Monday, May 14, 2007

MULHERES OFENDIDAS

Christina Fontenelle
14/05/2007
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O atrito entre a deputada do PT-RJ, Cida Diogo, e o deputado Clodovil Hernandes (PTC-SP) está tomando proporções que, mais uma vez, envergonham os pobres coitados dos brasileiros que são obrigados a eleger, periodicamente, supostos representantes para compor as casas da Câmara e do Senado.

Entre o que possa ser considerado prejudicial à imagem das mulheres perante à sociedade, o que tem feito a deputada dá de mil a zero no pronunciamento feito por Clodovil em relação a elas há poucos dias.

O deputado havia dito que "as mulheres ficaram muito ordinárias, ficaram vulgares, cheias de silicone e hoje em dia as mulheres trabalham deitadas e descansam em pé". A frase foi dita em entrevista concedida por Clodovil antes de entrevistar para seu programa da JBTV a ministra Dilma Roussef. Naturalmente, o deputado decidira entrevistar a ministra justamente por não considerar que a mesma fizesse parte desse grupo de mulheres – e que, por isso mesmo, mereceria ser entrevistada. Ou seja, na verdade, estaria fazendo brilhar, por destaque, precisamente mulheres que se destacam por sua postura antagônica à referida frase.

O deputado pronunciou uma frase que se encaixaria como verdade para muitas mulheres. Para outras não. Mas, o fato é que Clodovil emitiu eminentemente uma opinião pessoal. E está ficando cada dia mais difícil e perigoso emitir opiniões pessoais a respeito do que quer que seja. A onda do patrulhamento, de todos os tipos, está se espalhando de tal forma que já estamos vivendo a época dos sonhos das mais cruéis ditaduras: a censura histérica coletiva, onde ao cidadão são dados os instrumentos para que acabe por calar os que se manifestem contrários, ou apenas diferentemente, dos padrões ideologicamente aceitos pelo Estado. Não se iludam, o contrário não acontece – ou seja, os que pensam em dissonância com o Estado não têm voz e nem vez, pois, acabam podendo ser enquadrados nos mais variados tipo de criminalização da opinião. A mídia está cheia de casos semelhantes de censura a opiniões acontecidos recentemente.

Eu não me encaixo no grupo de mulheres ao qual se referiu o deputado Clodovil. Portanto, o pronunciamento “passou batido”. Ponto final. Do mesmo modo, acontece quando dou de cara com as inúmeras ofensas diárias dirigidas aos representantes da mídia. Em primeiro lugar, porque geralmente nenhuma delas se aplica ao jornalismo que faço e, em segundo lugar, porque são eminentemente simples emissões de opiniões. Aliás, algumas destas opiniões, proferidas, em sua maioria, com intuito de ofender, em razão de quem as emite, podem ser até tomadas como elogios. É preferível ter que agüentar ofensas e poder falar livremente sobre qualquer assunto do que, em nome do direito de não ser ofendido, ver o triunfo ascendente das mais cínicas formas de censura até que se cale o contraditório.

Ofensa por ofensa às mulheres, entretanto, na minha opinião, ficou mais qualificada na atitude histérica da deputada Cida Diogo quando, aos prantos, subiu à mesa diretora da Câmara, informando ao deputado Inocêncio Oliveira (PR-PE), que presidia a sessão, que Clodovil havia falado palavras de baixo calão a ela dentro do plenário. Ora, a nobre deputada não luta por direitos iguais entre homens e mulheres? Mulheres não podem ouvir palavrões?

Mas, o pior mesmo foi a histeria. É de costume ancestral dizer que mulheres, quando lhes findam os argumentos, desandam a chorar para “vencer” as disputas. Assim, mesmo que não tenham razão, no mínimo, tiram o brilho da vitória do opositor, desqualificando-o pelos “meios” utilizados para vencer. Há mais verdades na atitude da deputada do que nas vãs palavras de Clodovil.

Além do mais, a nobre deputada tem demonstrado pouca capacidade de interpretação ao longo deste episódio em particular: não entendeu o contexto do primeiro pronunciamento do deputado – o que deu origem à briga entre os dois parlamentares – e muito menos o teor do segundo, em que Clodovil teria dito o seguinte, segundo a própria Cida Diogo: "olha deputada, a senhora há de entender que aquela afirmação que eu fiz de que as mulheres são vulgares, ordinárias, foi apenas para as mulheres bonitas, e até uma p... tem quer ser bonita. E a senhora é feia e nem para p... serve".

A deputada insiste em dizer que foi xingada de feia e de p... por Clodovil. De feia foi, mas de p..., não. Ela planeja entrar com uma ação na Justiça contra Clodovil pelas agressões verbais que o parlamentar dirigiu a ela e às mulheres. Mal interpretou a realidade outra vez a deputada: Clodovil ofendeu Cida Diogo e não as mulheres. Por enquanto, a deputada, como pertencente ao gênero feminino da espécie humana, tem contribuído para disseminar na mídia algumas das piores características histórica e culturalmente atribuídas às mulheres – como, histeria, descontrole emocional, deficiente capacidade de interpretação objetiva de documentos e da realidade, ter na beleza e na vaidade o calcanhar de Aquiles, etc. Um desserviço à luta das mulheres que tanto têm lutado para derrubar o fardo de tantos estereótipos seculares atribuídos ao gênero.

O líder do PT na Câmara, deputado Luiz Sérgio (RJ), tomou a “dor da mulheres” e protocolou, no último dia 11 de maio, na presidência da Câmara uma representação contra o deputado Clodovil Hernandes por quebra de decoro parlamentar. Ele quer que a presidência da Casa determine à corregedoria a abertura de sindicância e a punição do deputado com medidas disciplinares. Acreditem, para Luiz Sérgio, Clodovil tem sido “extremamente preconceituoso, sexista e homofóbico” no exercício do mandato parlamentar. Sem comentários – há limites para tergiversação. Para o líder do PT, “O deputado Clodovil desrespeitou de forma veemente a Constituição Federal, o Código de Ética e o Regimento da Câmara, incorrendo, sem prejuízo da responsabilização pela prática de crime, em quebra de decoro”.

Eu vou omitir neste artigo o nome de algumas dezenas de colegas do deputado Luiz Sérgio que poderiam ser enquadrados nos crimes apontados por sua excelência, por práticas bem piores e muito mais lesivas ao Estado brasileiro. Não por delicadeza, não. É que, no momento, não tenho condições financeiras de ser processada.

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