Saturday, October 14, 2006

SOB ENCOMENDA

Christina Fontenelle
12/10/2006
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Os jornais fizeram um verdadeiro estardalhaço com a divulgação dos resultados das primeiras pesquisas eleitorais, realizadas especificamente para o segundo turno das eleições e após o debate entre Alckmin e Lula na TV Bandeirantes, realizado no último dia 8 de outubro. Há um verdadeiro exército de jornalistas e analistas políticos devotadamente empenhados em transformar o evidente melhor desempenho do candidato Alckmin em derrota. E o senador petista Tarso Genro ainda tem a coragem de dizer que a imprensa está toda ao lado de Alckmin. Imagine se estivesse contra!

São dois os objetivos: primeiro, desestimular a militância pró Alckmin, que não poderia ter tido outra reação, depois de assistir ao debate, a não ser a de continuar festejando e perseguindo a vitória do candidato no pleito do próximo dia 29 de outubro; segundo, fazer com que Alckmin desista de adotar a postura incisiva, que os petistas sabem muito bem ir direto ao encontro da figura de estadista que a maior parte dos brasileiros quer ver na presidência. No debate, a imagem do Lula blindado e inatingível cai por terra e fica nítido que, quando não pode contar com a ajuda da engrenagem estatal, vai ficando cada vez mais difícil para o candidato do PT falar a verdade e até mesmo disfarçar as mentiras.

O instituto Vox Populi, por encomenda da TV Bandeirantes e da revista Carta Capital, também realizou uma pesquisa, nos dias 9 e 10 de outubro, ouvindo 2.000 eleitores. Os dados revelaram que Lula aparece com 51% das intenções de voto, na consulta estimulada - 10 pontos à frente do adversário Geraldo Alckmin que tem 41%. Na consulta espontânea, Lula tem 50% e Alckmin, 40%. Considerando os votos válidos, o petista mantém a vantagem de 10 pontos: 55% a 45%.O levantamento também perguntou aos entrevistados quem era o candidato mais simpático, o mais preparado para governar e o mais agressivo. Lula ficou com os dois primeiros títulos e Alckmin com o terceiro. Faltou perguntarem quem era o mais mentiroso. Por que será?

Pesquisa do Datafolha realizada em 10 de outubro, com 2.868 eleitores de 25 Estados, apontou uma vantagem de 11 pontos para Lula, que tem 51% das intenções de voto, contra 40% de Alckmin. Neste levantamento, brancos e nulos somaram 4% e os indecisos 5%.

O Ibope ouviu 3.010 eleitores, em 199 municípios, nos dias 10 e 11. A pesquisa, encomendada pelo Jornal Nacional (TV Globo) e divulgada no feriado de 12 de outubro, mostra que Lula tem 52% das intenções de voto, uma vantagem de 12 pontos percentuais sobre Geraldo Alckmin, que obteve 40% das intenções de voto. Eleitores que declararam intenção de votar nulo ou em branco somaram 4% e os indecisos também chegam a 4%. Considerando apenas os votos válidos, Lula tem 57% e Alckmin 43% dos votos - uma diferença de 14 pontos percentuais. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.

Na mesma pesquisa, a avaliação dos eleitores em relação ao governo do presidente Lula ficou estável. Os entrevistados que avaliavam o governo petista como bom ou ótimo passaram de 44% para 45%; os que avaliaram como regular passaram de 35% para 33%; e os que avaliaram o governo de Lula como ruim ou péssimo passaram de 21% para 20%. O Ibope também perguntou aos eleitores em quem eles votaram no primeiro turno e comparou com a intenção de voto no segundo turno. Entre os eleitores que votaram em Heloísa Helena, 54% dizem que agora vão votar em Alckmin e 46% dizem que vão votar em Lula. Entre os eleitores dos outros candidatos que não chegaram ao segundo turno, incluindo Cristovam Buarque, 58% agora votam em Lula e 42% votam em Alckmin.

As pesquisas foram amplamente divulgadas pela mídia de grande alcance, inclusive com destaque para a parte da migração de votos. Entretanto, se tivesse tido na mídia o destaque que merecia o choro de Heloísa Helena no plenário do Senado, nesta quarta-feira, dia 11/10, não acredito que aqueles que tenham votado na Senadora para presidente continuassem a cambiar votos para Lula. O motivo do choro foi uma montagem que estava circulando pela Internet em que a senadora aparece seminua numa capa da revista ''Playboy''. Ela atribuiu a distribuição da imagem ao PT, classificando tanto os militantes do partido quanto o presidente Lula de “vagabundos”.

