OS PRIVILEGIADOS, OS BIOCOMBUSTÍVEIS E OS IDIOTAS
Parte I
Parte I
Não há mais dúvida nenhuma de que a matriz energética mundial está em processo de transição. O objetivo é retirar do petróleo sua fundamental importância para a manutenção e ampliação do ciclo de desenvolvimento das grandes potências. Não porque sua importância não seja uma realidade hoje, mas porque um capricho da geologia terrestre tenha colocado grandes proporções do ouro negro sob o solo de países cujas lideranças tenham acabado por confundir oportunidade de crescimento e de desenvolvimento destes com oportunidade de expansão imperialista pessoal.
A reação seria mais do que uma simples suposição. Evidentemente não se espera que os biocombustíveis possam substituir completamente os derivados de petróleo, logo ali, depois de amanhã. Quando se diz que o mercado futuro do biodiesel é do tamanho do atual mercado de diesel, muitos acham isto um sonho, algo inatingível. Mas, o Brasil, por exemplo, já chegou a ter mais de 90% da sua frota de carros de passeio movida a álcool – tempo em que já havia, prontos, estudos tecnológicos e de viabilidade para adicionar até 40% de biodiesel ao diesel mineral. Nessa época, o Brasil tornou-se o maior exportador de gasolina para os EUA (por causa dos excedentes do processamento do petróleo para a obtenção de diesel). O Brasil, diga-se de passagem, foi o único país do mundo a desenvolver um programa tão completo de substituição do petróleo. Diga-se de passagem, também, estamos falando da época dos governos militares.
Anos luz à frente dos reles mortais, em termos de conhecimento a respeito do máximo que se possa de ter de controle sobre o futuro do mundo, em relação à economia, à política e ao comportamento social, os fechadíssimos grupos que controlam os destinos da História decidiram, pois, somente a partir dos últimos anos, desvincular o petróleo de suas propriedades “poderio-belicistas” e construir um ambiente mundial calculadamente favorável às transformações da matriz energética mundial.
O ambientalismo surgiu neste contexto e, por mais sabido que seja que, tanto o aquecimento quanto o resfriamento terrestre sejam parte dos ciclos evolutivos do planeta há bilhões de anos, não há como questionar o sucesso do empreendimento alarmista em torno de temas como aquecimento global, preservação florestal, etc., em termos de convencimento da sociedade a respeito do assunto e de ir boicotando o petróleo e os gases naturais como as principais fontes de energia. Sucesso absoluto.
Não haveria nada de mal nisso se não fosse por dois motivos: primeiro, se o ambientalismo fosse apenas o ambientalismo bem intencionado e não instrumento para criação de commodities; e, segundo, se, por trás de tudo isso, não estivessem a mesma ganância dos mesmos tipos de homens de sempre. Isso para não falar da relação deste tema com a ressurreição dos holofotes sobre a guerra fria – que, na verdade, nunca deixou de existir. Existe um artigo (longo, porque o tema exija), escrito por Nilder Costa, que esclarece tudo sobre ambientalismo e que deveria ser tema obrigatório nos chamados programas educativos e de informação das redes de televisão e que também deveria ser de leitura obrigatória em todos os níveis de ensino, nas escolas e universidades do Brasil. Mas, assim como destruíram o Proálcool não espero que as autoridades brasileiras venham a fazê-lo. Sugiro que leiam, arquivem, imprimam, divulguem, etc.
Não tendo bola de cristal, nós, que estamos distantes dos processos de decisões que norteiam os destinos da humanidade, ficamos à mercê dos olhares e da capacidade de percepção dos que se dedicam a analisar passado e presente para tentar realizar prospecções sobre nosso futuro, dentro de um mínimo de lógica verossímil. Sem informações privilegiadas, a maioria dos mortais acaba sendo engolida pelo futuro consumado, sem dele poder usufruir, gozando dos lucros obtidos pelos que, muito antes, já sabiam como seria esse futuro. O que é informação para uns não passa de mera futurologia para outros.
Alguns poucos brasileiros – é claro, e não poderia ser diferente – estão entre os privilegiados bem informados. São brasileiros porque nasceram no Brasil. Ponto. Isso não tem nada a ver com brasilidade e muito menos com patriotismo. Para essa gente, o “mot” da modernidade e da globalização é mundializar o cidadão – que, naturalmente, é o idiota que pagará para poder viver, sustentando a riqueza e o poderio de seus algozes. Custo zero – lucratividade máxima. São os idiotas de plantão que vão fazer funcionar a máquina da nova matriz energética mundial – a dos biocombustíveis. Desenvolvimento, riqueza, ascensão social, talvez, mas na medida do possível e do necessário - não segundo as definições de cada um, é claro. Que isso fique bem claro. Ou seja, quem nunca vestiu um Armani deverá ficar muito feliz com imitações populares, com pão e com circo. E que lambam os beiços. Dai aos pobres o que é dos pobres e aos privilegiados o que é dos privilegiados.
No início de fevereiro deste ano, um painel internacional de cientistas convocado pela ONU advertiu o mundo de que o aquecimento global provocado pela queima de combustíveis fósseis e por incêndios florestais já seria irreversível nos próximos trinta anos, mas que os danos poderiam ser amenizados pelo uso de energias renováveis. O combustível limpo ganhou, assim, o status de commodity ecológica global – entra o ouro verde, sai o ouro negro. Tudo dentro da lógica estrategicamente traçada e prevista desde anos atrás. De onde se pensa que saiu a medida da obrigatoriedade de adicionar biocombustíveis a combustíveis derivados de fósseis, que é a mola mestra de todo o sistema de transformação do perfil energético mundial? De alguma alma bondosa preocupada com o ar que respiramos?
Essa obrigatoriedade, que já foi transformada em lei aqui no Brasil, estabelece a mistura de biodiesel ao diesel mineral, inicialmente com 2%, a partir de 2008, e, após 2013, com 5% do volume total. A União Européia também estabeleceu que o biodiesel terá que ser adicionado ao diesel na proporção de 5,75% até 2007. Os EUA estão em vias de fazer o mesmo, mas estão com problemas de padronização. A Índia também vai adotar uma mistura de 5% de etanol na gasolina. E por aí vai...
O Brasil tem potência e potencial nessa área. O risco que se corre é que a ganância sobre a potência destrua o potencial. Ou seja, que sob a desculpa da globalização acabe-se por exportar nosso know-how, colocando o país, mais uma vez, na posição de colônia-celeiro, fornecedora mundial de matéria prima, sem valor agregado, por mais um século de História. Como a geratriz do novo modelo energético está baseada em plantas (cana, soja, mamona, semente de algodão, pinhão manso e outros), que, teoricamente, com as modernas tecnologias podem ser cultivadas nos mais variados lugares do planeta, não há como ignorar que aqueles que investirem em tecnologia e que tiverem melhores condições para a comercialização (quanto a impostos, tarifações, câmbios, infra-estrutura para produção e para escoamento, etc.) serão os grandes beneficiados como um todo – com reflexos na melhoria de vida de todos seus cidadãos (e não se entenda, aqui, cinicamente, “melhoria”, como passar da condição de faminto a de semi-faminto).
Temos muitos exemplos disso no Brasil. Acontece, hoje, com muitas das riquezas minerais que exportamos e com produtos como a soja, que é exportada como grão e não já como óleo, que tem maior valor agregado. Portanto, concentrar-se em commodities é, sem dúvida, uma péssima opção para o país – o que não significa, entretanto, que seja uma péssima opção para alguns poucos privilegiados brasileiros e para alguns, nem tão poucos assim, estrangeiros. E é aí que mora o perigo – para nós, os mortais idiotas, é claro; não para todos.
A reação seria mais do que uma simples suposição. Evidentemente não se espera que os biocombustíveis possam substituir completamente os derivados de petróleo, logo ali, depois de amanhã. Quando se diz que o mercado futuro do biodiesel é do tamanho do atual mercado de diesel, muitos acham isto um sonho, algo inatingível. Mas, o Brasil, por exemplo, já chegou a ter mais de 90% da sua frota de carros de passeio movida a álcool – tempo em que já havia, prontos, estudos tecnológicos e de viabilidade para adicionar até 40% de biodiesel ao diesel mineral. Nessa época, o Brasil tornou-se o maior exportador de gasolina para os EUA (por causa dos excedentes do processamento do petróleo para a obtenção de diesel). O Brasil, diga-se de passagem, foi o único país do mundo a desenvolver um programa tão completo de substituição do petróleo. Diga-se de passagem, também, estamos falando da época dos governos militares.
Anos luz à frente dos reles mortais, em termos de conhecimento a respeito do máximo que se possa de ter de controle sobre o futuro do mundo, em relação à economia, à política e ao comportamento social, os fechadíssimos grupos que controlam os destinos da História decidiram, pois, somente a partir dos últimos anos, desvincular o petróleo de suas propriedades “poderio-belicistas” e construir um ambiente mundial calculadamente favorável às transformações da matriz energética mundial.
O ambientalismo surgiu neste contexto e, por mais sabido que seja que, tanto o aquecimento quanto o resfriamento terrestre sejam parte dos ciclos evolutivos do planeta há bilhões de anos, não há como questionar o sucesso do empreendimento alarmista em torno de temas como aquecimento global, preservação florestal, etc., em termos de convencimento da sociedade a respeito do assunto e de ir boicotando o petróleo e os gases naturais como as principais fontes de energia. Sucesso absoluto.
Não haveria nada de mal nisso se não fosse por dois motivos: primeiro, se o ambientalismo fosse apenas o ambientalismo bem intencionado e não instrumento para criação de commodities; e, segundo, se, por trás de tudo isso, não estivessem a mesma ganância dos mesmos tipos de homens de sempre. Isso para não falar da relação deste tema com a ressurreição dos holofotes sobre a guerra fria – que, na verdade, nunca deixou de existir. Existe um artigo (longo, porque o tema exija), escrito por Nilder Costa, que esclarece tudo sobre ambientalismo e que deveria ser tema obrigatório nos chamados programas educativos e de informação das redes de televisão e que também deveria ser de leitura obrigatória em todos os níveis de ensino, nas escolas e universidades do Brasil. Mas, assim como destruíram o Proálcool não espero que as autoridades brasileiras venham a fazê-lo. Sugiro que leiam, arquivem, imprimam, divulguem, etc.
