Monday, August 21, 2006

CANDIDATA “Me-Engana-Que-Eu-Gosto”

Ela vem chegando empunhando o estandarte da coerência, da ética e da honestidade, assim como Lula, que a muitos enganou antes de chegar à Presidência. Já vimos esse filme: acusar os outros daquilo que se pratica, justamente para poder continuar praticando sem que ninguém desconfie. A imagem é de guerreira implacável contra os inimigos corruptos e de mãe amorosa com os colegas de partido e com as pessoas do povo. Calça Jeans, camiseta branca, cabelos presos, sorriso nos lábios e uma braçada de flores na mão são as peças do uniforme da candidata Heloísa Helena. Ela não precisa de espaço no horário eleitoral gratuito e nem de desperdiçar vultosas quantias com propaganda – a mídia faz um trabalho de marketing promocional “voluntário” dos mais amplos e solidários com a senadora-candidata. A moça tem cobertura de gente grande mesmo. Fora isso, há, por todos os lados, gente graúda e famosa dizendo estar caída de amores pela guerreira de ética.

Em recente entrevista ao Jornal Nacional, na Rede Globo de Televisão, ao ser perguntada por Fátima Bernardes se não seria incoerente apresentar um programa de governo que não pretendia cumprir, Heloísa Helena, respondeu que o objetivo estratégico de um partido é algo que se pensa implementar em 30 anos, 40 anos, ressaltando que talvez quem não fosse militante de partido não entendesse muito bem isso. Eu concordo com a senadora: quem não milita em um partido com as origens do dela não entende mesmo que mentir seja necessário para chegar ao poder; ou seja, como quase ninguém lê programa de partido, fica lá o documento que poderá legitimar futuras ações, mas, da boca para fora, pode-se dizer o que quer que mande a conveniência.

Respondendo à mesma pergunta, a senadora ainda disse que é uma socialista por convicção e que teria aprendido a sê-lo na Bíblia, antes de ler os clássicos da história socialista: “Acho que nada de mais belo existe, a mais bela declaração de amor à humanidade de cada um conforme suas possibilidades e para cada um conforme sua necessidade”. Heloísa Helena já repetiu essa frase, como se da Bíblia fosse, por diversas vezes. É bom que se esclareça que o princípio é bíblico, mas a frase não. Outra coisa: é um princípio que é usado pela Igreja para que se atribua a ela o papel de intermediária no recolhimento e na redistribuição das riquezas – exatamente o mesmo que rege o comunismo, onde se substitui, no caso, a figura da Igreja pela do Estado. Portanto, de bíblico pode até ter um pouco o pensamento da senadora-candidata, mas de cristianismo não (1).

Isso para não falar do fato de Heloísa Helena ter sido expulsa do PT justamente por cobrar do Governo Lula atitudes coerentes com o que estava estabelecido no programa de governo do PT. Hoje, a senadora e candidata à presidência regozija-se da expulsão, com ares de quem já estivesse enxergando os escândalos de corrupção que estavam para estourar com as confissões do deputado Roberto Jefferson sobre o mensalão e outras coisas mais. Na verdade, a senadora foi expulsa porque agia como quem quisesse a “revolução socialista”, segundo os princípios e o próprio programa de governo do partido: "Dediquei toda a minha vida à construção do PT, que agora mudou de lado ao chegar ao governo". Mas, há algo de muito esquisito nesse comportamento revolucionário radical da senadora, assim, pouco antes da crise do mensalão, já que, desde que o PT começou a ocupar as primeiras prefeituras, é sabido que o partido aceitava dinheiro de bancos, de empresas privadas, de multinacionais, entre outras coisinhas bem ilícitas sobre as quais muitos de nós já sabemos faz tempo! Entretanto, HH, Luciana Genro, Babá e outros sempre participaram dos processos eleitorais, apoiando Lula, concorrendo pelo PT e, inclusive, sendo eleitos pelo partido.

Eu costumo desconfiar de fenômenos “casuais” que começam a ter uma função “inesperadamente” bastante útil em qualquer situação e principalmente se isso acontece no mundo da política. E não precisa ser muito velho para isso não – basta, por exemplo, que se tenha presenciado a ascensão e queda do ex-presidente Fernando Collor de Melo. Alguém, por exemplo também, se lembra do fato que acabou redundando na eliminação de Roseana Sarney da corrida presidencial que resultou na vitória a Lula, em 2002? Uma investigação mal feita e abafada acabou culpando justamente aquele que foi prejudicado no processo eleitoral, o candidato José Serra. Só há um comentário a fazer: nos cursos mais elementares de técnicas de investigação, a primeira coisa que se aprende é prestar atenção ao que responda a duas perguntas básicas – 1) A quem interessa? e 2) Quem acabou se beneficiando?

Voltando ao caso de Heloísa Helena, não podemos negar que seu desligamento do PT acabou por resultar na preservação dos princípios revolucionários que, afinal, fazem parte do PT e estão plenamente estabelecidos no Foro de São Paulo. Uma segunda coisa que não se pode negar é que, assim como era Roseana em 2002, uma mulher “ética e guerreira” representa uma tentadora opção eleitoral diante do quadro de caos político em que se encontra propositalmente o país. Outra coisa que não se pode negar é que a candidata do PSOL acabou representando uma alternativa de voto aos eleitores que se decepcionaram com Lula, de modo que seus votos não migrassem para Alckmin, que, aliás, também perde votos para HH, pelo fato de não apresentar as características de guerreiro que a senadora tanto faz questão de realçar na sua campanha e com a qual os eleitores tanto se identificam.

A seqüência de fatos e de conseqüências é tão extraordinariamente harmoniosa que causa estranheza. Parece até que o PT já sabia que os escândalos do mensalão estavam para estourar, com as denúncias de Roberto Jefferson, e que acabou providenciando o desligamento da parte do partido que deveria ser conservada como pura e como futura opção de voto e de continuidade dos ideais revolucionários. A pergunta é: quem se beneficiou afinal com a expulsão de Heloísa H. do PT? No mínimo a própria HH, o socialismo revolucionário e o Foro de São Paulo – o mesmo que ajudou Lula a chegar onde chegou.

O PSOL foi fundado algum tempo depois que a senadora Heloisa Helena e três deputados - Luciana Genro, João "Babá" Batista Araújo e João Fontes – foram expulsos do PT (2). Os argumentos formais para a expulsão foram os votos desses legisladores contra a reforma do sistema previdenciário exigida pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e promovida pela administração Lula. Mas não foi só por isso. Heloisa Helena foi acusada de votar 19 vezes contra medidas apoiadas pelo governo no curso de um ano. Ela e outros membros da ala radical do PT vinham entrando em choque com a liderança partidária desde a campanha presidencial de 2002, quando se opuseram à escolha de José Alencar para vice-presidente - grande empresário do ramo têxtil e dirigente do PL e de uma igreja evangélica.

O site do PSOL (http://www.psol.org.br/) mostra o programa do partido, oferece links para os mais diversos movimentos revolucionários. Vale a pena dar uma olhada para que se tenha a medida exata do que está por trás da candidata “mãe-de-todos”, Heloísa Helena. Co-fundador do P-SOL, o companheiro de lutas de HH, Achille Lollo, escreve artigo sobre os fundamentos do partido (http://www.psolsp.org/?id=548). Não há, entretanto, menção a quem seja Achille Lollo, nem no site do P-SOL nem por parte da mídia de grande alcance.

Achille Lollo é um italiano que militava no Partido Operário nos Anos de Chumbo do terrorismo na Itália. Num episódio que chocou aquele país, em 1973, Lollo e dois companheiros de partido participaram do atentado que ficou conhecido como “Rogo di Primavalle” (incêndio de Primavalle, um bairro da cidade de Roma), onde morreram dois dos filhos de Mario Mattei - gari e secretário da seção do MSI (Movimento Social Italiano, de direita) daquele bairro. Mattei, sua mulher e seus seis filhos moravam em um pequeno apartamento da Rua Bibbiena. Lollo e seus dois comparsas jogaram 5 litros de gasolina por baixo das entradas da residência onde a família vivia e atearam fogo. O casal conseguiu escapar, junto com quatro filhos; mas Virgilio, de oito anos, não conseguiu sair de seu quarto e Stefano, seu irmão de 22 anos, tentou salvá-lo, mas não conseguiu e os dois morreram queimados.

Em 1987, Achille Lollo e os dois companheiros de partido foram julgados e condenados a 18 anos de prisão. Lollo cumpriu 2 anos e os outros dois nunca foram localizados. Consta que Lollo teria sido solto para cumprir o resto da pena sob condicional, mas, ele fugiu da Itália e veio para o Brasil. Em 1993, como parte da nova ofensiva do Ministério Público italiano contra os procurados por terrorismo no exterior, o governo italiano pediu a extradição de Achille Lollo (3). Entretanto, o governo brasileiro negou-se a extraditá-lo, sustentando que, pela nossa Constituição, “não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião”. Assim, ele vive até hoje no país, mas não como um simples e pacato cidadão que, pela situação de fugitivo da justiça italiana, se imaginaria dever ser seu comportamento. Ao contrário, ainda um cidadão italiano, Achille Lollo é Presidente da Associação para o Desenvolvimento da Imprensa Alternativa (Adia), é diretor e editor da revista trimestral Crítica Social e, ao lado da senadora Heloísa Helena, co-fundador do PSOL, partido cujo jornal oficial publica artigos de teoria marxista de sua autoria.

No Blog Síndrome de Estocolmo pode-se ler a declaração de um brasileiro que vive na Itália e que acompanha o caso do incêndio de Primavalle (http://www.sindromedeestocolmo.com/). O texto diz o seguinte:

O grande Flávio Prada deixou essa excelente contribuição para o post: _ ‘Denise, o caso Achille Lollo é ainda muito comentado por aqui... Somente recentemente ele falou do caso. Disse que a intenção não era matar, mas apenas... de deixar um sinal forte de advertência. Porém, deixou nas entrelinhas, também, que a morte de um fascista não era assim um crime tão grave, era antes, a conseqüência da luta revolucionária... No fim, ele sustenta que foi um acidente... Eles foram armados de gasolina, ácido dentro de preservativos e um estopim. Diz que ninguém botou fogo em nada, pois o preservativo estourou e eles saíram correndo deixando tudo lá. Ele jura até hoje que ouviu vozes do outro lado da porta dizendo: "Eles chegaram" em uma evidência de que estavam sendo esperados. Todo seu depoimento, depois de trinta anos de "silencio ideológico", tenta jogar luz nesse fato, de que o atentado que foi planejado por eles, não deu certo e que foi concluído por outro alguém com o objetivo de culpá-los. Uma história muito obscura e cheia de contradições... O que sobra de tudo isso é que Lollo tem uma história de terrorista e fugitivo, não se mostra particularmente arrependido por isso e parece atuar ainda no mesmo espectro político de sempre...’”.

