Saturday, August 04, 2007

LIBERDADE NOCAUTEADA


Um dia após a notícia do sumiço dos boxeadores cubanos Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara, durante os Jogos Pan-Americanos, no Rio de janeiro, o ditador e chefe do governo cubano, Fidel Castro, confirmou a “deserção” dos dois atletas, depois que nenhum deles se apresentou para a pesagem de suas respectivas lutas no último dia 22 de julho, e tinham paradeiro desconhecido: "Nos acertaram um golpe direto no queixo, promovido por norte-americanos", declarou Castro.

"Na Alemanha existe uma máfia que se dedica a selecionar, comprar e promover boxeadores cubanos nas competições esportivas internacionais. Usam métodos psicológicos refinados e muitos milhões de dólares", declarou Fidel Castro sobre a deserção dos atletas de seu país. Os mafiosos a que se referiu seriam, na verdade, três academias de pugilismo: Universum Box Promotion, Sauerland Grupp e Arena Box Promotion, que utilizariam milhões de dólares e modernas instalações esportivas para “seduzir” os pugilistas.

Fidel tem olhos e ouvidos por toda parte – isso não é novidade. De modo que, poucos dias depois, a empresa Arena Box Promotion realmente anunciou que teria ajudado na “deserção” dos dois boxeadores cubanos. Rigondeaux e Laras teriam assinado contrato com a empresa até 2012 e deveriam, depois da “fuga”, mudar-se para a cidade de Hamburgo, até o final do mês de agosto.

Coincidentemente, das três academias acima citadas, a Arena Box Promotion é justamente a que mais desperta a fúria de Fidel, porque já acolheu outros três desertores recentes de Cuba - os pugilistas campeões olímpicos Odlanier Solís, Yuriorkis Gamboa e Yan Barthelemy, que abandonaram a delegação do país, em dezembro 2006, durante um torneio na Venezuela, e foram para Hamburgo, onde deixaram o amadorismo e se tornaram profissionais do boxe.

Os três, por acaso, são amigos de infância de Rigondeaux. Um deles, inclusive, tem tudo para se considerar um felizardo – é que sua mulher e sua filha conseguiram fugir, recentemente, de Cuba, numa daquelas balsas que saem clandestinamente da ilha de Fidel com destino à Miami (EUA). Hoje, a família vive reunida, na Alemanha.

Guillermo Rigondeaux, que foi medalhista de ouro nas duas últimas Olimpíadas (Sydney-2000 e Atenas-2004) e campeão nos últimos jogos pan-americanos (Santo Domingo-2003), na categoria de até 54 kg, e Erislandy Lara, que foi campeão mundial de 2005 da categoria de até 69 kg, não foram os únicos a abandonar a delegação de Cuba, aqui no Brasil, durante o PAN. O Primeiro foi o técnico de ginástica artística, Lázaro Lamelas Ramírez, de 33 anos, que já ganhou, ele mesmo como ginasta, medalhas de ouro, de prata e de bronze, nos Jogos Pan-Americanos de Mar del Plata, em 1995, e de Winnipeg, em 1999. O segundo foi o jogador de handebol, Rafael D'Acosta Capote, de 19 anos, que também deixou a Vila Pan-Americana e foi para São Paulo, de táxi, para pedir asilo ao Brasil. Ambos fugiram da Vila do PAN, antes mesmo do início dos Jogos.


Os dois boxeadores cubanos, Rigondeaux e Lara, que tinham sido vistos, nos poucos dias em que estiveram “fugidos”, em diversos pontos do litoral norte do Estado Rio de Janeiro, desfrutando de total liberdade, foram detidos por agentes da Polícia Militar, que os identificaram por causa dos famosos dentes de ouro de Ringodeaux. Ambos foram conduzidos para um hotel no Rio de Janeiro, onde estão sendo permanentemente vigiados por agentes da Polícia Federal, até que recebam a documentação necessária para retornar a Cuba na condição de deportados.