Em nota enviada na noite desta quarta-feira ao G1, o comitê de campanha de Lula repudiou as declarações da senadora, dizendo que é contra qualquer baixaria no processo eleitoral (o caso do dossiê Vedoin que o diga). Heloísa Helena reconheceu que sua mãe, dona Helena, e seu irmão, Hélio, querem votar em Geraldo Alckmin, por terem ficado traumatizados com o processo de expulsão de Heloísa Helena do PT: "No dia da eleição vou tentar levar a minha mãe para o interior. Ela vota na capital. Mas não sei se vou conseguir porque ela é muito teimosa", disse Heloísa Helena que, assim como a mãe, vota em Maceió (*).

Informação que não foi fornecida e que seria muito relevante é se aos entrevistados foi perguntado se haviam assistido ao debate ou não. Porque, se a intenção das pesquisas era mostrar a influência do debate sobre os eleitores, deveria ter sido divulgado o índice de audiência e se era condição, para ser entrevistado, ter assistido ao mesmo. São os tais detalhes que ficam por conta das metodologias que, na realidade, acabam podendo produzir praticamente os resultados que se queira.

Uma coisa é nítida, a imprensa lulista e o PT ficaram apavorados com o que chamaram de tom mais agressivo que Geraldo Alckmin adotou no debate, diante de um Lula que, na verdade, não tem como se defender, já que contra fatos não há argumentos. Por que esse pânico todo? Porque Alckmin fez e disse o que pelo menos metade dos brasileiros (o que não é pouca gente) desejava fazer e dizer diante da figura de Lula. Esse é exatamente o tom que muita gente nesse país gostaria de ter visto em relação ao PT e ao presidente, desde que estouraram os primeiros escândalos do “mensalão”. Esse é o tom de quem talvez pudesse vir a representar uma chance de resgate do Brasil constitucional e democrático.

Como se já não bastasse a população ter perdido a confiança em quase todas as instituições e de ver a imprensa que persegue a verdade e os fatos ser achincalhada diariamente pelos aliados do PT e pelo próprio presidente da república, agora também as empresas de pesquisa, aliadas à imprensa lulista, parecem estar dando sua fervorosa contribuição para que os brasileiros tenham a certeza de que não podem confiar em absolutamente mais nada e nem em ninguém.

Já era tempo do TSE tomar alguma providência e de algum parlamentar qualquer entrar com um projeto de emenda constitucional para regulamentar e punir com rigor as empresas que trabalham com pesquisas no Brasil. O fenômeno “manipulação”, que pode acontecer muito mais por parte de quem encomenda as pesquisas do que por quem as faz, não é recente; mas, a constância com que os “erros” vêm acontecendo de uns anos para cá é, no mínimo, desabonadora.

Desde as pesquisas sobre o referendo do Desarmamento, que até a umas três semanas antes do dia da votação apontavam expressiva vitória do “SIM” sobre o “NÃO”, que “erros” como os que aconteceram nos trabalhos das empresas pesquisadoras sobre aquele tema têm-se repetido constantemente. É sempre o mesmo padrão: as pesquisas caminham em sentido contrário ao do que se revela após os pleitos, até pelo menos duas semanas antes dos mesmos. Na última hora, os “verdadeiros” resultados começam a ficar mais evidentes. A desculpa é sempre a mesma: o eleitorado muda os votos “aos 45 do segundo tempo”. Foi assim com as pesquisas, no primeiro turno, e está acontecendo, outra vez, a mesmíssima coisa com as pesquisas sobre as intenções de voto para o segundo turno das eleições presidenciais.

Se estas empresas de pesquisa fossem multadas pelo TSE, a cada vez que errassem suas previsões para muito além das margens de erro previstas (3%, no máximo, para mais ou para menos), dentro do prazo de dois meses entre a publicação dos resultados e o resultado oficial das apurações, a situação poderia tornar-se bem menos freqüente.

O tom “agressivo” de Alckmin, que está mais para o tom de quem, sabendo-se munido da verdade, “já está de saco cheio” de ser roubado e enganado, agrada ao seu eleitorado; assim como ao eleitorado de Heloísa Helena agrada vê-la discursando acaloradamente. O tom que não agrada a ninguém é o de “mentiroso” – a não ser, é claro, aos que da mentira se beneficiem ou aos que não tenham como saber que estão sendo vítimas do “conto do vigário” por desinformação proposital e, portanto, criminosa.

(*) Informações obtidas na correspondência enviada pelo Blog dos amigos do Cezar Maia.

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