Mas, como não poderia deixar de ser, Heloísa Helena tem outros companheiros no partido e na coligação PSol-PSTU-PCB pela qual ela concorre à presidência da república. Victor Madeira, dirigente do Partido Comunista Revolucionário (PCR) e diretor do Sindicato dos Servidores Públicos Federais é um deles. Madeira disse, durante o lançamento oficial da candidatura de HH, no Rio de Janeiro, entre outras coisas, que a meta do seu partido "é eleger Heloísa Helena pelo voto, mas a implantação de um regime socialista por meio do uso de armas também não está descartada", e mais, que "se me perguntarem se fazemos treinamentos com armas, não vou dizer que sim e também que não. Obviamente não vamos entregar o jogo". Ações inconstitucionais também foram defendidas pelo candidato a deputado federal pelo PCB Ivan Pinheiro: "Venceremos pelo voto, mas não descartamos uma militância por meios não institucionais”. Nesse dia, uma empolgada Heloísa dedicou sua campanha aos mortos durante o regime militar e exaltou o companheiro César Benjamin, antigo dissidente do PT e candidato a vice na chapa da senadora, por ter sido “torturado nos porões”, sem ter por isso entregado seus companheiros.

Depois de ler tudo isso sobre os companheiros de HH, vejam com que tamanha incoerência a candidata termina sua entrevista no Jornal Nacional, falando sobre o que considera um bom governo: “Um governo que possa acolher as crianças brasileiras e a juventude brasileira, do mesmo jeito que eu, mãe, acalento os meus próprios filhos. E eu quero também agradecer o carinho, a delicadeza, as flores e os beijinhos que a gente tem recebido nas nossas caminhadas pelo Brasil. É uma luta que tem que fazer nascer um Davi por dia nos nossos corações, nós estamos firmes, fé em Deus e fé na luta do povo sempre”.
Um discurso que ofende a inteligência de quem é bem informado nesse país e uma propaganda enganosa explícita para a maioria propositadamente desinformada dos brasileiros. Uma verdadeira engana “trouxas”!




(1) A Igreja que o Cristo anunciava era aquela na qual o templo estava dentro de cada ser humano, individualmente. Ele nunca chamou para si a função de redistribuir riquezas e jamais perambulou pedindo doações. Ao contrário, deu o que tinha e o que podia sem pedir absolutamente nada em troca e mais, mandou que se desse a Cezar o que ao reino daquele senhor pertencesse. Pregou a verdade, anunciou a face verdadeira do Pai e disse que “a casa de meu Pai tem muitas moradas” e que “muitos caminhos levam ao Pai”, reforçando a liberdade que cada homem deve ter para trilhar os caminhos que o levarão a Deus.

(2) Em 2003, o crime de Achille Lollo completou 30 anos e, pelas leis italianas, prescreveu (sua pena deixou de ter efeito). Entretanto, familiares das vitimas e grupos políticos italianos recolheram assinaturas e pressionaram a Justiça, que no ano passado (2005) declarou inválida a prescrição do crime. Ou seja: Lollo ainda tem uma pena de 18 anos para cumprir na Itália. Contudo, continua livre no Brasil (a leniência da Justiça brasileira não é novidade. Vide o caso Ronald Biggs).

(3) Os cortes propostos no sistema de pensões da reforma previdenciária provocaram demonstrações maciças de trabalhadores contra o governo, no início de 2003. Quando Fernando Henrique Cardoso propôs a mesma reforma como parte das negociações com o FMI, em 1999, o PT denunciou a proposta como revogação ilegal dos direitos dos trabalhadores. Mas, chegando ao poder, o governo Lula aderiu ao modelo prescrito pelo FMI - que o PT denunciava quando era na oposição -, aumentando a idade para aposentadoria, cortando benefícios previdenciários futuros dos trabalhadores e taxando as pensões dos aposentados. Heloísa Helena votou contra a reforma que o PT queria passar no Congresso, demonstrando indignação pelo fato do partido não estar sendo coerente: "É inaceitável a fraude no debate político. O PT faz no governo o contrário do que sempre defendeu na oposição".

Wednesday, August 16, 2006

EFEITO BUMERANGUE

Por Christina Fontenelle

Há duas semanas temos assistido à propaganda intermitente do mais novo lançamento do cinema nacional: Zuzu Angel, com Direção de Sérgio Rezende e Produção Joaquim Vaz de Carvalho. Eu já li dezenas de reportagens sobre o filme, sobre a vida da estilista Zuzu Angel e sobre a prisão e morte de seu filho, Stuart Edgar Angel Jones. Igualmente assisti a mais uma dezena de entrevistas concedidas pelos atores do filme, em trabalho rotineiro de divulgação. Em nenhuma dessas oportunidades eu li, vi ou ouvi absolutamente nada sobre o envolvimento de Stuart Angel com grupos terroristas que praticavam toda a espécie de crimes para fazer a “revolução comunista” no Brasil.

Os próprios terroristas, hoje anistiados e muitos deles no Congresso Nacional, admitem publicamente que não lutavam pela liberdade e nem pela democracia, mas pela revolução. Hoje em dia, nem mais novidade isso representa. Mas, nos discursos de divulgação do filme Zuzu Angel, essa verdade é sumariamente omitida. O filho da estilista, Stuart Angel, era um terrorista, membro do MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro), cujo nome faz referência à data em que o guerrilheiro Che Guevara foi capturado pela CIA. O grupo, formado por dissidentes do Partido Comunista Brasileiro do antigo Estado da Guanabara, passou a utilizar este nome depois da execução do seqüestro do embaixador norte-americano, Charles Burke Elbrick, em setembro de 1969 – operação que foi realizada em conjunto com outro grupo terrorista, a Ação Libertadora Nacional (ALN).

O episódio do seqüestro do embaixador norte-americano é emblemático porque foi a partir do êxito dessa operação que os terroristas brasileiros passaram a se utilizar dessa modalidade de crime – hoje considerada pela Constituição Brasileira como crime hediondo – para alcançar alguns de seus objetivos. A idéia de seqüestrar o embaixador americano foi do guerrilheiro Franklin Martins (esse mesmo que hoje é comentarista político da BAND), que participou da ação dirigindo um dos carros envolvidos na operação (se não me engano, um volks azul) e escrevendo o texto do comunicado que foi deixado no carro oficial do diplomata seqüestrado, onde se lia que o seqüestro era um ato revolucionário e que o embaixador americano era representante dos “interesses espoliativos norte-americanos no Brasil”. No “bilhete”, os guerrilheiros também exigiam a libertação de 15 companheiros que se encontravam presos e ainda que se fizesse a publicação ou a leitura daquela mensagem nos principais jornais, rádios e estações de TV do país.

Como se pode observar em ações terroristas que acontecem ainda hoje no mundo, principalmente na região do Oriente Médio, a estratégia de seqüestrar pessoas para conseguir desde dinheiro a espaço na mídia não é nenhuma novidade. Novidade mesmo foi essa prática ter voltado ao cenário das ocorrências criminais no Brasil, pelas mãos do mais recentemente conhecido grupo terrorista brasileiro – o PCC. Grupo este, aliás, do qual se suspeita fazerem parte militantes das Farc, do Hezbollah e da Al-Qaeda, bem como também agentes dos serviços secretos de Cuba e da Rússia. Além destes, há hipóteses levantadas a partir de investigações que estão em andamento na Polícia Federal e no Ministério Público do envolvimento do PCC com o Movimento dos Sem Terra (MST), com o Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST) e até com o Partido dos Trabalhadores (PT).

Guilherme de Azevedo Portanova e Alexandre Coelho Calado, respectivamente repórter e auxiliar técnico da TV Globo, foram seqüestrados na manhã de sábado (12/08) na zona sul de São Paulo. O técnico Calado foi libertado na madrugada de domingo, para levar um DVD que deveria ser exibido pela TV Globo como condição para a libertação do repórter.


Em nota divulgada à imprensa, a Rede Globo informou ter sido orientada pela coordenadora do Insi (International News Safety Institute) na América Latina, Luiza Rangel (de Caracas, na Venezuela), a ceder. A emissora também consultou Tim Crocket, chefe do escritório de Atlanta do The AKE Group, uma empresa especializada em gestão de riscos e segurança. Ele deu a mesma orientação que Luiza Rangel e recomendou que a emissora entrasse em contato ainda com Tom O'Neil, consultor do escritório no Líbano e especializado neste tipo de ação. Ele também repetiu as mesmas recomendações. Foi assim que, depois de comunicar o ocorrido e de mostrar o conteúdo do DVD à polícia de SP, a Globo decidiu divulgar o vídeo, somente para o Estado de SP, à 0:28h de domingo (13/08), no intervalo do "Supercine" que costuma atingir mais de dez pontos no Ibope, na Grande São Paulo, o que equivale a mais de 550 mil domicílios. À noite, a emissora exibiu parte do manifesto no "Fantástico".

O secretário da Segurança Pública de São Paulo, Saulo de Castro Abreu Filho, tentou evitar que a Rede Globo exibisse o vídeo com o manifesto do PCC. O delegado Osvaldo Nico Gonçalves, coordenador do Garra (Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos), também defendeu a não exibição da fita, argumentando que a exibição abriria um precedente arriscado. Pela sugestão dos policiais, a ação da Globo deveria seguir a negociação de um seqüestro convencional: 1) procurar não ceder "facilmente" às exigências dos seqüestradores e 2) exigir uma prova de que o repórter estivesse vivo. O ministro Tarso Genro (Relações Institucionais) disse que a ação demonstra uma "ousadia inaceitável" por parte do crime e considerou "correta" a decisão da Globo de cumprir a exigência feita pelos seqüestradores.

Nas imagens exibidas, um suposto integrante do PCC faz críticas ao sistema penitenciário, pedindo um mutirão para revisão de penas (por causa de presos que já cumpriram a pena mas ainda continuam na carceragem), melhores condições carcerárias, e se posicionando contra o RDD, que impõe regras mais rígidas aos presos. A Globo cortou a introdução na qual eram mostradas armas de guerra, dinamites, granadas e coquetéis molotov. Parte do comunicado repete quase na íntegra trechos de parecer do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária do Ministério da Justiça, de abril de 2003, que apontava aquilo que considerava ilegalidades do RDD.