Não tendo bola de cristal, nós, que estamos distantes dos processos de decisões que norteiam os destinos da humanidade, ficamos à mercê dos olhares e da capacidade de percepção dos que se dedicam a analisar passado e presente para tentar realizar prospecções sobre nosso futuro, dentro de um mínimo de lógica verossímil. Sem informações privilegiadas, a maioria dos mortais acaba sendo engolida pelo futuro consumado, sem dele poder usufruir, gozando dos lucros obtidos pelos que, muito antes, já sabiam como seria esse futuro. O que é informação para uns não passa de mera futurologia para outros.
Alguns poucos brasileiros – é claro, e não poderia ser diferente – estão entre os privilegiados bem informados. São brasileiros porque nasceram no Brasil. Ponto. Isso não tem nada a ver com brasilidade e muito menos com patriotismo. Para essa gente, o “mot” da modernidade e da globalização é mundializar o cidadão – que, naturalmente, é o idiota que pagará para poder viver, sustentando a riqueza e o poderio de seus algozes. Custo zero – lucratividade máxima. São os idiotas de plantão que vão fazer funcionar a máquina da nova matriz energética mundial – a dos biocombustíveis. Desenvolvimento, riqueza, ascensão social, talvez, mas na medida do possível e do necessário - não segundo as definições de cada um, é claro. Que isso fique bem claro. Ou seja, quem nunca vestiu um Armani deverá ficar muito feliz com imitações populares, com pão e com circo. E que lambam os beiços. Dai aos pobres o que é dos pobres e aos privilegiados o que é dos privilegiados.
No início de fevereiro deste ano, um painel internacional de cientistas convocado pela ONU advertiu o mundo de que o aquecimento global provocado pela queima de combustíveis fósseis e por incêndios florestais já seria irreversível nos próximos trinta anos, mas que os danos poderiam ser amenizados pelo uso de energias renováveis. O combustível limpo ganhou, assim, o status de commodity ecológica global – entra o ouro verde, sai o ouro negro. Tudo dentro da lógica estrategicamente traçada e prevista desde anos atrás. De onde se pensa que saiu a medida da obrigatoriedade de adicionar biocombustíveis a combustíveis derivados de fósseis, que é a mola mestra de todo o sistema de transformação do perfil energético mundial? De alguma alma bondosa preocupada com o ar que respiramos?
Essa obrigatoriedade, que já foi transformada em lei aqui no Brasil, estabelece a mistura de biodiesel ao diesel mineral, inicialmente com 2%, a partir de 2008, e, após 2013, com 5% do volume total. A União Européia também estabeleceu que o biodiesel terá que ser adicionado ao diesel na proporção de 5,75% até 2007. Os EUA estão em vias de fazer o mesmo, mas estão com problemas de padronização. A Índia também vai adotar uma mistura de 5% de etanol na gasolina. E por aí vai...
O Brasil tem potência e potencial nessa área. O risco que se corre é que a ganância sobre a potência destrua o potencial. Ou seja, que sob a desculpa da globalização acabe-se por exportar nosso know-how, colocando o país, mais uma vez, na posição de colônia-celeiro, fornecedora mundial de matéria prima, sem valor agregado, por mais um século de História. Como a geratriz do novo modelo energético está baseada em plantas (cana, soja, mamona, semente de algodão, pinhão manso e outros), que, teoricamente, com as modernas tecnologias podem ser cultivadas nos mais variados lugares do planeta, não há como ignorar que aqueles que investirem em tecnologia e que tiverem melhores condições para a comercialização (quanto a impostos, tarifações, câmbios, infra-estrutura para produção e para escoamento, etc.) serão os grandes beneficiados como um todo – com reflexos na melhoria de vida de todos seus cidadãos (e não se entenda, aqui, cinicamente, “melhoria”, como passar da condição de faminto a de semi-faminto).
Temos muitos exemplos disso no Brasil. Acontece, hoje, com muitas das riquezas minerais que exportamos e com produtos como a soja, que é exportada como grão e não já como óleo, que tem maior valor agregado. Portanto, concentrar-se em commodities é, sem dúvida, uma péssima opção para o país – o que não significa, entretanto, que seja uma péssima opção para alguns poucos privilegiados brasileiros e para alguns, nem tão poucos assim, estrangeiros. E é aí que mora o perigo – para nós, os mortais idiotas, é claro; não para todos.
Christina Fontenelle
E-MAIL: Chrisfontell@gmail.com
BLOG/artigos: http://infomix-cf.blogspot.com/
BLOG/Série CAI O PANO: http://christina-fontenelle.blogspot.com/
BLOG/opinião: http://infomix2.blogspot.com/
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OS PRIVILEGIADOS, OS BIOCOMBUSTÍVEIS E OS IDIOTAS
Parte II
O Brasil, nos últimos 10 anos, tem despertado o interesse de investidores estrangeiros, dos mais variados tipos e nacionalidades - todos, entretanto, interessados no mesmo tipo de investimento: comprar e/ou arrendar terras. Terra para investir no negócio dos biocombustíveis e de gado – dois investimentos complementares em vários aspectos, inclusive como instrumentos bastante eficientes (em termos de custo-benefício) para lavagem de dinheiro. Os investidores brasileiros neste setor também são oriundos dos mais inimagináveis segmentos sociais: desde parlamentares, empreiteiros, publicitários, banqueiros, industriais a, vejam só, empresários que sempre viveram do agronegócio. Sem falar nos criminosos e nos terroristas.
As multinacionais também estão no negócio - estas, porém, já mais nitidamente interessadas no negócio de biocombustíveis. A bola de cristal delas é mais eficiente. Elas estão onde ninguém imagina, por que, embora muitos de seus negócios não sejam sigilosos, estão sempre por trás de investimentos aparentemente nacionais. Também estão por trás das parcerias público-privadas – o mais novo pseudônimo de internacionalização. A privatização não é um mal em si mesma – ao contrário, em muitos lugares e ocasiões demonstrou ser uma boa, mais rentável e melhor opção, até mesmo para os consumidores finais do que quer que ofereçam.
O problema está no modelo concentrador que acaba dando origem a imensos cartéis e nos cada vez mais conseqüentes engessamentos dos modelos econômico-sociais das sociedades dentro da aldeia global, em termos de mobilidade social e de aproveitamento do próprio homem como ser criativo, bem como também da divisão do papel produtivo que está sendo determinado a caber a cada uma destas sociedades na economia mundial. Ou seja, é a eternização, basicamente, do mapa mundial de desenvolvimento como está hoje, com melhorias aqui e ali, mas nada que modifique a estrutura estabelecida. Encha os macacos de banana porque macacos não precisam conhecer kiwi.
Até 2010, os estrangeiros terão investido no Brasil mais de US$ 480 milhões na produção e no beneficiamento de produtos agrícolas. Um exemplo dessa pujança é Querência (MT), município vizinho e inserido no Parque do Xingú, onde, em 2005, 10% da área cultivada com soja já estava nas mãos de americanos, de holandeses, de paraguaios e de russos, todos eles atraídos pelo baixo custo da terra e da mão-de-obra no Brasil. Mas, os brasileiros – especialmente os mais bem informados – também estão nessa corrida à compra de terras e de gado – inclusive em Querência. A evidência mais nítida foi a rápida mudança da paisagem no município, que tem sido palco de extensas derrubadas.
Foi lá que o maior sojicultor individual do mundo, Blairo Maggi (PR), atual governador do Mato Grosso, e um dos mais recentes amigos pessoais do presidente Lula, resolveu, há alguns anos, comprar 81,5 mil hectares de terra para instalar uma de suas fazendas - a Tanguro. Aias, o Grupo André Maggi, que pertence a Blairo Maggi, possui mais de 200 mil hectares de terra só em MT e MS. O Grupo acabou de fechar uma das maiores captações internacionais de empresa do agronegócio brasileiro, obtendo empréstimo sindicalizado com bancos internacionais no valor de US$ 230 milhões, que serão usados na aquisição de soja – EM GRÃOS - disponível no mercado, pelas próximas quatro safras, a começar pela de 2006/07.
Não é à toa que Querência tornou-se um dos pólos mais dinâmicos da sojicultura, não só no Mato Grosso, mas também no Brasil. Em 2003, a empresa multinacional Cargill também foi para lá, implantando novas unidades de armazenagem - uma em Querência e outra em Canarana - e anunciando, ainda, a construção de outra unidade na sede da fazenda Gabriela, no Alto Xingu. A Cargill Agricola S.A. e a Maubisa, de Maurílio Biagi Filho, também amigo pessoal do presidente Lula, compraram 63% da Central Energética Vale do Sapucaí Ltda (Cevasa), cujos 37% restantes pertencem a Canagrill.
A Cargill é uma multinacional que atua no mercado de alimentos e de produtos agrícolas, empregando 142 mil pessoas em 61 países. No Brasil, representada pela Cargill Agricola S.A., emprega 22 mil trabalhadores, em 180 cidades. Depois de produzir o etanol aqui, a Cargill o exporta, ainda na forma líquida, para sua subsidiária em El Salvador (América Central), onde é desidratado e reexportado para os EUA – onde a companhia se exime de pagar a sobretaxa cobrada em cima do etanol importado.
