Wednesday, September 27, 2006

ASSIM COMO ERA NO PRINCÍPIO, AGORA E SEMPRE

Christina Fontenelle
setembro de 2006
No dia 1º de março de 2002, em plena campanha pela escolha dos pré-candidatos à Presidência da República, dentro dos partidos, precisamente às 14h15, a Polícia Federal invade a Lunus, empresa de Jorge Murad, marido da pré-candidata à presidência do PLF, Roseana Sarney. Lá, os agentes encontraram documentos que ligavam a empresa ao escândalo Sudam (pelo qual vinha sendo investigada) e mais R$ 1,34 milhão em dinheiro. Às 19h, FHC e Sarney têm uma conversa ríspida por telefone, na qual o senador denunciava o que seria uma "armação suja" do governo para derrubar sua filha e beneficiar o candidato do PSDB à presidência, José Serra. Três dias depois, o PFL deixa o primeiro escalão do governo FHC. No dia 12 de março, Murad renuncia ao cargo de secretário de Planejamento do Maranhão e diz que o dinheiro achado na Lunus era para a campanha de Roseana. No dia 20 de março, o senador José Sarney sobe à tribuna do Senado e faz um discurso de 80 minutos, culpando José Serra e o governo de FHC pela espionagem contra sua filha Roseana. Na ocasião, Sarney comparou o caso ao do Watergate, que levou à renúncia o presidente norte-americano Richard Nixon. Finalmente, no dia 13 de abril, Roseana retira-se oficialmente da disputa pela vaga de candidata do PLF à presidência (1).



O caso teve ampla cobertura da imprensa, mas, até hoje, ninguém sabe QUEM PAGOU a empresa de espionagem que teria fornecido os dados para que o plano de tirar Roseana da disputa presidencial tivesse sido bem sucedido. DE ONDE VEM O DINHEIRO? É sempre a pergunta que tem atormentado os brasileiros diante das inúmeras denúncias que vêm sendo feitas há anos no Brasil. As investigações sempre morrem quando se chega a esta fatídica pergunta. Será diferente agora, no caso do “dossiê” comprado pelos petistas em sociedade com uma revista de circulação nacional (“supostamente” a IstoÉ) para prejudicar as candidaturas de José Serra ao governo de São Paulo e de Geraldo Alckmin à presidência da República?


(A FOTO ACIMA SAIU NA REVISTA VEJA, DE 13 DE MARÇO DE 2002. A REPORTAGEM TRATAVA DO EPISÓDIO DO FLAGRANTE E QUESTIONAVA SOBRE A ORIGEM DO DINHEIRO - A VEJA NÃO FALAVA DE ARMAÇÕES TUCANAS E NEM DAVA INFINITOS DETALHES DE NOMES E SOBRENOMES DE "PROVÁVEIS" ENVOLVIDOS COM A ESPIONAGEM, COMO O FAZIA A ISTO É)
O que de fato acaba acontecendo é que, se há toda uma investigação, através de instituições, das polícias, da imprensa e de órgãos governamentais, e nunca há uma conclusão definitiva, inclusive com a exemplar punição dos envolvidos, cabe a nós, cidadãos brasileiros, tirar nossas próprias conclusões e fazer todas as ilações que acharmos plausíveis. Aliás, isso é o que nos tem restado. O mais recente caso que escandaliza a nação – o caso do dossiê Vedoin -, por exemplo, nos remete imediatamente ao caso Roseana – há muitas semelhanças entre os dois, talvez até muito mais do que suponha a nossa vã filosofia. Mas, vamos começar do começo.
Na corrida pela seleção dos candidatos que iriam disputar as eleições presidenciais, de 2002, havia nomes de peso: José Serra (PSDB), Roseana Sarney (PFL), Lula (PT), Ciro Gomes (PPS), Anthony Garotinho (PSB) e até Sílvio Santos (também cogitado pelo PFL). Segundo pesquisas de projeção eleitorais, eram grandes as chances de termos um segundo turno com Roseana e Lula na disputa. Nesse caso, e o PT sabia disso muito bem, Roseana poderia realmente ganhar as eleições, por ter, além de todas as já tradicionais condições (cultura, inteligência, popularidade, etc.) tinha também o apelo do extraordinário: uma mulher na Presidência; assim como Lula: um trabalhador na presidência.

Vejam o que dizia Anamaria Rossi, da equipe do Correio Brasiliense, em 15 de março de 2002 (http://www2.correioweb.com.br/cw/2002-03-15/mat_36547.htm) para que se constate (ou se relembre) o quão relevante era a posição da candidata do PLF, mesmo já depois da apreensão do dinheiro na Lunus:

‘‘Roseana não está morta, não.’’ Assim um dirigente do PFL resumiu a impressão deixada entre os pefelistas pelas explicações do pesquisador Paulo Guimarães. Ele é diretor do instituto GPP, responsável pelas sondagens eleitorais para o partido. Com argumentos numéricos, Guimarães convenceu a Executiva do PFL de que Roseana Sarney ainda tem fôlego, pelo menos por enquanto, para manter-se no jogo da sucessão. Segundo a GPP, o crescimento real do candidato do PSDB, José Serra, depois das denúncias envolvendo Roseana não passa de cinco pontos percentuais. Na pesquisa GPP, nas duas últimas semanas o tucano passou de 10% para 15%. No mesmo período, Roseana caiu de 23% para 18%... O PFL fez as contas e concluiu que Roseana ainda está em segundo lugar, e não em terceiro, como aponta o Ibope. Nova rodada GPP será feita em duas semanas. Só então os pefelistas poderão dizer se sua candidata tem condições de continuar no páreo. Torcem para que nenhum novo escândalo estoure envolvendo o nome dela. E que os tucanos continuem sendo alvos de denúncias de espionagem...

Logo após a apreensão do dinheiro na Lunus, pela PF (1 de março de 2002), a edição da Revista IstoÉ, de 13 de março de 2002, portanto menos de uma semana depois (para ser benevolente, já que não daria para entregar todo o material da reportagem de capa no dia 7, para uma revista que estaria nas bancas de todo o país no dia 8), saiu com uma série de dados novos, que certamente deveriam ser produto de demorada investigação. A matéria (de capa), assinada pelo jornalista Weiller Diniz - Duplo Haraquiri -, estava cheia de acusações: “Uma história recheada de intrigas, grampos ilegais, mentiras, chantagens e contratação de arapongas ligados ao antigo Serviço Nacional de Informações (SNI), tendo como motivação a guerra entre o PSDB e o PFL pela sucessão presidencial”.

No corpo da reportagem, as informações: “A reportagem de IstoÉ apurou que o ex-presidente José Sarney está certo quando levanta suspeitas de que sua filha foi alvo de arapongagem ilegal. Em dezembro do ano passado, uma firma de segurança foi contratada para fazer escutas nos telefones da governadora e de sua família e um levantamento detalhado da atuação de suas empresas. O trabalho desses arapongas, incluindo fotos em situações íntimas, foi oferecido, a custo zero, no final de fevereiro ao governador do Rio, Anthony Garotinho (PSB), para ser usado como arma na campanha eleitoral. O governador recusou o material, mas procurou Sarney e informou que o interlocutor se apresentou como emissário do deputado Márcio Fortes, um dos coordenadores da campanha presidencial do senador tucano José Serra (SP)... O secretário-geral do PSDB, Márcio Fortes, tem negado qualquer participação no dossiê. Mas, no final do ano passado, um grupo de arapongas circulou por Brasília afirmando que havia sido contratado pelo PSDB para produzir o tal levantamento a respeito da família Sarney...”

