
A festa de abertura foi maravilhosa, mas – não se sabe ainda se feliz ou infelizmente – entrará para a História do PAN como a primeira na qual a declaração de abertura não tenha sido feita pelo chefe de Estado do país que abriga a cidade anfitriã, desde 1951, ano em que se realizaram os primeiros Jogos Pan-Americanos, em Buenos Aires (Argentina). O mundo inteiro viu, segundos antes do pronunciamento da curtíssima frase com a qual se declaram abertos os Jogos, a imagem do presidente Lula, em frente ao microfone, discurso na mão - tudo a postos. Ficou na promessa.
Começou o “disse-me-disse”, tão característico destes anos de governo petista. Segundo a secretaria de imprensa do Palácio do Planalto, teria havido um desentendimento entre os cerimoniais. O Prefeito César Maia disse que ocorrera uma confusão e que a assessoria do presidente teria pedido para que ele não fizesse a declaração de abertura, tendo-se esquecido, porém, de informar sobre isso ao presidente da Organização Desportiva Pan-Americana (Odepa), Mario Vásquez Raña, que, ao final do breve discurso que antecedia à declaração, disse: "Tenho a honra de convidar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a que nos honre fazendo a declaração inaugural dos nossos XV Jogos Panamericanos".

Antes disso, Lula já tinha sido vaiado ao entrar no estádio. O famoso locutor Galvão Bueno, da TV Globo, uma das emissoras de TV que fazia a transmissão ao vivo da festa de abertura, tentou justificar as vaias, dizendo que teriam sido provocadas pelo atraso do início do evento. Entretanto, a coisa foi ficando indisfarçável a partir do momento em que todas as vezes que a imagem do presidente aparecia no telão, instantaneamente, ouvia-se o inconfundível som das vaias populares. Depois, já não era nem mais preciso que se mostrasse a imagem, bastava que o nome de sua excelência fosse pronunciado em algum microfone. Foi assim quando Nuzmann citou o presidente em seu discurso, bem como quando, em seguida, o presidente da Odepa, como é de praxe, cumprimentou nosso chefe de estado, ao iniciar sua fala.

A cerimônia de abertura oficial do PAN começou por volta das 18h e foi marcada por luzes, música, fogos, coreografias, alegria, muita beleza e diversão. A grande maioria do público atendeu ao pedido dos organizadores do evento e compareceu com roupas brancas ou de verde e amarelo. Primeiro a discursar, Nuzman exaltou o Pan-Americano, que custou cerca de R$ 3,5 bilhões aos cofres do governo federal (ou seja, a nós brasileiros), como prova de que o Brasil teria condições de realizar grandes eventos esportivos – ele está mirando os Jogos Olímpicos de 2016.
Depois dele, foi o presidenta da Odepa quem pronunciou poucas palavras, em espanhol. Sobre isso, é interessante ressaltar prova da grande afinidade que existe entre nós brasileiros, colonizados por portugueses, e nossos vizinhos, colonizados por espanhóis: a cada momento que Vásquez iniciava uma frase com referência ao dia de hoje ("hoy" (oi), em espanhol), o povo respondia efusiva e educadamente com um sonoro 'oooooooooooooooiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii', como se retornasse um cumprimento. Parece que esse negócio de ensinar espanhol nas escolas, em detrimento do inglês (cujo grau de eficiência também era péssimo) e de empurrar goela abaixo dos brasileiros o tal idioma como nossa segunda língua não está lá dando muito certo. Providenciem-se tradutores ou incentivem-se os convidados a proferir discursos em português – assim como faz o papa. Fica mais simpático.
A festa foi aberta por 1,5 mil percursionistas que, ao som de clássicos do chorinho brasileiro, formaram um corredor por onde iam entrando no estádio as delegações dos 42 países participantes. Os atletas foram sendo acomodados em cadeiras especiais. O público brasileiro fez jus à fama de alegre, festeiro e receptivo.

