A verdade não tem dono e os que têm amor a ela trabalham para fazê-la chegar ao maior número possível de pessoas, sem que isto dependa de que seus nomes estejam vinculados ao fato dela ter vindo à tona. Não interessa como, o que importa é que a verdade apareça ou que, em busca dela, sujam alternativas bastante verossímeis ao que se venha divulgando sobre determinado fato como verdade absoluta. É por isso que eu não faço cerimônia em convidar os leitores a fazer uma reflexão sobre as pesquisas eleitorais. Não preciso agradar a ninguém e não tenho pretensão de ser a dona da razão. Mas, cá com meus botões, tenho pensado muito sobre essa avalanche de dados que são despejados diariamente na imprensa como sendo o resultado de pesquisas eleitorais.
Até agora, do Oiapoque ao Chuí (pois eu me comunico com pessoas do país inteiro), o que temos visto são, desde garis, motoristas de táxi, ascensoristas (onde eles ainda existem) e vendedores de loja, até empresários, médicos, dentistas e outros profissionais liberais – todos indignados e revoltados – dizendo que, nas próximas eleições, votam contra Lula e contra o PT. Os únicos lugares onde não se vê isso acontecer são nas pesquisas eleitorais e nas propagandas do Governo Federal.
Eu quero que as pessoas parem para pensar, com sinceridade, a respeito de quem é que vai votar no Lula para presidente. Você, cidadão, conhece alguém? Está difícil, não é?
Noventa por cento dos aposentados não votam em Lula, taxistas também não. Sessenta por cento dos militares da ativa e 99,9% dos da reserva querem que o atual presidente se mude com sua mulher para a Itália – já que Dona Mariza fez questão de pedir cidadania italiana para ela e para seus filhos, durante o mandato de seu marido com presidente da república (é com letra minúscula mesmo). Os ex-empregados da Varig não votam em Lula, nem os pilotos de maneira geral, já que, com a criação da ANAC, que substituiu o DAC, pela renovação de um exame médico (CCF - Certificado de Capacidade Física) e pela renovação da Licença de Vôo eles terão que pagar R$ 2.339,00, a cada 6 meses. No tempo do DAC, administrado pelos “ditadores, sanguinários” militares, as duas licenças somavam aproximadamente R$200,00. Igualmente as tarifas de embarque de passageiros e as aeroportuárias foram majoradas em 1.000%.
A classe média não vota em Lula - pelo menos 90% dela. Pequenos, médios e até alguns dos grandes empresários não votam no atual presidente. Pequenos, médios e grandes proprietários rurais não suportam a idéia de ver Lula na presidência por mais 4 anos. Cinqüenta por cento da classe artística do país não pretende reeleger o “mão suja”. Funcionários públicos de carreira não votam em Lula. Profissionais liberais não votam em Lula. O pessoal que ganha salário mínimo ou que está desempregado já aprendeu que não se vota em quem prejudica classe média e empresários, na medida em que a “bomba” estoura nos mais pobres e necessitados. Enfim, a lista é infindável e não caberia num artigo.
Quem é que, então, que vai votar em Lula? Pois é, eu imagino que quatro tipos de pessoas vão votar neste cidadão: os que foram empregados ou favorecidos por ele (e os que estão em vias de ser, caso ele seja reeleito), os que têm medo de perder as poucas migalhas que algum tipo de bolsa-esmola lhes garante, os banqueiros e os mega-empresários que vislumbram os lucros dos monopólios (ainda que travestidos de várias marcas ou sob vários nomes) que estão entusiasmadamente construindo (em troca de propaganda e de doações para o Governo do PT) nos mais diferentes tipos de atividade.
Somando todas essas pessoas, entre as quais estão os militantes do PT (incluídos no primeiro tipo de pessoas acima citado), com muito otimismo, poderíamos chegar ao número de 39 milhões de eleitores. Nas próximas eleições teremos um total de quase 126 milhões de eleitores. Suponhamos que o total de votos nulos e brancos atinja a marca de 11% e que o de abstenções chegue a 17%. Isso significa que o total de votos válidos seria de 90,72 milhões (126 - 13,86 - 21,42). Vamos supor que Heloisa Helena fique com 14% do eleitorado, Cristovam Buarque com 1,5% e os outros candidatos com 1%. Então sobrariam 69,93 milhões de eleitores (90,72 – 17,64 – 1,89 – 1,26). Supondo-se que Lula tenha 39 milhões de votos, isso representa 30,9% do eleitorado total e 42,99% dos votos válidos – muito longe dos 50%+1 necessários para que não houvesse um segundo turno. E mais: significa que Alckmin teria 25,6% dos votos válidos, ou seja, 30,93 milhões de votos.
Mantendo-se os índices de votos nulos e brancos e de abstenção do primeiro turno, no segundo, teríamos um Lula ainda com 39 milhões e um Alckmin com 30,93 mais os 17 milhões de votos que tenderiam a vir daqueles que teriam votado em Heloísa Helena – já que a tendência seria que mais eleitores optassem por votar contra Lula.
Observem que eu tive o cuidado de exagerar todos os números percentuais para acima do que seria o esperado e do que seria o das probabilidades. Isso significa que, apenas por projeção minha, uma cidadã comum, munida de bom senso e de uma calculadora, o máximo que Lula conseguiria era ir para um segundo turno com Alckmin – jamais vencer no primeiro turno (essa possibilidade é quase nula em termos lógicos reais).