Na edição seguinte da IstoÉ (20/03/2002), a revista continua fazendo denúncias e acusações, também na reportagem de capa – Poder Paralelo (*) -, assinada por Ricardo Miranda, Vasconcelos Quadros e novamente por Weiller Diniz: “Surgem novos indícios do envolvimento de tucanos no grampo ilegal com o aparecimento de arapongas. A crise política esquenta com pedidos de cassação e até de uma CPI. É a guerra total entre PSDB e PFL que pode inviabilizar o governo FHC”.

A reportagem apontava uma pequena firma de Brasília - a Interforte Sistemas de Segurança, que vendia kits de espionagem, como sendo a autora dos grampos. A empresa era do policial federal Jonathan Sardenberg e de seu amigo, José Heitor Nunes. Jonathan foi segurança do presidente Fernando Henrique Cardoso, na campanha de 1994, e também já havia cuidado de um ex-ministro das Comunicações - Sérgio Mota. A Interforte fora contratada, em dezembro de 2001, para fazer escutas clandestinas nos telefones de Roseana e de sua família. “Os autores da operação descobriram, pelo grampo, o dia em que haveria dinheiro na Lunus” e a “arapongagem virou um dossiê bombástico”, classifica a matéria. Jonathan negava ter participado do dossiê: “Essa história de dossiê é uma viagem”. Entretanto, também segundo a reportagem, Heitor teria ido a São Luiz (MA) por volta de outubro para fazer varredura nos telefones de um cliente

A reportagem citava ainda que, no Ministério da Saúde, chefiado até fevereiro daquele ano pelo então senador José Serra, “a proximidade com arapongas era mais do que conhecida”. A “prova” em que se baseava a revista para dizer isso, era o fato de que Serra era amigo do delegado Marcelo Itagiba, superintendente da Polícia Federal no Rio, afirmando igualmente que o delegado era ligado a um coronel reformado do extinto Serviço Nacional de Informações (SNI), Enio Fontenelle, dono de uma firma especializada em detectar escutas – a Fence - que tinha com o Ministério da Saúde um contrato de R$ 1,8 milhão por ano. A revista alegou ter pesquisado com firmas especializadas que disseram que uma varredura não saía por mais de R$ 5 mil (adivinhem com quem pesquisaram? Com a Interforte) por mês e lançou no ar a suspeita: “Se a Fence só fez mesmo varreduras, teria que fazer mais de 370 por ano”. Várias mentiras em poucos parágrafos: 1) Enio Fontenelle nunca foi ligado a Itagiba; 2) as varreduras não saíam por no máximo R$ 5 mil, como disse a revista. As investigações do Tribunal de Contas da União comprovaram que os preços unitários da Interforte eram mais caros que os da Fence; 3) a revista deveria ter especificado que o contrato compreendia varreduras de vários tipos e nos mais diversos tipos de aparelhos e ambientes, cada qual com um valor diferente. Como estava na reportagem, parace que as varreduras eram somente feitas em telefones, o que fez com que muitas pessoas saíssem fazendo o cálculo absurdo de 600 aparelhos por mês.
Depois do Sivam e das privatizações das Teles, a ISTOÉ mostrou que o País virou uma grampolândia”, dizia na matéria o então deputado José Genoíno (PT-SP) – com a empáfia de ícone da ética que sustentavam, para a opinão pública, os petistas, naquela época. “Fernando Henrique destruiu minha filha. Vou destruí-lo”, foram as palavras de Sarney já na parte final da matéria. Penso que isto dê luz a muito do que hoje acontece no país, com Sarney dando apoio inconteste a Luiz Inácio da Silva – evidentemente é uma questão de ordem pessoal e não de ordem nacional, como deveria ser a de um senador da república, eleito com o voto popular.

Na época, a reação do PT foi bem diferente da que atualmente o presidente Lula cobra de seus adversários políticos, especialmente nessa crise do “dossiê Vedoin”. Está tudo registrado:

Correio Brasiliense - 15 de março de 2002 – por Anamaria Rossi
CPI para apurar a arapongagem
PT e PFL articulam-se para criar comissão de inquérito para investigar o envolvimento do PSDB e do governo no esquema de espionagem e montagem de dossiês contra candidatos à Presidência da República adversários de José Serra.
O PT começa hoje a colher assinaturas para o pedido de abertura de uma CPI Mista — com deputados e senadores — para investigar o esquema de espionagem encravado na administração federal... ‘‘O governo federal especializou-se em alta tecnologia de espionagem’’, dispara o deputado Walter Pinheiro (BA), vice-líder do PT. Segundo ele, o PT não quer apenas investigar os grampos descobertos nos últimos anos na administração federal, como os do Sivam e do BNDES. ‘‘Queremos partir destes casos para chegar aos responsáveis. A estrutura de inteligência do governo tem que responder pelos fatos de espionagem na esfera pública’’, diz o deputado...


... No Senado, o PFL quer convocar o ministro da Saúde, Barjas Negri, para explicar a contratação da empresa Fence Consultoria Empresarial por R$ 1,8 milhão para fazer varreduras contra grampo telefônico no Ministério. Os pefelistas consideraram ‘‘o fato mais importante da semana’’ a descoberta do contrato, assinado pelo candidato do PSDB à Presidência, José Serra quando era ministro. A informação foi publicada ontem pelo Correio... Os pefelistas querem saber por que a pasta comandada por Serra precisou contratar uma empresa privada para fazer o serviço de varredura por um valor infinitamente maior que o pago por outros ministérios... De acordo com o líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN), o Ministério de Esporte e Turismo, até a semana passada comandado pelo pefelista Carlos Melles, gastou menos de R$ 10 mil em dois anos pelo mesmo serviço. ‘‘Tanto dinheiro foi gasto só para rastreamento de grampo telefônico, ou para algum serviço mais?’’, pergunta Agripino. ‘‘O trabalho de remover grampo poderia ser feito a custo zero pela Abin (Agência Brasileira de Inteligência), pela Polícia Federal ou pelas concessionárias de telefonia.’’

Bem, os motivos que teriam levado José Serra a contratar serviços particulares de sua confiança poderiam ser muitos, mas certamente estão entre eles os seguintes: em primeiro lugar, não sei se feliz ou infelizmente, a PF já vem se comportando internamente como uma polícia política não é de hoje - no mínimo por estar diretamente subordinada ao Ministério da Justiça – e isso já diz tudo: não é um organismo independente. Pelo mesmo motivo, não se podia confiar na Abin. Em segundo lugar, pressupõe-se que os serviços de segurança devam ser prestados por pessoas em quem o interessado confie e não por estranhos, que não se sabe a quem podem servir. Por isso, não há como se comparar a importância do Ministério da Saúde, principalmente quando se encontrava no cargo de ministro um provável candidato à presidência, e onde se travava uma séria batalha contra a indústria internacional de medicamentos, com a do Ministério de Esporte e Turismo. Portanto, José Agripino Maia (PFL-RN) usou de má fé ao fazer a absurda comparação. Aliás, essa deveria ser a maior prova de que não havia ambiente de confiança entre Serra e os serviços de segurança do governo – coisa da qual estava sendo acusado. Essa é a lógica.

Ainda não acabou. Novamente a revita IstoÉ, no dia 15 de maio de 2002, publica outra matéria - Aparece o contato –, assinada por Leonel Rocha, Ricardo Miranda, Sônia Filgueiras e Weiller Diniz, ainda acusando o PSDB na estória da arapongagem contra Roseana. A reportagem dizia que “o jogo pesado utilizado para aniquilar a principal adversária dos tucanos, a ex-governadora do Maranhão Roseana Sarney (PFL)... acabou se voltando contra o candidato José Serra (PSDB)”. Dessa vez, a revista já afirmava que desde novembro de 2001, José Heitor Nunes, sócio da Interforte (contratada para espionar a governadora e sua família) juntamente com o policial federal Jonathan Sardenberg já faziam “um serviço sujo sob encomenda: escutas clandestinas nos telefones de Roseana e Murad, levantamento sobre os negócios da família e tudo o que caísse na rede, até fotos íntimas”.