Um DVD com o mesmo conteúdo havia sido enviado ao jornal Folha de SP, na quarta-feira (9), que relatou parte do conteúdo em reportagem publicada na quinta-feira (10). Ainda uma outra cópia foi jogada, na sexta-feira (11), no estacionamento do SBT, que encaminhou uma cópia ao Ministério Público.

O repórter Guilherme Portanova foi deixado numa rua do Morumbi (zona oeste de São Paulo), no final da noite de domingo e chegou à sede da TV Globo, por volta da 1h. Ele disse que permaneceu o tempo todo encapuzado, que não foi agredido nem ameaçado de morte pelos seqüestradores e que foi alimentado durante todo o tempo em que permaneceu no cativeiro.

Duas coisas precisam ficar bem claras antes de completar o meu raciocínio a respeito da relação entre o filme sobre Zuzu Angel, o seqüestro dos dois funcionários da TV Globo e a incoerente postura desta emissora.

Primeiro

As dores de mãe (e elas são muitas e pelos mais diversos motivos) estão acima de qualquer discussão e de qualquer julgamento, mesmo que se suponham razões para as suas reações em relação a atitudes de seus filhos ou a acontecimentos que os tenha vitimado. Desse modo, fazer um filme para contar a agonia de uma mãe em busca de um filho desaparecido – seu desespero, suas dúvidas, suas culpas, seu infortúnio -, ainda que possa ter um componente de sadismo, tem seu valor, na medida em que leva outras pessoas a refletir, entre outras coisas, sobre suas atitudes em relação a seus próprios filhos. Provocar reflexões é uma das belas funções da arte. Aproveitar-se, entretanto, da desgraça alheia para convertê-la em instrumento de manipulação ideológica é hediondo. E é isso que os comunistas fizeram e continuam fazendo com a estória da estilista Zuzu Angel.

A estilista, ainda menina, foi morar com os tios em Belo Horizonte. Lá conheceu o caixeiro viajante, Norman Angel Jones, com quem se casou e teve três filhos: Stuart, Hildegard e Ana. Stuart nasceu em 1946, quando a família morava em Salavdor (BA). Em 1947, mudaram-se todos para o Rio de janeiro. Separada do marido, numa época em que separação era tabu e costumava ser muito traumática para os filhos, Zuzu trabalhava muito como costureira para sustentá-los – muito trabalho e pouco tempo para eles. Em 1960 já era famosa e costurava para gente famosa do Brasil e dos EUA, onde fazia desfiles de moda, vendia roupas em lojas de departamentos e saía em jornais como o The New York Times. Em pleno auge da carreira de Zuzu, Stuart Angel entrou para o movimento comunista revolucionário Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), aos 19 anos, em 1965, onde acabou tornando-se um dos homens de confiança do ex-capitão de Exército e guerrilheiro Carlos Lamarca (1). Depois, os dois passaram a fazer parte do MR-8. Mãe e filho ficaram mais afastados ainda e, infelizmente, o futuro não lhes brindaria com a possibilidade de recuperar o tempo perdido.

O MR 8 foi uma das principais organizações armadas (assaltos a bancos, fábricas, supermercados e expropriações variadas) dos anos 60 e 70, com grande peso no movimento estudantil, tendo desencadeado um processo guerrilheiro no qual se empenharam centenas de jovens estudantes. Entre suas ações mais importantes está o seqüestro do embaixador dos EUA em 1969 (já acima citado). Num documento do Serviço de Informações do DOPS, de 14/09/71, consta que Stuart participara desse seqüestro e de assaltos, tendo sua prisão preventiva sido decretada. Em maio de 1971, um telefonema anônimo fez Zuzu Angel tomar conhecimento da prisão do filho, que havia sido levado para o Centro de Informação da Aeronáutica. Oficialmente, segundo à Aeronáutica, Stuart teria sido solto e, posteriormente, dado como desaparecido.

A outra versão do caso de Stuart Angel tem origem no relato que Alex Polari de Alverga (da VPR) fez sobre o suposto assassinato do companheiro terrorista. Essa versão acabou sendo difundida, anos mais tarde, por Arnaldo Jabor, em sua coluna de 11/07/2002, intitulada “Vale a pena ver de novo a zona geral do país?”, onde se lê: “(...) não vi, mas muitos viram meu amigo Stuart Angel morrendo com a boca no cano de descarga de um jipe, dentro de um quartel, na frente dos pelotões”. De lá para cá, só um, o Alex Polari de Alverga, viu e apareceu, ficando os “muitos viram” por conta do Jabor. Minto. Apareceu uma outra: o capitão Sérgio Miranda de Carvalho (2) - o "Sérgio Macaco". Porém anos mais tarde, ele confessou, em manuscrito, que forjou as fantásticas histórias da tortura de Stuart Angel Jones, da explosão de um gasômetro, que aconteceria por ordem do Brigadeiro João Paulo Burnier e da venda da Amazônia a um general norte-americano (.http://www.ternuma.com.br/revanche.htm).

Alex Polari de Alverga (3) tinha sido preso na véspera da prisão de Stuart. Ele disse que levou a polícia onde iria encontrar-se com o companheiro, mas que havia trocado o horário: o encontro seria às dez horas e ele disse que seria as oito. Mas, Stuart, por acaso, naquele dia, chegou antes da hora marcada para o tal encontro e acabou sendo preso. Guerrilheiro experiente, Alex talvez devesse ter trocado o horário para algumas horas mais tarde, já que assim Stuart poderia ter tido a chance de perceber que algo saíra errado e ter escapado de ser preso. Algum tempo depois, foi o Alex que, através de uma carta, informou a Zuzu Angel sobre as circunstâncias da morte de Stuart. Nessa carta, ele disse que estava presente quando Stuart foi arrastado por um jipe, pelo pátio interno da Base Aérea do Galeão, com a boca no cano de descarga do veículo: "Na mesma noite fui torturado ao lado de Stuart, na base aérea do Galeão. Stuart foi arrastado de um lado para o outro, seu corpo esfolado, amarrado a um jipe (...) ele forçado a aspirar os gases tóxicos do veículo, o cano de descarga enfiado na boca". Alex Também ouviu os gritos de Stuart – numa cela ao lado – pedindo água e dizendo que ia morrer e, pouco depois, seu corpo (supostamente morto) foi retirado da cela (4).

Segundo

É preciso que fique claro que, pelo menos para mim, não se pode julgar a atitude que tomaram os responsáveis pela Rede Globo quanto à decisão de divulgar o conteúdo do DVD enviado pelos seqüestradores para assegurar que o repórter da “casa” fosse libertado. Policiais experientes costumam dizer que não convém negociar com seqüestradores sem a orientação da polícia e sem oferecer dificuldades aos criminosos para obterem o que desejam. Mas, quem é que vai aplacar a culpa de quem não obedeceu aos seqüestradores se algo de ruim acontecer com um refém? Afinal, um dos trunfos dos criminosos é não ter nenhum problema em relação à covardia dos próprios atos e muito menos em relação à culpa.

Bem, dito isto (e que nenhum dos apontamentos (1), (2), (3) e (4) deixem de ser lidos), não é preciso ser nenhum gênio para perceber a nítida semelhança entre as práticas terroristas do passado e as que hoje vêm sendo praticadas no Estado de São Paulo por esse aglomerado de agentes, ainda pouco decifrado, sob o nome de PCC (Primeiro Comando da Capital). A posição da Rede Globo é que fica um tanto quanto, digamos, “dicotômica”, já que a emissora tem sido, há mais de 20 anos, ininterrupta e insistentemente, o maior dos veículos de propaganda de esquerda do país, achincalhando militares que lutaram e derrotaram os terroristas, em todas as tentativas passadas que fizeram de tomar o poder no Brasil, e endeusando ladrões terroristas, ao omitir os crimes que cometeram no passado e ao mentir deliberadamente sobre os motivos pelos quais cometiam estes crimes (que eram os de transformar o país numa ditadura comunista e não de lutar pela liberdade e pela democracia, como costuma-se propagandear pelas telinhas e telonas Brasil afora).

Outro dia mesmo o atual (des)governo brasileiro concedeu asilo político a um terrorista das Farc, o falso padre Olivério Medina. E qual foi a reação do jornalismo da Globo? Noticiou o fato como se estivesse falando da próxima frente fria que se aproxima do litoral nordestino. E sobre o Foro de São Paulo, presidido pelo nosso excelentíssimo senhor presidente da república? Silêncio absoluto. Sobre os crimes hediondos do ditador Fidel Castro: nada, nenhuma palavra – aliás referem-se ao homem como presidente de Cuba. Os ataques e atentados do “PCC” em São Paulo? Reafirmando sempre a certeza que a emissora tem da total e completa “imbecilidade” dos telespectadores, continua a Globo insistindo nas reportagens que falam que “as operações” são comandadas de dentro dos presídios.

Ora, pelo amor de Deus! Não há limites para uma emissora com o dinheiro, o potencial tecnológico e os profissionais que a Globo possui, para investigar e contar a verdade sobre o que quer que seja, a não ser a ideologia que pretenda defender ou a ganância pela qual se permita seduzir. Mas, há um outro limite também: o do caráter e o da fidelidade daqueles em que se pensa poder contar e confiar pelos serviços que a eles se tem prestado. A lição insofismável da história é antiga, pública e notória: não se pode confiar em terroristas, porque eles sempre agem em nome da causa; e isto está acima de todo e qualquer limite.

Nas atuais circunstâncias do Brasil, e até do mundo mesmo, o óbvio nunca é aquilo que se quer parecer que seja. Nada mais é impossível e o maquiavelismo atingiu as raias do absurdo inimaginável. Portanto, em princípio, fala-se daquilo que parece ser ou daquilo que se supõe ser razoável dentro dos limites de uma “podridão” humana, até certo ponto compreensível, ainda que inaceitável. O que vem depois disso, a gente tem que deixar para aventar por último: primeiro, para não dar idéias a ninguém; depois, para fingir que jamais se poderia ter imaginado algo tão terrível.

Bem o filme sobre a vida de Zuzu Angel está em cartaz, endeusando os heróis da guerrilha e do terrorismo – usando, para isso, a dor infinita de uma mãe que perde um filho. No mundo real, um crime gravíssimo – seqüestro com objetivos políticos – atentando contra a vida de dois profissionais da maior emissora de Tv do país, para exigir “espaço na mídia em nome da causa”. A Globo cedeu e está aberto um precedente extremamente perigoso. Talvez esteja na hora da emissora começar a repensar seriamente sobre os rumos que tem dado a seus trabalhos.