Os negócios da Maubisa, sob a direção de Maurílio Biagi Filho, não param por aí. O empresário americano Daniel Slane vai construir uma usina de álcool no Estado do Mato Grosso em sociedade com ele e com Eduardo Farias (do grupo Farias, que tem cinco usinas no país e produtoras de cana no Mato Grosso). Será o primeiro investimento do americano no Brasil. A indústria terá toda sua produção de álcool voltada para o mercado internacional. Nos EUA, o empresário atua no mercado imobiliário e também é sócio, com outros investidores locais, de três usinas de álcool, que produzem 100 milhões de galões de etanol por ano. Uma das usinas de Slane negocia contrato de entrega exclusiva de álcool para a companhia de petróleo Marathon.
Neste ano, os empresários Biagi e Farias também firmaram parceria na reativação da usina de álcool Alcoverde (ex-Alcobras), no Acre. A usina foi inaugurada no fim da década de 80, mas nunca entrou em operação. No ano passado, o governador do Estado do Acre, Jorge Viana (PT), procurou empresários paulistas e da região Nordeste para negociar sociedade na unidade desativada, em uma tentativa de estimular a economia local. A participação de Biagi na Alcoverde é de 10% e a do grupo Farias é de 60%. O governo do Estado do Acre ficará com 5% e pecuaristas e produtores da região com outros 25%. Ninguém dá ponto sem nó. Em janeiro de 2006, em Assis Brasil (Acre), foi inaugurada, pelos presidentes Lula e Alejandro Toledo, a ponte Brasil-Peru, sobre o rio Acre, que separava a fronteira entre os dois países naquela região – abrindo uma rota em direção ao oceano Pacífico. Em março deste ano, a capital do Acre, Rio Branco, já recebeu a visita do cônsul japonês Susumu Segawa e da vice-cônsul Reiko Nakamura, do Consulado Geral do Japão em Manaus, que mantém pequenos projetos de preservação do meio ambiente em toda a Amazônia.
Outro investidor é o empreiteiro Pelerson Penido, dono do grupo Serveng-Civilsan (com patrimônio de R$ 2 bilhões), que também formou, em Querência, há muitos anos, a fazenda Roncador - uma propriedade que é maior do que a cidade de São Paulo, com 697 quilômetros de estradas e 350 quilômetros de pequenos canais que percorrem toda a propriedade, levando água farta, em qualquer época do ano, aos mais de 95 mil animais, entre bois, vacas, novilhas e bezerros da raça nelore. Penido – famoso engenheiro brasileiro que participou, inclusive, da construção de Brasília – ergueu ainda, na propriedade, 100 barragens, asfaltou um aeroporto e fez hidrelétricas e pontes. O Serveng-Civilsan, cuja sede é em São Paulo, é um grupo que possui, entre outras coisas, empresas de ônibus (Pássaro Marrom e a Airport Bus Servise), concessionárias de veículos, pedreiras, empresas agrícolas, uma empreiteira (a Serveng-Civilsan), além da participação acionária na Companhia de Concessões Rodoviárias, que administra os pedágios de estradas como a Dutra e a Anhangüera-Bandeirantes.
Apesar de tudo isso, no início deste mês, o jornal Diário de Cuiabá publicou reportagem dizendo que o Ministério Público Estadual de MT ofereceu denúncia contra Pelerson Penido e mais quatro funcionários da Fazenda Roncador, por manterem trabalhadores em condições semelhantes às de escravidão e pelo crime de formação de quadrilha. É que, em 2004, cerca de 215 trabalhadores foram encontrados pela Polícia Federal em condições degradantes. Mantidos na Roncador desde 1998, eles eram trazidos, de ônibus, de outras regiões, com promessa de trabalho. Quando lá chegavam, além de serem informados de que já deviam o valor da passagem, eram obrigados a comprar mantimentos no armazém da propriedade – ao qual sempre acabavam o mês devendo, e, endividados, não conseguiam ir embora da fazenda.
O Estado de Mato Grosso é um dos mais citados em denúncias sobre trabalho escravo. Curiosamente, também está numa das regiões mais apreciadas por investidores brasileiros no agronegócio. Alguns deles são figuras nacionalmente conhecidas. Muitos são realmente proprietários, com terras e papéis que o provem, geralmente investidores nos negócios de gado, de soja, de álcool e de biodiesel. Outros só são proprietários no papel e alguns, ainda, embora o sejam na realidade, não o sejam justamente no papel.
Lá em Querência mesmo, perto da fazenda Roncador, há uma grande fazenda que se encaixa dentro de uma dessas descrições. Trata-se de uma área gigantesca onde são criadas muitas cabeças de gado. Um dos proprietários seria um jovem mega-instantâneo-super-empresário, desses que a gente descreveria como sendo um ”Ronaldinho” da área em que atua. Tudo gente poderosa – esse negócio de terra, de gado e de combustível verde não é coisa nem para gente pequena nem para pobre assentado não.
Mas não impede que gente que venha da indústria dos assentamentos dê sua mordidinha neste filão – que não se limita ao centro-oeste, é claro. Tanto é que, no último dia 14 de maio, o líder do Movimento dos Sem-Terra (MST), José Rainha Júnior, reuniu 3 mil assentados da reforma agrária, em Mirante do Paranapanema, para lançar um projeto de biodiesel, baseado na cultura de pinhão-manso, no Pontal, oeste do Estado de São Paulo. Ele anunciou uma parceria inédita com empresas estrangeiras ligadas ao agronegócio para escoar a produção. João Cardoso, presidente da Torryana Biodiesel, de Portugal, e Palmiro Soriano, presidente de uma associação de produtores da Espanha, manifestaram interesse em participar da construção da fábrica, na qual Rainha quer que a Federação das Associações dos Assentados e Agricultores Familiares do Oeste Paulista detenha o controle de 60%. O plano teria o aval do presidente Lula.
As multinacionais também estão no negócio - estas, porém, já mais nitidamente interessadas no negócio de biocombustíveis. A bola de cristal delas é mais eficiente. Elas estão onde ninguém imagina, por que, embora muitos de seus negócios não sejam sigilosos, estão sempre por trás de investimentos aparentemente nacionais. Também estão por trás das parcerias público-privadas – o mais novo pseudônimo de internacionalização. A privatização não é um mal em si mesma – ao contrário, em muitos lugares e ocasiões demonstrou ser uma boa, mais rentável e melhor opção, até mesmo para os consumidores finais do que quer que ofereçam.
O problema está no modelo concentrador que acaba dando origem a imensos cartéis e nos cada vez mais conseqüentes engessamentos dos modelos econômico-sociais das sociedades dentro da aldeia global, em termos de mobilidade social e de aproveitamento do próprio homem como ser criativo, bem como também da divisão do papel produtivo que está sendo determinado a caber a cada uma destas sociedades na economia mundial. Ou seja, é a eternização, basicamente, do mapa mundial de desenvolvimento como está hoje, com melhorias aqui e ali, mas nada que modifique a estrutura estabelecida. Encha os macacos de banana porque macacos não precisam conhecer kiwi.
Até 2010, os estrangeiros terão investido no Brasil mais de US$ 480 milhões na produção e no beneficiamento de produtos agrícolas. Um exemplo dessa pujança é Querência (MT), município vizinho e inserido no Parque do Xingú, onde, em 2005, 10% da área cultivada com soja já estava nas mãos de americanos, de holandeses, de paraguaios e de russos, todos eles atraídos pelo baixo custo da terra e da mão-de-obra no Brasil. Mas, os brasileiros – especialmente os mais bem informados – também estão nessa corrida à compra de terras e de gado – inclusive em Querência. A evidência mais nítida foi a rápida mudança da paisagem no município, que tem sido palco de extensas derrubadas.
Foi lá que o maior sojicultor individual do mundo, Blairo Maggi (PR), atual governador do Mato Grosso, e um dos mais recentes amigos pessoais do presidente Lula, resolveu, há alguns anos, comprar 81,5 mil hectares de terra para instalar uma de suas fazendas - a Tanguro. Aias, o Grupo André Maggi, que pertence a Blairo Maggi, possui mais de 200 mil hectares de terra só em MT e MS. O Grupo acabou de fechar uma das maiores captações internacionais de empresa do agronegócio brasileiro, obtendo empréstimo sindicalizado com bancos internacionais no valor de US$ 230 milhões, que serão usados na aquisição de soja – EM GRÃOS - disponível no mercado, pelas próximas quatro safras, a começar pela de 2006/07.
Não é à toa que Querência tornou-se um dos pólos mais dinâmicos da sojicultura, não só no Mato Grosso, mas também no Brasil. Em 2003, a empresa multinacional Cargill também foi para lá, implantando novas unidades de armazenagem - uma em Querência e outra em Canarana - e anunciando, ainda, a construção de outra unidade na sede da fazenda Gabriela, no Alto Xingu. A Cargill Agricola S.A. e a Maubisa, de Maurílio Biagi Filho, também amigo pessoal do presidente Lula, compraram 63% da Central Energética Vale do Sapucaí Ltda (Cevasa), cujos 37% restantes pertencem a Canagrill.
A Cargill é uma multinacional que atua no mercado de alimentos e de produtos agrícolas, empregando 142 mil pessoas em 61 países. No Brasil, representada pela Cargill Agricola S.A., emprega 22 mil trabalhadores, em 180 cidades. Depois de produzir o etanol aqui, a Cargill o exporta, ainda na forma líquida, para sua subsidiária em El Salvador (América Central), onde é desidratado e reexportado para os EUA – onde a companhia se exime de pagar a sobretaxa cobrada em cima do etanol importado.
Os negócios da Maubisa, sob a direção de Maurílio Biagi Filho, não param por aí. O empresário americano Daniel Slane vai construir uma usina de álcool no Estado do Mato Grosso em sociedade com ele e com Eduardo Farias (do grupo Farias, que tem cinco usinas no país e produtoras de cana no Mato Grosso). Será o primeiro investimento do americano no Brasil. A indústria terá toda sua produção de álcool voltada para o mercado internacional. Nos EUA, o empresário atua no mercado imobiliário e também é sócio, com outros investidores locais, de três usinas de álcool, que produzem 100 milhões de galões de etanol por ano. Uma das usinas de Slane negocia contrato de entrega exclusiva de álcool para a companhia de petróleo Marathon.