A revista dizia também que Heitor deixara vazar o que estava fazendo, em conversas com pessoas do meio político, oferecendo-se para vender parte do material e até para entregar o nome do cliente que encomendara a tocaia: Luiz Alberto Marques, o Lam, um publicitário de Brasília, que a reportagem afirmava ter trânsito livre no tucanato e amizades influentes.

A matéria revelava que Lam trocara dezenas de telefonemas com os mesmos arapongas que montaram a escuta nas linhas de Roseana, divulgando uma relação de ligações telefônicas que pretendia provar a intensa confabulação entre eles: “Do final de fevereiro ao início de março, Lam, usando seu celular (61-9982-4991), trocou 13 telefonemas com Heitor”, num total de 18m28s... nos dias 20, 21, 25 e 28 de fevereiro e 4 de março... No dia 28 de fevereiro, foram três ligações, inclusive a mais longa delas, de 5m49s...”

Em resposta, uma carta do acusado:

Tendo em vista matéria publicada na revista ISTOÉ, sob título “Aparece o contato” (ISTOÉ 1702), acusando-me de ser o responsável por uma operação de informação entre empresas, tenho a esclarecer o que segue: 1) A empresa Interforte Sistemas de Segurança Ltda., citada na matéria, foi contratada no dia 6 de fevereiro pelo nosso escritório de Brasília para a verificação do seu sistema de telefonia. Para a realização desse serviço a Interforte apresentou proposta, efetivamente realizou o trabalho, entregou relatório técnico e recebeu os seus honorários estipulados no contrato, como qualquer empresa do mercado; 2) Antes de 6 de fevereiro, nem eu e nenhum dos nossos colaboradores conhecia ou mantinha qualquer contato com os diretores da Interforte citados na matéria; 3) Por iniciativa própria e abalado pela mencionada matéria, coloco, a partir desta data, à disposição das autoridades, sem quaisquer restrições de sigilo, meus telefones pessoal, profissional e da família, assim como minhas contas bancárias, referentes aos últimos 30 anos; 4) Movido unicamente pelo desejo de que se apure a verdade e se faça justiça, afasto-me das minhas funções da direção da empresa em Brasília durante o tempo necessário para que sejam realizadas quaisquer investigações desse danoso episódio. Não tenho motivo para temer nem mentir; 5) O envolvimento injusto de um profissional que nem sequer transita nas esferas da política partidária são indícios claros de um movimento em favor de causas nebulosas, desconhecidas e inconseqüentes; 6) Diante de acusações graves, contra minha pessoa, estou tomando todas as providências legais para defender os meus direitos.


Luiz Alberto Marquez Brasília – DF

Antes de continuar, é preciso fazer alguns esclarecimentos que são imprescindíveis para argumentar a teoria que mais adiante seguirá, dando uma outra suposta versão para o caso do grampo nos Sarney.

Luiz Alberto Marquez

O publicitário, ao contrário do que teria acontecido se tivesse agido em conluio com o PSDB (e bem diferente do que aconteceu com a Fence), não teve seu emprego comprometido e nem a agência de publicidade que dirigia deixou de atuar normalmente no mercado, tendo, inclusive, mantido e/ou assinado outros contratos no atual governo de Lula. Isso pode ser confirmado no depoimento que Luiz Alberto Márquez prestou na CPI dos Correios. Seguem alguns trechos de seu depoimento:
Sr. LUIZ ALBERTO COSTA MARQUES (DIA 16 DE NOVEMBRO DE 2005 ÀS 10:30 HORAS):

PRESIDENTE (Juíza Denise Frossard. PPS – RJ): - Indago de V. Sª se tem algum impedimento para prestar o compromisso de dizer a verdade, sob pena de falso testemunho?

SR. LUIZ ALBERTO COSTA MARQUES (LAM): - De jeito nenhum. Isso já está inclusive assinado.

PRESIDENTE: - Advirto-o de que o falso testemunho é um crime previsto no Código do Processo Penal, que diz que é crime fazer afirmação falsa, negar ou calar a verdade como testemunha, perito, tradutor ou intérprete em processo policial, judicial ou administrativo ou em juízo arbitral e cuja pena é de um a três anos de reclusão e multa. Há formas agravadas e formas atenuadas, mas o tipo fundamental é esse. V. Sª está de acordo?

LAM: - De acordo... Meu nome é Luiz Alberto Marques. Há trinta anos sou publicitário, sou formado em Economia e Administração de Empresas. Desses trinta anos na publicidade, estou há quinze anos em Brasília. Desses quinze anos, eu dirijo o escritório local da Ogylvi Brasil Comunicações e estou perfeitamente a par de todas as nossas operações no atendimento publicitário de contas públicas em Brasília, durante esse período... A Ogylvi é um nome conhecido internacionalmente. É um grande publicitário inglês, falecido há três ou quatro anos, era titular, criou uma organização de publicidade chamada Ogylvi & Mather, que, ao chegar ao Brasil, associou-se com uma empresa brasileira chamada Standard. Durante muitos anos, operou no Brasil com o nome de Standard, Ogylvi & Mather. Há cerca de três ou quatro anos, ela assumiu uma nova personalidade de marca e começou a se tratar ou a ser conhecida como Ogylvi. É uma organização que tem 99,9% do seu capital comandado pela sua matriz em Londres, tem ações na Bolsa de Londres e na Bolsa de Nova Iorque, é uma empresa absolutamente auditada, permanentemente auditada exatamente por esse motivo, pelo fato de estar nas Bolsas de Londres e Nova Iorque, sujeita inclusive aos rigores das leis americana e inglesa sobre esse assunto... A matriz brasileira está em São Paulo, tem um escritório no Rio e temos o escritório em Brasília, o qual dirijo durante esse período de dez anos.

O SR. RELATOR (José Eduardo Cardozo. PT – SP): – A função que V. Sª exerce na Ogylvi?

LAM: – Exclusivamente a direção do escritório de Brasília, a diretoria geral do escritório de Brasília... Nós começamos, a Ogylvi começou a trabalhar com órgãos públicos, Excelência, exatamente em 1997.

RELATOR: – Com que órgão?

LAM: – Veio com os Correios, a licitação ganha foi com os Correios. Posteriormente, muito tempo depois, em 2002, com o Ministério da Saúde; em 2003 com o Banco do Brasil e, neste ano, começamos a trabalhar com o MDS, Ministério do Desenvolvimento Social.

RELATOR: – Em 2005?

LAM: – É, só que a conta Correios atendemos de 97 até 2003. O Ministério da Saúde de 2002 a ?... De 2002 até março de 2005.

RELATOR: – Banco do Brasil?

LAM: – A partir de setembro de 2003.

RELATOR: – Permanece em curso o contrato?

LAM: – Permanece em curso o contrato. Teve uma renovação ao término do primeiro ano, em 2004.

(...) RELATOR: – O senhor tem condições de nos descrever, mais ou menos, relativamente aos gastos que o Banco do Brasil tem feito nos seus contratos? Qual foi a evolução, se há um crescente, se houve diminuição ou se há linearidade?

LAM: – No primeiro ano, assinamos um contrato – se não me engano, estava especificado na própria licitação – de R$152 milhões.