Segundo a Polícia Federal, os pugilistas estavam sendo monitorados, a pedido do de Cuba, pela Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), que havia determinado a procura dos atletas. Sem seus passaportes – que ficaram retidos pela delegação de Cuba -, ambos podem, perfeitamente, serem presos, considerados ilegais e compulsoriamente deportados – tudo dentro da legalidade. Naturalmente, que se fosse do interesse das tantas ongs de direitos humanos que se espalham pelo país a defender, inclusive criminosos e terroristas, e do próprio governo, é claro, nessas mesmas condições, dessa idêntica legislação, certamente que se poderia extrair todas as possíveis e imagináveis cláusulas e interpretações que viessem a justificar a concessão do chamado asilo político aos dois rapazes. Exemplos não nos faltam.

Em 1990, os partidos brasileiros de esquerda, bem como várias organizações e grupos terroristas da América Latina reuniram-se para discutir os rumos do socialismo no continente, depois da “abertura” do império comunista russo. A reunião aconteceu em São Paulo – daí o grupo passar a chamar seu acordo de união estratégica de Foro de São Paulo. Seus líderes: Fidel Castro, Lula, Marco Aurélio Garcia, entre outros não menos famosos. O que assistimos, hoje, com a ascensão do populismo comunista por toda a América Latina, é decorrência direta do muito bem planejado e executado plano conjunto de revolução gramsciniana traçado por esta força de esquerda.

Bem, no momento, o que interessa sobre esse assunto, no que diz respeito a este artigo, é que essa amizade de longa data entre as esquerdas latino-americanas, incluindo aí os grupos terroristas da região, fez com que o Brasil, em 14 de julho de 2006, portanto sob o governo do presidente Lula, concedesse o status de refugiado político ao ex-padre Francisco Antonio Cadenas Collazzos, conhecido como Olivério Medina - o “embaixador” no Brasil do grupo terrorista Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), sob a alegação de que o Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE), órgão pertencente ao Ministério da Justiça (na época sob Márcio Tomaz Bastos, “entendeu que Medina teria fundado temor de perseguição, em razão de opiniões políticas”, de ter que retornar ao seu país de origem, e que deveria ficar no Brasil, desvinculando-se de qualquer atividade política, e apenas para cuidar de sua esposa e de sua filha brasileiras. Medina chegou a passar oito meses em prisão domiciliar antes que de ser oficialmente reconhecido como refugiado.

Para quem não se lembra, ele é o homem que foi apontado pela revista Veja, logo após as eleições presidenciais de 2002, como aquele que anunciara um suposto esquema de financiamento, no valor de U$ 5 milhões, para a campanha eleitoral do PT. À época, Medina já estava no país havia pelo menos quatro anos, tendo, inclusive, sido preso pela Polícia Federal, e liberado dias depois, por pressão de membros do governo petista de Olívio Dutra (RS) e de parlamentares do PT, em setembro de 2000, em Foz do Iguaçu. No primeiro semestre daquele ano, a agência de notícias Canal Web descobriu que Medina era o responsável pela manutenção, no Brasil, do site das FARC, que estava hospedado em um provedor de uma cidade do Paraná chamada Pato Branco – região onde ele também costumava dar aulas em assentamentos do MST e em universidades.

Para proteger Medina, foi formada, inclusive, uma espécie de organização dessas que se baseiam nos direitos humanos – o Comitê Pela Libertação de Olivério Medina - que recolheu assinaturas e fez campanha pela não extradição do falso padre para a Colômbia, divulgando informações de “o pedido de extradição era parte das ações do Plano Colômbia, sob a coordenação dos EUA, para inviabilizar qualquer diálogo de paz e justificar seu intervencionismo”. Na época, o comitê alegava que “a entrega de Olivério ao governo colombiano seria um risco para sua integridade física e para sua própria vida, e colocaria o Brasil numa posição contrária aos direitos humanos e, ainda, que seria “uma aberta violação aos tratados sobre prisioneiros de guerra, que não eram, segundo os manifestantes, respeitados pelo governo de Uribe – que era acusado por eles de manter mais de 7 mil presos políticos, que seriam tratados como delinqüentes comuns, sujeitos a arbitrariedades e a torturas, sem garantias de processos justos”... “Nós, que lutamos por uma América Latina soberana, livre, que lutamos por paz, liberdade, igualdade e contra o imperialismo, estamos com Olivério”, dizia o manifesto pró-Medina. Seus crimes: seqüestro, assassinato, terrorismo – coisas simples assim. Mas, tudo é claro, em nome de “sublimes” ideais socialistas.