Neste ano, os empresários Biagi e Farias também firmaram parceria na reativação da usina de álcool Alcoverde (ex-Alcobras), no Acre. A usina foi inaugurada no fim da década de 80, mas nunca entrou em operação. No ano passado, o governador do Estado do Acre, Jorge Viana (PT), procurou empresários paulistas e da região Nordeste para negociar sociedade na unidade desativada, em uma tentativa de estimular a economia local. A participação de Biagi na Alcoverde é de 10% e a do grupo Farias é de 60%. O governo do Estado do Acre ficará com 5% e pecuaristas e produtores da região com outros 25%. Ninguém dá ponto sem nó. Em janeiro de 2006, em Assis Brasil (Acre), foi inaugurada, pelos presidentes Lula e Alejandro Toledo, a ponte Brasil-Peru, sobre o rio Acre, que separava a fronteira entre os dois países naquela região – abrindo uma rota em direção ao oceano Pacífico. Em março deste ano, a capital do Acre, Rio Branco, já recebeu a visita do cônsul japonês Susumu Segawa e da vice-cônsul Reiko Nakamura, do Consulado Geral do Japão em Manaus, que mantém pequenos projetos de preservação do meio ambiente em toda a Amazônia.
Outro investidor é o empreiteiro Pelerson Penido, dono do grupo Serveng-Civilsan (com patrimônio de R$ 2 bilhões), que também formou, em Querência, há muitos anos, a fazenda Roncador - uma propriedade que é maior do que a cidade de São Paulo, com 697 quilômetros de estradas e 350 quilômetros de pequenos canais que percorrem toda a propriedade, levando água farta, em qualquer época do ano, aos mais de 95 mil animais, entre bois, vacas, novilhas e bezerros da raça nelore. Penido – famoso engenheiro brasileiro que participou, inclusive, da construção de Brasília – ergueu ainda, na propriedade, 100 barragens, asfaltou um aeroporto e fez hidrelétricas e pontes. O Serveng-Civilsan, cuja sede é em São Paulo, é um grupo que possui, entre outras coisas, empresas de ônibus (Pássaro Marrom e a Airport Bus Servise), concessionárias de veículos, pedreiras, empresas agrícolas, uma empreiteira (a Serveng-Civilsan), além da participação acionária na Companhia de Concessões Rodoviárias, que administra os pedágios de estradas como a Dutra e a Anhangüera-Bandeirantes.
Apesar de tudo isso, no início deste mês, o jornal Diário de Cuiabá publicou reportagem dizendo que o Ministério Público Estadual de MT ofereceu denúncia contra Pelerson Penido e mais quatro funcionários da Fazenda Roncador, por manterem trabalhadores em condições semelhantes às de escravidão e pelo crime de formação de quadrilha. É que, em 2004, cerca de 215 trabalhadores foram encontrados pela Polícia Federal em condições degradantes. Mantidos na Roncador desde 1998, eles eram trazidos, de ônibus, de outras regiões, com promessa de trabalho. Quando lá chegavam, além de serem informados de que já deviam o valor da passagem, eram obrigados a comprar mantimentos no armazém da propriedade – ao qual sempre acabavam o mês devendo, e, endividados, não conseguiam ir embora da fazenda.
O Estado de Mato Grosso é um dos mais citados em denúncias sobre trabalho escravo. Curiosamente, também está numa das regiões mais apreciadas por investidores brasileiros no agronegócio. Alguns deles são figuras nacionalmente conhecidas. Muitos são realmente proprietários, com terras e papéis que o provem, geralmente investidores nos negócios de gado, de soja, de álcool e de biodiesel. Outros só são proprietários no papel e alguns, ainda, embora o sejam na realidade, não o sejam justamente no papel.
Lá em Querência mesmo, perto da fazenda Roncador, há uma grande fazenda que se encaixa dentro de uma dessas descrições. Trata-se de uma área gigantesca onde são criadas muitas cabeças de gado. Um dos proprietários seria um jovem mega-instantâneo-super-empresário, desses que a gente descreveria como sendo um ”Ronaldinho” da área em que atua. Tudo gente poderosa – esse negócio de terra, de gado e de combustível verde não é coisa nem para gente pequena nem para pobre assentado não.
Mas não impede que gente que venha da indústria dos assentamentos dê sua mordidinha neste filão – que não se limita ao centro-oeste, é claro. Tanto é que, no último dia 14 de maio, o líder do Movimento dos Sem-Terra (MST), José Rainha Júnior, reuniu 3 mil assentados da reforma agrária, em Mirante do Paranapanema, para lançar um projeto de biodiesel, baseado na cultura de pinhão-manso, no Pontal, oeste do Estado de São Paulo. Ele anunciou uma parceria inédita com empresas estrangeiras ligadas ao agronegócio para escoar a produção. João Cardoso, presidente da Torryana Biodiesel, de Portugal, e Palmiro Soriano, presidente de uma associação de produtores da Espanha, manifestaram interesse em participar da construção da fábrica, na qual Rainha quer que a Federação das Associações dos Assentados e Agricultores Familiares do Oeste Paulista detenha o controle de 60%. O plano teria o aval do presidente Lula.
Christina Fontenelle
E-MAIL: Chrisfontell@gmail.com
BLOG/artigos: http://infomix-cf.blogspot.com/
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OS PRIVILEGIADOS, OS BIOCOMBUSTÍVEIS E OS IDIOTAS
Parte III
Parte III
São bilhões e bilhões em investimentos, tudo voltado para a produção e/ou extração de matéria prima. Parece que nosso modelo de desenvolvimento e de inserção nesse processo de mudança da matriz energética mundial está se configurando como o de continuar a ser o de exportador de bens primários e/ou de bens intermediários. Melhorias aqui e ali, enriquecimento de uns e de outros, mas, desenvolvimento mesmo que é bom – daqueles que nos coloquem no primeiro mundo – nada!
A importância do Brasil (não dos brasileiros – que não se confunda) no novo cenário energético mundial poder ser medida, também, pela emblemática visita ao país de um dos maiores investidores do mundo, George Soros, que esteve aqui, no último mês de maio, para, entre outras coisas, participar do São Paulo Ethanol Summit, promovido pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA). A visita é recente, mas os investimentos nem tanto. Soros é um dos principais acionistas da Adecoagro - empresa produtora de alimentos e de energia renovável, que tem negócios no Brasil, na Argentina e no Uruguai.
A empresa está no Brasil desde 2004, quando adquiriu três fazendas nas regiões do oeste da Bahia e do sudeste de Tocantins. Em novembro de 2005, o grupo comprou a Usina Monte Alegre, em Minas Gerais, que, hoje, cultiva 14 mil hectares de cana-de-açúcar na região, processando 1 milhão de toneladas do produto e produzindo mais de 30 milhões de litros de álcool hidratado (etanol) e 80 mil toneladas de açúcar por ano. A Adecoagro pretende criar uma grande empresa de etanol em Mato Grosso do Sul, que contará com três usinas para a produção de energia renovável à base de cana-de-açúcar, numa área de 150 mil hectares, nos municípios de Angélica e Ivinhema.
Os chineses não estão de fora desse negócio. A China, que hoje já é um grande importador de algodão, será, em breve, o maior importador de álcool do mundo. O império oriental investirá no Brasil nos setores que possam assegurar-lhe um fornecimento confiável e regular de produtos estratégicos – enquanto não se apropriar da tecnologia, que é o que costuma fazer. Além da soja, a China está interessada na produção de cana e de matéria-prima para a sua gigantesca indústria têxtil. Em março deste ano, o grupo Farias (de Eduardo Farias, já citado acima), assinou um protocolo de intenções com uma companhia chinesa para implantar uma unidade de grande porte no Maranhão e no aumento da produção em usinas do grupo com vocação para a exportação, como a Usina Pedroza, em Pernambuco, e a Baía Formosa, no Rio Grande do Norte.
Um dos motivos para a escolha do Maranhão, estado que lançou, no ano passado, seu Programa Sucroalcooleiro, foram as condições de infra-estrutura do Porto de Itaqui, que possui umas das maiores profundidades de calado do Brasil. A idéia é embarcar toda a produção de etanol da unidade para o mercado chinês. O Porto do Itaqui vai receber serviços de recuperação dos berços 101 e 102 e ganhará um novo berço, o de número 100, em obras que vão abrir espaço para que novas cargas, e em maior quantidade, sejam movimentadas no porto. Os contratos e ordens de serviço para o início das obras, orçadas em R$ 185 milhões, já foram assinados, em 2006. As empresas vencedoras das concorrências foram a Serveng Civilsan, de Pelerson Soares Penido (já citado acima) e o consórcio formado pela Andrade Gutierrez e a Construtora Odebrecht. É dando que se recebe...
Outro império, a Índia, também se movimenta. Dois de seus mega-conglomerados - a Bajaj Hindusthan e a Reliance Industries - compraram terras no Brasil para plantar cana e produzir etanol, pois, como a Índia também vai adotar uma mistura de 5% de etanol na gasolina, não terá terras férteis suficientes para ampliar a produção interna de etanol na escala necessária.
O Noble Group, multinacional com sede em Hong Kong, que mantém 70 escritórios em 42 países, também decidiu reforçar os investimentos nos países da América Latina, para transformá-la em seu principal fornecedor global de matérias-primas. Este ano, só no Brasil, investiu US$ 18 milhões em cinco armazéns de grãos (Sorriso e Nova Maringá (MT) e Maringá, Japurá e Jussara (PR)), para elevar sua capacidade de estocagem em 180,5 mil toneladas. A Usina Petribu Paulista, que foi adquirida pelo grupo este ano, por US$ 70 milhões, deve gerar, também, créditos de carbono ao grupo, que possui, ainda, três esmagadoras de grãos na Índia, três na China, uma no Egito e uma na Turquia e mantém dez usinas de etanol nos EUA. Faturamento em 2006? Apenas cerca de US$ 16 bilhões.