Christina Fontenelle
16/08/2006
chrisfontell@gmail.com


(1) Para se ter uma vaga idéia de quem era Lamarca. Em meados de abril de 1970, sentindo-se seguro, Lamarca convocou uma reunião ampliada do CN/VPR, numa casa, em Peruíbe, cidade do litoral paulista. Na noite de 18 de abril, já alertado sobre as prisões de companheiros que não teriam comparecido à reunião, Lamarca decidiu evacuar a área. Dois dias depois, chegaram as primeiras tropas da Polícia Militar (Operação Registro) e cercaram a área. Depois de mais de duas semanas, ainda cercados, Lamarca e mais 6 militantes emboscaram cerca de 20 homens da Polícia Militar de São Paulo, chefiados pelo Tenente Alberto Mendes Júnior. O Tenente, então, decidiu entregar-se como refém, para que seus subordinados, feridos, pudessem receber auxílio médico. Assim foi feito.

Na noite seguinte, 2 guerrilheiros acabaram extraviado-se do grupo. Sem saber disso, não tendo estes dois reaparecido, e depois de andarem um dia e meio, Lamarca acusou o Ten Mendes de tê-los traído e de ter causado a morte dos dois companheiros. Um “tribunal revolucionário", condenou o Tenente à morte. Um dos terroristas, Yoshitane Fujimore, com a coronha do fuzil, desferiu violentos golpes na cabeça do Tenente que, caído e com a base do crânio partida, gemia e se contorcia de dor. Outro terrorista, Diógenes Sobrosa de Souza desferiu-lhe mais golpes na cabeça, esfacelando-a e causando a morte do tenente. Entre as coronhadas de Yoshitane e de Diógenes, entretanto, requintes os mais inimagináveis de tortura: cortaram fora o pênis e o saco escrotal do Tenente, enfiando-os pela garganta do rapaz abaixo. Isto pode ser verificado na autópcia, quando foram encontrados os mencionados órgãos no estômago do Tenente. Vê-se que já não é de hoje que comunistas e terroristas costumam acusar os inimigos daquilo que eles mesmos é que fazem.
Foi alii mesmo, numa pequena vala e com seus coturnos ao lado da cabeça esmagada e complatamente ensangüentada, que o Ten Mendes foi enterrado. Lamarca responsabilizou-se pelo assassinato. Em 08 de setembro, o terrorista Ariston Oliveira Lucena foi preso e apontou o local onde o Tenente Mendes estava enterrado, relatando o ocorrido. As fotografias tiradas atestaram o horrendo crime cometido. A mãe do Tenente entrou em estado de choque e ficou paralítica por quase três anos.

Recentemente, em depoimento à CPI "Perus" (a do Cemitério), Ariston Lucena depôs sobre o fato. Está no site "desaparecidos políticos" (http://www.desaparecidospoliticos.org.br/perus/5.html). O pobre e inocente guerrilheirozinho reclama das "torturas" a que foi submetido (embora ainda esteja vivo e bem de saúde): ele foi obrigado a se deitar numa cova aberta, onde havia sido sepultado o corpo do Tenente Alberto Mendes Júnior, enquanto o coronel Erasmo Dias metralhava a cova, contornando o seu corpo. "Depois da permanência minha na Operação Bandeirante eu voltei para o DOPS para fazer... um depoimento cartorial a fim de ser inquirido posteriormente pela Auditoria Militar. Fui levado de helicóptero para o Vale da Ribeira. O tempo todo o Coronel Erasmo Dias me ameaçou, dizendo que me jogaria do helicóptero se eu não desse mais informações que levassem à prisão de novos companheiros".

Quando o crime foi descoberto e divulgado, a VPR emitiu o seguinte comunicado "Ao Povo Brasileiro": "A sentença de morte de um Tribunal Revolucionário deve ser cumprida por fuzilamento. No entanto, nos encontrávamos próximos ao inimigo, dentro de um cerco que pôde ser executado em virtude da existência de muitas estradas na região. O Tenente Mendes foi condenado e morreu a coronhadas de fuzil, e assim o foi, sendo depois enterrado."

Esse não é o único assassinato cometido por Lamarca. Em dezembro, também de 1970, ele matou, a sangue frio, com um tiro à queima roupa, o Agente Federal Hélio de Carvalho Araújo, na ação de seqüestro do Embaixador da Suíça no Brasil.

Nem a mãe e nem nenhum parente do Tenente Mendes receberam um centavo sequer de indenização do governo brasileiro pelo seu assassinato. Porém, os descendentes de Carlos Lamarca, bem como os de muitos outros terroristas receberam e continuam a receber “gordas” indenizações do Estado pelos serviços que prestaram à nação. Particularmente no caso de Lamarca, a viúva passou a receber pensão integral do posto de Tenente-Coronel (mesmo depois de Lamarca ter desertado voluntariamente) e mais R$150.000,00, a título de indenização. Um detalhe: Lamarca foi morto no interior da Bahia, em combate, a céu aberto, com uma tropa do Exército - e, ainda que de caráter de justiça duvidoso, as indenizações somente devem ser dadas aos que não tenham morrido em combate.


(2) O Capitão Sérgio Miranda morreu em 1994, de câncer no estômago. Ele foi promovido depois de sua morte a Brigadeiro. Em 1997, a família recebeu indenizações que ultrapasaram os 80 mil reais. Ainda nos anos 80, o "Sérgio Macaco" foi deputado federal pelo PDT, mas, a política não era uma paixão do ex-capitão e hoje Brigadeiro.

Houve um erro de identidade na hora das pesquisas e o atual Deputado Sérgio Miranda de Matos Brito foi confundido com Sérgio Miranda de Carvalho (o Sérgio Macaco). O parágrafo acima corrige esse erro. Abaixo, o que havia sido digitado.

Sérgio Miranda filiou-se ao PC do B (Partido Comunista do Brasil), em 1985. Foi léder desse partido em 1989-1992, 1996-1997 e 2000. Foi eleito Deputado Federal para a legislatura 1991-1995. Em 2000, filou-se ao PDT e está atualmente cumprindo seu quarto mandato como deputado. Fez bem ao ex-capitão ter saído das FFAA.

(3) Alex Polari de Alverga ajudou a planejar e a executar o seqüestro do embaixador alemão , de 61 anos, Ehrenfried Anton Theodor Ludwig Von Holleben. Na operação, duas pessoas ficaram feridas e o motorista do embaixador, que era um agente da Polícia Federal, foi morto a sangue frio por um dos seqüestradores - Irlando de Souza Régis estava a um ano de sua aposentadoria e, naquele dia, sua companheira estava internada em um hospital, por ter extraído um rim. É na palavra de gente como Alex Polari – um terrorista e um delator - que a esquerda se fia para reconstruir a história do Brasil.

(4) Não sei quanto aos questionamentos feitos sobre o que estava escrito nesta carta, mas, quem já teve a infeliz “oportunidade” de encostar uma perna num cano de descarga de um carro ligado (ou recém desligado) sabe que a queimadura é forte e imediata, de modo que “abocanhar” um cano de descarga de um carro ligado causaria queimaduras tão intensas que a inutilizariam até mesmo para balbuciar qualquer coisa, quanto mais para gritar frases inteligíveis. Outra coisa: uma pessoa arrastada, com a boca presa num cano de descarga de um carro em movimento, precisaria estar com a cabeça bem amarrada para este fim - simplesmente não tem como sobreviver, tanto por causa da dor como por causa da asfixia. Depois disso, ainda ficar gritando, de dentro de uma cela, é totalmente inverossímil. São apenas cogitações que talvez possam ser esclarecidas por pessoas especializadas ou mais bem informadas sobre o assunto.

Wednesday, August 09, 2006

COMBINAÇÃO ALARMANTE


A verdade não tem dono e os que têm amor a ela trabalham para fazê-la chegar ao maior número possível de pessoas, sem que isto dependa de que seus nomes estejam vinculados ao fato dela ter vindo à tona. Não interessa como, o que importa é que a verdade apareça ou que, em busca dela, sujam alternativas bastante verossímeis ao que se venha divulgando sobre determinado fato como verdade absoluta. É por isso que eu não faço cerimônia em convidar os leitores a fazer uma reflexão sobre as pesquisas eleitorais. Não preciso agradar a ninguém e não tenho pretensão de ser a dona da razão. Mas, cá com meus botões, tenho pensado muito sobre essa avalanche de dados que são despejados diariamente na imprensa como sendo o resultado de pesquisas eleitorais.

Até agora, do Oiapoque ao Chuí (pois eu me comunico com pessoas do país inteiro), o que temos visto são, desde garis, motoristas de táxi, ascensoristas (onde eles ainda existem) e vendedores de loja, até empresários, médicos, dentistas e outros profissionais liberais – todos indignados e revoltados – dizendo que, nas próximas eleições, votam contra Lula e contra o PT. Os únicos lugares onde não se vê isso acontecer são nas pesquisas eleitorais e nas propagandas do Governo Federal.

Eu quero que as pessoas parem para pensar, com sinceridade, a respeito de quem é que vai votar no Lula para presidente. Você, cidadão, conhece alguém? Está difícil, não é?

Noventa por cento dos aposentados não votam em Lula, taxistas também não. Sessenta por cento dos militares da ativa e 99,9% dos da reserva querem que o atual presidente se mude com sua mulher para a Itália – já que Dona Mariza fez questão de pedir cidadania italiana para ela e para seus filhos, durante o mandato de seu marido com presidente da república (é com letra minúscula mesmo). Os ex-empregados da Varig não votam em Lula, nem os pilotos de maneira geral, já que, com a criação da ANAC, que substituiu o DAC, pela renovação de um exame médico (CCF - Certificado de Capacidade Física) e pela renovação da Licença de Vôo eles terão que pagar R$ 2.339,00, a cada 6 meses. No tempo do DAC, administrado pelos “ditadores, sanguinários” militares, as duas licenças somavam aproximadamente R$200,00. Igualmente as tarifas de embarque de passageiros e as aeroportuárias foram majoradas em 1.000%.

A classe média não vota em Lula - pelo menos 90% dela. Pequenos, médios e até alguns dos grandes empresários não votam no atual presidente. Pequenos, médios e grandes proprietários rurais não suportam a idéia de ver Lula na presidência por mais 4 anos. Cinqüenta por cento da classe artística do país não pretende reeleger o “mão suja”. Funcionários públicos de carreira não votam em Lula. Profissionais liberais não votam em Lula. O pessoal que ganha salário mínimo ou que está desempregado já aprendeu que não se vota em quem prejudica classe média e empresários, na medida em que a “bomba” estoura nos mais pobres e necessitados. Enfim, a lista é infindável e não caberia num artigo.
Quem é que, então, que vai votar em Lula? Pois é, eu imagino que quatro tipos de pessoas vão votar neste cidadão: os que foram empregados ou favorecidos por ele (e os que estão em vias de ser, caso ele seja reeleito), os que têm medo de perder as poucas migalhas que algum tipo de bolsa-esmola lhes garante, os banqueiros e os mega-empresários que vislumbram os lucros dos monopólios (ainda que travestidos de várias marcas ou sob vários nomes) que estão entusiasmadamente construindo (em troca de propaganda e de doações para o Governo do PT) nos mais diferentes tipos de atividade.