RELATOR: – Quanto, efetivamente, os senhores receberam nesse primeiro ano?

LAM: – Deputado, no primeiro ano, em 2003, recebemos R$5 milhões. Estou considerando o ano janeiro/dezembro. O contrato foi assinado em setembro e é considerado de setembro a setembro, mas os meus números são pelo meu sistema de contabilização, que é o ano fiscal. Em 2003 e 2004 foram R$57 milhões.

RELATOR: – Foram R$5 milhões em 2003...

LAM: – E mais R$52 milhões em 2004.

RELATOR: – Foram R$52 milhões em 2004. E em 2005?

LAM: – Em 2005, até o dia 21 de novembro, estávamos com R$67 milhões. Houve um aumento proporcional, inclusive pela saída da DNA, que parou operações.

Revista IstoÉ

A IstoÉ é uma revista que tem prestado bons e maus serviços à sociedade (e, justiça seja feita, ela não está sozinha nesse modus operandi), como órgão de mídia, porque algumas vezes publica inverdades, faz acusações sem provas ou até mesmo inverídicas (indenização a Eduardo Jorge por calúnia e difamação – o próprio José Dirceu reconheceu o “erro”) e adquire material para suas reportagens de maneira, digamos, pouco ética. Um exemplo:

Agência Câmara "Publicitário acusa ex-secretéria de chantagem"copyright Agência Câmara, 6/7/2005, às 12h26


"O empresário Marcos Valério, acusado de ser o operador do esquema de pagamento de ‘mesadas’ a deputados, acusou a sua ex-secretária Fernanda Karina Somaggio de chantageá-lo. Ela é uma das principais testemunhas de acusação ao empresário. Para demonstrar a inconsistência das denúncias feitas por Fernanda, o empresário deu o exemplo de um caso que teria ocorrido no mês passado: segundo Valério, depois de a secretária ter dado entrevista ao repórter Gilberto Mansur, da revista IstoÉ, ele apresentou documentos ao jornalista para refutar as declarações de Fernanda, e a revista ‘desistiu de publicar a matéria’. Após a declaração, a senadora Heloísa Helena (PSol-AL) questionou Valério se o nome completo do repórter seria Gilberto Alípio Mansur, que teria sacado R$ 300 mil da conta do empresário, segundo dados do Coaf. Valério disse não saber. As declarações foram dadas durante reunião da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito dos Correios, que prossegue na sala 2 da ala Nilo Coelho, no Senado."


É saudável relembrar que, em sua edição de 2 de janeiro de 2002, a IstoÉ trazia na capa a Senadora Roseana Sarney. Dentro da Revista, uma reportagem completa sobre a vida da senadora, enaltecendo a figura de uma mulher no poder: “O PFL aposta pesado em Roseana, transformando-a na estrela solitária de sua propaganda, sem falar na máquina de comunicação controlada pela família no Estado, com as emissoras de televisão que transmitem a Rede Globo, além do maior jornal, o Estado do Maranhão, e emissoras de rádio na capital e no interior. Curiosamente, o calcanhar-de-aquiles de Roseana, a governadora que tem 88% de aprovação popular, está dentro de casa: o Estado continua muito pobre e não serve como currículo”. Na verdade, a revista destacava os brasileiros do ano, entre eles Aécio Neves e Zagallo, mas era ela, Roseana, quem estava na capa.

IstoÉ e Weiller Diniz

O premiado Jornalista Weiller Diniz já fez parte da Assessoria de Imprensa de Renan Calheiros (o senador que defendeu o SIM no referendo do Desarmamento e que pertence à ala “lulista” do PMDB, junto com o senador José Sarney), quando este era o líder do PMDB, no Senado, durante o Governo de F.H. Cardoso. Em março de 2005, deixou a revista IstoÉ, para retornar à Assessoria de Imprensa do então já presidente do Senado, novamente o Senador Renan Calheiros (PMDB). Parece haver uma certa constância entre estes dois nomes, o que representa um perigo real, quando se considera que o sr. Weiller Diniz tem ascendência sobre um poderoso veículo formador de opinião - a revista IstoÉ, da qual consta já ter sido repórter e diretor. Vejam como as coisas podem ficar complicadas quando isso acontece:

Política - DA REDAÇÃO – Novo Extra (leia a matéria na íntegra)

Renan banca denúncia da IstoÉ contra João Lyra
Reportagem teria custado R$ 700 mil e também teria sido negociada diretamente pelo senador com a diretoria da revista. Denúncias já conhecidas dos alagoanos foi requentada para produzir repercussão eleitoral... Na trama urdida para desestabilizar a candidatura de João Lyra, soube-se que Weiller Diniz, que já foi diretor da IstoÉ e hoje está lotado no gabinete do senador Renan Calheiros, procurou o jornalista Hugo Studart e aí combinaram a reportagem de capa da revista”.
O PT – Uma Quadrilha

A Revista Veja (Edição 1826), em 29 de outubro de 2003, trazia uma matéria - Paz, amor e guerra (por Policarpo Junior) – que revelava os bastidores da corrida presidencial de 2002: “Há um ano, Lula venceu a eleição com um estilo "paz e amor", mas, nos bastidores, uma equipe do PT trabalhou noite e dia desencavando denúncias e dossiês e promovendo blefes e negociações sigilosas para enfraquecer seus adversários”.

A revista entrevistou dezessete personagens (entre os próprios “agentes” petistas e sua “vítimas”) para recuperar os bastidores da campanha do PT à presidência, em 2002, e encontrou um intenso contraste entre a leve imagem pública do candidato “Lulinha Paz e Amor” e o pesado trabalho sigiloso de seus assessores. Preparem-se os leitores, porque, qualquer semelhança com o que temos visto ocorrer no país, nos últimos quatro anos, especialmente agora, no caso do dossiê Vedoin, não é mera coincidência não.

O que havia, já naquela época, nos subterrâneos de sua campanha do PT, era uma verdadeira operação de guerrilha: “havia guerra... de defesa, com batalhões prontos para salvar Lula de ataques destruidores, e principalmente guerra de ataque, com tropas entrincheiradas para estraçalhar candidaturas adversárias”.


A criação do bunker - uma espécie de quartel general - começou no fim de 2001, segundo a Veja, quando o advogado João Roberto Egydio Piza Fontes, que trabalhava para Lula havia quase dez anos, convenceu o então presidenciável Lula a montar uma espécie de célula guerrilheira que atuaria protegendo o candidato das armadilhas de campanhas passadas e espalhando, ao mesmo tempo, “minas terrestres no campo dos adversários. Seria um trabalho secreto e pesado”. "Seja inteligente. Não faça nada de manoel ou joaquim nessa história", disse Lula ao advogado, dando-lhe luz verde para seguir com o plano. “E tudo foi feito como Lula queria”, ressalta a reportagem.

O bunker guerrilheiro era formado por pessoas da confiança de Lula e sindicalistas ligados à Central Única dos Trabalhadores (CUT)". João Piza era o coordenador-geral. Ricardo Berzoini, era o orientador político que, a partir de pesquisas reservadas, instruía o grupo sobre os alvos que mais interessavam atacar. O sindicalista Osvaldo Bargas, velho amigo de Lula, fazia a ligação entre o grupo e o candidato, passando as informações mais relevantes. Outro sindicalista, Carlos Alberto Grana, então secretário-geral da CUT, cuidava da logística do grupo – carros, celulares, passagens, dinheiro... Os encarregados de colher informações que pudessem eventualmente prejudicar os candidatos rivais de Lula eram militantes da base do PT ou aliados acomodados em sindicatos ou movimentos sociais.