O mais importante é ter a consciência de que é quase impossível que o eleitorado de Lula tenha crescido nesses 4 anos de governo, ainda que ele tenha tentado fazer com que isso acontecesse, através da farta distribuição de cargos no PT e no funcionalismo público (os dados do Ministério do Planejamento revelam que a gestão Lula, desde 2003, contratou 110 mil funcionários públicos e criou 29 empresas estatais – quem duvidar é só verificar nestas reportagens: http://clipping.planejamento.gov.br/Noticias.asp?NOTCod=239802 e http://www.terra.com.br/istoedinheiro/435/economia/farra_contratacoes.htm). Mas, o mais provável é que estas pessoas já fizessem parte do eleitorado do atual presidente e, por isso mesmo, acabaram sendo beneficiadas nos planos governamentais de super-aparelhamento do Estado. Portanto, eu ouso concluir que um acréscimo de eleitores do PT deva estar mais concentrado na lista daqueles para os quais o Governo Lula distribuiu algum tipo de bolsa-esmola.
Entretanto, deve entrar nesta conta também o número de eleitores que o partido perdeu em função dos escândalos provocados pelos casos de corrupção em que esteve envolvido e também por causa de uma série de atentados contra a Constituição e contra o Estado de Direito cometidos durante o governo de Lula e do PT, demonstrando, inclusive, tendências fascistas. E tudo leva a crer que esse número de eleitores perdidos supere enormemente o de pessoas que passarão a votar no atual presidente e em seus correligionários do PT por terem sido eventualmente beneficiadas pelo governo.
Agora vejam os números que revelam as pesquisas. A última pesquisa do Ibope para a CNI (Confederação Nacional de Indústria) divulgou que o presidente Lula manteve 46% de intenção de voto desde a última pesquisa, e que ainda venceria a eleição presidencial no primeiro turno. Isso significa que, dos 126 milhões de eleitores, 57,96 milhões votariam em Lula. Sabendo-se que, nas eleições de 2002, ele obteve 39 milhões de votos no primeiro turno e que foi eleito com 52,8 milhões de votos, no segundo turno, num universo de 115 milhões de eleitores (com apenas 86 milhões de votos válidos), é simplesmente impossível que os resultados das atuais pesquisas estejam revelando uma probabilidade verdadeira, se considerarmos tudo que já foi dito acima sobre a muito provável queda no número de eleitores de Lula, de 2002 para cá.
Afinal, como é que são escolhidos os universos onde são feitas essas pesquisas? Sim, porque são revelados apenas o número de cidades em que foram entrevistadas um total de pessoas que geralmente se aproxima das 2 mil. O problema é que se você fizer uma pergunta sobre eleições e votos para moradores Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, por exemplo, provavelmente vai obter resultados bem diferentes do que se fizer as mesmas perguntas para os cariocas que vivem no Jardim Botânico. Portanto, revelar (ou considerar) apenas as cidades – ou logradouros – e o número de entrevistados, tecnicamente não invalida os resultados desse tipo de pesquisa, mas também não pode servir de fiel da balança daquilo que corresponda à realidade.
Eu não posso entender de outra forma que não seja a de tentar conduzir os votos dos eleitores ou a de construir um álibi para uma possível fraude eleitoral a veiculação dos resultados de pesquisas eleitorais que não traduzem o que uma infinidade de pessoas está a apreender da realidade. Eu não seria leviana a ponto de acusar os institutos de pesquisa de cometerem fraudes ou manipulação de dados. Estas empresas trabalham com metodologias científicas e procuram ser criteriosas no trabalho que fazem. Entretanto, isso não significa que aqueles que encomendam os trabalhos não possam ter estabelecido determinados tipos de estudos e objetivos da análise que conduzam aos resultados revelados pelas pesquisas e, ainda, como detentores desses resultados, não possam fazer divulgações distorcidas dos mesmos.
Eu já escrevi um artigo sobre voto eletrônico falando sobre as possibilidades de fraude nas urnas eletrônicas. O último relatório publicado a respeito desse assunto é o Relatório Brennan e mais informações podem ser obtidas nesta matéria publicada no site Observatório de Imprensa. Mesmo que aparentemente não possamos fazer nada a respeito desse assunto, é importante que o maior número possível de pessoas fique ciente do sistema eleitoral a que nós brasileiros estamos submetidos e do risco que isso pode representar para a nossa frágil democracia.
Pesquisas assim divulgadas combinadas com votação eletrônica são alarmantes, principalmente num país onde a mentira tornou-se, pela sua repetição, uma alternativa à verdade e onde um presidente da república segue mentindo que não sabia de nada sobre os crimes que a quadrilha que o cercava (e que o ajudou a chegar aonde chegou) vinha praticando e não há nada nem ninguém que tenha conseguido romper a barreira do aparelhamento estatal - engendrado pelo partido desse próprio presidente -, para tomar as medidas que seriam cabíveis em casos como esse.
O sistema republicano democrático, embora não seja completamente justo e esteja distante do que seria o ideal, ainda é o melhor a que uma sociedade possa estar submetida nos dias de hoje. Faz parte das táticas para se obter melhores resultados dentro desse sistema de representatividade o voto útil. A bem da verdade, quase sempre temos que recorrer a essa alternativa para que sejam eleitos aqueles indivíduos que julgamos ser os menos piores. Agora não é hora de se discutir as falhas e os vícios desse sistema – isso pode ficar para depois das eleições (como já tem ficado há muito tempo). A hora é de usar o voto útil e de não ter vergonha nem medo de fazer isso. Se as urnas eletrônicas não trabalharem corretamente, isto não terá sido por causa de nós, eleitores; mas, está nas nossas mãos sabermos usar a única arma que nos resta. Nas próximas eleições, não vote Nulo, não vote Branco nem se abstenha. Se você quiser realmente protestar, VOTE ÚTIL – e eu não preciso dizer o que isso significa.
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