Somando todas essas pessoas, entre as quais estão os militantes do PT (incluídos no primeiro tipo de pessoas acima citado), com muito otimismo, poderíamos chegar ao número de 39 milhões de eleitores. Nas próximas eleições teremos um total de quase 126 milhões de eleitores. Suponhamos que o total de votos nulos e brancos atinja a marca de 11% e que o de abstenções chegue a 17%. Isso significa que o total de votos válidos seria de 90,72 milhões (126 - 13,86 - 21,42). Vamos supor que Heloisa Helena fique com 14% do eleitorado, Cristovam Buarque com 1,5% e os outros candidatos com 1%. Então sobrariam 69,93 milhões de eleitores (90,72 – 17,64 – 1,89 – 1,26). Supondo-se que Lula tenha 39 milhões de votos, isso representa 30,9% do eleitorado total e 42,99% dos votos válidos – muito longe dos 50%+1 necessários para que não houvesse um segundo turno. E mais: significa que Alckmin teria 25,6% dos votos válidos, ou seja, 30,93 milhões de votos.

Mantendo-se os índices de votos nulos e brancos e de abstenção do primeiro turno, no segundo, teríamos um Lula ainda com 39 milhões e um Alckmin com 30,93 mais os 17 milhões de votos que tenderiam a vir daqueles que teriam votado em Heloísa Helena – já que a tendência seria que mais eleitores optassem por votar contra Lula.

Observem que eu tive o cuidado de exagerar todos os números percentuais para acima do que seria o esperado e do que seria o das probabilidades. Isso significa que, apenas por projeção minha, uma cidadã comum, munida de bom senso e de uma calculadora, o máximo que Lula conseguiria era ir para um segundo turno com Alckmin – jamais vencer no primeiro turno (essa possibilidade é quase nula em termos lógicos reais).

O mais importante é ter a consciência de que é quase impossível que o eleitorado de Lula tenha crescido nesses 4 anos de governo, ainda que ele tenha tentado fazer com que isso acontecesse, através da farta distribuição de cargos no PT e no funcionalismo público (os dados do Ministério do Planejamento revelam que a gestão Lula, desde 2003, contratou 110 mil funcionários públicos e criou 29 empresas estatais – quem duvidar é só verificar nestas reportagens: http://clipping.planejamento.gov.br/Noticias.asp?NOTCod=239802 e http://www.terra.com.br/istoedinheiro/435/economia/farra_contratacoes.htm). Mas, o mais provável é que estas pessoas já fizessem parte do eleitorado do atual presidente e, por isso mesmo, acabaram sendo beneficiadas nos planos governamentais de super-aparelhamento do Estado. Portanto, eu ouso concluir que um acréscimo de eleitores do PT deva estar mais concentrado na lista daqueles para os quais o Governo Lula distribuiu algum tipo de bolsa-esmola.

Entretanto, deve entrar nesta conta também o número de eleitores que o partido perdeu em função dos escândalos provocados pelos casos de corrupção em que esteve envolvido e também por causa de uma série de atentados contra a Constituição e contra o Estado de Direito cometidos durante o governo de Lula e do PT, demonstrando, inclusive, tendências fascistas. E tudo leva a crer que esse número de eleitores perdidos supere enormemente o de pessoas que passarão a votar no atual presidente e em seus correligionários do PT por terem sido eventualmente beneficiadas pelo governo.

Agora vejam os números que revelam as pesquisas. A última pesquisa do Ibope para a CNI (Confederação Nacional de Indústria) divulgou que o presidente Lula manteve 46% de intenção de voto desde a última pesquisa, e que ainda venceria a eleição presidencial no primeiro turno. Isso significa que, dos 126 milhões de eleitores, 57,96 milhões votariam em Lula. Sabendo-se que, nas eleições de 2002, ele obteve 39 milhões de votos no primeiro turno e que foi eleito com 52,8 milhões de votos, no segundo turno, num universo de 115 milhões de eleitores (com apenas 86 milhões de votos válidos), é simplesmente impossível que os resultados das atuais pesquisas estejam revelando uma probabilidade verdadeira, se considerarmos tudo que já foi dito acima sobre a muito provável queda no número de eleitores de Lula, de 2002 para cá.

Afinal, como é que são escolhidos os universos onde são feitas essas pesquisas? Sim, porque são revelados apenas o número de cidades em que foram entrevistadas um total de pessoas que geralmente se aproxima das 2 mil. O problema é que se você fizer uma pergunta sobre eleições e votos para moradores Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, por exemplo, provavelmente vai obter resultados bem diferentes do que se fizer as mesmas perguntas para os cariocas que vivem no Jardim Botânico. Portanto, revelar (ou considerar) apenas as cidades – ou logradouros – e o número de entrevistados, tecnicamente não invalida os resultados desse tipo de pesquisa, mas também não pode servir de fiel da balança daquilo que corresponda à realidade.

Eu não posso entender de outra forma que não seja a de tentar conduzir os votos dos eleitores ou a de construir um álibi para uma possível fraude eleitoral a veiculação dos resultados de pesquisas eleitorais que não traduzem o que uma infinidade de pessoas está a apreender da realidade. Eu não seria leviana a ponto de acusar os institutos de pesquisa de cometerem fraudes ou manipulação de dados. Estas empresas trabalham com metodologias científicas e procuram ser criteriosas no trabalho que fazem. Entretanto, isso não significa que aqueles que encomendam os trabalhos não possam ter estabelecido determinados tipos de estudos e objetivos da análise que conduzam aos resultados revelados pelas pesquisas e, ainda, como detentores desses resultados, não possam fazer divulgações distorcidas dos mesmos.

Eu já escrevi um artigo sobre voto eletrônico falando sobre as possibilidades de fraude nas urnas eletrônicas. O último relatório publicado a respeito desse assunto é o Relatório Brennan e mais informações podem ser obtidas nesta matéria publicada no site Observatório de Imprensa. Mesmo que aparentemente não possamos fazer nada a respeito desse assunto, é importante que o maior número possível de pessoas fique ciente do sistema eleitoral a que nós brasileiros estamos submetidos e do risco que isso pode representar para a nossa frágil democracia.

Pesquisas assim divulgadas combinadas com votação eletrônica são alarmantes, principalmente num país onde a mentira tornou-se, pela sua repetição, uma alternativa à verdade e onde um presidente da república segue mentindo que não sabia de nada sobre os crimes que a quadrilha que o cercava (e que o ajudou a chegar aonde chegou) vinha praticando e não há nada nem ninguém que tenha conseguido romper a barreira do aparelhamento estatal - engendrado pelo partido desse próprio presidente -, para tomar as medidas que seriam cabíveis em casos como esse.

O sistema republicano democrático, embora não seja completamente justo e esteja distante do que seria o ideal, ainda é o melhor a que uma sociedade possa estar submetida nos dias de hoje. Faz parte das táticas para se obter melhores resultados dentro desse sistema de representatividade o voto útil. A bem da verdade, quase sempre temos que recorrer a essa alternativa para que sejam eleitos aqueles indivíduos que julgamos ser os menos piores. Agora não é hora de se discutir as falhas e os vícios desse sistema – isso pode ficar para depois das eleições (como já tem ficado há muito tempo). A hora é de usar o voto útil e de não ter vergonha nem medo de fazer isso. Se as urnas eletrônicas não trabalharem corretamente, isto não terá sido por causa de nós, eleitores; mas, está nas nossas mãos sabermos usar a única arma que nos resta. Nas próximas eleições, não vote Nulo, não vote Branco nem se abstenha. Se você quiser realmente protestar, VOTE ÚTIL – e eu não preciso dizer o que isso significa.

DE BONNER PRA HOMER I E II

Homer Simpson é o nome que William Bonner dá ao expectador característico do Jornal Nacional (TV Globo). Homer, para quem não sabe, é personagem de um desenho animado norte-americano feito principalmente para adultos. Ele é um típico trabalhador assalariado, casado, pai de família, desinformado (por falta de tempo e de vontade), bonachão e cujo maior prazer é chegar em casa, depois do trabalho, sentar em frente à televisão com um copo de cerveja e um controle remoto em cada mão. Resumindo: um cidadão que teve aproveitamento escolar medíocre, cresceu como um preguiçoso mental, com pouca capacidade e disposição para análises, por isso mesmo muito fácil de manipular, e que não tem a menor condição de avaliar o seja verdade ou mentira naquilo que é veiculado pelos noticiários de TV. Ou seja, é um expectador que acredita muito mais em pessoas e no que elas dizem sobre os fatos do que no que ele próprio seja capaz de apreender ao ver imagens ou ao analisar o que esteja sendo dito – confia mais nos outros do que em si mesmo.

Pois bem, não bastasse os vexames na cobertura da Copa do Mundo, quando Fátima Bernardes e um programa comandado por Galvão Bueno, que acontecia nos dias das partidas do Brasil, simplesmente desapareceram do ar, sem a menor satisfação, depois da derrota da Seleção Brasileira para a França, e o festival de manipulações e omissões de informações que a emissora vem patrocinando ao longo dos últimos 4 anos, agora, os telespectadores serão brindados pela mais espetacular cobertura “jornalística” de todas as eleições.

Espetacular no sentido de “show” – um show de divulgação de pesquisas eleitorais de caráter duvidoso (como no referendo do desarmamento), um festival de meias-verdades e de omissões (muitas delas imperdoavelmente criminosas), um espetáculo de romantismo bucólico dos mais distantes sítios brasileiros, onde os moradores dizem o que esperam do próximo presidente: uma ponte, uma lei que passe a administração de prédios históricos para os municípios, um poço, e por aí vai - inutilidades evasivas diariamente transmitidas pelo ônibus da caravana JN. Algo me diz que Lula ainda vai dizer que essa caravana do JN parece com a que ele fez antes de ser eleito presidente. Agora, sensacional mesmo está sendo a etapa de entrevistas com os principais candidatos à presidente.

