Tuesday, May 08, 2007

VIVA A RESISTÊNCIA FRANCESA!

Christina Fontenelle
08/05/2007
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Azul... Branco... Vermelho... As cores da França. Nada como ver as cores de uma nação ressurgirem das cinzas e da resistência a um coletivismo escravizador, em nome das sociedades compostas por indivíduos – estes, sim, voluntariamente unidos, mas em torno de ideais e de valores comuns, para construir um futuro digno, onde a convivência entre os homens e os povos dar-se-á pelo exercício consciente do livre arbítrio. Não haverá paz que dure se não for construída com base no exercício da liberdade.

São os rebeldes do século XXI acenando as bandeiras da resistência – a nova resistência francesa. Lições antigas de luta, de patriotismo e de liberdade que a França, mais uma vez, mostra ao mundo.

Em algum ponto do acompanhamento histórico, perdeu-se a chance de registrar, na mídia, uma ruptura que aconteceu entre os senhores do mundo – as oligarquias transnacionais (e seu ideal comunizador) – depois do qual um dos grupos optou por não achar graça nenhuma num jogo de cartas marcadas, cheio de jogadores robotizados, com reações perfeitamente previsíveis (ou mesmo chegou à conclusão de que o custo para manter bilhares de indivíduos na neo-escravidão globalizada não compensaria os monótonos lucros – imensos, porém, não desfrutáveis).

Os ideais de um mundo melhor, porém livre, não morreram. Foram sim encobertos por uma nuvem de organizações mundiais que pretendem construir um mundo unificado que atropele as nacionalidades e as individualidades. Acontece que o homem é um indivíduo – e os indivíduos gostam de manter sua identidade e de, ao mesmo tempo, construir suas próprias formas de convivência pacífica com o diferente – com base no exercício de sua liberdade de escolha. Com a saída do premiê britânico, Tony Blair, do governo do Reino Unido, a Europa deve passar por uma reestruturação na administração de sua economia, diplomacia e de seu poder milita r. Esta pode ser uma boa pista.

Sabe por que a França conseguiu mostrar essa reação ao mundo? Porque deu um show de democracia. É, um show. Espetáculo não é dar resultado de eleição quase que instantaneamente após o término das votações. Espetáculo é fazer valer a lisura do processo democrático. Show mesmo foi, no primeiro turno das eleições, todos os candidatos disporem de tempo equivalente de exposição nos meios eletrônicos – TV, rádio e internet, para expor suas idéias. Nessa contagem do tempo considerou-se não apenas as campanhas publicitárias dos candidatos, mas também suas participações em programas de entrevistas. Show foi a recusa dos partidos em submeter as eleições francesas à caixa preta da urna eletrônica sem voto impresso.

Cerca de 44,5 milhões de franceses registraram seus votos para presidente em postos espalhados pelo país e pelo exterior. Segundo o Ministério do Interior francês, cerca de 2 milhões de novos eleitores registraram-se para votar nas eleições de 2007. Destes, 1 milhão e 800 mil estão na França e outros 160 mil em outros países. Apenas 1,5 milhão de eleitores franceses (menos de 4% do total) votaram utilizando urnas eletrônicas. Mesmo assim, 68 mil pessoas assinaram, na internet, uma petição contra o uso destas urnas, que alguns qualificam de "máquina de fazer armadilhas". Foram 547 postos de votação no exterior para que os 820 mil cidadãos inscritos pudessem exercer seu direito ao voto, segundo o Ministério de Relações Exteriores da França. O país com mais franceses inscritos foi a Suíça (76 mil), seguida pelos Estados Unidos (74 mil), pela Alemanha (56 mil), pelo Reino Unido (53 mil) e pela Espanha (51 mil). Autoridades eleitorais enviaram aos postos fora da França 12 milhões de cédulas de votação, várias centenas de urnas e mais de 1 milhão de envelopes. Para quem sabe ler, “pingo” do “i” é letra.

