Tuesday, September 04, 2007

NOTAS MILITARES


No último dia 15 de agosto, o General-de-Exército José Elito Carvalho Siqueira assumiu o Comando Militar do Sul, que abrange os estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A cerimônia de passagem de comando do General-de-Exército Carlos Alberto Pinto Silva, que estará se dirigindo para o Comando de Operações Terrestres, em Brasília/DF, para o General Elito aconteceu no 3º Regimento de Cavalaria de Guarda, Regimento Osório, em Porto Alegre, com a presença do ministro da defesa, Nelson Jobim, do Comandante do Exército, General-de-Exército Enzo Martins Peri, da Governadora do RS, Yeda Crucius, de presidentes de federações empresariais, de reitores e de outros representantes da sociedade. A solenidade reuniu mais de três mil militares com desfile de viaturas blindadas, do grupamento hipomóvel e de 3 pelotões com uniformes históricos.





O General Elito é natural de Aracaju (Sergipe) e foi Comandante da Força de Paz na Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti (MINUSTAH), de 2005 a 2006. O Comando Militar do Sul que o general assume possui em sua constituição três Divisões de Exército, duas Regiões Militares, oito Brigadas e 162 Organizações Militares - são 51 mil militares (¼ do efetivo do Exército Brasileiro). Na sua área concentram-se 95% dos blindados, 75% da Artilharia, 75% da Engenharia e 75% da Cavalaria Mecanizada, dos meios da Força Terrestre.









Segundo autoridades que participaram de anteriores trocas de comando, esta teria sido a que mais coesão mostrou. Vieram tropas de todos os estados do Sul, num desfile disciplinado, coeso e muito bem preparado. Mensagem explícita aos presentes: o Exército é uma instituição de Estado que não está a serviço de governos, que são sempre transitórios, além de ter preparo e de não precisar receber instruções de ninguém sobre o modo de gestão de ses recursos, bem como de suas tropas.

Depois da cerimônia, houve um coquetel, onde, em conversas privadas, falava-se sobre um descontentamento com a deterioração do tecido social e político. Corrupção, quilombolas, terras indígenas, enfraquecimento do Poder Legislativo, aviltamento da classe média, e ainda as medidas específicas que vêm atingindo diretamente as Forças Armadas. É, o saco tem fundo... Trata-se de uma forma de indignação que cresce na sociedade como um todo, tendo agora formas de expressão em movimentos como o Cansei, em São Paulo, e o Luto Brasil, no Rio Grande do Sul.

O ministro Jobim também ficou para o coquetel. Não se via em torno dele, além de seus assessores, um número significativo de pessoas, muito menos de pessoas fardadas. O isolamento do Ministro é também uma expressão do isolamento do Presidente em relação à sociedade. Dizem que os militares, tanto os da ativa quanto os da reserva, estão muito atentos à opinião pública, e o poder das idéias não lhes é estranho.

A questão dos supostos quilombos da Ilha da Marambaia, que atinge uma área da Marinha brasileira, utilizada pelo Corpo dos Fuzileiros Navais para seus exercícios de treinamento, é também preocupante. Trata-se de uma relativização cada vez mais abrangente da propriedade privada, que atinge áreas urbanas e rurais, civis e militares. A radicalização das posições do INCRA, apoiado pelos movimentos ditos sociais, pode, inclusive, querer uma desapropriação de área militar. Pergunta: e se os "desapropriados" se recusarem a sair?

Corre entre os oficiais superiores que o Ministro Jobim teria começado de uma forma arrogante a sua gestão no Ministério da Defesa. Teria ele perguntado a um General sobre qual seria o planejamento atual do Exército - dizem, sugerindo que este não existiria. Teria recebido mais ou menos a seguinte resposta: preciso que o senhor me conceda 6 horas - 3 para que lhe explique o planejamento e outras 3 para mostrar a estratégia do Exército. Ou seja, as Forças Armadas pensam e trabalham por si mesmas e não ficam dependendo da politicagem de troca de ministro para começar o seu trabalho.

Um outro general já teria informado ao novo ministro sobre a penúria das Forças Armadas em geral, com riscos para o treinamento e, de uma forma mais abrangente, para a defesa nacional. O Exército precisaria, por exemplo, de 300 milhões por ano em munições. Dispõe atualmente de 30 milhões. A Marinha não possui nenhum torpedo. A encomenda demora dois anos. A Aeronáutica não possui aviões de combate que possam se contrapor aos novos Sukoi-30 russos, adquiridos pela Venezuela. O raciocínio militar é o de que o Brasil, país médio do ponto de vista econômico, deveria pelo menos contar com uma força militar correspondente, pois o mundo globalizado assim o exigiria. A calmaria atual de nossas fronteiras, por si só, não seria uma garantia para o futuro.

Bem, pode haver quem acredite que se trate de falta de verbas ou de simples descaso revanchista dos últimos dois governos civis. Não são. O desmonte das nossas Forças Armadas, bem como a militarização cada vez maior dos países ligados ao ditador Hugo Chavez são dois pontos de uma estratégia muito bem arquitetada, porém não imperceptível, para que a América do Sul e Central venham a formar a Grande Pátria Comunista Latino-Americana –
zona de retaguarda da Rússia e da China.

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