Igual espontaneidade o público manteve com as delegações da Bolívia e da Venezuela – solenemente vaiadas. De onde será que esse povo tirou essa antipatia?! Os atletas devem estar agradecidos a seus respectivos presidentes, Evo Morales e Hugo Chavez – dois dos chefes de estado incluídos entre os muitos que não compareceram à festa de abertura do PAN. No caso deles, foi melhor assim. Dos 42 países inscritos, apenas seis enviaram representantes, entre chefes de Estado e de governo: Panamá, Honduras, Canadá, Aruba, Antilhas Holandesas e Antígua e Barbuda. Notável prestígio do Brasil e do PAN!


Pois é, o povo está “vendido” (gíria carioca para expressar situação em que uma pessoa está impotente) diante da realidade brasileira. Só lhe resta gritar. E assim tem feito sempre que possível. Vaia quando reprova e aplaude quando aprova – e não há caixa-preta eletrônica que consiga esconder com números a verdade que esses gritos carregam.
Bem, depois da entrada das equipes, começou o espetáculo 'Viva Essa Energia', título também da canção composta por Arnaldo Antunes e Liminha para o PAN do Rio. A música foi criticada por alguns sambistas cariocas e chegou a ser vaiada pelo público - mas não na festa e sim durante o último ensaio, antes da abertura dos Jogos. Prova de que sensatez é o que não faltou aos presentes à abertura em suas manifestações. O espetáculo apresentado levou dois anos e meio para ser produzido pela equipe liderada por ninguém menos do que o vice-presidente de entretenimento da Disney, Scott Givens. Mais cedo ou mais tarde, os brasileiros aprenderão a separar o joio do trigo entre os norte-americanos – e entre nossos vizinhos também.
Após 38 dias de viagem, passando por 51 cidades brasileiras, a tocha do PAN entrou no Maracanã nas mãos do velejador Torben Grael, dono de duas medalhas olímpicas de ouro, passou pelas mãos de diversos outros atletas brasileiros não menos famosos, até chegar a Joaquim Cruz, ouro no atletismo das Olimpíadas de Los Angeles (1984), que acendeu a pira. A cantora baiana Daniela Mercury encerrou a festa cantando Aquarela do Brasil.
Lula deixou o Maracanã no mesmo carro do governador Sérgio Cabral Filho - o primeiro abatido e o segundo sorrindo plasticamente. Ninguém quis falar com a imprensa. Era esperado que Lula entregasse a primeira medalha a ser dada no PAN, no dia seguinte à cerimônia de abertura, sábado, aos vencedores da maratona aquática – não deu.


Lula deixou o Maracanã no mesmo carro do governador Sérgio Cabral Filho - o primeiro abatido e o segundo sorrindo plasticamente. Ninguém quis falar com a imprensa. Era esperado que Lula entregasse a primeira medalha a ser dada no PAN, no dia seguinte à cerimônia de abertura, sábado, aos vencedores da maratona aquática – não deu.


Todos aqueles que poderiam colocar o Brasil definitivamente nas mãos dos brasileiros, em respeito à própria Constituição, e que não o fazem, apesar de saberem estar mentindo descaradamente ao justificar sua omissão dizendo não haver “clima” para ação, por falta de clamor popular, o próprio povo os desmente, manifestando-se com a única arma que lhe resta, diante de urnas tão eletrônicas e de ruas tão violentas: as vaias. Para quem sabe ler, o pingo do “i” é letra.
Diante disso, resta desejar um bom espetáculo para o público, boa sorte aos atletas e deixar a pergunta: E as pesquisas de popularidade de Lula, hien?!
Christina Fontenelle
14 DE JULHO DE 2007
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(*) Relato de Edgard LC França
Christina,
ReplyDeleteNão dá para afirmar se Lulla chorou de emoção ou por mágoa do público que o vaiou. Fico meio inclinado a achar que foi pelo despeito de não obter a mesma deferência com que o público brindou a entrada da delegação brasileira. O que Lulla mais aprecia não é governar o país, função para a qual foi eleito, mas é ser paparicado, ser a "estrela". Não adianta a "peteléia" querer arrumar desculpa... essa conversa de orquestração... A única coisa que se viu e ouviu no Maracanã foi a reação espontânea de um povo cansado de tanta malandragem dos senhores políticos, traduzidas em pacíficas, estrondosas e merecidas vaias. Aliás, os apupos da platéia naquela tarde memorável, foi a melhor composição para coro de vozes ouvida no Brasil nos últimos tempos. E sem orquestra. E que delicía!