Nicolas Sarkozy foi à direita muito mais distante que Mitterrand à esquerda. Não se associou à Frente nacional. Não abraçou nem mesmo o extremismo de direita de Pen. Satisfez-se em lhe asfixiar. Um vento novo começa a levantar-se. A maioria silenciosa encontrou o seu arauto. Sarkozy não tem a ambição de ser um intelectual. Sua preocupação, entretanto, em fazer uma refundação ideológica pode fazer dele uma espécie imprevista de Gramsci de direita, que se propõe a prever quais são os valores e as idéias que fazem mover as coisas. Descoberta de aplicação científica já citada por mim no artigo “Partindo Para a Ação”, cuja ciência está em descobrir como usar a arma do inimigo em favor de si mesmo.

Não somente neste, mas em outros artigos, eu tenho me atrevido a dizer (solitariamente, é verdade) que, ao contrário do que se pretendeu (e ainda se pretende) com o exagero midiático da repetição de mentiras, para que se tornem verdades, e da intenção nítida de promover a lavagem cerebral dos estudantes, falsificando a lógica e as verdades históricas, acontece o oposto, a olhos vistos: formou-se uma geração, ainda que paralela e não organizada, de seres instintivamente sedentos de verdades óbvias e desconfiados da repetição unânime de falácias que ofendem a inteligência e os instintos humanos.

Falta pouco para que se reconheça como idealizadora da globalização idiotizante do império universal coletivizado as teorizações de Karl Marx sobre o capitalismo selvagem. Para o famoso teórico, o capitalismo caminharia inexoravelmente para a autodestruição determinada pela irreconciliável luta de classes - entre proprietários e não proprietários dos meios de produção. Hoje, a realidade comunista provou que o comunismo não é nada além do capitalismo abraçado, autoritária e exclusivamente, pelo Estado – que se torna o único patrão.

Sarkozy pregou o ranascimento da meritocracia: “Numa sociedade justa, as distinções entre os cidadãos não devem depender do seu nascimento, da cor de sua pele ou dos estudos remotos - é o trabalho desenvolvido que deve ser o critério do sucesso. Os que querem trabalhar mais devem poder ganhar mais. Devem poder conservar o fruto dos seus esforços e utilizá-lo para preparar o futuro da sua família”. O novo presidente da França disse que o país está “cheio de talentos que não chegam a desabrochar, porque não há respeito aos méritos de cada um e porque não há oportunidade para todos”. Sarkozy afirmou ainda que “os que querem sair da precariedade devem poder contar com o apoio da comunidade – este é o tipo de solidariedade que queremos para a França”. Sarko, como é chamado pelos franceses, pregou a união entre os países da Europa, mas com respeito aos diferentes povos que a compõem, de modo que não se tema, mundo a fora, pela formação de uma nova potência intimidadora. Afirmou que a França deverá defender os seus interesses num mundo mais complexo, com firmeza, mas sem posturas inúteis, e levando em consideração a emergência de novas potências - China, Índia, Rússia e Brasil (é, ele disse isso do Brasil).

É perigoso endeusar as pessoas. E não é conveniente que se faça isso com Sarkozy. Na verdade, pouco importa, agora, se o homem não cumprirá o que prometeu, se trairá as expectativas dos que o elegeram. O mais importante, neste momento histórico, é identificar o esforço dos franceses para manifestar sua aversão ao politicamente correto, à ditadura das minorias, às opções de busca de soluções pela divisão da sociedade em grupos irreconciliavelmente antagônicos, à coletivização do indivíduo – que fica sem identidade própria. Os franceses mostram ao mundo que desejam união mundial, sim, mas baseada em valores concretos não relativistas, em aprendizado de como conviver pacificamente com as diferenças – sem que haja obrigatoriamente a submissão de uns pelos outros.

Democracia se experimenta com voto explícito e liberdade se conquista com a eterna busca da verdade. Viva a resistência francesa! E que se espalhe, pelo Brasil, a ressurreição do verde e do amarelo! Não há um só passo que possa ser dado para solucionar os problemas que nos afligem que não deva ser necessariamente precedido pela reforma do nosso sistema de representatividade política e pela instituição do voto impresso na urna eletrônica.

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