Entrevista talvez seja um termo que não consiga definir exatamente o tom desta parte do Jornal Nacional que tem ocupado o último bloco das edições desta semana, com cerca de 12 minutos cada um. Inquisição seria mais adequado. Era de se esperar que houvesse perguntas enfocando algum tema polêmico relacionado aos candidatos ou aos seus partidos, assim como também que elas enfocassem pontos prioritários sobre os programas de governo dos candidatos. Não aconteceu isso com nenhum dos três entrevistados por Fátima Bernardes e por William Bonner na bancada do JN. Foram eles Geraldo Alckmin (PSDB), Heloísa Helena (PSOL) e Cristovam Buarque (PDT), nesta ordem, respectivamente na segunda, na terça e na quarta-feira.

Todos foram literalmente bombardeados com perguntas que indisfarçavelmente visavam desacreditar os candidatos, desmoralizando suas capacidades para governar. A diferença, entretanto, esteve na reação de cada um deles. Alckmin saiu-se extraordinariamente bem; eu diria que Cristovam Buarque, um pouco menos atacado que os outros dois candidatos, também; Heloísa Helena é que ficou desestabilizada, quando se viu sob o ataque das perguntas e das afirmações do casal de entrevistadores – perdeu para eles; os outros dois candidatos não.

Na sabatina de Alckmin, não foi dada a ele uma única chance de falar sobre seu programa de governo, sobre as medidas que tomaria para enfrentar os problemas de desemprego, de gestão de dívida pública, de saúde e de tantos outros que afligem os brasileiros. Em vez disso, o candidato passou o tempo todo rebatendo acusações. Primeiro, contra a política de segurança pública de São Paulo; depois, sobre se sua defesa de um banho de ética na política não seria incompatível com o fato de um Senador do PSDB ter sido beneficiado pelo valerioduto, lá na eleição de 1998; em seguida teve que responder sobre CPIs que não saíram durante seu governo e sobre irregularidades na publicidade da Nossa Caixa. Alckmin rebateu calma e eficientemente todas as acusações – uma por uma.

Os apresentadores cobraram explicações sobre a crítica que o candidato e o PSDB fizeram ao veto do presidente Lula para o aumento dos aposentados, fazendo questão de dizer que o Presidente teria sido obrigado a vetar o reajuste por falta de recursos. Alckmin disse simplesmente que teve dinheiro para tudo e para todos e que, quando chegou a vez dos aposentados, eles levaram um não. Fátima Bernardes apareceu com uma pesquisa que dizia que São Paulo não teria se saído bem na tal de Prova Brasil – mas essa não deu nem para engatar, porque Alckmin foi enfático em falar de números do Saeb que desmentiam os dados apresentados pela entrevistadora.

Para encerrar, perguntaram: “No fim de quatro anos, o que o senhor espera ter como marca no seu governo?” Ah, bom! Pensávamos nós, os telespectadores, que essa pergunta não seria feita. Então, o candidato pôde falar, em 5 segundos, sobre seus planos: “nosso compromisso é com o crescimento. O Brasil perde oportunidades... não tem o projeto nacional de desenvolvimento. Eu vou ter como obsessão o crescimento... Emprego, renda, trabalho e os três serviços públicos de qualidade. Saúde... Educação e assumir responsabilidade em segurança pública. Não fugir...”. Acabou. Boa noite.

Foi uma chuva de protestos pipocando pela Internet e enchendo as caixas de correio eletrônico do JN. E a resposta é sempre a mesma: silêncio.

Dia 8 de agosto. Foi a vez de Heloísa Helena passar pela sabatina do jornal mais assistido no Brasil. Dessa vez, como não poderiam atacar nenhuma administração sob a responsabilidade da senadora, uma vez que ela foi apenas vice-prefeita, em Maceió, há 14 anos, o Casal 20 do jornalismo partiu para trazer à tona o perfil trotskista da candidata. Ela tentou remediar aqui e ali, tentou disfarçar, mas não deu. Ficou bem claro que Heloísa Helena é mesmo uma comunista inveterada – do tipo que apóia movimentos populares revolucionários, que desapropria para trazer “igualdade” na marra e coisas do gênero. A candidata não conseguiu dar uma resposta sequer sobre seus planos de governo que fosse além de longos, adjetivados e evasivos discursos.

Reparem nas respostas da Senadora às perguntas de Fátima Bernardes e de William Bonner. Ela simplesmente falou, falou e não disse absolutamente nada sobre seu programa de governo, mas não teve como esconder suas pretenções socialistas:

Fátima Bernardes: O programa de seu partido falando de reforma agrária diz que não existe saída para o campo brasileiro sem a expropriação das grandes fazendas, sejam elas produtivas ou não. A senhora vai tomar terras de proprietários rurais que produzem...?

Heloisa Helena: Eu não posso meu amor, porque a Constituição proíbe. Programa de partido se trata de objetivos estratégicos do partido. Não tem nada a ver com programa de governo. Seria impossível fazer a expropriação de terra, a não ser que tenha trabalho escravo ou plantação de maconha. Porque eu não sou favorável ao narcotráfico, pelo contrário, vai ter um combate implacável ao crime organizado se eu tiver a honra de chegar à presidência da República. Diferente. A Constituição do Brasil é muito clara. Porque eu tenho obrigação de conhecer a ordem jurídica vigente, a legislação do meu país. A Constituição do país é clara: terra improdutiva passível de reforma agrária. A nossa proposta de reforma agrária, ela se trata no sentido de assentar 1 milhão de famílias que daria 200 mil famílias, ou seja, 1 milhão de pessoas.

William Bonner: Qual o modelo de país que a senhora apresentaria como um exemplo para os brasileiros e dissesse assim: “este é o modelo que o P-SOL defende para o Brasil... Na vida prática não há um modelo em vigor?”

Heloisa Helena: Meu amor, deixa eu dizer uma coisa. Não há no planeta Terra nenhuma experiência socialista. Então seria desonestidade intelectual da minha parte e desconhecimento de toda a tradição socialista dizer que eu vou implementar o socialismo. O que eu digo várias vezes, eu não nego minhas convicções, acho inclusive que com essa estrutura anátomo-fisiológica eu não vou vivenciar a mais bela declaração de amor à humanidade. Hoje eu luto pela democracia. A democratização da riqueza, das políticas sociais, da informação e da cultura. Da terra e do espaço bom, porque a democracia no Brasil não existe... A democracia não se consolida porque nós estamos falando o que pensamos. A democracia de um país não se consolida quando 48% de toda a riqueza produzida nacionalmente ela é apropriada por 0,005% das famílias brasileiras.

Reparem que “democracia” para Heloísa helena não tem nada a ver com liberdade de expressão ou com direito de votar dos cidadãos. Para ela, o termo significa fabricar igualdade social por intermédio da ação impositiva e controladora do Estado – que, naturalmente, estaria nas mãos de pessoas que se julgam capazes de determinar o que é o melhor e mais justo para todos (e esse deve ser o caso da Senadora).

No dia 9/08, a bola da vez foi o Senador Cristovam Buarque. Para começar, foi com a seguinte pergunta que William Bonner deu as boas vindas ao candidato: “Como governador o senhor não conseguiu se reeleger, não passou na prova das urnas no fim do mandato. Como ministro, o senhor foi demitido pelo presidente Lula. Como é que o senhor se credencia à Presidência?” Resumindo a resposta do Senador:

Nos dois cargos eu cumpri tudo o que prometi... E perdi (a reeleição para Governador)... (porque)... Me neguei a dizer que daria um aumento de 28% aos funcionários. O meu opositor disse que daria e não deu. Isso levou 15 mil pessoas, pelo menos, a mudar de lado... Quanto ao Senado e quanto ao Ministério, quando eu cheguei lá eu peguei o programa de governo do Lula e disse: ‘Isso é para valer’. E comecei a executar... Tudo o que precisava eu queria, eu comecei... Mas é o presidente que manda para o Congresso. O ministro não pode mandar projeto para o Congresso. E o que é que o presidente mandou dizer para mim? Que isso ia atrapalhar a reeleição dele, porque ia chegar ao prefeito, que não ia gostar. Então eles pararam. Eu incomodei tanto que eu saí e sinceramente não me arrependo”.

Vieram mais perguntas desconcertantes, porém, Cristovam Buarque, além de responder a todas elas com segurança e clareza, aproveitou para fazer propaganda de seus projetos para a área da Educação no país. Conseguiu fazer uma boa exposição do tema e acabou transfigurando a expressão facial dos entrevistadores, que passaram da aparência de inquisidores para a de atentos alunos. Mas falhou porque passou a impressão de ser homem de um “foco” só – pessoas assim dão ótimos ministros, mas não se enquadram no perfil que se exigiria do presidente de um país do tamanho e da complexidade do Brasil.

O próximo a ser entrevistado pela dupla do JN é o presidente Lula – candidato à reeleição. Partindo-se dos princípios de “isonomia”, não dá para começar com uma pergunta diferente de “Como pode alegar o senhor que não sabia do que seus auxiliares e companheiros de partido faziam no Governo e que acabou resultando na denúncia do Procurador Geral da República, qualificando-os de “quadrilha”?” Essa seria só para começar. A segunda pergunta deveria ser sobre as doações da Telemar para a empresa de seu filho Lulinha. Depois, sobre sua aposentadoria aos 22 anos de serviço e como anistiado político, já que nunca foi impedido de “trabalhar” no governo militar. Estaria aí um bom gancho para falar das indenizações absurdas que vêm sendo pagas a criminosos e a seus familiares, especialmente sobre uma das últimas – a que foi concedida ao chefe do bando que depredou o Congresso: seu amigo pessoal, Bruno Maranhão.

Todas estas perguntas estariam dentro das foram “permitidas” aos apresentadores do JN fazerem, uma vez que não tratam do “mensalão”. Sim, o PT só permitiu a entrevista caso só se pudesse fazer uma única pergunta sobre esse tema. Se a censura se ampliar para outras questões negativas, só vai dar para perguntar nome, local e data de nascimento ao atual presidente. Mas, não vamos nos precipitar, vamos esperar a entrevista acontecer.

Por enquanto, parece que as entrevistas estão servindo para destruir os adversários de Lula – de Bonner para Homer.

De Bonner para Homer II – O salário não é a única coisa que cai!

Finalmente a entrevista que todos esperávamos. Ela segue abaixo, na íntegra (exatamente como foi digitada, com ou sem erros de português), e intercalada por comentários meus grifados em azul. Os apresentadores falaram as coisas certas, mas fizeram as perguntas erradas. E foi só por causa disso que o presidente Lula teve um bom desempenho; mas, cometeu um terrível ato falho no final da entrevista e isto poderá lhe custar caro. De qualquer modo, estando trabalhando onde estão e dentro dos limites que lhes garantam preservar seus empregos (julgamento que só cabe a eles dois ou a quem eventualmente já tenha estado na mesma situação), Fátima Bernardes e William Bonner fizeram um trabalho limpo. Vamos à entrevista.