Dono de imóveis, de indústrias e até de uma participação no clube italiano de futebol Juventus, o ditador líbio Muamar Kadafi é outro que se preparava, já em março de 2005, para realizar seu primeiro investimento no Brasil, num projeto de irrigação na Bahia, onde aplicaria cerca de US$ 450 milhões. A Libyan Arab Foreign Investiments (Lafico), estatal de investimentos do governo líbio, cultiva terras em 70 países e tem um portfólio diversificado de investimentos de cerca de US$ 10 bilhões em 100 empresas. A Lafico está negociando parceria com o grupo Odebrecht que, eventualmente, associado a uma terceira empresa, disputariam licitação da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Paranaíba (Codevasf) para explorar a área.
A Codevasf é ligada ao Ministério do Desenvolvimento Agrário. Como não tem os recursos necessários para investimento na área, pretende usar as Parcerias Público-Privadas (PPPs) para desenvolver a região. Parte dos recursos para investir viriam da própria Lafico e o restante deveria ser captado no mercado internacional. O interesse dos líbios nasceu desde a visita que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez à Líbia, no final de 2003. Por aqui, três projetos de irrigação na Bahia foram incluídos no PAC: Salitre, em Juazeiro; Estreito IV, nos municípios de Sebastião Laranjeiras e Urandi; e o maior deles - Baixio do Irecê (*) - em Xique-Xique, no noroeste baiano, que deverá ser viabilizado através de uma PPP.
O empreendimento vai demandar investimentos de mais de R$2 bilhões, incluindo a implantação de agroindústrias. Serão mais de 91 mil hectares irrigados, com potencial para produção de matéria prima para biocombustíveis, frutas e algodão. Em maio de 2004, Jaques Wagner, hoje governador da Bahia, mas então secretário especial do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), desembarcou em Trípoli para levar uma carta do presidente Lula a Kadafi, com o objetivo iniciar uma negociação entre o governo e os líbios para o estabelecimento de pólo sucroalcooleiro na região do Baixio do Irecê (BA).
O futuro concessionário vai construir, operar e gerir todo o projeto de irrigação, por 35 anos. Um consórcio, formado pela Codeverde – empresa liderada pelo Grupo Odebrecht e que tem também entre seus acionistas a Braskem – e a Lafico, foi quem realizou os estudos que serão analisados pelo Banco Mundial, que vai chancelar a modelagem e sugerir possíveis mudanças. Pelo modelo de PPP, a concessionária, após montar toda a infra-estrutura, vai arrendar lotes de terras a pequenos, médios e grandes produtores, e também operar o sistema de fornecimento de água. A produção será adquirida pelas indústrias de beneficiamento que serão implantadas nas áreas dos perímetros irrigados.
A importância do Brasil (não dos brasileiros – que não se confunda) no novo cenário energético mundial poder ser medida, também, pela emblemática visita ao país de um dos maiores investidores do mundo, George Soros, que esteve aqui, no último mês de maio, para, entre outras coisas, participar do São Paulo Ethanol Summit, promovido pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA). A visita é recente, mas os investimentos nem tanto. Soros é um dos principais acionistas da Adecoagro - empresa produtora de alimentos e de energia renovável, que tem negócios no Brasil, na Argentina e no Uruguai.
A empresa está no Brasil desde 2004, quando adquiriu três fazendas nas regiões do oeste da Bahia e do sudeste de Tocantins. Em novembro de 2005, o grupo comprou a Usina Monte Alegre, em Minas Gerais, que, hoje, cultiva 14 mil hectares de cana-de-açúcar na região, processando 1 milhão de toneladas do produto e produzindo mais de 30 milhões de litros de álcool hidratado (etanol) e 80 mil toneladas de açúcar por ano. A Adecoagro pretende criar uma grande empresa de etanol em Mato Grosso do Sul, que contará com três usinas para a produção de energia renovável à base de cana-de-açúcar, numa área de 150 mil hectares, nos municípios de Angélica e Ivinhema.
Os chineses não estão de fora desse negócio. A China, que hoje já é um grande importador de algodão, será, em breve, o maior importador de álcool do mundo. O império oriental investirá no Brasil nos setores que possam assegurar-lhe um fornecimento confiável e regular de produtos estratégicos – enquanto não se apropriar da tecnologia, que é o que costuma fazer. Além da soja, a China está interessada na produção de cana e de matéria-prima para a sua gigantesca indústria têxtil. Em março deste ano, o grupo Farias (de Eduardo Farias, já citado acima), assinou um protocolo de intenções com uma companhia chinesa para implantar uma unidade de grande porte no Maranhão e no aumento da produção em usinas do grupo com vocação para a exportação, como a Usina Pedroza, em Pernambuco, e a Baía Formosa, no Rio Grande do Norte.
Um dos motivos para a escolha do Maranhão, estado que lançou, no ano passado, seu Programa Sucroalcooleiro, foram as condições de infra-estrutura do Porto de Itaqui, que possui umas das maiores profundidades de calado do Brasil. A idéia é embarcar toda a produção de etanol da unidade para o mercado chinês. O Porto do Itaqui vai receber serviços de recuperação dos berços 101 e 102 e ganhará um novo berço, o de número 100, em obras que vão abrir espaço para que novas cargas, e em maior quantidade, sejam movimentadas no porto. Os contratos e ordens de serviço para o início das obras, orçadas em R$ 185 milhões, já foram assinados, em 2006. As empresas vencedoras das concorrências foram a Serveng Civilsan, de Pelerson Soares Penido (já citado acima) e o consórcio formado pela Andrade Gutierrez e a Construtora Odebrecht. É dando que se recebe...
Outro império, a Índia, também se movimenta. Dois de seus mega-conglomerados - a Bajaj Hindusthan e a Reliance Industries - compraram terras no Brasil para plantar cana e produzir etanol, pois, como a Índia também vai adotar uma mistura de 5% de etanol na gasolina, não terá terras férteis suficientes para ampliar a produção interna de etanol na escala necessária.
O Noble Group, multinacional com sede em Hong Kong, que mantém 70 escritórios em 42 países, também decidiu reforçar os investimentos nos países da América Latina, para transformá-la em seu principal fornecedor global de matérias-primas. Este ano, só no Brasil, investiu US$ 18 milhões em cinco armazéns de grãos (Sorriso e Nova Maringá (MT) e Maringá, Japurá e Jussara (PR)), para elevar sua capacidade de estocagem em 180,5 mil toneladas. A Usina Petribu Paulista, que foi adquirida pelo grupo este ano, por US$ 70 milhões, deve gerar, também, créditos de carbono ao grupo, que possui, ainda, três esmagadoras de grãos na Índia, três na China, uma no Egito e uma na Turquia e mantém dez usinas de etanol nos EUA. Faturamento em 2006? Apenas cerca de US$ 16 bilhões.
Dono de imóveis, de indústrias e até de uma participação no clube italiano de futebol Juventus, o ditador líbio Muamar Kadafi é outro que se preparava, já em março de 2005, para realizar seu primeiro investimento no Brasil, num projeto de irrigação na Bahia, onde aplicaria cerca de US$ 450 milhões. A Libyan Arab Foreign Investiments (Lafico), estatal de investimentos do governo líbio, cultiva terras em 70 países e tem um portfólio diversificado de investimentos de cerca de US$ 10 bilhões em 100 empresas. A Lafico está negociando parceria com o grupo Odebrecht que, eventualmente, associado a uma terceira empresa, disputariam licitação da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Paranaíba (Codevasf) para explorar a área.
A Codevasf é ligada ao Ministério do Desenvolvimento Agrário. Como não tem os recursos necessários para investimento na área, pretende usar as Parcerias Público-Privadas (PPPs) para desenvolver a região. Parte dos recursos para investir viriam da própria Lafico e o restante deveria ser captado no mercado internacional. O interesse dos líbios nasceu desde a visita que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez à Líbia, no final de 2003. Por aqui, três projetos de irrigação na Bahia foram incluídos no PAC: Salitre, em Juazeiro; Estreito IV, nos municípios de Sebastião Laranjeiras e Urandi; e o maior deles - Baixio do Irecê (*) - em Xique-Xique, no noroeste baiano, que deverá ser viabilizado através de uma PPP.
O empreendimento vai demandar investimentos de mais de R$2 bilhões, incluindo a implantação de agroindústrias. Serão mais de 91 mil hectares irrigados, com potencial para produção de matéria prima para biocombustíveis, frutas e algodão. Em maio de 2004, Jaques Wagner, hoje governador da Bahia, mas então secretário especial do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), desembarcou em Trípoli para levar uma carta do presidente Lula a Kadafi, com o objetivo iniciar uma negociação entre o governo e os líbios para o estabelecimento de pólo sucroalcooleiro na região do Baixio do Irecê (BA).
O futuro concessionário vai construir, operar e gerir todo o projeto de irrigação, por 35 anos. Um consórcio, formado pela Codeverde – empresa liderada pelo Grupo Odebrecht e que tem também entre seus acionistas a Braskem – e a Lafico, foi quem realizou os estudos que serão analisados pelo Banco Mundial, que vai chancelar a modelagem e sugerir possíveis mudanças. Pelo modelo de PPP, a concessionária, após montar toda a infra-estrutura, vai arrendar lotes de terras a pequenos, médios e grandes produtores, e também operar o sistema de fornecimento de água. A produção será adquirida pelas indústrias de beneficiamento que serão implantadas nas áreas dos perímetros irrigados.