Segundo a matéria da Veja, o grupo trabalhou quase um ano desencavando denúncias e dossiês, promovendo blefes e acordos sigilosos e lançando petardos certeiros contra Serra, Ciro e Anthony Garotinho.

A primeira missão foi quando estourou o escândalo de Santo André. “A partir de janeiro de 2002, com o seqüestro e morte do prefeito da cidade, o petista Celso Daniel, as investigações do caso esbarraram num esquema de propina montado na prefeitura e num festival de petistas grampeados. O primeiro alerta chegou ao grupo pelo empresário Antônio Celso Cipriani (2), da TransBrasil, que contratara os serviços de Piza no processo de falência de sua empresa”. "Estão fazendo uma armação contra o PT... Os telefones do Lula e de pessoas próximas a ele estão grampeados", teria dito Cipriani.
O grupo saiu a campo em duas frentes: evitar que o escândalo respingasse em cardeais do PT e impedir a divulgação do conteúdo dos grampos. No desdobramento do caso, o então procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, chegou a pedir a abertura de um inquérito para investigar José Dirceu, que presidia o partido e coordenava a campanha, mas o ministro Nelson Jobim, do Supremo Tribunal Federal, não aceitou a denúncia por escassez de provas”.

Gilberto Carvalho, ex-secretário da prefeitura de Santo André, e um dos que havia sido grampeado, disse ao grupo que, se divulgado, o conteúdo dos telefonemas poderia gerar constrangimento, mas não escândalo. Mesmo assim, o bunker não pretendia arriscar e apelou ao procurador Luiz Francisco de Souza (é também autor do livro "Socialismo: uma utopia cristã"), usina de denúncias contra tucanos em Brasília, segundo a Veja) “para retirar as fitas das mãos da Polícia Federal e dos promotores paulistas, identificados como excessivamente tucanos". “Sabendo que o grampo fora ilegalmente instalado pela polícia, Luiz Francisco acionou a controladoria de atividades policiais do Ministério Público, que intervém nos casos em que há abuso policial. Deu certo. A controladoria acionou a Justiça paulista, que, diante das evidências da ilegalidade da escuta, mandou apreender as quarenta fitas”.

Em maio de 2002, “Anthony Garotinho, que concorreu pelo PSB, foi o primeiro alvo da soldadesca petista. O advogado João Piza convidou Paulo Costa Leite, candidato a vice de Garotinho, para uma conversa. Tentou convencê-lo a renunciar em favor de Lula, fortalecendo o petista e deixando Garotinho na chuva”. Nada aconteceu, porém. Pouco depois desse episódio, “Costa Leite foi levado à renúncia com a revelação de que, no passado, pertencera ao SNI”. A revista ÉPOCA fez a revelação. Não queria ficar com Lula, então que ficasse sozinho. Hoje, sabe-se que Garotinho pagou bem caro por isso. Bem feito! Não deveria ter bancado o palhaço no caso dos grampos contra Roseana, que ocorrera meses atrás, dando apoio a um Sarney (e indiretamente ao PT, conseqüentemente) que veio, aos poucos, a lhe abandonar impiedosamente.


E a reportagem continua. Agora era a vez de abalar a candidatura de Ciro Gomes. “No fim de julho de 2002, a campanha esquentava, o movimento nos bastidores já era intenso e o deputado Ricardo Berzoini chegou com uma notícia extraída de uma pesquisa: "No segundo turno, a gente perde feio para o Ciro", disse. O bunker petista, então, acionou o sindicalista Wagner Cinchetto, um arquivo vivo das malandragens que precederam a criação da Força Sindical, central de onde vinha Paulo Pereira da Silva, o vice de Ciro. Um ano antes, a guerrilha do PT já usara os serviços de Cinchetto, que apresentou uma série de denúncias sobre as peripécias de Luiz Antonio de Medeiros na
Força Sindical. As denúncias, naquela época, foram providenciais. Medeiros, presidente do PL paulista, resistia à idéia da adesão de seu partido à candidatura de Lula. Com as denúncias de Cinchetto e a ameaça de cassação de seu mandato de deputado, Medeiros passou a examinar com mais simpatia a hipótese de levar o PL a apoiar o PT – o que acabou se concretizando. Agora, porém, o alvo era Paulo Pereira da Silva, sobre quem Cinchetto já reunira munição. Em julho, era hora de vazá-los à imprensa (outra vez a ÉPOCA)... Nessa época, Pereira da Silva foi atormentado por denúncias de compra superfaturada e desvio de dinheiro de um fundo público. "Até hoje, não consegui saber se isso foi coisa do PT ou do PSDB", diz Paulo Pereira da Silva, que na época acusou o tucanato. "É que o Serra nunca quis que eu formasse chapa com o Ciro." Agora, Pereira da Silva já sabe: foi coisa do PT”.


Entretanto, agora, Ciro Gomes dá uma de cínico, fingindo não conhecer esta estória, e apóia Lula. Ele acusa os tucanos de fazerem justamente aquilo em que o PT confessadamente se especcializou. Ciro Gomes acusa o PSDB de "ter armado" para cima dos petistas no caso do dossiê Vedoin:
Petistas caíram feito patinhos em armação de tucanos, diz Ciro Gomes 21 DE SETEMBRO DE 2006 - 19h04http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=7792

Para Ciro Gomes, os petistas acusados de negociar a compra do dossiê são "aprendizes de mafiosos". Ele se mostrou preocupado com a possibilidade de o escândalo vir a abalar a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas ponderou afirmando que a população brasileira saberá discernir quem estaria interessado nessas denúncias. "Não é o Lula, que está em primeiro nas pesquisas, mas sim quem está embaixo", provocou o ex-ministro de Lula.


Como todos nós sabemos, “o alvo mais constante da guerrilha petista foi José Serra e seu flanco mais vulnerável, o economista Ricardo Sérgio de Oliveira, caixa das campanhas tucanas e ex-diretor do Banco do Brasil. Em maio de 2002, os petistas procuraram o ex-senador Antonio Carlos Magalhães, minucioso colecionador de histórias sobre Ricardo Sérgio... ACM entregou um calhamaço de 1.000 páginas a um enviado petista, o advogado Terence Zveiter, que narravam episódios referentes à atuação de Ricardo Sérgio na privatização das teles. Com a papelada na mão, Zveiter telefonou para seu contato em São Paulo... Dias depois, capítulos do dossiê começaram a aparecer nos jornais”.

Não acabou, não – tem mais. Um episódio que muito se assemelha ao que veio a ocorrer, anos depois, com a invasão da conta bancária do caseiro Francenildo e agora, mais recentemente ainda, quando há fortes suspeitas de que o sigilo do chefe das “sanguessugas”, Luiz Antônio Vedoin, tenha sido quebrado no Banco do Brasil. “O bunker do PT precisou descolar um contato com acesso a um cofre na sede paulista do Banco do Brasil, na Avenida Paulista, onde havia documentos sobre um empréstimo que um aparentado de Serra, Gregorio Marin Preciado, fizera do BB e que teria sido favorecido pelo então diretor do banco Ricardo Sérgio. O contato do PT, um funcionário do BB, ficou duas semanas preparando o acesso ao cofre. Conseguiu. Deveria entregar os documentos ao advogado Francisco Alvarez Neto, colega de João Piza... No mesmo dia, uma cópia da papelada desembarcou em Brasília e, pouco depois, apareceu nos jornais. Três semanas antes da eleição, os procuradores Luiz Francisco, ele de novo, e Alexandre Camanho entraram com ação contra Ricardo Sérgio por favorecer Gregório Preciado”.

