na classe C, 22%, e nas classes D e E, apenas 10% das pessoas têm acesso à internet. A pesquisa revelou que 48% dos acessos são feitos em locais públicos gratuitos ou pagos. Um estudo do IBGE (2005) diz que apenas 18,5% das residências brasileiras têm computador, sendo que a maioria dos internautas é formada pelos públicos adolescente e infantil (10 a 14 anos - 24,4%; 15 a 17 anos - 33,9%). Apenas 3,3% das pessoas com mais de 60 anos acessam a internet. Este quadro já é triste e grave em si, isoladamente; mas em se tratando de política e de eleições (que na verdade são determinantes para o resto do que realmente influencia a vida de todos os brasileiros), é a revelação inequívoca de que todos nós vivemos sob a ditadura dos desinformados – por trás dos quais há uma verdadeira indústria invisível.
A maior de todas as falácias dessa indústria invisível está na permanente divulgação de que o maior problema da democracia brasileira é que ela só será plenamente conquistada, e exercida, através da educação do povo, que, por sua vez, estaria atrelada à escolaridade. A afirmativa não é de todo falsa, mas alimenta a idéia de que seja somente através da educação escolar, e quiçá cívica, que o cidadão possa vir a conquistar o direito e a capacidade de entender e de interpretar a realidade, com clareza, isenção e precisão, para que possa praticar os exercícios democráticos com sabedoria. Isso não é verdade. Até mesmo os mais bem educados cidadãos do mundo, em termos de escolaridade, são completamente incapazes de identificar a verdadeira realidade se lhes forem sonegadas informações as mais variadas sobre os diversos temas, nas mesmas quantidades e com os mesmos destaques. A questão da educação-escolaridade pode funcionar até mesmo, ao contrário, como instrumento de lavagem cerebral, limitando a capacidade de interpretação dos indivíduos.
Informação – diversificada e abrangente, quantitativa e qualitativamente – é mais importante para a democracia do que a escolaridade isoladamente. Não se deve limitar a capacidade de reconhecer a realidade que está por trás daquilo que se apresenta, como se realidade fosse, à categoria de “troféu”, do qual só serão merecedores aqueles que, além de boa e completa formação escolar, ainda sejam capazes de burlar o patrulhamento ideológico, buscando, por si mesmos, os “outros lados” das questões que lhes são solenemente sonegados ao longo de sua formação acadêmica. Exagerando um pouco, mas nem tanto assim, a verdade é que, especificamente para o exercício da democracia, mais vale um analfabeto bem informado do que um cidadão com formação escolar ideologicamente trabalhada.
O que eu quero dizer é que, enquanto tivermos uma imprensa refém da burocracia e dos investimentos em propaganda do Estado, vamos continuar a assistir à manipulação e à sonegação de informações – assim mesmo, escancaradamente como vemos hoje. Esse é o “detalhe” que desqualifica e deturpa a nossa democracia. A educação é extremamente importante sim e faz muita diferença, mas o seqüestro do direito à informação ampla, geral e irrestrita, incluindo aqui o patrulhamento ideológico que existe dentro da própria mídia, é que faz de todos nós brasileiros palhaços eleitores, que através de nossos votos, passamos procurações em branco para que gente que sabe uma infinidade de coisas, que a nós foi negado saber, mande e desmande, com o nosso dinheiro, nas nossas próprias vidas.
A desculpa para dizer que o povo brasileiro não sabe votar será sempre a de que nos falta educação escolar, que é um processo que levaria no mínimo 20 anos, com muito empenho, honestidade e força de vontade, por parte dos governantes, para ser revertido (ou seja, praticamente um problema insolúvel, se só for abordado por este aspecto). Mas, na verdade, se resolvêssemos esse “pequeno” problema de autonomia dos meios de comunicação, já estaríamos dando um enorme salto em eficiência democrática, num período infinitamente mais curto e mais produtivo, em termos de resultados.