Christina Fontenelle
E-MAIL: Chrisfontell@gmail.com
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(*)Irecê é uma cidade do sertão baiano conhecida como "capital mundial da mamona". Portanto, deveria ter sido um dos primeiros lugares para montar fábricas do projeto biodiesel - o xodó do governo Lula – já que a matéria-prima é o ganha-pão de mais de 30 mil famílias de pequenos agricultores há quase 60 anos. Mas, o governador da Bahia era Paulo Ganem Souto (antigo PLF, hoje DEM) e, por isso, os maiores especialistas de mamona no Brasil ficaram de fora do programa. A produção de Irecê já foi a maior do Brasil, atingindo uma área plantada de 250 mil hectares na década de 80. Em 2006, ficou em 40 mil hectares. pela força da propaganda do governo, em 2005, os produtores investiram na plantação de mamona. Afinal, o garoto-propaganda era ninguém menos do que presidente Lula. O Banco do Nordeste, órgão federal de fomento, enviou técnicos para estimular e promover o produto e a EBDA, empresa estadual de apoio ao agricultor, foi generosa no auxílio técnico. Em novembro de 2005, os agricultores, revoltados, queimaram a mamona em praça pública.
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(*)Irecê é uma cidade do sertão baiano conhecida como "capital mundial da mamona". Portanto, deveria ter sido um dos primeiros lugares para montar fábricas do projeto biodiesel - o xodó do governo Lula – já que a matéria-prima é o ganha-pão de mais de 30 mil famílias de pequenos agricultores há quase 60 anos. Mas, o governador da Bahia era Paulo Ganem Souto (antigo PLF, hoje DEM) e, por isso, os maiores especialistas de mamona no Brasil ficaram de fora do programa. A produção de Irecê já foi a maior do Brasil, atingindo uma área plantada de 250 mil hectares na década de 80. Em 2006, ficou em 40 mil hectares. pela força da propaganda do governo, em 2005, os produtores investiram na plantação de mamona. Afinal, o garoto-propaganda era ninguém menos do que presidente Lula. O Banco do Nordeste, órgão federal de fomento, enviou técnicos para estimular e promover o produto e a EBDA, empresa estadual de apoio ao agricultor, foi generosa no auxílio técnico. Em novembro de 2005, os agricultores, revoltados, queimaram a mamona em praça pública.
OS PRIVILEGIADOS, OS BIOCOMBUSTÍVEIS E OS IDIOTAS
Parte IV
Parte IV
Há duas semanas, o site Brasil Acima de Tudo dizia que já é motivo de especulação da revista Forbes o aumento patrimonial exuberante da família da Silva - terras a perder de vista, investimentos, valores no exterior, agronegócios, pecuária, indústria siderúrgica, Estação de TV e empreendimento imobiliário no ABC ajudam a compor a fortuna acumulada dos Da Silva. O site Alerta Total, na mesma ocasião, divulgava a informação de que o presidente Lula deveria se preocupar com investigações sobre as ligações da família Lula da Silva com os prósperos negócios da empresa Brasil Ecodiesel. O empresário Lulinha (Fábio Luiz da Silva) seria um dos alvos.
A Brasil Ecodiesel é a maior produtora de biodiesel do país, responsável por aproximadamente 60,7% da produção nacional acumulada, que é distribuída pela Petrobras, e opera em 22 estados do país, há cinco anos. A empresa foi fundada em julho 2003 por Daniel Birmann - empresário e banqueiro gaúcho, dono do grupo Arbi - para atuar na produção de biodiesel, no contexto do Programa Nacional de Biodiesel, transformado em lei, no mesmo mês, e que estabelecia a obrigatoriedade da mistura de biodiesel ao diesel mineral.
Acontece que o fundador e controlador da Ecodiesel, foi impedido pela Comissão de valores Mobiliários (CVM) de exercer cargos de administração em companhias abertas, por cinco anos (cabe recurso), devido a práticas irregulares, em operações na SAM Indústrias, do grupo Arbi. Birmann recebeu a maior multa individual da história da autarquia (R$ 243 milhões). Dessa forma, a Ecodiesel apresentou informações de que as ações antes detidas por Birmann foram vendidas ao fundo Zartmann Services (26,4%) e a Nelson José Cortês da Silveira (13%), sócio de Birmann na Enguia Power, da qual já foi presidente, de 2001 a 2004. O maior acionista da Ecodiesel, entretanto, é a Eco Green Solutions (com 47,7% das ações), holding controlada pelo fundo BT Global Investment Fund, com sede num paraíso fiscal, onde a legislação permite a confidencialidade dos nomes dos sócios. Quem será(ao) ele(s)?
Atualmente, Birmann (*), entre outras coisas, possui três empresas, todas com o nome de Enguia, que atuam no setor de geração de energia térmica no Nordeste (Piauí, Ceará e Bahia). Elas se tornaram viáveis graças à inclusão dos Estados como pilotos do programa federal Luz para Todos. Essas três empresas fecharam um contrato com a Ecodiesel que lhes permite exigir a disponibilização da capacidade de produção da empresa, até o limite de 40 mil metros cúbicos por ano, pelo prazo de quinze anos – volume que equivale à, praticamente, toda a sua capacidade produtiva atual. O contrato foi feito em dezembro de 2005, em troca do cancelamento da dívida de R$ 40,9 milhões da Ecodiesel com a Enguia. Com o governo do Piauí, a Brasil Ecodiesel fechou acordo para que parte da produção abastecesse a frota de veículos do Estado, ônibus urbanos e até o metrô de Teresina.
Em 2003, então, a Ecodiesel inaugurou, em Canto do Buriti, município distante 435 quilômetros de Teresina (PI), o Núcleo de Produção Comunitária Santa Clara - um projeto que previa o cultivo de mamona para produção de óleo e de biodiesel na região e o assentamento de famílias de trabalhadores rurais. Assentados e a empresa trabalhariam no sistema de "parceria rurais". A Ecodiesel instalou na Santa Clara 630 famílias, em 19 células de produção. Para cada uma delas foi cedido uma casa e um lote, dentro do qual 7,5 hectares deveriam ser usados para o plantio de mamona. As famílias vendem antecipadamente a mamona que produzem, recebendo por isso R$ 160 por mês - o preço do quilo é fixado pela empresa, que desconta da remuneração 30% do plantio, feito por seus técnicos. A lavoura e a colheita ficam a cargo dos colonos.
Lula esteve visitando a Santa Clara, em agosto de 2005, quando foi a Floriano, cidade próxima (a 260 km) para inaugurar uma usina de processamento de mamona - a primeira das seis que a Ecodiesel deveria instalar. A chegada da usina parecia marcar um novo tempo no Piauí, apesar do programa de incentivos fiscais para instalação de empresas no Estado, determinando que não se recolhesse ICMS, durante 12 anos, de empresas que se fixassem no interior. Desse modo, o município, que receberia 20% do imposto, fica sem nada.
No fim de 2006, o projeto-modelo da Brasil Ecodiesel dava sinais de crise, com a queda na produção, protesto de colonos e denúncias de abusos por parte da empresa, incluindo as de trabalho escravo e infantil. Sem comida, ameaçados de expulsão e presenciando a derrubada e queimada de dez mil hectares de Cerrado nativo, para produzir carvão, alguns trabalhadores já haviam ido à Teresina, em 2005, pedir ajuda, dizendo que a empresa, que pagava um salário de R$ 250 reais ao mês por família assentada, no início do projeto, depois, em 2006, baixara para R$ 150. O desmatamento acabou sendo confirmado pelo então Gerente Regional do Ibama, Romildo Mafra. A Procuradoria do Trabalho no Piauí abriu dois inquéritos para investigar denúncias sobre contratos de trabalho irregulares e sobre trabalho escravo e infantil.
A Brasil Ecodiesel negou as irregularidades, lemrando, ainda que na Santa Clara haveria uma escola funcionando em três turnos e que ofereceria, inclusive, ônibus para os alunos. Entretanto, políticos e técnicos da usina de Floriano calculam que o óleo de soja, na verdade, é que represente cerca de 70% do que chega para ser processado e que o de mamona dificilmente passa de 10%.
Apesar de problemas como esse, a Brasil Ecodiesel continuou ampliando seus projetos. Inaugurou mais duas fábricas – em Crateús (CE) e Iraquara (BA) – e, em maio deste ano, inaugurou a unidade Porto Nacional, em Tocantins - a quarta unidade. As outras fábricas são em Rosário do Sul (RS), Itaqui (MA) e Dourados (MS). A Ecodiesel pretende, ainda, implantar mais dois projetos de cultivo da mamona (carrapateira), uma fábrica de biodiesel e duas unidades de esmagamento em Pernambuco.
Parece que o interesse real na mamona é o "selo combustível social", sem o qual, por lei, as empresas não participam de leilões de biodiesel da Agência Nacional de Petróleo (ANP). O selo é fornecido pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário e foi criado para incentivar o plantio em regime de agricultura familiar. A proporção varia de região para região: 30% da produção da agricultura familiar para a região Sul-Sudeste; 50% para as regiões Norte e Nordeste; e 9% para o Centro-Oeste. A Ecodiesel foi uma das primeiras produtoras da commodity a obter a certificação necessária para participar dos leilões, dos quais, dos quatro primeiros que já foram realizados, arrematou 487,9 milhões (53%) dos 915 milhões de litros negociados.
Embora, no prospecto de venda de ações, admita que possa não vir a cumprir as obrigações, já que sua capacidade de produção é de 45 milhões de litros/ano, a Ecodiesel derrubou as cotações no leilão, ao oferecer preços bem abaixo da concorrência. O conselho de administração da empresa teve grande influência na definição da estratégia. O presidente da Ecodiesel, Marco Antonio Moura de Castro, grande amigo de José Dirceu (ex-ministro da Casa Civil), contribuiu com muitas das idéias bem-sucedidas. O conselho também aprovou, recentemente, a compra de óleo de soja do grupo Maggi, de Blairo Maggi.