Outro que também sempre contou com a benevolência de nosso governo foi o co-fundador do P-SOL, e companheiro de lutas de Heloísa Helena, Achille Lollo - um italiano que militava no Partido Operário, nos do terrorismo pesado na Itália. Num episódio que chocou aquele país, em 1973, Lollo e dois companheiros de partido participaram do atentado que ficou conhecido como “Rogo di Primavalle” (incêndio de Primavalle, um bairro da cidade de Roma), onde morreram queimados dois dos filhos de Mario Mattei - gari e secretário da seção do MSI (Movimento Social Italiano, de direita) daquele bairro. Em 1987, os três companheiros de partido foram julgados e condenados a 18 anos de prisão cada um. Enquanto os outros dois nunca foram localizados, Lollo chegou a cumprir 2 anos de prisão, até que foi solto para cumprir o resto da pena sob condicional e acabou fugindo para o Brasil. Em 1993, como parte da nova ofensiva do Ministério Público italiano contra os procurados por terrorismo no exterior, o governo italiano pediu a sua extradição ao governo brasileiro. O pedido foi negado, sob a alegação de que, pela nossa Constituição, “não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião”. Assim, ele vive até hoje no país.

Voltando, então, aos dois jovens pugilistas cubanos, é bom que fique bem claro que nenhum deles, apesar de terem sido procurados e/ou monitorados pela Senasp, a pedido do de Cuba, era um criminoso procurado naquele país. Tampouco poderiam (ou pelo menos não deveriam) ser chamados de desertores – como o são por Fidel e pelo estado cubano – posto que sejam meros cidadãos e não militares, ou qualquer coisa parecida.

É inconcebível que, em pleno entrar do século XXI, ainda possa existir um regime governamental que trate seus cidadãos como objetos de sua propriedade, cerceando o que seria seu mínimo direito de simplesmente poder ir e vir, de onde e para onde quisesse, mesmo que isso não implique em tomar ou invadir nenhuma propriedade considerada privada e nem em aviltar os direitos de nenhuma outra pessoa. Mais inadmissível ainda é existir quem apóie quem quer que seja o líder de um país que viva sob este regime e, pior, tratando a este próprio líder e a tal situação como se fosse a da mais completa normalidade.

Mas, quem é, afinal, que está preocupado com o que poderá vir a acontecer com estes dois jovens, ao retornarem ao paraíso-prisão do onipotente Fidel? Silêncio... Silêncio... Silêncio.
Christina FontenelleE-MAIL: Chrisfontell@gmail.com

1 comment:

  1. Finalmente consegui encontrar o endereço de teu blog, o que me trouxe uma grande satisfação, pois eu te leio desde há muito. Curiosamente as pessoas mais corajosas que se expõem hoje neste nosso estranho país são mulheres. Com legítimo mérito, diga-se.
    Quando da notícia que os atletas cubanos haviam desertado da delegação, fiquei apreensivo, pois imaginei que se eles pedissem asilo político às nossas autoridades, elas os devolveriam ao Comandante.
    O ato que as pessoas que decidem pelo governo brasileiro são as mesmas que discursam sobre os direitos humanos, que transmitem ao povo a preocupação com o ser humano, com os pobres, com os perseguidos, com os excluídos, etc., etc. Discurso. Apenas discurso. Não há um regime comunista que respeita direitos humanos ou privilegia a classe trabalhadora. Essa somente serve para legitimar o alcance do poder. Depois, tal qual fazem os nossos políticos, ela é colocada em estado de hibernação. Penso que havia mais preocupação com o povo quando existiam monarquias. Não que eu seja um defensor de tal modelo. Mas os regimes totalitários são cruéis com todos os que não participam do partido e, principalmente, da cúpula.
    Já em Cuba, os atletas provavelmente receberão um tratamento de choque para que não se esqueçam que há um único paraíso no mundo. O cubano.
    O governo petista cumpriu com sua obrigação para com o grande chefe do país amigo. O destino dos dois jovens? Ora, o que lhes interessa isso? São humanistas demais para se preocuparem com suas vidas.

    Léo

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