E a revista termina o que teria sido uma reportagem capaz de aniquilar com qualquer governo empossado depois de tais procedimentos em campanha de eleição, dizendo que, um ano depois (na data da publicação desta reportagem), o advogado João Piza e seus sócios continuavam advogando para Lula, o PT e a CUT; o deputado Ricardo Berzoini havia-se tornado ministro da Previdência Social; o sindicalista Osvaldo Bargas ganhara o cargo de secretário de relações trabalhistas, no Ministério do Trabalho, em Brasília e sua esposa, Monica Zerbinato, o cargo de secretária particular de Lula; o outro sindicalista, Carlos Alberto Grana, continuava na CUT e representava a entidade num conselho federal que lida com verbas do Fundo de Amparo ao Trabalhador; o sindicalista Wagner Cinchetto prestava consultoria informal à CUT; o procurador Luiz Francisco, de Brasília, estava de malas prontas para passar um ano em Portugal, onde faria um mestrado; o deputado Luiz Antonio de Medeiros (o presidente do PL paulista que resistira à idéia da adesão de seu partido à candidatura de Lula) aliara-se ao PT e o pedido de cassação de seu mandato fora arquivado, com o voto favorável dos petistas; Antonio Carlos Magalhães voltara a ser eleito senador pela Bahia e a denúncia pela violação do painel eletrônico, que motivou sua renúncia, fora arquivada. E o juiz João Carlos da Rocha Mattos, da 12ª Vara Federal, ordenara a destruição das 42 fitas (apreendidas na Justiça paulista) que registravam o caso de Santo André.

Na verdade, Rocha Mattos foi preso, em 2003, julgado e condenado a 3 anos de prisão, em 2004, por vender sentenças para beneficiar criminosos em ações judiciais. Ele depôs na CPI dos Bingos, em 25 de Outubro de 2005, e afirmou não ter destruído as fitas, que estariam em poder da 4ª Vara da Justiça Federal. Na CPI, o juiz disse que o chefe de gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho, e o ex-secretário da prefeitura de Santo André, Klinger Luiz de Oliveira, eram os articuladores do esquema - e o deputado José Dirceu (PT-SP), o mentor: “O Gilberto Carvalho era o contato do Dirceu. Era ele quem coordenava a parte jurídica do esquema. Nas fitas, não havia qualquer gravação direta com os irmãos de Celso Daniel, mas havia várias citações. Eles estavam preocupados com as declarações dos irmãos do ex-prefeito".


Falta realçar um detalhe: Oswaldo Bargas (que fazia parte do Bunker e que ganhara o cargo de secretário de relações trabalhistas, no Ministério do Trabalho, em Brasília) está envolvido agora também no caso do dossiê Vedoin. Foi ele quem entrou em contato com a revista IstoÉ para combinar a entrega do dossiê montado (já que teriam sido filtradas informações sobre petistas envolvidos e haveria uma declaração mentirosa de Vedoin a respeito de Serra) para incriminar José Serra e Barjas Negri, ex-ministros da Saúde. no governo FHC. Bargas afirmou, em depoimento na PF, que o presidente do PT, Ricardo Berzoini, sabia do encontro e do dossiê, mas que não sabia do seu conteúdo. Será?! Afinal, Berzoini e Bargas são ex e atuais companheiros de bunker.

Mas, e quanto à candidata Roseana Sarney? Nada fizeram contra ela os petistas em 2002? Logo a senadora, uma das favoritas à eleição presidencial? Teria sido a senadora a única que escapou das garras do PT? Depois de tudo que vimos acima, é muito provável que o PT tenha feito alguma coisa sim para tirar uma tão forte e ameaçadora concorrente do futuro páreo nas eleições. E talvez tenham feito da mesma forma que agem agora no caso do dossiê Vedoin, só que, na época, armando uma situação que passasse a legítima impressão de que teria sido uma armação do PSDB para prejudicar a candidatura de Roseana. Naquela época, ao que parece, talvez tenha dado tudo certo (como ocorreu com os outros casos que a Veja publicou na matéria acima citada). Já agora, não era para que a PF pegasse o agente aposentado, da própria PF, Gedimar Pereira Passos, dentro do quarto de hotel, junto com Valdebran Padilha, onde ambos foram presos com parte do tal dossiê e mais R$ 1,75 milhões. Foi um azar (deles e sorte do país).

O QUE PODERIA TER ACONTECIDO NO CASO ROSEANA?
UMA PLAUSÍVEL TEORIA

Logo no início de 2002, percebendo que o PFL e o PSDB não abririam mão de seus candidatos, em nome de coligações, e que o PMDB acabaria inexoravelmente apoiando ou um ou outro, o PT optou pela destruição da possível coligação mais ameaçadora: PFL e PMDB. Para isso, bastava analisar todas as informações obtidas com as espionagens clandestinas (lembram do bunker do PT?) e com material veiculado pela mídia. As informações montavam o seguinte quadro:

1) Roseana Sarney:

- Na mídia:
. Forte candidata que parecia identificar no candidato José Serra seu maior adversário e, portanto, sua grande preocupação. Outras disputas entre PFL, PMDB e PSDB favoreciam a possibilidade de dificultar a identificação de um eventual episódio que visasse prejudicar a candidatura de Roseana, ajudando, assim, ações do PT, já que ficaria difícil identificar o partido como o único interessado na ação.


- Na clandestinidade:
. Escutas telefônicas e espionagem detectavam os caminhos da captação de dinheiro para campanha, bem como datas de entrega de quantias reveladoras. Fotografias comprometedoras. A existência de uma investigação da Polícia Federal em torno das ações do marido da candidata, Sr. Jorge Murad, que, além de já ser pública, poderia legitimar qualquer atitude da PF em relação a descobertas “interessantes”, bem como apreensões.


2) José Serra


- Na mídia:
. Candidato forte, porém sem apelo popular, principalmente se estiver isolado.


- Na Clandestinidade:
Além do já conhecido elo de José Serra com o Superintendente da PF do Rio de Janeiro, Marcelo Itagiba, Serra contratara uma empresa para fazer a varredura permanente na sede do Ministério da Saúde, onde trabalhava, bem como onde trabalhavam todas as pessoas a ele relacionadas. Isso era muito conveniente porque poderia induzir à seguinte conclusão: uma empresa que é capaz de fazer varredura, em tese, naturalmente seria capaz de fazer escutas clandestinas. Portanto, isso poderia ser mais um argumento para incriminar o candidato Serra em eventual caso de espionagem relacionado à candidata Roseana, fazendo com que parecesse obra do PSDB e não do PT.

Com base nestes dados, o PT poderia ter os primeiros elos da operação que levaria seu candidato à presidência da república. O plano seria fazer com que José Serra fosse incriminado por espionar Roseana Sarney e pela posterior divulgação de dados obtidos com esta operação. Os fatos seriam montados para que houvesse as seguintes conclusões:

- Serra contrata a FENCE – Em princípio, esta empresa é que ficaria sob a suspeita de ter espionado Roseana e sua família.
– Serra poderia ser suspeito de passar as informações a seu amigo da PF
– Este, então, seria suspeito de as ter repassado à PF do Maranhão, que acabaria fazendo apreensão na Lunus e encontraria o dinheiro de campanha (fotografa, filma e mostra as imagens para o país todo) de Roseana.
– A operação da PF poderia ser justificada em investigações já existentes, como foi falado aqui anteriormente.
– A feliz coincidência e o desastre do escândalo destruiriam a candidatura de Roseana!
- Ela, desesperada, conduziria seu raciocínio, com base nas obviedades mais simples e sem maiores reflexões, no sentido de procurar evidências de culpa no candidato José Serra e na participação do presidente FHC. É lógico que a mídia (militante ou não do PT) contribuiria para isso, voluntária ou involuntariamente.
Porém, com o andamento das investigações, logo apareceriam indícios da participação de outros agentes – que eram os verdadeiros montadores da operação. Isso exigiria a elaboração de um segundo plano de ação, que, por sua vez, exigiria novos esforços no sentido de desviar a atenção de raciocínios factuais e investigativos que pudessem incriminar o PT.