José Dirceu? Sim. O ex-ministro nega que seu atual negócio envolva tráfico de influência. Ele diz que faz consultorias empresarias, apesar de sua agenda registrar contatos empresariais e políticos e de sua experiência empresarial resumir-se à administração, nos anos 70, de uma alfaiataria e de uma loja de roupas masculinas de seu antigo sogro, a Magazine do Homem, na pequena cidade de Cruzeiro do Oeste, no Paraná, onde ele viveu na clandestinidade. Clientes atuais? Dentre os já revelados, encontram-se nada menos que o empresário Nelson Tanure, dono do Jornal do Brasil, a Odebrecht, gigante da construção civil, e o banqueiro Daniel Birmann, sobre o qual acabei de falar. Já na Telemar, o papel do consultor José Dirceu seria o de ajudar a empresa no projeto de fusão com a Brasil Telecom.
A sétima indústria de biodiesel da Ecodiesel será inaugurada, dentro de três meses, em Dourados (MS). Lá perto, em de Cruzeiro do Oeste, no Paraná, cidade cujo prefeito é Zeca Dirceu (filho do Zé Dirceu), a Prefeitura Municipal e a empresa articulam uma parceria para o plantio de espécies que serão utilizadas para a obtenção de óleo para o biodiesel, que será produzido em Dourados. A intenção é atingir o plantio, em regime de agricultura familiar, em cinco mil hectares no município. Os macacos terão suas bananas, os políticos seus votos (o que inclui poder e riqueza) e os empresários o seu rico dinheirinho.
O que isso tem de errado? Realmente não haveria nada de errado se o dinheirinho que estivesse sendo usado para toda essa gente se beneficiar fosse do bolsinho dos grandes empresários – fossem eles brasileiros ou estrangeiros. Mas, não é isso que está acontecendo. O dinheirinho que está sustentando toda essa rede de benevolências é o meu e o seu, caro leitor, que trabalhamos 5 meses por ano exclusivamente para sustentar o governo. Sabe quanto nós e o povão vamos lucrar com toda esta engrenagem agro-desenvolvimentista? Rigorosamente nada. Mas, os prejuízos, não tenham dúvidas, estes nós já estamos pagando por eles.
A Brasil Ecodiesel é a maior produtora de biodiesel do país, responsável por aproximadamente 60,7% da produção nacional acumulada, que é distribuída pela Petrobras, e opera em 22 estados do país, há cinco anos. A empresa foi fundada em julho 2003 por Daniel Birmann - empresário e banqueiro gaúcho, dono do grupo Arbi - para atuar na produção de biodiesel, no contexto do Programa Nacional de Biodiesel, transformado em lei, no mesmo mês, e que estabelecia a obrigatoriedade da mistura de biodiesel ao diesel mineral.
Acontece que o fundador e controlador da Ecodiesel, foi impedido pela Comissão de valores Mobiliários (CVM) de exercer cargos de administração em companhias abertas, por cinco anos (cabe recurso), devido a práticas irregulares, em operações na SAM Indústrias, do grupo Arbi. Birmann recebeu a maior multa individual da história da autarquia (R$ 243 milhões). Dessa forma, a Ecodiesel apresentou informações de que as ações antes detidas por Birmann foram vendidas ao fundo Zartmann Services (26,4%) e a Nelson José Cortês da Silveira (13%), sócio de Birmann na Enguia Power, da qual já foi presidente, de 2001 a 2004. O maior acionista da Ecodiesel, entretanto, é a Eco Green Solutions (com 47,7% das ações), holding controlada pelo fundo BT Global Investment Fund, com sede num paraíso fiscal, onde a legislação permite a confidencialidade dos nomes dos sócios. Quem será(ao) ele(s)?
Atualmente, Birmann (*), entre outras coisas, possui três empresas, todas com o nome de Enguia, que atuam no setor de geração de energia térmica no Nordeste (Piauí, Ceará e Bahia). Elas se tornaram viáveis graças à inclusão dos Estados como pilotos do programa federal Luz para Todos. Essas três empresas fecharam um contrato com a Ecodiesel que lhes permite exigir a disponibilização da capacidade de produção da empresa, até o limite de 40 mil metros cúbicos por ano, pelo prazo de quinze anos – volume que equivale à, praticamente, toda a sua capacidade produtiva atual. O contrato foi feito em dezembro de 2005, em troca do cancelamento da dívida de R$ 40,9 milhões da Ecodiesel com a Enguia. Com o governo do Piauí, a Brasil Ecodiesel fechou acordo para que parte da produção abastecesse a frota de veículos do Estado, ônibus urbanos e até o metrô de Teresina.
Em 2003, então, a Ecodiesel inaugurou, em Canto do Buriti, município distante 435 quilômetros de Teresina (PI), o Núcleo de Produção Comunitária Santa Clara - um projeto que previa o cultivo de mamona para produção de óleo e de biodiesel na região e o assentamento de famílias de trabalhadores rurais. Assentados e a empresa trabalhariam no sistema de "parceria rurais". A Ecodiesel instalou na Santa Clara 630 famílias, em 19 células de produção. Para cada uma delas foi cedido uma casa e um lote, dentro do qual 7,5 hectares deveriam ser usados para o plantio de mamona. As famílias vendem antecipadamente a mamona que produzem, recebendo por isso R$ 160 por mês - o preço do quilo é fixado pela empresa, que desconta da remuneração 30% do plantio, feito por seus técnicos. A lavoura e a colheita ficam a cargo dos colonos.
Lula esteve visitando a Santa Clara, em agosto de 2005, quando foi a Floriano, cidade próxima (a 260 km) para inaugurar uma usina de processamento de mamona - a primeira das seis que a Ecodiesel deveria instalar. A chegada da usina parecia marcar um novo tempo no Piauí, apesar do programa de incentivos fiscais para instalação de empresas no Estado, determinando que não se recolhesse ICMS, durante 12 anos, de empresas que se fixassem no interior. Desse modo, o município, que receberia 20% do imposto, fica sem nada.
No fim de 2006, o projeto-modelo da Brasil Ecodiesel dava sinais de crise, com a queda na produção, protesto de colonos e denúncias de abusos por parte da empresa, incluindo as de trabalho escravo e infantil. Sem comida, ameaçados de expulsão e presenciando a derrubada e queimada de dez mil hectares de Cerrado nativo, para produzir carvão, alguns trabalhadores já haviam ido à Teresina, em 2005, pedir ajuda, dizendo que a empresa, que pagava um salário de R$ 250 reais ao mês por família assentada, no início do projeto, depois, em 2006, baixara para R$ 150. O desmatamento acabou sendo confirmado pelo então Gerente Regional do Ibama, Romildo Mafra. A Procuradoria do Trabalho no Piauí abriu dois inquéritos para investigar denúncias sobre contratos de trabalho irregulares e sobre trabalho escravo e infantil.
A Brasil Ecodiesel negou as irregularidades, lemrando, ainda que na Santa Clara haveria uma escola funcionando em três turnos e que ofereceria, inclusive, ônibus para os alunos. Entretanto, políticos e técnicos da usina de Floriano calculam que o óleo de soja, na verdade, é que represente cerca de 70% do que chega para ser processado e que o de mamona dificilmente passa de 10%.
Apesar de problemas como esse, a Brasil Ecodiesel continuou ampliando seus projetos. Inaugurou mais duas fábricas – em Crateús (CE) e Iraquara (BA) – e, em maio deste ano, inaugurou a unidade Porto Nacional, em Tocantins - a quarta unidade. As outras fábricas são em Rosário do Sul (RS), Itaqui (MA) e Dourados (MS). A Ecodiesel pretende, ainda, implantar mais dois projetos de cultivo da mamona (carrapateira), uma fábrica de biodiesel e duas unidades de esmagamento em Pernambuco.
Parece que o interesse real na mamona é o "selo combustível social", sem o qual, por lei, as empresas não participam de leilões de biodiesel da Agência Nacional de Petróleo (ANP). O selo é fornecido pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário e foi criado para incentivar o plantio em regime de agricultura familiar. A proporção varia de região para região: 30% da produção da agricultura familiar para a região Sul-Sudeste; 50% para as regiões Norte e Nordeste; e 9% para o Centro-Oeste. A Ecodiesel foi uma das primeiras produtoras da commodity a obter a certificação necessária para participar dos leilões, dos quais, dos quatro primeiros que já foram realizados, arrematou 487,9 milhões (53%) dos 915 milhões de litros negociados.
Embora, no prospecto de venda de ações, admita que possa não vir a cumprir as obrigações, já que sua capacidade de produção é de 45 milhões de litros/ano, a Ecodiesel derrubou as cotações no leilão, ao oferecer preços bem abaixo da concorrência. O conselho de administração da empresa teve grande influência na definição da estratégia. O presidente da Ecodiesel, Marco Antonio Moura de Castro, grande amigo de José Dirceu (ex-ministro da Casa Civil), contribuiu com muitas das idéias bem-sucedidas. O conselho também aprovou, recentemente, a compra de óleo de soja do grupo Maggi, de Blairo Maggi.
José Dirceu? Sim. O ex-ministro nega que seu atual negócio envolva tráfico de influência. Ele diz que faz consultorias empresarias, apesar de sua agenda registrar contatos empresariais e políticos e de sua experiência empresarial resumir-se à administração, nos anos 70, de uma alfaiataria e de uma loja de roupas masculinas de seu antigo sogro, a Magazine do Homem, na pequena cidade de Cruzeiro do Oeste, no Paraná, onde ele viveu na clandestinidade. Clientes atuais? Dentre os já revelados, encontram-se nada menos que o empresário Nelson Tanure, dono do Jornal do Brasil, a Odebrecht, gigante da construção civil, e o banqueiro Daniel Birmann, sobre o qual acabei de falar. Já na Telemar, o papel do consultor José Dirceu seria o de ajudar a empresa no projeto de fusão com a Brasil Telecom.
A sétima indústria de biodiesel da Ecodiesel será inaugurada, dentro de três meses, em Dourados (MS). Lá perto, em de Cruzeiro do Oeste, no Paraná, cidade cujo prefeito é Zeca Dirceu (filho do Zé Dirceu), a Prefeitura Municipal e a empresa articulam uma parceria para o plantio de espécies que serão utilizadas para a obtenção de óleo para o biodiesel, que será produzido em Dourados. A intenção é atingir o plantio, em regime de agricultura familiar, em cinco mil hectares no município. Os macacos terão suas bananas, os políticos seus votos (o que inclui poder e riqueza) e os empresários o seu rico dinheirinho.