William Bonner: Candidato, o Ministério Público denunciou o que ele chamou de uma quadrilha de 40 integrantes, que teria como núcleo central, nas palavras do procurador, o seu ex-ministro chefe da Casa Civil, José Dirceu e dirigentes do PT, José Genuíno, Silvio Pereira, Delúbio Soares. Segundo a denúncia, eu vou ler um trechinho, os objetivos deles, desse núcleo eram: desviar recursos de órgãos públicos e de estatais para pagar dívidas do PT antigas e novas despesas. Tanto da campanha do PT quanto de partidos aliados. E ainda, segundo o procurador. O objetivo deles era garantir que o PT continuasse no poder comprando o apoio de outros partidos, numa referência ao mensalão. Candidato, diante de uma acusação tão dura quanto essa, que parte de um órgão politicamente independente. Como fica a questão ética, uma bandeira, um carro-chefe das suas campanhas eleitorais?

Os entrevistadores não poderiam deixar de falar no mensalão e na denúncia do Procurador Geral da República. Isso era o que todo mundo estava esperando para ver se iria acontecer. Aconteceu; mas não da maneira como deveria. É só refletir. Como o expectador estava esperando ouvir os apresentadores falarem de “mensalão”, de “denúncia do Procurador” e de “40 integrantes” não parou para prestar atenção na pergunta final – a que o candidato teria que responder, na verdade.

O expectador se alivia ao ouvir o que esperava; mas o fato é que nada do que William Bonner falou antes de fazer a pergunta final é novidade - todo mundo já cansou de ouvir, de denunciar e de falar. A pergunta final foi: Como fica a questão ética, uma bandeira, um carro-chefe das suas campanhas eleitorais? Foi o gancho para o presidente falar o que sempre tem dito: que foi ele quem nomeou o procurador, e que, apesar disso, pôde investigar e fazer a denúncia, o que provaria a isenção do Governo.

Mas, o que o Presidente obviamente sempre esquece de dizer é que o Procurador fez tudo isso (num processo que vai durar anos para ser julgado), denunciou toda a gravidade dos atos praticados, porém não citou o presidente Lula como envolvido. Isso sim, pela obviedade, se tivesse sido escrito pelo Procurador, poderia ter feito alguma diferença no destino de Lula e no desfecho do caso do emnsalão. Portanto, a denúncia foi inócua, pois os citados já haviam sido afastados pelo partido ou pelo Congresso e ainda, sem citar Lula, a denúncia acabaria servindo como “prova” de isenção, de idoneidade do presidente, por ter permitido que o Procurador trabalhasse livremente. Tanto é assim que este é o argumento que ele está usando agora.

Como assim, “como fica a ética”? Que ética? Pelo tamanho do escândalo, pelo tamanho das atrocidades cometidas pelo PT e pelos congressistas que comprou, não cabe perguntar sobre ética. Cabe perguntar sobre crime, sobre legalidade e sobre improbidade. Que ética, se o presidente da República disse em cadeia nacional, no programa dominical da Globo – Fantástico – que o PT fez caixa dois e que todo mundo fazia caixa dois?

A pergunta deveria ter sido: Como é que o senhor pode alegar que não sabia de nada? Inclusive agora, depois do lançamento do livro de Ricardo Kotosho, onde está escrito que o senhor esteve na cena onde foi acertado um pagamento para obter o apoio do PFL? E como é que o senhor não sabia, se foi o senhor mesmo que disse no Fantástico que o não só o PT mas todo mundo fez caixa dois? Se o senhor sabia sobre o caixa dois, e achava normal, porque todo mundo fazia, como é que alega que não sabia de como as pessoas que o cercavam faziam para administrar os recursos desse caixa dois – tanto para obtê-los, como para gasta-los?

Lula: O órgão independente onde o procurador-geral foi escolhido por mim sem que eu sequer o conhecesse. Uma demonstração de que o combate à ética significa você permitir que as instituições façam as investigações que possam e precisam fazer. E você sabe perfeitamente bem que o nosso governo, a Polícia Federal, a Controladoria-Geral da União têm trabalhado de forma excepcional para desvendar toda e qualquer denúncia. Obviamente que eu lamento profundamente que companheiros tenham feito coisas que ainda vão ser julgadas, porque há outra uma instância no Supremo Federal, mas nós facilitamos que tudo fosse investigado, afastamos todas as pessoas que estavam na ossada do presidente da República, é o que eu posso fazer, facilitamos o trabalho de todas as CPIs, eu duvido que alguém encontre um deputado que eu procurei para conversar sobre a CPI. A CPI fez seu relatório, mandou para o Ministério Público, o Ministério Público analisou e pediu o indiciamento das pessoas. Agora eu vou ser julgado.

William Bonner: Ainda não chegaram à conclusão.

Lula: Isso, não chegaram à conclusão e isso não macula o PT, pode macular algumas pessoas do partido.

William Bonner: Na denúncia oferecida pelo procurador-geral, ele faz referência ao ministro no governo Lula, além de integrantes do PT. Mais do que isso, nós sabemos também que um procurador-geral da República só oferece denúncia quando ele está plenamente convencido da culpa de quem ele acusa. Aí então, a pergunta que cabe numa situação como essa é a seguinte: o senhor tem dúvida sobre a idoneidade ou sobre a competência do procurador-geral da República, que como o senhor mesmo disse, foi o senhor que nomeou?

Já é a segunda pergunta que permite que Lula fale sobre sua não interferência em investigações. O que todos nós sabemos que não é verdade. Se assim não fosse, as CPIs não teriam tido a dificuldade que tiveram para obter documentos, para inquirir pessoas (lembram-se dos habeas corpus preventivos, das licenças para mentir?), não teriam sumido documentos do Banco Rural, notas fiscais da DNA e o Ministro Palocci não estaria sendo acusado de mandar invadir a conta corrente (entre outras coisas) do caseiro que o desmentiu no caso da “casa da maracutaia” em Brasília. Aliás, o ministro só saiu por causa desse episódio que, se não tivesse ocorrido, talvez significasse a sua permanência, já que, como no caso de Okamoto, se não houver confissão assinada ou fato extremamente contundente, o PT dá um jeito de dizer que nada seja prova irrefutável, o que permite que a pessoa acusada seja mantida no cargo que está.

Lula: Se tivesse eu não tinha indicado. Segundo, o procurador da República no meu governo indicia, porque em outros governos engavetava, no meu governo o procurador sabe perfeitamente bem, e foi um discurso William, que eu fiz na posse dele, de que jamais durante o meu mandato e mandato dele, haveria qualquer interferência do Poder Executivo para interceder no Ministério Público. É com esse grau de liberdade que eu quero que ele funcione e é com o grau de liberdade respeitando o estado de direito que eu quero que as pessoas que foram indiciadas por ele vá até o Supremo Tribunal Federal e prove se são ou não inocentes.

Fátima Bernardes: Candidato, durante todo esse tempo o senhor disse que não tinha conhecimento dessas irregularidades. Duas questões então: se o senhor insiste nessa declaração, que garantia o senhor pode oferecer ao eleitor de que o senhor não pode ser surpreendido novamente no caso de um futuro mandato por irregularidades cometidas por colaboradores seus?

Outra pergunta que permite que o presidente fale exatamente o que deseja que fique gravado na cabeça da população (Homer Simpson): que não dá para saber de tudo, não dá para vigiar todo mundo e coisas do gênero. Lula usa de uma comparação ridícula, mas que pode funcionar com o povão que tem preguiça de pensar: cita os pais que só vão saber que seus filhos cometem delitos quando estes são presos ou quando sai nos jornais.

Seria o caso da apresentadora dizer que a resposta não responde adequadamente à pergunta feita, por dois motivos: 1) porque não se pode comparar o grau de responsabilidade e o número de vidas envolvidas no trabalho de um presidente da república com o de um pai ou uma mãe de família. Compare com uma empresa, presidente. Se fosse uma empresa, como é que se qualificaria um presidente de empresa que não sabe de nada? e 2)porque isso não é verdade. Um pai e uma mãe podem não querer ver, ou então não ficarem em casa para ver – o que lhes desqualificaria como bons pais. Mas dizer que foram bons pais e nada viram ou perceberam é impossível. Porém, ao invés disso, a apresentadora perguntou se o que se esperava de um presidente seria o comportamento de uma mãe zelosa. Bem, nem de todo foi ruim. Melhor perguntar isso do que nada. E lá se foram 3 perguntas em torno do mesmo tema.

Lula: Ah, posso. Deixa eu lhe dizer uma coisa com muita tranqüilidade Fátima. Primeiro, eu tenho a responsabilidade por qualquer erro que qualquer funcionário público cometer no Brasil. São mais de 1,2 milhão. Eu sou o presidente da República, se eles cometerem um erro, direta ou indiretamente eu tenho responsabilidade de agir. Quando eu fico sabendo, eu puno afastando, faço sindicâncias e as pessoas então são investigadas de acordo com a lei. E um ministro não está fora disso e um outro funcionário. Nós temos prendido gente da Polícia Federal.

Fátima Bernardes: O senhor acha então que o senhor também errou presidente no caso dessas denúncias, o senhor também teria errado, o que o senhor poderia fazer de diferente no caso de um novo mandato?

Lula: Eu só poderia fazer diferente se eu soubesse antes. Eu soube depois que aconteceu. O dado concreto, Fátima, é que muitas vezes, ou por uma fé, ou quem sabe até porque estamos vivendo uma guerra política, as pessoas ousam dizer o seguinte: ‘olha, mas o presidente deveria saber de tudo’. Ora, vamos ser franco, vamos ser honestos entre nós. Está cheio de famílias que têm problema dentro de casa e a família não sabe. Está cheio de pai e mãe que ficam sabendo que o seu filho cometeu um delito pela imprensa, ou quando a polícia prende. Como é que pode alguém querer que o presidente da República embora tenha que assumir responsabilidade por todos os lados saiba o que está acontecendo agora na Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo ligada ao Ministério da Agricultura. Como é que eu posso saber agora o que está acontecendo com os meus ministros que não estão aqui.

Fátima Bernardes: Mas presidente, comparar com uma mãe zelosa, apaixonada, cega de amor, o senhor acha que o eleitor espera do senhor esse comportamento ou o comportamento de alguém que possa administrar e organizar, coordenar o governo.