A nossa democracia é tão fajuta que não temos nem sequer uma legislação que permita ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) fiscalizar adequadamente as propagadas eleitorais, no sentido de exigir que toda e qualquer comprovada mentira que seja divulgada, por qualquer dos candidatos, seja desmentida nas mesmas condições e proporções que tenha sido apresentada. Por exemplo, uma das propagandas eleitorais do candidato-presidente Lula, veiculadas nacionalmente no horário eleitoral gratuito, antes do primeiro turno das eleições, editava a imagem dos aplausos dirigidos à Kofi Annan, na sua despedida do cargo de secretário-geral da ONU, de forma que parecesse que aqueles aplausos estivessem sendo recebidos pelo presidente Lula, que também discursou na Assembléia Geral das Nações Unidas, no dia 19 de setembro deste ano.
Uma verdadeira fraude audiovisual sobre a qual não se tomou nenhuma providência. O TSE alega que essa conduta seja parte natural das disputas eleitorais e que cabe aos eleitores avaliar se o que fazem e falam os candidatos e os partidos políticos são verdades ou não. Pergunta que procede: como terá o eleitor material para fazer esta avaliação se a nossa imprensa é toda ideológica ou financeiramente comprometida e auto-censurada. Num país que se julgasse sério e democrático, o TSE estamparia uma tarja preta na propaganda eleitoral do infrator, no dia seguinte, tomando um tempo razoável da mesma e esclarecendo aos eleitores sobre a montagem fraudulenta e a mídia de grande alcance faria o mesmo, noticiando e desmascarando a notícia. Não foram uma nem duas vezes que o PT mentiu nos programas do horário eleitoral gratuito nesta campanha (e fora dele nem se fala!). Lula também se proclamou o governante que fez nascer a indústria do biodiesel no Brasil – um verdadeiro atentado à História do país. Providências? Nenhuma.
Não há normalidade nenhuma neste governo e muito menos na disputa eleitoral. Usar e abusar da mentira não é normal; aparelhar o Estado também não. Nada se compara ao que temos visto acontecer no Brasil nestes últimos 4 anos. Simplesmente o PT infiltrou ou cooptou militantes petistas por toda a máquina estatal – nas empresas estatais, nas instituições financeiras do Estado, nas engrenagens do poder Judiciário e do Legislativo, nas instituições policiais, nos movimentos populares e por toda a parte. A isso se dá o nome de aparelhamento do Estado. Para que? Por exemplo, para garantir que a Polícia Federal esteja até hoje sem descobrir de onde veio o dinheiro que seria usado pelo PT para comprar um falso dossiê para minar a campanha eleitoral de José Serra ao governo de São Paulo.
Serve também para que a mesma Polícia Federal atue implacavelmente contra aqueles que sejam considerados inimigos do PT, como no caso dos grampos do TSE e do STF, no qual, em inacreditável prazo de 5 dias, pela primeira vez na história universal das Telecomunicações, a Polícia Federal conseguiu provar, “irrefutavelmente”, segundo a mesma, que uma linha telefônica jamais tenha sido grampeada. Fez melhor do que isso: em apenas 1 dia de análise, concluiu que uma empresa que atuava há mais de 13 anos no mercado de varreduras eletrônicas, sem jamais ter cometido um erro sequer, desta vez havia cometido “um erro grosseiro”. E fica sempre tudo por isso mesmo, a palavra final é sempre do PT, a imprensa se cala solenemente sobre o tema, blindando os envolvidos – e danem-se a lógica, as evidências, os testemunhos, os protestos e até mesmo que a mentira e a “armação” estejam evidentes.
Quem é que pode enfrentar honesta e democraticamente uma disputa eleitoral contra um candidato-presidente e contra um partido que atuam como este que se instalou no governo do Brasil? Que espécie de instituições são estas que nós temos aqui no Brasil que não funcionam como deveriam? Que espécie de gente poderosa e influente que temos aqui que continua a agir como se estivéssemos numa disputa eleitoral européia? Se antes a nossa democracia ainda tivesse muito o que amadurecer, agora vemos que houve um magnífico retrocesso que está nos levando direto para a consolidação de um Estado fascista.
Uma coisa é certa, não há como um povo libertar-se do fascismo pelo voto e, sabendo-se que para que tenha se consolidado o Estado fascista há que ter havido obediência das FFAA aos senhores do Estado, como poderá o povo libertar-se do fascismo se não mais disporá nem de suas armas (e o Estatuto do Desarmamento veio para isso), nem das armas de suas FFAA e nem de seu voto? Quem se habilita a responder?
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