O que isso tem de errado? Realmente não haveria nada de errado se o dinheirinho que estivesse sendo usado para toda essa gente se beneficiar fosse do bolsinho dos grandes empresários – fossem eles brasileiros ou estrangeiros. Mas, não é isso que está acontecendo. O dinheirinho que está sustentando toda essa rede de benevolências é o meu e o seu, caro leitor, que trabalhamos 5 meses por ano exclusivamente para sustentar o governo. Sabe quanto nós e o povão vamos lucrar com toda esta engrenagem agro-desenvolvimentista? Rigorosamente nada. Mas, os prejuízos, não tenham dúvidas, estes nós já estamos pagando por eles.
A Brasil Ecodiesel, por exemplo, fechou o primeiro trimestre com um prejuízo líquido de R$ 526 mil reais, apesar da receita bruta de R$ 61,130 milhões. O prejuízo é infinitamente menor do que o de R$ 33,223 milhões do último trimestre de 2006, que teve uma receita bruta de R$ 30,448 milhões. O resultado reflete o rápido crescimento da empresa, cujas vendas físicas, dos mais de 500 mil litros contratados, chegaram a 27.697 metros cúbicos de biodiesel. Os investimentos na parceira com pequenos produtores rurais alcança o número de 57.606 famílias. O mercado da companhia, atualmente, é o fornecimento de biodiesel para refinarias e distribuidoras, como a Petrobras e a Refap, empresa do sistema Petrobras.
Vamos fazer umas continhas rápidas. No início de 2006, os preços dos combustíveis e, conseqüentemente, das passagens de ônibus interurbanos aumentaram e foram causa do aumento do índice de inflação, segundo dados do IBGE. Portanto, quem anda de ônibus está incluído nessa conta. Se o leitor tiver um carro, quando o abastece, deixa cerca de 56% do que paga em impostos federais e estaduais. Como a Petrobras, que é uma empresa que trabalha com dinheiro público e de acionistas, é a maior distribuidora de combustíveis do país, ela lucra, tanto com quem anda de ônibus como com quem anda de carro.
Ou seja, todos nós brasileiros financiamos a empresa que tem contrato de exclusividade e de comprometimento para comprar toda a produção de biocombustíveis produzidos pelas empresas do agronegócio que possuem o selo combustível. Essas empresas têm uma série de benefícios fiscais que acabam por não representar retorno financeiro às cidades e aos Estados em que operam. E o leitor já deve ter percebido a estrondosa desproporcionalidade entre as atividades lucrativas destas empresas e o que é empenhado no que se classifica de beneficiamentos à agricultura familiar.
Sabemos que, atualmente, o biodiesel custa mais que o diesel mineral (que inclusive fica encarecido justamente por causa do biodiesel). Todo o incentivo ao programa do biodiesel, principalmente onde está atrelado à agricultura familiar, é subsidiado pelo governo. Dessa forma, e de muitas maneiras, numa cadeia sucessiva, eu e você, leitor, financiamos a “biocombustização” do país – com a qual ganham mega-empresários transnacionais e brasileiros e políticos. Não vou nem entrar no mérito, aqui, mas, só para lembrar, vou citar dois fatos: 1) Empreiteiras que trabalham para a Petrobras doaram R$ 2,5 milhões a petistas e 2) Em 2005, a Petrobras gasta dinheiro público e de acionistas em revista do MST.
Enfim, o perfil de inclusão social dos milhares de brasileiros pobres que vivem no campo pode ser bem retratado no discurso de Lula, durante a inauguração do assentamento de Campo do Buriti, em 04 de agosto de 2005; discurso esse que também reflete o norte que o governo pretende dar à nossa inserção no mega-projeto mundial de mudança da matriz energética:
Banana para macacos
“Nós temos que pensar o Brasil na sua dimensão de 8 milhões e meio de quilômetros quadrados, para que a gente perceba a diferença social, a diferença econômica, a diferença da qualidade de vida das pessoas, a diferença cultural, para que a gente possa levar para cada região um tipo de desenvolvimento que seja pertinente àquela região. Por isso é que nós estamos fazendo alguns investimentos no Nordeste, que são de muita valia”...
Nada comparado a dormir em lençóis de algodão egípcio – mas, pra quem é, ta bom
“quando a gente chega numa casinha simples, que a gente percebe que é uma casa de gente pobre, mas a gente percebe que tem um banheiro, que tem um chuveiro, que a dona-de-casa pode abrir uma torneira e ter água para beber, para lavar, para tomar banho, é uma coisa extraordinária”... “Então, quando eu chego num lugar como este, numa região historicamente pobre no estado de Sergipe, do Piauí, e eu encontro só essa visão que estou vendo aqui, umas casinhas lá em cima, depois eu olhei umas casas do outro lado, uma escola, um posto de saúde, um centro de atividade cultural... havia até computador para as crianças aprenderem computação”...
Alguns gostam de garrafas de vinho que custam mais de 200 mil reais e de cigarrilhas holandesas. Outros devem ficar satisfeitos com o que possam oferecer as bodegas
“E, para mim, gente, não tem coisa mais orgulhosa do que ver um pai de família trabalhar, no final do mês receber o seu salário e... pegar a sua mulher e os seus filhos, ir na bodega mais próxima e encher a casa de comida, para as crianças poderem ficar com a barriga cheia, terem saúde e, amanhã, serem trabalhadores”.
Já eu, e acho que também muitos brasileiros, queria mais. Queria que a agricultura se tornasse mais mecanizada, ao mesmo tempo em que os filhos dos agricultores de hoje tivessem a oportunidade de estudar e de crescer com independência, para pesquisar e investir em novos empreendimentos, em suas cidades, levando desenvolvimento, conforto e, logicamente, novas demandas. Queria que a indústria da imobilidade social fosse rompida pela instituição da meritocracia. Queria que as riquezas geradas pela indústria dos biocombustíveis retornassem à sociedade em forma de investimentos em educação e em segurança, já que, com essas duas coisas, uma sociedade sadia pode escolher seus caminhos, sem limites para o progresso de todos. Queria que o governo modificasse o conteúdo da frase da campanha de Lula à presidência de “deixa o homem trabalhar” para “deixem os brasileiros trabalhar”
Christina Fontenelle
E-MAIL: Chrisfontell@gmail.com
BLOG/artigos: http://infomix-cf.blogspot.com/
BLOG/Série CAI O PANO: http://christina-fontenelle.blogspot.com/
BLOG/opinião: http://infomix2.blogspot.com/
(*) Daniel Birmann, hoje, é um dos reis do negócio de biodiesel. Mas, seu grupo, o Arbi, chegou a ter mais de 20 empresas e a faturar US$ 2 bilhões por ano. Em 1995, as coisas ficaram difíceis para o mega-empresário, que teve que vender empresas, desfazer sociedades e pagar muitas dívidas – as duas últimas em 2001. Recuperado na praça, Birmann entrou no negócio de tratamento de lixo, com a Usinaverde S/A, empresa criada no mesmo ano e que tem uma usina piloto na Ilha do Fundão, dentro do campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
A usina transforma lixo em energia – que usa, inclusive, para o próprio funcionamento - e aproveita material até para a fabricação de tijolos. Mas, “o pulo do gato” é o domínio de uma tecnologia de tratamento dos gases emitidos pela incineração do lixo – o que transforma todo o processo em limpo e auto-sustentável. O empreendimento é sensacional e pode dar lucro – muito lucro. Tanto é que a Petrobras Distribuidora (BR), juntamente com a Odebrecht, estão em negociações com a Usinaverde para a possível construção de uma primeira usina em escala industrial de 600 toneladas de lixo por dia e capacidade para geração de 12MW de energia.
Além deste negócio que estava nascendo em 2001, Birmann continuava com a CBC (fabricante de armas), a DF Vasconcelos (companhia de tecnologia hospitalar), a Arbi Empreendimentos Imobiliários, o banco Arbi (limitado a administrar recebíveis) e ações do BCP. Em 2003, o homem entrou no negócio de energia e de biocombustíveis. Se deu bem...
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(*) Daniel Birmann, hoje, é um dos reis do negócio de biodiesel. Mas, seu grupo, o Arbi, chegou a ter mais de 20 empresas e a faturar US$ 2 bilhões por ano. Em 1995, as coisas ficaram difíceis para o mega-empresário, que teve que vender empresas, desfazer sociedades e pagar muitas dívidas – as duas últimas em 2001. Recuperado na praça, Birmann entrou no negócio de tratamento de lixo, com a Usinaverde S/A, empresa criada no mesmo ano e que tem uma usina piloto na Ilha do Fundão, dentro do campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
A usina transforma lixo em energia – que usa, inclusive, para o próprio funcionamento - e aproveita material até para a fabricação de tijolos. Mas, “o pulo do gato” é o domínio de uma tecnologia de tratamento dos gases emitidos pela incineração do lixo – o que transforma todo o processo em limpo e auto-sustentável. O empreendimento é sensacional e pode dar lucro – muito lucro. Tanto é que a Petrobras Distribuidora (BR), juntamente com a Odebrecht, estão em negociações com a Usinaverde para a possível construção de uma primeira usina em escala industrial de 600 toneladas de lixo por dia e capacidade para geração de 12MW de energia.
Além deste negócio que estava nascendo em 2001, Birmann continuava com a CBC (fabricante de armas), a DF Vasconcelos (companhia de tecnologia hospitalar), a Arbi Empreendimentos Imobiliários, o banco Arbi (limitado a administrar recebíveis) e ações do BCP. Em 2003, o homem entrou no negócio de energia e de biocombustíveis. Se deu bem...
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