Lula: Veja, isso não é administração. Administração você administra fazendo o que nós estamos fazendo. Primeiro, fazendo sindicância, mandando prender. Nunca foi presa tanta gente nesse país e de crimes que começaram em 85, 80, 90, são quadrilhas históricas no governo que estava embaixo do tapete e que nós resolvemos colocar os organismos públicos para funcionar. E a Polícia Federal tem trabalhado de forma excepcional. O Ministério Público tem trabalhado com a maior isenção possível e a Controladoria-Geral da União que é uma coisa criada por nós, com um ministro indicado por mim, tem feito praticamente todos os relatórios de todas as denúncias. Porque nós não queremos esconder absolutamente nada.

William Bonner: Só uma observação candidato. No caso específico do mensalão, esse escândalo da corrupção, na verdade o governo não denunciou nada, a denúncia partiu lá depois daquele escândalo nos Correios e mais tarde com as revelações, as denúncias do ex-deputado Roberto Jefferson. Mas a pergunta que eu queria fazer ao senhor diz respeito à traição. O senhor disse que a todos os brasileiros nesse caso que foi traído, mas até hoje o senhor não disse quem foi que traiu o senhor, não deu os nomes dos traidores. Num outro momento, por outro lado, o senhor manifestou solidariedade abertamente a ex-deputados petistas e a ex-ministros seus. Antes de se tornar presidente, a memória que o Brasil tem candidato, era de alguém que veementemente cobrava punição para quem quer que aparecesse diante de uma câmera de televisão suspeito de alguma coisa, mesmo que as culpas não tivessem sido provadas ainda. O que foi que fez o senhor mudar tanto de comportamento?

Boa a observação de Bonner sobre quem fez a denúncia. Mas, reparem que o apresentador fala da traição, fala do apoio que o presidente continua a dar aos que tiveram que ser afastados de seus cargos por causa dos escândalos de corrupção – entretanto, a pergunta é outra e, naturalmente, permite que Lula fale o que quer e não sobre a traição (respondendo sobre quem o traiu, por exemplo) e nem sobre o fato de estar apoiando pessoas que praticaram atos criminosos.

Lula: Primeiro você deve estar falando de outra pessoa. Eu nunca pedi para que alguém fosse condenado antes de se provar a sua culpa.

Mentira. Pediu o impeachment do ex-presidente Collor e ajudou a exigir o seu afastamento antes de qualquer julgamento (http://72.14.209.104/search?q=cache:U8-zKdA8ZY4J:www.presidenciadarepublica.gov.br/presidente+lula+participou+do+impeachment+de+collor&hl=pt-BR&gl=br&ct=clnk&cd=3.). Julgamento esse, aliás, que, correto ou incorreto, absolveu o ex-presidente por falta de provas. Coisa que Lula e o PT conseguiram que fosse, agora, o motivo pelo qual o próprio presidente Lula não pudesse ser afastado do cargo. E isso não poderia ter passado sem questionamento por parte dos apresentadores do JN.

William Bonner: Afastamentos, demissões.

Lula: Eu afastei todos que estavam dentro do governo federal foram afastados, todos, sem distinção. Todos os funcionários públicos seja de primeiro, segundo ou terceiro escalão.

William Bonner: O senhor afastou o ex-ministro da Casa Civil?

Lula: Foi afastado. Foi afastado.

William Bonner: O senhor o afastou?

Lula: Eu o afastei. Afastei o Zé Dirceu, afastei o Palocci, afastei outros funcionários que estavam envolvidos e vou continuar afastando. Agora, quando se trata de punir William, punir significa você respeitar o estado de direito. Eu quero pra todo mundo o que eu quero pra mim. O direito de provar que eu sou inocente e o meu acusador provar que eu sou culpado. O governo não acusa. O governo age. O governo não sai pra imprensa dizendo: ‘olha, tal pessoa cometeu um erro’, não, o governo pune, afasta e abre sindicância. E os órgãos do Poder Judiciário, da Polícia Federal é que vão investigar. E isso é a única forma de nós continuarmos combatendo a corrupção e a malversação do patrimônio público desse país.

Mentira, outra vez. Mas, nesse caso, William Bonner insistiu nas perguntas certas – dando a entender que não era verdade o que Lula falava – mas, ele realmente não pode fazer muita coisa além disso e muito menos obrigar o presidente a falar a verdade.

Fátima Bernardes: Antes da gente mudar então de assunto, o seu amigo Paulo Okamoto disse que teria pago uma dívida do senhor de R$ 30 mil, uma dívida que o senhor nem reconhece. Pelas sua declarações entregues à Justiça Eleitoral o senhor poderia até ter pago essa dívida. Por que o senhor deixou então ele arcar com esse prejuízo?

A pergunta seria: Como é que Okamoto poderia ter pago, do próprio bolso, uma dívida de R$29 mil, se ele ganhava, POR ANO, R$45 mil?

Lula: Primeiro, porque ele admite que cometeu um erro de não ter descontado na minha indenização quando eu me afastei do PT. Segundo, eu não devo ao PT, portanto eu não deveria pagar. O que eu disse é o seguinte: quer pagar você paga porque eu não vou pagar porque não devo ao PT.

Caberia, então, outra pergunta: Então, presidente, o senhor está dizendo que Paulo Okamoto pagou uma dívida – que, aliás, não tinha condições financeiras para pagar – mesmo depois do senhor ter dito que a dívida não existia? E, pelo que eu me lembre, presidente, tanto o senhor quanto o Okamoto disseram, na ocasião em que se divulgou o fato na imprensa, que o senhor nem sabia que ele (o Okamoto) havia pago a dívida. Como é que, agora, o senhor diz que falou para o Okamoto que se ele quizesse pagar a dívida que pagasse? Então, o senhor soube da dívida, antes do Okamoto pagar?

Fátima Bernardes: Mas o fato dele, de aliados dele, terem tentado tanto bloquear aquela quebra de sigilo, não pode levar o eleitor a pensar que havia algo a esconder?

Lula:
É um direito dele não querer quebrar o sigilo dele. É um direito de qualquer cidadão. Amanhã isso pode estar acontecendo com você, pode estar acontecendo comigo, pode estar acontecendo com o William e nós vamos utilizar todos os mecanismos que o direito nos dá para que nós possamos nos defender.

William Bonner:
Ainda que fosse uma questão indelicada, que indiretamente envolvesse o nome do presidente.

Aqui caberia: Mas, presidente, as acusações contra este senhor são muito graves, são crimes sérios. E a única forma de se obter provas sobre estas acusações é quebrar o sigilo bancário de Okamoto. Não há um só motivo para que a Justiça não permita que isso aconteça. Isso poderia, inclusive, se enquadrar em obstrução, pelo fato de estar atrapalhando e até impedindo que seja feita uma investigação adequada. Além do que o fato (agora sim) “indiretamente envolve(sse) o nome do presidente”.

Lula: Ainda que alguém pudesse imaginar que nesse país um presidente da República, sabe, se entendesse que tivesse qualquer culpa ficaria muito mais barato ter pago os R$ 29, R$ 28 ou R$ 27 mil. E eu continuo dizendo, quero aproveitar até a pergunta para dizer o seguinte: olha, não devo, não tomei dinheiro emprestado e por isso não paguei.

William Bonner: Presidente, vamos falar um pouquinho de segurança pública. Antes do senhor assumir a presidência, quando candidato, o senhor repetia: o Brasil não produz cocaína. Pra gente combater tráfico de cocaína, tráfico de arma tem que fechar as fronteiras, tem que reforçar a Polícia Federal, é um trabalho da Polícia Federal, nas fronteiras, nos portos, nos aeroportos do Brasil. Há quatro anos, o senhor é o comandante maior da Polícia Federal brasileira e, no entanto, o que se percebe hoje é que o tráfico aterroriza ainda mais a população brasileira. Onde é que o senhor errou?

Essa foi boa. Mas, infelizmente, serviu para o presidente sair falando das ações da PF. É bom que fique claro que nem tudo que a PF faz é por conta do Governo. Ela age muito por conta própria também – não se deixa amordaçar e acorrentar pelo PT e pelo governo do presidente Lula. Uma parte da PF, graças a Deus, age livre e corretamente. Resultado: terminaram a entrevista com a única coisa que Lula tem números bons para oferecer e agradar a população – embora a gente saiba que ele não tem lá muitos méritos em relação ao trabalho da PF. Perguntem aos policiais sobre a Medida Provisória 305 (http://infomix-cf.blogspot.com/2006_07_01_infomix-cf_archive.html - mais para o final das publicações, sob o título MP 305 – Protesto Geral)

Lula: Eu penso que nós precisamos conversar esse assunto com a maior seriedade. Em primeiro lugar, o Brasil tem praticamente 17 mil quilômetros de fronteira, não são 17 metros. São 17 milhões, 7,760 milhões de costa marítima e quase 9 milhões de fronteira seca. Se você tivesse um exército de 3 milhões de soldados, ou a Polícia Federal com 4 milhões, ainda assim você não controlaria toda a nossa fronteira.

Meu Deus! Sem comentários!

William Bonner: Mas o senhor como candidato parecia desenhar um quadro mais fácil.

Lula: A Polícia Federal está desbaratando quadrilha e prendendo quadrilha vinculada ao narcotráfico como jamais foi preso nesse país. Quando terminar a entrevista, eu vou entregar para você um relatório do trabalho que a Polícia Federal fez.

William Bonner: Nós acompanhamos como jornalistas.

Lula: Para vocês perceberem o seguinte: que quando sai a notícia, sai a notícia que a polícia desbaratou uma quadrilha, mas não diz desde quando funcionava essa quadrilha. Dá a impressão que aconteceu ontem, não, aconteceu há muito tempo. E nós estamos não apenas investindo de forma excepcional na inteligência da Polícia Federal, como estamos investindo em criar condições para que ela tenha instrumento para trabalhar.
Fátima Bernardes: O nosso tempo estourou candidato. O senhor tem 30 segundos para encerrar. Se o senhor se reeleger o que o senhor considera que terá cumprido a sua meta se o senhor tiver feito.

Lula: Veja, eu pretendo continuar dando seqüência ao que nós estamos fazendo. Que o Brasil viva o seu melhor momento econômico, o Brasil cresce o emprego, cresce a economia, crescem as exportações e importações, a única coisa que cai é o salário, digo, é a inflação e os juros que estão caindo. O resto, os trabalhadores tiveram aumento de salário, os aposentados tiveram aumento de salário e o nosso tempo acabou, é uma coisa que está baixando também.

Ato falho, presidente, ato falho: “a única coisa que cai é o salário”. Bem, agora o presidente falou uma coisa que é verdade. E olha que o pessoal da campanha já devia estar comemorando (porque esse negócio de extensão de fronteira quase ninguém sabe mesmo...) o desempenho do presidente, por ter falado tudo o que queria!