Pensando nisso, para executar o trabalho de espionagem e escuta, o PT encontraria a empresa ideal. Na verdade, tratava-se de duas empresas que pertenciam aos mesmos donos e faziam o mesmo tipo de trabalho: espionagem sofisticada. Eram elas a Mundo da Segurança Sistemas Eletrônicos e a Interforte Sistemas de Segurança, que se identificavam como revendedoras de kits de espionagem. Os donos das empresas eram Jonathan Sardenberg, ex-agente da Polícia Federal, e José Heitor Nunes. Entretanto, o detalhe mais perfeito de todos, para o sucesso da operação do PT seria o seguinte: Jonathan tinha sido segurança do, então atual, presidente FHC, e, de fato, trabalhara com ele durante a campanha presidencial de 1988. Sabia-se que Jonathan ainda tinha muitos amigos na Polícia Federal e que se favorecia de tráfico de influência, para conseguir contratos de prestação de serviços de varredura eletrônica (antigrampo) com clientes como o Comando da Marinha e o Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle do Tráfego Aéreo (Cindacta) – todos feitos sem licitação, segundo afirmava a revista IstoÉ.

São dois os aspectos importantes a ressaltar:

1) Embora seja comum que ex-policiais passem a trabalhar nos setores privados de segurança e que deva haver dezenas deles fazendo isso, inclusive licitamente, o PT teria achado algum que pudesse, eventualmente, induzir à conclusão de ligação direta com algum membro do PSDB (assim como fez com o publicitário Luiz Antônio Marques – coisa que se provou ser falsa). E teria achado o melhor deles, pois, o suposto vínculo com FHC, poderia levar à conclusão de influência direta do então presidente, no acionamento do Ministério Público, para autorizar as operações de flagrante do dinheiro, no escritório da Lunus (do marido de Roseana).

2) Por terem ainda muitos amigos na PF, Jonathan e Heitor poderiam conseguir agentes da PF do Maranhão, em quem confiassem, para ajudar na operação. Podendo dispor de informações sobre o andamento das investigações sobre Jorge Murad, com os agentes da PF do Maranhão, e sabendo exatamente como, onde e quando, poderiam conseguir um flagrante do dinheiro da campanha de Roseana, através das investigações clandestinas, era somente uma questão de sincronizar bem as ações.

Fechar-se-ia o segundo plano da operação. Desta forma, o caso todo tomaria o seguinte formato:

- Descobrir-se-ia que não havia sido foi a empresa contratada por Serra para fazer varreduras (a FENCE), mas a Interforte Sistemas de Segurança Ltda que espionara Roseana
– Descobrir-se-ia, igualmente, que um dos donos desta empresa poderia estar (conveniente e coincidentemente) vinculado à FHC – logo se levantaria a suposição de que o cruzamento de informações, entre a investigação da PF, sobre Jorge Murad, e a dos trabalhos de espionagem, permitiriam o planejamento da data da ação da PF
– Também seria fácil elocubrar que o Sup. da PF (RJ), amigo de José Serra, tivesse informado a PF, no Maranhão, para que essa desse o flagrante do dinheiro na Lunus.
– Finalmente, concluir-se-ia que FHC induzira o Ministério Público a autorizar a ação da PF. Operação esta que teria sido um sucesso (como evidentemente o foi) – e a candidatura de Roseana cairia por terra. E caiu.
Já com uma versão de contundente verossimilhança sobre o episódio e culpando-se a quem se queria culpar, os ódios e as dilacerações tomariam conta do cenário político e não permitiram que nem uma única pessoa mais lúcida sequer pudesse perceber que, agora sim, estaria todo o cenário preparado para a triunfal entrada de “Lulinha – Paz e Amor” no palco da disputa eleitoral pela Presidência da República. Ninguém percebeu quem foi o maior beneficiado? Até hoje, parece que não.

Minto. Ninguém, não, pois, já naquela época, foram estas as palavras do líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN), a respeito das circunstâncias do rompimento, que impossibilitavam qualquer recomposição futura entre PFL e PSDB: “O Serra não ganha com isso, os candidatos da oposição, sim. Se o Serra for para o segundo turno ele está frito, não tem nosso apoio e vice-versa” (IstoÉ – 8/03/2002 – Duplo Haraquiri). E, a própria matéria da IstoÉ, ainda diz mais adiante: “Por outro lado, a descoberta da arapongagem tucana pode enterrar de vez a candidatura de José Serra. Hoje, esse é o quadro em que mais apostam os analistas políticos: Serra e Roseana estão prestes a executar um duplo haraquiri”.

Tanto isso é verdade, que a própria IstoÉ, pouco tempo depois, no dia 15 de maio de 2002, publica uma matéria (já acima citada) - Aparece o contato – onde dizia que: “O jogo pesado utilizado para aniquilar a principal adversária dos tucanos, a ex-governadora do Maranhão Roseana Sarney (PFL), envolvendo arapongagem, dossiês e tocaias, acabou se voltando contra o candidato José Serra (PSDB). Um mês depois de Roseana renunciar à sua candidatura, torpedeada pela batida da Polícia Federal na sede da Lunus Serviços e Participações, chegou a hora de Serra ter problemas”.

Custo da operação: entre 2 e 5 milhões. Como se chegaria a esse número? Vejam o trecho abaixo, tirado da reportagem de Weiller Diniz, Ricardo Miranda e Vasconcelos Quadros - Poder Paralelo, de 20/03/2002, na revista IstoÉ (já citada neste artigo):

“... Heitor foi à capital maranhense por volta de outubro para fazer varredura nos telefones de um cliente. Nem precisavam estar lá. Heitor ensina que uma operação como a que produziu o dossiê contra Roseana custa perto de R$ 3 milhões, leva meses e emprega muitas pessoas. “Que grupo político tem bala na agulha para bancar uma operação para derrubar Roseana?”, pergunta..”.

Certamente alguns, poderíamos responder - entre eles, certamente, o PT. Como? Basta verificar o que vinha sendo feito nas prefeituras de Santo André, de Campinas – esta, inclusive, com provas bastante substanciais, reveladas por Paulo de Tarso – e de tantas outras. Muito do que hoje se apura sobre o PT, envolvido em inúmeros escândalos de corrupção, já era praticado bem antes da ascensão de Lula à Presidência da República. Isso, para não falar de metas estabelecidas no Foro de São Paulo e das ligações com as FARC, cuja Abin tinha conhecimento, antes das eleições de 2002, e não divulgou porque o comando achou que poderia prejudicar a candidatura de Luiz Inácio da Silva.

Um detalhe importante para garantir perfeita verossimilhança nos caminhos que levariam à identificação da Interforte:

No final de fevereiro de 2002, o então governador do RJ, Anthony Garotinho (um candidato que até certo ponto não representava perigo, na disputa) foi procurado por uma pessoa que teria lhe oferecido, gratuitamente, material sobre Roseana (fotos, relatórios e documentos). Garotinho teria visto o material, mas recusado a oferta. O portador identificara-se como emissário do deputado Márcio Fortes (PSDB/RJ), um dos coordenadores da campanha presidencial do senador tucano José Serra na época. Para dar respaldo a esta identificação, um grupo de arapongas havia circulado por Brasília, afirmando ter sido contratado pelo PSDB, para produzir um levantamento a respeito da família Sarney. O episódio teria sido relatado ao Senador José Sarney, pelo próprio Garotinho.

Vamos ver se deu para entender:

Um desconhecido que não revela o próprio nome procura Anthony Garotinho que, como Governador de um Estado da complexidade do RJ, com agenda toda comprometida, pára tudo o que está fazendo, para recebê-lo e passa horas, junto com ele, examinando todo o material que o desconhecido lhe trouxera. O tal diz que teria vindo oferecer o material, inteiramente grátis, em nome do Deputado Márcio Fortes e o Governador acredita piamente, sem ao menos dar um telefonema para confirmar a afirmação. Depois, imaginando serem idiotas, tanto o deputado, como o candidato José Serra, acredita que os dois, cometendo suicídio político, teriam feito questão absoluta de se identificar. Garotinho recusa a oferta e despacha o cidadão, com o material!!!! Em seguida, o governador procura o senador José Sarney para contar tudo e dizer que tinha acabado de deixar todo o material que comprometia sua filha ser levado, sabe-se lá para onde. Por último, os contratados para fazer uma operação ilegal e sigilosa saem por Brasília alardeando o que estão fazendo e anunciando para quem estão fazendo.

E Chapeuzinho Vermelho desceu as escadas correndo, onde perdeu o sapatinho de cristal, montou nas costas de Dumbo, que já a aguardava, e foi para a casa de madeira, que o Lobo Mau, dias depois, acabou por fazer ir pelos os ares. Pelo amor de Deus! Imbecilidade tem limites!

O fato é que a única coisa, E A PRINCIPAL DELAS, que não foi devidamente apurada, ATÉ HOJE, tendo passado como questão de caráter conclusivo, foi QUEM TERIA CONTRATADO, de fato, A INTERFORTE, e COM QUE DINHEIRO, já que as “reportagens investigativas” simplesmente terminaram quando se chegou a estas incógnitas. Uma boa varredura nas contas bancárias, nas declarações de bens, e nos bens que realmente possuíssem os donos da Interforte (antes e depois da tal espionagem), por exemplo, talvez pudesse ter levado a boas conclusões! Mas, com Roseana derrubada e Serra prejudicado, estava tudo como se quisera, desde sempre!

Em qualquer filme policial de quinta categoria, ao investigar um crime, a primeira consideração do investigador é refletir sobre quem poderia sair ganhando com o ocorrido e, depois, verificar quem realmente saiu ganhando (qualquer semelhança. A comparação entre as hipóteses e a realidade que se tenha configurado, após o crime, levará à formulação das possíveis teorias sobre o caso. As pistas, indícios e provas indicarão qual delas será a mais provável, até que se confirme o que realmente aconteceu. Nesse caso, quem, aparentemente, teria ganho com o episódio que fez Roseana desistir de sua candidatura? Quem realmente acabou ganhando? Essas são questões que o tempo e a lógica parecem ter se encarregado de esclarecer. Entretanto, ainda restam a questão: QUEM, E COM QUE DINHEIRO, PAGOU A INTERFORTE?




(1) Revista Época – 24/03/2003: Aquela bolada de R$ 1,34 milhão divididos em notas de R$ 50, que, exibida pela TV, provocou a renúncia de Roseana Sarney à candidatura para a Presidência da República, poderá voltar para os donos depois de ficar um ano depositada na Caixa Econômica Federal. Por quatro votos a dois, o Tribunal Regional Federal decidiu restituir todos os papéis e o dinheiro apreendidos pela Polícia Federal na Lunus. No voto aprovado pelo tribunal, o desembargador federal Mário César Ribeiro considerou que a operação policial montada para apreender documentos na empresa foi uma 'medida requerida e deferida açodadamente, com grande alarde na mídia, sem nenhuma observância das necessárias e indispensáveis cautelas legais'. O Ministério Público Federal recorreu da decisão. Os procuradores alegam que a apreensão foi feita numa atividade legal de investigação que encontrou indícios de projetos fraudados da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). 'Em relação ao dinheiro, apesar das inúmeras versões, até hoje a origem não foi justificada', argumenta o procurador da República Mário Lúcio Avelar, autor do pedido para a diligência policial na Lunus. Em 2002, foram divulgadas pelo menos seis explicações diferentes para a dinheirama.


(2) Pequena Biografia de Cipriani:

1.
Folha de S. Paulo (2/3/2005): O ex-controlador da Transbrasil, Antonio Celso Cipriani, foi condenado ontem pela 4ª Vara Criminal da Justiça Federal de São Paulo a dois anos e quatro meses de prisão em regime aberto por crime de apropriação indébita de R$ 10,2 milhões -pelos valores de janeiro de 2002- em contribuição previdenciária. De acordo com nota divulgada ontem pelo Ministério Público Federal, a companhia aérea "descontava a contribuição do INSS do salário dos funcionários e não repassava à Previdência Social". De acordo com a procuradoria, o crime de apropriação indébita ocorreu no período de março de 2000 a outubro de 2001. O tempo de pena do empresário foi convertido em prestação de serviços comunitários "em instituição a ser definida pela Vara de Execuções Penais da Justiça Federal de São Paulo". Cipriani foi condenado a regime aberto, pela decisão judicial, "por ser réu primário e ter cometido um crime não-violento", de acordo com a procuradora da República Thaméa Danelon Valiengo. "A defesa alegou durante o processo que o recolhimento não foi feito por conta de dificuldades financeiras da Transbrasil", diz a procuradora. "Mas não conseguiram comprovar isso à Justiça." O juiz Alexandre Cassetari também determinou que o empresário pague 50 salários mínimos, valor que será doado a uma instituição designada pela Vara de Execuções Penais, além de uma multa de mais 120 salários mínimos. O empresário também foi alvo da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Banestado, em 2004, que investigou suas transações financeiras. Senadores chegaram a pedir quebra do sigilo bancário, fato que acabou sendo motivo de uma disputa política que inviabilizou a comissão.

2.
IstoÉ Dinheiro - Sexta-feira, 2 de Março de 2001 (Paula Pacheco): A barba e algumas amizades influentes foram tudo o que sobrou de um passado não muito reluzente. Um dos “investigadores barbudos” da equipe do delegado Sérgio Paranhos Fleury, Antônio Celso Cipriani decolou, nos últimos 25 anos, uma impressionante carreira empresarial. Genro de Omar Fontana, fundador da Transbrasil recentemente falecido, ele galgou postos até herdar a presidência da companhia aérea. Ele foi escolhido pela viúva de Fontana, Denilda Pereira Fontana. A decisão contrariou parte do clã e Valéria, irmã de Marise, esposa de Cipriani, seria a mais descontente. Paralelamente, construiu um pequeno conglomerado de empresas, que inclui desde um luxuoso resort para esquiadores, a participação em uma mineradora, uma construtora, uma fábrica de computadores e a representação de marcas de helicópteros e aviões. Os desafetos de Cipriani garantem: em quase três décadas dentro da Transbrasil, ocupando cargos executivos, ele amealhou uma fortuna estimada em US$ 100 milhões. Cipriani diz que começou a trabalhar com Fontana em agosto de 1977, no departamento de auditoria. Na mesma época que entrou na Transbrasil, separou-se da primeira mulher, filha de um delegado, para, em seguida, se casar com Marise Fontana, filha de Omar. Cipriani também é sócio-majoritário na fábrica de computadores Waytec, instalada em Ilhéus (BA). O patrimônio inclui ainda 5% de participação no capital da Transbrasil e as ações que a mulher Marise herdou da Sadia, onde Cipriani pretende ocupar um assento no conselho.

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